sábado, 30 de dezembro de 2023

ANTE O SUICÍDIO

Se a ideia do suicídio alguma vez te visita o pensamento, reflete no infortúnio de alguém que haja tentado inutilmente destruir a si mesmo, quando pela própria imortalidade, está claramente incapaz de morrer. Na hipótese de haver arremessado um projétil sobre si, ingerido esse ou aquele veneno, recusado a vida pelo enforcamento ou procurado extinguir as próprias forças orgânicas por outros meios, indubitavelmente arrastará consigo as consequências desse ato, a se lhe configurarem no próprio ser, na forma dos chamados complexos de culpa. 

Entendendo-se que a morte do corpo denso é semelhante a um sono profundo, de que a pessoa ressurgirá sempre, é natural que esse alguém penetre no Mundo Maior, na condição de vítima de si mesmo. Não nos é lícito esquecer que os suicidas, na Espiritualidade, não são órfãos da Misericórdia Divina, e, por isso mesmo, inúmeros benfeitores lhes propiciam o socorro possível. Entretanto, benfeitor algum consegue eximi-los, de imediato, do tratamento de recuperação que, na maioria das vezes, lhes custará longo tempo.  Ponderando quanto ao realismo do assunto, por maiores se te façam as dificuldades do caminho, confia em Deus que, em te criando a vida, saberá defender-te e amparar-te nos momentos difíceis. 

Observa que não existem provações sem causa e, em razão disso, seja onde for, estejamos preparados para facear os resultados de nossas próprias ações do presente ou do passado, em nos referindo às existências anteriores.  Cientes de que não existem problemas sem solução, por mais pesada a carga de sofrimento, em que te vejas, segue à frente, trabalhando e servindo, lançando um olhar par a retaguarda, de modo a verificar quantas criaturas existem carregando fardos de tribulações muito maiores e mais constrangedores do que os nossos. 

O melhor meio de nos premunirmos na Terra contra o suicídio, será sempre o de nos conservarmos no trabalho que a vida nos confia, porque o trabalho, invariavelmente dissolve quaisquer sombras que nos envolva a mente. E, por fim, consideremos, nas piores situações em que nos sintamos, que Deus, cujo infinito amor nos sustentou até ontem, embora os nossos erros, em nos assinalando os propósitos de regeneração e melhoria, nos sustentará também hoje.  

É CHEGADO O TEMPO

É chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos “ais'” do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos. No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível. Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a vertigem de um pesadelo. A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício. Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do reino de Deus e de sua justiça. O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas consciências enegrecidas. Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos. Todavia, operários humildes do Cristo, ouçamos a sua voz no âmago de nossa alma: “Bem-aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence! Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!”


(EMMANUEL, adaptado)

LUZ NAS SOMBRAS

 – Irmãos, continuemos hoje em nosso comentário acerca do bom ânimo. Não me creiam separado de vocês por virtudes que não possuo. A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina. Também sou aqui um companheiro à espera da volta. A prisão redentora da carne acena-nos ao regresso. É que o propósito da vida trabalha em nós e conosco, através de todos os meios, para guiar-nos à perfeição. Cerceando-lhe os impulsos, agimos em sentido contrário à Lei, criando aflição e sofrimento em nós mesmos. No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem do sepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lição grande e nova – a de que nos achamos indissoluvelmente ligados às nossas próprias obras. Nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A ninguém devemos o destino senão a nós próprios. Entretanto, se é verdade que nos vemos hoje sob as ruínas de nossas realizações deploráveis, não estamos sem esperança. Se a sabedoria de nosso Pai Celeste não prescinde da justiça para evidenciar-se, essa mesma justiça não se revela sem amor. Se somos vítimas de nós mesmos, somos igualmente beneficiários da Tolerância Divina, que nos descerra os santuários da vida para que saibamos expiar e solver, restaurar e ressarcir. Na retaguarda, aniquilávamos o tempo, instilando nos outros sentimentos e pensamentos que não desejávamos para nós, quando não estabelecíamos pela crueldade e pelo orgulho vasta sementeira de ódio e perseguição. Com semelhantes atitudes, porém, levantamos em nosso prejuízo a desarmonia e o sofrimento, que nos sitiam a existência, quais inexoráveis fantasmas. O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos... Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o Espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a retaguarda, por essa razão, continuam vivas. Laços de afetividade mal dirigida e cadeias de aversão aprisionam-nos, ainda, a companheiros encarnados e desencarnados, muitos deles em desequilíbrios mais graves e constringentes que os nossos. Nutrindo propósitos de regeneração e melhoria, somos hoje criaturas despertando entre o Inferno e a Terra, que se afinam tão entranhadamente um com o outro, como nós e nossos feitos. Achamo-nos imbuídos do sonho de renovação e paz, aspirando à imersão na Vida Superior, entretanto, quem poderia adquirir respeitabilidade sem quitar-se com a Lei? Ninguém avança para a frente sem pagar as dívidas que contraiu. Como trilhar o caminho dos anjos, de pés amarrados ao carreiro dos homens, que nos acusam as faltas, compelindo-nos a memória ao mergulho nas sombras?!... Druso fez ligeira pausa e, depois de significativo gesto, como que indicando a torturada paisagem exterior, prosseguiu em tom comovente: – Em derredor do nosso pouso de trabalho e esperança, alongam-se flagelos infernais... Quantas almas petrificadas na rebelião e na indisciplina aí se desmandam no aviltamento de si mesmas? O Céu representa uma conquista, sem ser uma imposição. A Lei Divina, alicerçada na justiça indefectível, funciona com igualdade para todos. Por esse motivo, nossa consciência reflete a treva ou a luz de nossas criações individuais. A luz, aclarando-nos a visão, descortina-nos a estrada. A treva, enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos erros. O Espírito em harmonia com os Desígnios Superiores descortina o horizonte próximo e caminha, corajoso e sereno, para diante, a fim de superá-lo; no entanto, aquele que abusa da vontade e da razão, quebrando a corrente das bênçãos divinas, modela a sombra em torno de si mesmo, insulando-se em pesadelos aflitivos, incapaz de seguir à frente. Definindo, assim, a posição que nos é peculiar, somos almas entre a luz das aspirações sublimes e o nevoeiro dos débitos escabrosos, para quem a reencarnação, como recomeço de aprendizado, é concessão da Bondade Excelsa que nos cabe aproveitar, no resgate imprescindível. Em verdade, por muito tempo ainda sofreremos os efeitos das ligações com os nossos cúmplices e associados de intemperança e desregramento, mas, dispondo de novas oportunidades de trabalho no campo físico, é possível refazer o destino, solvendo escuros compromissos, e, sobretudo, promovendo novas sementeiras de afeição e dignidade, esclarecimento e ascensão. Sujeitando-nos às disposições das leis que prevalecem na esfera carnal, teremos a felicidade de reencontrar velhos inimigos, sob o véu de temporário esquecimento, facilitando-se-nos, assim, a reaproximação preciosa. Dependerá, desse modo, de nós mesmos, convertê-los em amigos e companheiros, de vez que, padecendo-lhes a incompreensão e a antipatia, com humildade e amor, sublimaremos nossos sentimentos e pensamentos, plasmando novos valores de vida eterna em nossas almas. (...)


Francisco Cândido Xavier – Ação e Reação – pelo Espírito André Luiz

quarta-feira, 5 de julho de 2023

A INTOLERÂNCIA

 

O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, e consiste em não se ver

superficialmente os defeitos alheios, mas em se procurar salientar o que há de bom e

virtuoso no próximo. (E.S.E, Cap. XVIII item 18)

Precisamos romper em nós as algemas do apego à imagem que idealizamos com relação ao mundo e às pessoas. Não podemos pretender exigir de outrem aquilo que ele não pode nos oferecer. Importa aceitar e respeitar as criaturas mesmo dentro de suas limitações, mesmo quando corrompidas, criminosas ou viciadas. O amor universal a que a verdadeira caridade nos convida, consiste em vivenciar o amor em si mesmo, independente de preconceitos ou discriminações.

Aquele que só é justo com os bons, generoso com os pródigos, misericordioso com os

mansos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com as pessoas boas. Se a tolerância é uma virtude, ela vale por si mesma, e sobretudo para com as pessoas mais difíceis. Virtude que discrimina, não o é.

Tolerar consiste em não exigir; compreender e respeitar as condições ou limitações das

pessoas. Mais do que isso, tolerar não é suportar, mas encarar a todos com o pressuposto de que possuem uma essência espiritual, e enquanto tal são necessariamente dotadas de bons sentimentos, e com infinitas potencialidades latentes a serem manifestas.

Ser tolerante consiste, portanto, em eliminar a intransigência em nossas análises críticas em relação ao próximo; evitar comentários desairosos; afastar sentimentos de mágoa ou inconformação por algo contrário à nossa vontade.

Sede indulgentes, meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita. (ESE., Cap. X, item 16).

quarta-feira, 17 de maio de 2023

É urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã

Recentemente, passamos por uma pandemia que acelerou muitas mudanças num prazo muito curto; transformações que poderiam levar décadas para acontecer, mas que aconteceram em questão de meses. Em seu famoso livro Armas, Germes e Aço, o geógrafo americano Jared Diamond fala sobre três aceleradores de mudanças, que alteram rapidamente a história humana: as guerras, as pandemias e as revoluções científicas. Com a pandemia de covid-19, a tese do livro ficou bastante evidente: o mundo mudou muito em pouquíssimo tempo, e este é um caminho sem volta. Passamos a conviver com a telemedicina, a educação a distância, o home office e a produção recorde de vacinas, entre tantas outras transformações que ocorreram do dia para a noite.

As mudanças também foram muito sentidas na educação. Escolas, professores e estudantes tiveram de se adaptar a uma nova forma de ensinar e aprender, impactando diretamente o modo como crianças e jovens se desenvolveram. E essas transformações ainda não pararam por aqui: nas próximas décadas, elas tendem a se intensificar. Uma criança que está hoje na escola viverá, nos próximos 15 anos, o equivalente ao que a humanidade viveu nos últimos 150 anos. Ela crescerá numa sociedade em que será possível viver até os 150 anos graças aos avanços científicos, como os da Medicina, um acelerador mencionado por Diamond.

Diante dessas perspectivas, é urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã. Professores e profissionais da área precisam ter um olhar que considere qual a realidade que teremos adiante, pois é para este futuro que estamos formando as atuais gerações. São três perguntas fundamentais que devemos nos fazer: como será o mundo daqui a 20 ou 30 anos? Quais habilidades serão necessárias para viver neste cenário? Se a escola fosse desenhada de acordo com essas duas perguntas anteriores, como ela deveria ser?

Entretanto, é preciso que o Brasil ainda faça a lição de casa do século 20: garantir que toda criança seja alfabetizada na idade certa e aprenda com qualidade – o que já ficávamos devendo antes da pandemia e foi intensificado por ela. Por isso, será preciso atacar as duas frentes em paralelo. Ao mesmo tempo que é urgente garantir que as crianças aprendam a ler, escrever, calcular e pensar de maneira lógica – entre outras tarefas básicas da educação –, precisamos também prepará-las para estes desafios do século 21. A boa notícia, que vem da ciência, é de que aprender requer habilidades que vão além da fronteira cognitiva, mas também envolve competências socioemocionais, como resiliência emocional, persistência, foco, abertura ao novo, organização, curiosidade para aprender, entre outras, alavancas essenciais para a aprendizagem.

As dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trazem, entre seus elementos, essas competências. Mas, se nossas avaliações não conversarem com essa visão de educação e seguirem observando apenas o desempenho, como vamos saber se estamos tirando do papel este desenvolvimento que é um direito genuíno dos estudantes? Da mesma forma como valorizamos e avaliamos as habilidades de leitura e escrita, ou o nível de aprendizagem dos estudantes, precisamos também buscar formas de monitorar as novas competências necessárias para este novo mundo, pois todos esses aspectos do desenvolvimento são igualmente fundamentais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

CRIANÇAS COM DOENÇAS DE ADULTOS

Desde que a infância tem sido encurtada, há décadas, as crianças passaram a ter contato direto e irrestrito com o mundo adulto. Isso tem um preço: os mais novos passaram a manifestar bem mais algumas doenças típicas em adultos, como hipertensão arterial, problemas no trato digestivo e diabete. Isso é compreensível: a exposição quase que diária a crueldade, violência e todo tipo de adversidade que existe no mundo adulto trouxe às crianças noções de grande risco e perigo a elas mesmas e aos pais, o que pode afetar tanto a saúde física delas quanto a mental.

Medos de sequestro relâmpago, de assalto, de ser assassinado, de cair de um prédio e de morrer foram relatados por crianças com sintomas sérios de ansiedade. Por causa da pandemia, mães, pais e professores têm percebido um grande número de crianças com medos semelhantes a esses e sinais claros de ansiedade: dor de barriga, náuseas, grandes preocupações, taquicardia, transpiração excessiva, dificuldades no sono e na concentração e atenção, entre outros, e principalmente sofrimento psíquico.

Como consequência, elas apresentam dificuldades em várias situações e o relacionamento com colegas e família e o aprendizado escolar podem ficar prejudicados. Aliás, a ansiedade excessiva pode atrapalhar o desenvolvimento geral da criança e afetar não apenas o seu presente, mas seu futuro também.

Algumas escolas têm recorrido a práticas para ajudar o alunado a enfrentar os sintomas de ansiedade. Ioga e meditação diariamente, por exemplo, já estão presentes em diversas instituições escolares; modalidades corporais também têm apresentado efeitos positivos. Em alguns casos, é preciso apoio profissional na área de saúde mental. Para identificar tal necessidade, nada como conhecer o filho para perceber se a permanência dos sintomas é grande, com duração de meses, e pedir a opinião do pediatra que acompanha a criança regularmente. Dá para prevenir a ansiedade em excesso? Podemos, de um modo geral, adotar práticas educativas que colaboram bastante com os mais novos nesse sentido.

Saber identificar e nomear as emoções vivenciadas e aprender a boa convivência, que fazem parte da chamada educação socioemocional, são componentes importantes para a manutenção da saúde mental. Autoconhecimento e autocuidado são pontos de extrema importância para a manutenção da saúde física e mental dos mais novos. Precisamos insistir e persistir nesses ensinamentos a eles.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

AINDA SOBRE O PERDÃO!

 Perdoar é um grande desafio para todos nós, nas menores coisas que nos envolvem;

alguém nos resvala por descuido na rua, já recebe nossa reclamação; aquele que toma a

frente na fila do ônibus é logo puxado para trás; um cumprimento menos atencioso do

vizinho já nos torna inimigos ferrenhos.

Centralizamos em nós mesmos a importância de tudo e não percebemos o sentido coletivo

da nossa existência. É sempre o eu, o meu, em mim, ou seja, o egocentrismo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

SOBRE PERDOAR

 Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai Celestial vos

perdoará os vossos pecados. (Mt., 6: 14)

O perdão é complemento da mansuetude, pois os que não são mansos e pacíficos não

conseguem perdoar. Geralmente aquele que não consegue perdoar é uma alma sempre

inquieta, insatisfeita consigo mesma, de uma sensibilidade amargurada. Aquele que perdoa

é calmo, liberto, cheio de mansuetude. Perdoar alguém é receber perdão do Pai, pois

libertamos a nós mesmos perante Deus.

Espiritas, não esqueçais nunca que, tanto por palavras como por atos, o perdão das

Injúrias não deve ser uma expressão vazia. Pois se vos dizeis espiritas sede-o de fato:

esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais

fazer. (ESE., Cap. X, item 14)

Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do

coração (E.S.E., Cap. X, item 15). Muitos dizem "eu perdôo, mas nunca esqueço do que ele

me fez." Ora, este não é o verdadeiro perdão. O que é, de fato, perdoar?

Segundo a referida passagem do Evangelho, o verdadeiro perdão consiste em esquecer o

mal que nos tenham feito. No entanto, não podemos entender o "esquecimento" a que o

Evangelho nos convida como o fato de "apagar as faltas" de alguém, pois não podemos

considerar o que já aconteceu como anulado, como se não tivesse acontecido. Perdoar não

é apagar os fatos, mas apagar o sentimento negativo em nós, ou seja, o verdadeiro perdão

consiste em cessar de odiar. Perdão é a "virtus" que triunfa sobre o ódio, sobre o rancor.

Perdoar é renunciar à vingança, é deixar de odiar, e por isso, quem ama verdadeiramente

nem precisa perdoar, pois nunca se magoa. "O que você não me perdoaria?" Pergunta o

garotinho ao pai. E o pai não encontra nada. Os pais, por exemplo, por amar os filhos não

têm o que perdoar, pois o amor toma o lugar do perdão. Jesus era consumido por um

amor, mas um amor universal, e por isso dizia, mesmo ao sua vida ser sacrificada:

"Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem. " (Lc., 23 :34)

Jesus nada tinha a perdoar, pois ele não tinha ódio no coração. Mesmo sendo vítima da

injustiça e de agressão, em nenhum momento ele foi conduzido pelo pensamento do mal, do

rancor; ao contrário, compreendia, e por isso rogava à própria justiça divina que os

perdoasse.

Se ainda não conseguimos vivenciar esse amor incondicional qual Jesus, busquemos pelo

menos combater o ódio em nós. Na impossibilidade de vencermos o ódio em nossos

agressores, busquemos pelo menos dominar a nós mesmos. O amor é uma alegria, mas o

ódio é uma tristeza a mais, e não no culpado, mas em quem a sente.

No entanto ... se por vezes fracos, aprendamos a nos perdoar também !

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Toda escola precisa ter um planejamento para refletir com seus alunos os valores sociais e culturais.

Precisamos repensar nossa cultura no que diz respeito às relações de homens e mulheres. E nisso a escola tem papel fundamental. Toda escola precisa ter um planejamento para refletir com seus alunos os valores sociais e culturais. A questão das roupas, por exemplo, deve ser discutida com alunos e alunas - o que usar no trabalho, no espaço público ou privado etc.

Notícias de assédios, estupros, abusos sexuais não faltam na imprensa, e isso precisa ser discutido com o alunado. Por que ensinar à aluna como se comportar ou se vestir e não ensinar ao aluno o respeito às mulheres e seu comportamento com elas?

Temos muito o que avançar para diminuir a violência contra as mulheres, de todos os tipos. Já passou o tempo em que a mulher era considerada posse do homem!

O machismo está em homens e mulheres. Se você tem filhos e/ou filhas, não importa, tem o dever de prepará-los para uma vida pessoal e social respeitosa com as mulheres. Para o mundo ser melhor e os filhos terem chance de uma vida boa, eles precisam de nós para se tornarem melhores do que nós!

sábado, 12 de junho de 2021

A avaliação escolar dos alunos não é a finalidade da educação formal

A avaliação escolar dos alunos não é a finalidade da educação formal, sempre é bom lembrar disso. E isso é discutido desde muito antes da pandemia. Mas muitas escolas, notadamente as que podemos classificar como conservadoras, preferem ignorar todas as reflexões já existentes a respeito da avaliação e do processo educativo e continuam a realizar avaliações quantitativas dos conteúdos e a utilizar o resultado obtido pelo aluno para classificá-lo.

Sabe o que é pior, leitor? Muitas famílias de alunos se convenceram de que o que importa na vida escolar do filho é a nota que ele recebe. Mal sabem que, dependendo do processo avaliativo utilizado, essa nota não tem relação nenhuma com a aprendizagem efetivamente ocorrida. A aprendizagem, principalmente em períodos de grandes dificuldades como este que vivemos, é resultado de um desafio. Pelo visto, o grande desafio de muitos alunos será o de descobrir como burlar a tecnologia para colar. Não é?

Em resumo: está mais do que na hora - aliás, já passou da hora - de muitas escolas refletirem a respeito de seus valores efetivamente praticados durante o ensino na pandemia. Se isso ocorrer, muitas instituições poderão transformar os rumos da sua prática pedagógica e, assim, colaborar muito mais para a formação integral de seus alunos.

Queremos formar um cidadão pensante em nossa sociedade ou queremos o que se deixa controlar? Queremos formar um cidadão colaborativo, empático com as questões da comunidade em que vive, respeitoso, ou queremos apenas conhecimento técnico/profissional? A prática pedagógica realizada pela escola que seu filho frequenta responde a essas questões.

segunda-feira, 22 de março de 2021

O EXERCÍCIO DA COMPAIXÃO

Seu filho está expressando as consequências da pandemia, seja no comportamento, na saúde física, psíquica e emocional e/ou no aprendizado em geral? Pois saiba que não é pequeno o número de afetados após um ano de pandemia. E pode aumentar com o retorno gradual, quando ele for possível, às escolas e a outras atividades. Podem surgir sintomas de um quadro de ansiedade intensa por tudo o que já passaram.

Sim, os pais estão ansiosos, temerosos e exaustos por terem tido um grande acréscimo no seu já grande pacote de responsabilidades. Afinal, crianças confinadas em casa dão todo tipo de trabalho imaginável – e os inimagináveis também –, e o ensino remoto dos filhos acrescentou tarefas aos pais com as quais eles não estavam acostumados e, portanto, não tinham experiências acumuladas.

Mas, imagine só: como adultos já temos maturidade – ou deveríamos ter –, recursos pessoais e autoconhecimento suficientes para reagir de modo mais saudável a tantas preocupações e pressões e maior facilidade para expressar as emoções que nos assaltam; sabemos reconhecer a necessidade de pedir ajuda quando necessário e temos já desenvolvido o autocuidado.

E os mais novos? Você já ouviu a expressão “estamos todos no mesmo barco”? Outro dia, li em um texto que estamos sob a mesma tempestade, mas em embarcações bem diferentes. É o caso dos mais novos: eles estão ou à deriva ou em barcos mais frágeis.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

A SEGREGAÇÃO ENTRE "CASA E RUA"


A segregação entre “casa e rua”, que até hoje nos persegue (porque a casa é inocente e a rua é bandida), esquece que os mais exaltados “governos fortes” e as ditaduras foram ou são exercidos por nossos colegas, amigos, compadres, parentes e subordinados. Nenhum governo conseguiu encarar o fosso entre a morada e a vida pública nas suas mais claras contradições, pois a casa é monárquica, a rua, republicana! Na casa existe uma dura hierarquia de gêneros e idades, na rua há uma surpreendente igualdade que, quase sempre, nos obriga a usar o “você sabe com quem está falando?” como um ritual de distinção.

Não deve ter sido por acaso que a passagem da monarquia para a República foi realizada por terríveis rompimentos com elos pessoais. Novas concepções de como se relacionar com Deus e de como limitar o luxo e o poder dos nobres tiveram um papel básico nas relações com aqueles que ocupavam um papel superior. Disciplinar funcionários do Estado foi fundamental no caso das primeiras burocracias - dos primeiros requisitos para mudar o feitio e o estilo de governar legal e politicamente para todos.

No caso brasileiro tivemos Estados fortes e fracos, mas pouco discutimos que a segmentação entre Estado e sociedade tem como consequência isentar a responsabilidade e o peso da sociedade junto ao Estado. No fundo, mantemos até hoje em separado entidades que estão entrelaçadas, posto que o Estado é a sociedade e os seus estilos de vida e vice-versa.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Que 2021 nos salve de 2020

 Que 2021 nos salve de 2020

Num ano que nos privou dos encontros, das risadas na mesa de bar e sobretudo dos abraços, além de ter levado milhares de vidas, o início de 2021 é, mais do que nunca, um aceno da esperança. Na retrospectiva da pandemia, cada brasileiro expiou uma dor e abraçou de longe a dor do outro, carrega para a virada um sonho. Um sonho de dias mais solares e menos isolados. Se despedir do ano que passou é deixar para trás uma verdadeira quarentena de afetos.

Mais do que uma revolução na rotina, adultos em home office ou desempregados, jovens fora da sala de aula, ficarão para sempre tatuados na memória os medos, a ansiedade, a solidão gigante do quarto de quem teve Covid e a tristeza sem tamanho por cada morte, próximo ou não, que não foi possível evitar.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

A BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS

Esgotamento. Essa é a palavra que descreve o estado de muitos de nós nesta época, mas em particular de estudantes e de seus pais em relação aos trabalhos escolares em tempos de pandemia. Eles estão à beira de um ataque de nervos e da exaustão física e mental, e um dos motivos que tem contribuído muito para isso são os estudos remotos. Sabemos que um grande número de alunos brasileiros ficaram sem aprendizagem neste período de escolas fechadas por falta de condições de acesso virtual. E não foram apenas os alunos das escolas públicas, não.

Os alunos que conseguiram realizar o estudo remoto nem sempre tiveram aprendizagem, é bom lembrar. Por quê? Pela idade não compatível com estudos a distância, por aulas remotas muito longas, por falta de preparo da escola e dos alunos, pela ausência de um período de adaptação, principalmente dos alunos, ou pela simples transposição do ensino presencial ao remoto. Isso não funciona.

O problema é que, independentemente de todas essas dificuldades e características do tempo de exceção que vivemos, a pressão para o bom rendimento escolar continua a existir. E essa pressão segue um caminho, que é mais ou menos o seguinte: a escola se sente pressionada pelos pais a mostrar sua competência e cobra dos professores que eles realizem um ensino que resulte em aprendizagem; os professores dão conta como podem desse trabalho, mas mesmo testemunhando dificuldades de muitos alunos com o ensino remoto cobram dos pais que acompanhem e façam seus filhos realizarem todas as tarefas solicitadas; e os pais, cobrados pela escola, tentam cumprir um papel que nem é deles. Resultado? O esgotamento ao qual me referi logo no início do texto.

Todas as vezes em que falo que não é papel dos pais garantir que seu filho realize os trabalhos solicitados pela escola sou bastante questionada, por isso convido você a uma breve reflexão a esse respeito. Os alunos não vão para a escola, necessariamente, porque querem aprender. Vão porque é obrigatório, certo? Já a escola quer que seus alunos aprendam e utiliza todos os recursos que tem disponíveis.

Os professores querem ensinar, mas nem sempre seus alunos querem aprender. Há aí um conflito que precisa ser trabalhado pela escola com seus alunos. Conflito é bom porque faz crescer, e sempre que existe qualquer situação que envolva mais de uma pessoa é inevitável que ele apareça. Administrar os conflitos que surgem entre escola e alunos é um grande passo de ensino e de aprendizagem.

Tomemos um recurso muito usado pelas escolas como estratégia para o aprendizado: o trabalho para ser feito fora da escola. Tarefa de casa, como muitos chamam. O que cabe à família? Ajudar o filho a se organizar no tempo e no espaço para que ele cumpra a sua responsabilidade. Atenção: a responsabilidade é do aluno, não dos pais dele.

Vamos tomar um exemplo que ocorre com muita frequência: os pais lembram ao filho da lição que ele deve fazer, organizam um local, tiram as distrações dele e, mesmo assim, o filho não a faz. Vai para a escola sem o dever cumprido, e um recado aos pais é enviado.

Notem que o aluno, ao não fazer a lição dada pela escola, ele inaugura um conflito entre ele a escola. Conflito esse que deveria ser administrado lá, entre os envolvidos: escola e alunos. Quando a escola deriva aos pais a busca de solução para esse conflito, ela continua com o mesmo conflito. É isso que atrapalha a aprendizagem: problemas que não são resolvidos seguem prejudicando o ambiente de aprendizagem escolar. Vamos reconhecer: há muitas famílias que não colaboram com os estudos dos filhos ou porque não conseguem, ou porque não ligam. Agora, vamos pensar: que culpa tem o aluno da família que tem? Vamos, na escola, trabalhar com quem está conosco nos estudos escolares: os alunos!

segunda-feira, 1 de junho de 2020

PELO COMPORTAMENTO DO BRASILEIRO, FICA CLARO QUE VAMOS MUDAR PARA PIOR

Se antes os analistas de tendências diziam que o futuro seria compartilhado, com a pandemia o futuro será isolado. O “cohousing”, nome pomposo para pensão ou república estudantil, será solo-housing ou, no máximo, “casado-com-filhos-housing”, se algum casamento sobreviver à quarentena.
A indústria da moda terá de se reinventar. Para que gastar milhares de reais em peças de roupa se não saímos de casa? Os itens básicos da quarentena são pijamas, conjuntos de plush e camisetas das eleições de 1989.
Lingerie também ficará em baixa, já que, no isolamento, ninguém usa sutiã nem transa. A nova pornografia será assistir ao canal Off, já que ver pessoas viajando e praticando esportes em lugares exóticos será um fetiche proibido.
O mercado estético entrará em decadência. Para que aplicar botox e preenchimento no rosto, se podemos usar os filtros do Instagram? A dermatologista Ligia Kogos terá que se contentar em empurrar cloroquina a seus pacientes, pois nem espinha precisará espremer.
Os regimes milagrosos também perderão o sentido. Qual o motivo de fazer dieta, se estamos todos gordos? Saem as dietas paleolítica, mediterrânea e de South Beach —mesmo porque ninguém vai para Miami tão cedo. Entra a dieta pandêmica, que constitui basicamente de pedidos por delivery, barras de chocolate e salgadinhos Torcida.
As blogueiras e instagrammers também vão entrar em extinção. Qual é o sentido de alguém mostrar o look do dia para quem usa o mesmo look todo dia? Ou ver Gabriela Pugliesi falando “obrigada, coronavírus”, enquanto faz uma festa? Melhor assistir às lives do Atila Iamarino falando que vamos todos morrer.
É certo que vamos mudar com a pandemia. Mas, observando o comportamento do brasileiro nos últimos tempos, fica claro que não vai ser para melhor. Razões não faltam para consumir álcool como se não houvesse amanhã.

sábado, 16 de maio de 2020

ESPORTE E ENSINO A DISTÂNCIA PRECISAM SE PROVAR MAIS HUMANOS

Em tempos de isolamento e distanciamento social, a capacidade de adaptação humana está sendo testada no seu limite. Muitos de nós experimentamos uma espécie de prisão domiciliar, com direito a trabalho remoto, com todas as exigências do presencial.
Adaptamos espaços para viver, comer, trabalhar, nos exercitar e, com isso, tentamos levar a vida para que ela não nos leve.

Ser professor nestes tempos exige muito mais do que ter conhecimento. Catapultados da sala de aula para ambientes virtuais, passamos a mesclar nossa capacidade de comunicação acadêmica com retoques cênicos e plasticidade tecnológica. A educação precisou se reinventar a toque de caixa e ainda não encontrou a luz no fim do túnel.
Mas, o mais importante é que, mesmo na escuridão, continua a caminhar. Se nos falta a visão em tempos de trevas, nos resta ainda a audição, a fala, o tato e o olfato. E com isso seguimos.
Ou seja, em tempos de crise, mais do que nunca, é preciso reinventar.

Atividades historicamente construídas como presenciais deixaram de acontecer nos últimos meses. Escolas e universidades buscaram se adaptar, não apenas para cumprir seus currículos, mas porque se mostraram indispensáveis à sanidade de estudantes e seus familiares. Isso está dando um trabalho danado para quem efetivamente pensa a educação como algo que vai para além da simples divulgação de conteúdo.

No campo esportivo, a cena é um pouco mais complexa. A exibição de uma competição depende de todo um conjunto de ações anteriores (treinos individuais e coletivos, preparação física, cuidados com o corpo) que ainda não puderam ser substituídas por atividades a distância. Sem contar a importância do público que transforma a competição em um espetáculo.

Ou seja, nem a educação, nem o esporte, serão os mesmos ao final da pandemia.
Algumas ligas, mundo afora, começam a anunciar o retorno às atividades, com distanciamento, sem público. Tenho lá minhas dúvidas se isso poderia ser chamado de esporte. O que tenho absoluta certeza é que o negócio esportivo começa a se mexer, sabe-se lá em que direção.
O argumento parece o mesmo que deseja colocar em atividade outros setores da sociedade que deveriam estar quietos neste momento, até que as coisas cheguem a um patamar mínimo de normalidade.

Os negócios começam a voltar, mas ainda não é possível dizer que o esporte voltou. Atletas permanecem em suas casas, adaptando treinos e a vida a uma condição nunca antes imaginada. Nunca é demais afirmar a necessidade de preservar a vida antes dos negócios.
Campeonatos seguem, porém, sem os encontros presenciais em estádios e ginásios, como aconteceu nos últimos tempos. Competições com ligas de diferentes níveis conseguem atrair dos usuários especialistas aos mais novatos. Isso faz reacender a discussão sobre tornar olímpico ou não os eSports.
Se antes da pandemia essa era uma questão já descartada das discussões olímpicas, ela agora volta à mesa de negociações com todos os afagos de um flerte.
Mas, como em todos os namoros onde falta paixão e sobra interesses, é possível que, uma vez mais, entre tapas e beijos, a relação não avance para além de intenções.
Ensino e esporte colocam à prova as relações humanas. Eles envolvem comunicação, interação e, acima de tudo, afeto. Portanto, ensino a distância e esporte a distância podem ser modalidades natas de um período de isolamento, mas terão que se provar humanos o suficiente para sobreviverem a mais do que um mês na berlinda.

domingo, 26 de janeiro de 2020

Sexualidade e a escola

Uma família almoçava alegremente, conversando o tempo todo. Estavam à mesa o pai, a mãe e dois filhos adolescentes: uma garota de 13 anos mais ou menos e um jovem de uns 17. Logo deu para perceber que os pais não eram mais casados, mas faziam questão de almoçar com os filhos aos finais de semana.
A garota estava entusiasmada porque passara uns dias das férias com a família de uma amiga em uma casa de praia e contava, não sem provocar os pais, como eram os costumes daquele grupo e a relação com a filha, da mesma idade que ela. “Os pais dela a deixam fazer isso, aquilo.” Foi o início de frase mais comum que a ouvi dizer.
Enquanto ela contava suas histórias, o irmão parecia incomodado, talvez pela atenção dos pais toda focada na garota. Vez ou outra ele até tentou interromper, mas os pais não lhe deram atenção. Assim que a menina terminou as novidades, ele passou a falar de suas conquistas com as garotas. Talvez tenha exagerado, mas o fato é que contabilizou inúmeras meninas com quem tinha ficado, beijado, assediado com êxito.
A mãe reagiu de imediato. Com o dedo em riste, disse com firmeza, mas sem braveza, a seguinte frase ao filho: “Nossos filhos, se quiserem beijar, ou até mesmo transar com alguém, que namorem, entendeu?”. Com essa pequena – mas contundente – frase, aquela mãe deu aos filhos uma lição de educação sexual familiar. Se o jovem seguiria o que ela disse, já é outra história e não importa, mas ele estava ciente do pensamento familiar a respeito de comportamentos relativos ao sexo.
A expressão “educação sexual” costuma assustar muita gente. Tanto que há quem diga que ela não deve ocorrer na escola. Deve. Isso porque a educação sexual familiar transmite a moral daquele grupo específico. Já a educação sexual na escola transmite, com base no conhecimento sistematizado, valores, tradições, costumes, leis em vigor no país, diferenças em relação a outros países, comportamentos aceitos e não aceitos pela sociedade, aponta preconceitos e estereótipos que envolvem a sexualidade. São abordagens bem diferentes e ambas importantes para a formação dos mais novos.
Vejamos um exemplo: uma família que professa alguma religião que tem como princípio que o relacionamento sexual só deve ocorrer após o casamento apontará tal princípio aos filhos. É direito da família ter seus valores religiosos e transmitir isso aos filhos.
Na escola, entretanto, isso não deve ocorrer porque uma das funções da instituição escolar é formar seus alunos para a autonomia, ou seja, para que saibam fazer boas escolhas quando tiverem maturidade, e boas escolhas são as escolhas bem informadas. Cabe, portanto, à escola passar todo o conhecimento humano construído e acumulado a respeito da sexualidade para que seus alunos sejam bem informados.
Educação sexual não trata de sexo, mas da sexualidade, tema muito mais amplo porque envolve todo tipo de comportamento relativo ao sexo. Saúde sexual, autocuidado, respeito a si, ao outro e à sociedade, responsabilidade, valores e moral social são temas, por exemplo, da educação sexual. Sabia que algumas doenças sexualmente transmissíveis estão crescendo entre os jovens justamente porque não temos um bom trabalho de educação sexual nas escolas? Não queremos nosso jovens infectados com vírus e bactérias que provocam essas doenças por falta de informação qualificada e de formação, queremos?
Não podemos nem devemos cercear a formação dos mais novos em virtude de nossos valores, de nossos conceitos e preconceitos, de nossa visão de mundo. Eles poderão ser bem melhores do que nós na construção do nosso futuro!

Rosely Sayão, O Estado de S.Paulo
12 de janeiro de 2020 | 02h00

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Nem toda unanimidade é burra

Vamos nos brindar com um texto do Antonio Prata. Acesso restrito mas aqui compartilho por entender que todos tem o direito de ter acesso a bons textos.
Ao afirmar que "toda unanimidade é burra", Nelson Rodrigues não devia imaginar que a frase acabaria se tornando uma unanimidade —ela também, portanto, burra. Para sermos fiéis à máxima é preciso traí-la —o que não deixa de ser um paradoxo bem ​rodrigueano— e dizer que "nem toda unanimidade é burra".
Beber água faz bem. Shakespeare é genial. Todos deveríamos nos esforçar para ser pessoas melhores. Aí estão umas unanimidades nada burras. 
Soam clichê? Sim, mas na maioria das vezes usamos a linguagem para nos comunicar, não para ganhar o Nobel da literatura. Ou melhor, usávamos: em tempos de redes sociais, o conteúdo importa cada vez menos, desde que sirva pra gerar likes, causar, lacrar, enfim, nos trazer fichinhas neste gigantesco cassino online que o mundo se tornou.
Quando a informação vira commodity, passa, como todo produto, a obedecer à lei da oferta e da procura: mais rara a ideia, mais valiosa. A raridade de uma ideia, porém, pode advir não do seu brilhantismo, mas da sua cretinice. Comer um rodo, por exemplo, seria uma ideia tão estúpida quanto original. E nesta época que prefere uma estupidez inédita a uma morna sensatez, o engolidor de rodos certamente teria futuro.
Se eu lançar um livro chamado "Shakespeare, gênio da literatura", dificilmente sairei na capa dos jornais e pipocarei nos seus feeds e timelines. Mas se eu escrever "ShakesPIRO: como o imperialismo inglês e meia dúzia de afetados românticos franceses transformaram um melodrama apelativo em arte profunda", pode ter certeza de que vou fazer barulho.
Em poucos meses, provavelmente, críticos sérios lerão meu livro e provarão que eu sou uma besta quadrada e o William, não. Mas até isso acontecer, já terei escrito para cadernos culturais, debatido em feiras literárias, vou ter saído na Caras de março, fechando o verão, num camarote VIP, abraçando o Faustão.
Neste mundo de competição midiática-digital, não são poucos os que têm como ganha-pão (ou, ao menos, como ganha-like) a estratégia de afirmar que água faz mal, Shakespeare é ruim, tentar ser bom é cretino. Se o único valor é produzir ondas no lago, melhor do que jogarmos comida pros peixes é atirar urânio na água. 
"Vamos combinar que foi original, galera, ninguém antes tinha jogado material radioativo no lago!", "digam o que quiserem sobre o fulano que matou duas toneladas de peixe e contaminou um lençol freático por 20 mil anos, mas ninguém pode negar uma coisa: tá todo mundo falando dele!". 
Em busca do frisson causado pelo esdrúxulo, a mentira se traveste de originalidade, a sordidez, de ousadia. Os dentes afiados da ironia estão prontos para desacreditar qualquer mínimo consenso, afinal, "toda unanimidade é burra". Malala é uma ridícula. Raoni é ridículo. Gandhi era ridículo. Martin Luther King? Sério? Booooring!
Não estou pregando a obediência cega, o conformismo, sonhando com um mundo cor-de-rosa em que não haja discordâncias, agressividade, ruído e sujeira. Grandes artistas e pensadores usaram a marreta. De Nietzsche a Sex Pistols. Eles iam contra o status quo. Tinham coragem de nadar rio acima. É o contrário do que fazem esses Gengis Khans de Twitter, esses enfants terribles de playground, esses niilistas de salão, que fingem discordar em busca de concordância, ofendem para serem aceitos, dizem "fuck you!" e "follow me" simultaneamente. O mundo tá indo pra cucuia e a maior preocupação dessa gente é achar a sacadinha mais sacadosa pra soltar na roda.
Se as coisas continuarem neste rumo, a colisão de um novo meteoro contra o Vale do Yucatán até que parece um final feliz.
Texto de: Antonio Prata
Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Quem vigiará os professores?

Na semana passada, a ministra dos Direitos Humanos, Damaris Alves, anunciou, junto com Abraham Weintraub (Educação), os planos do governo federal de criar um canal para denunciar professores que atentassem contra “a moral, a religião e a ética da família”. Ainda não há detalhes sobre como funcionaria, mas já é possível antever sérios questionamentos a respeito da legalidade da iniciativa, visto que 99% das escolas de educação básica são administradas por municípios, Estados ou pela iniciativa privada (que, pela lei, são fiscalizadas pelas autoridades estaduais). 
Além da questão legal, cabe a pergunta de quem analisaria, de forma objetiva, o que seria um atentado contra a moral ou ética. Damaris, só para lembrar, é aquela ministra que, antes de assumir o cargo, afirmou que na Holanda especialistas “ensinam que o menino deve ser masturbado com sete meses de idade” e que “menina precisa ser manipulada desde cedo para que tenha prazer na fase adulta”. Disse também que escolas do Nordeste estavam distribuindo manuais de bruxaria para crianças de seis anos de idade, e que havia no Brasil muitos hotéis fazenda de fachada, onde “turistas iriam para transar com animais”. Se os burocratas a serem designados para analisar as denúncias contra professores forem adeptos do mesmo grau de realismo mágico da ministra, as reuniões se assemelharão mais a Tribunais da Inquisição da Idade Média do que a qualquer juízo razoável em pleno século 21.
Na mesma coletiva em que foi citado o canal, Weintraub afirmou que escolas que não promovessem um ambiente “adequado” poderiam ser punidas com menos repasses federais, e ainda que Estados e municípios têm a obrigação de “prover um ambiente construtivo para as crianças”.
Resta saber o que o ministro – que na semana passada apareceu numa entrevista acusando universidades federais de terem “plantações extensivas de maconha” e de fabricarem em seus laboratórios drogas sintéticas - define como adequado e construtivo. Imaginem se um professor, do alto de sua autoridade, respondesse a crítica de uma aluna no Twitter xingando sua mãe de “égua sarnenta e desdentada”. Ou que se referisse, em mídias sociais ou em eventos oficias da escola, a opositores políticos e chefes de estado estrangeiros como safados ou cretinos.
Descartando fatores externos à escola, uma das variáveis de maior impacto no desempenho dos alunos é o clima escolar. Ele é construído através de diálogo pautado por relações de confiança e pelo estabelecimento de laços positivos entre alunos, professores e famílias. Instaurar um canal de denúncias vindo de Brasília em nada contribui para esse objetivo. Ter um clima escolar positivo não é garantia de que não existirão conflitos ou discordâncias motivadas por visões de mundo distintas. Mas, quando eles surgem, há maior chance de superá-los de modo civilizado e respeitoso. Algo que, infelizmente, anda muito em falta em nosso ambiente político.

sábado, 2 de novembro de 2019

A desvinculação dos recursos da educação

Aprovada a reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, de novo dá indícios de que o governo apresentará uma Proposta de Emenda Constitucional ao Congresso para acabar com a vinculação orçamentária de recursos para a saúde e educação. Um dos argumentos de economistas que defendem a medida é que as regras atuais estariam engessando, de forma excessiva, o poder de gestores dos executivos federal, estaduais e municipais de redirecionarem recursos públicos para outras áreas e ajustarem contas públicas.
Hoje, a Constituição Federal obriga a União a gastar, no mínimo, 18% de da receita de impostos com educação. Para Estados e municípios, este percentual aumenta para 25%. Proteger a educação da má escolha dos governantes vinculando recursos para o setor não é uma prática nova. A Constituição de 1934 já previa percentuais mínimos para a área, e eles foram sendo ora ampliados, ora retirados, em sucessivas mudanças da Carta ao longo do século 20. Os atuais percentuais foram definidos pela Constituição de 1988, mas um dos maiores marcos dessa legislação veio cinco anos antes, com a aprovação, em 1983, da Emenda Calmon, que já estabelecia os percentuais de 25% para Estados e municípios, e estipulava 13% para a União.
E foi justamente na década de 80, após a aprovação da Emenda Calmon, que o país deu um dos maiores saltos no aumento da proporção do PIB investido em educação, de acordo com dados levantados pelo economista Paulo Maduro Júnior na tese “Taxas de Matrícula e Gastos em Educação no Brasil”. Ao refazer uma série histórica desde 1933, o trabalho mostra que foi só a partir de meados da década de 80 que o país ultrapassou e consolidou um patamar de investimento superior a 3% do PIB (o salto foi de 2,4% em 1984 para 3,8% em 1990). A Emenda Calmon não é a única explicação para isso. Cabe lembrar que este também foi o período de redemocratização, e no qual o crescimento populacional ainda ocorria em ritmo muito mais forte do que o de hoje, gerando demanda por mais vagas na escola.
Não foi em vão o esforço que o país fez para ampliar matrículas. De 1981 até hoje, a proporção da população de 4 a 17 anos fora da escola caiu de 35% para menos de 5%, ao passo que o gasto público continuou aumentando, também graças a mecanismos como o Fundef e o Fundeb. A maior escolarização pode não ter nos levado ao patamar de qualidade que desejamos, mas teve impactos significativos na redução do analfabetismo, do crescimento populacional, da mortalidade infantil, entre outras variáveis fora da escola impactadas pela educação. 
No mundo ideal, políticos brasileiros comprometidos com o interesse público não precisariam de leis os obrigando a gastar com educação. Com mais liberdade, tomariam decisões melhores, sem comprometer o atendimento numa área tão vital. Na prática, é difícil de imaginar esse cenário por aqui. Do ponto de vista das escolhas imediatas, há uma perversidade a mais no caso da educação: seus resultados são menos vistosos no curto prazo. Ruas com buracos, hospitais sem médicos, ou um dia sem coleta de lixo e transporte coletivo têm impacto imediato na popularidade de um gestor. Escolas funcionando em condições inadequadas ou com qualidade insatisfatória têm bem menos apelo. A diferença é que o custo da omissão no presente é pago por gerações.  

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Educação: a "prioridade nacional" e o discurso cínico

Diversos veículos da grande imprensa têm pecado pela fragilidade de argumentos no debate educacional brasileiro. Tirando algumas exceções, a maioria tem trazido simplificações equivocadas e discursos cínicos. O aspecto mais preocupante do fenômeno é o grave abandono do bom senso e da ulterior agenda dos direitos, como o direito a uma escola pública digna para se estudar. A opinião pública, a cada dia, vai se acostumando com uma agenda educacional medíocre, definida por termos que pouco ou nada dizem, como “expectativas de aprendizagem”, “exposição do aluno à aprendizagem” e outros disparates das mesmas e infelizes fontes terminológicas.
Com o acirramento do debate, alguns supostos “especialistas”, para encastelar sua posição e valorizá-la perante a sociedade, passam a cometer o absurdo de cindir o universo educacional entre aqueles que “defendem o professor” contra eles próprios, os autoproclamados “defensores dos alunos”. Nessa cínica e falsa divisão, que rebaixa o estudante à condição de vítima, não é preciso escola digna, bem equipada, boa merenda, professor intelectualizado, nada disso. Não é preciso respeitar os direitos de alunos e professores a espaços dignos. Com base em um grave pragmatismo ofensivo, independentemente das condições ofertadas, o objetivo é alcançar os fins, ou seja, um resultado mínimo de aprendizado em português e matemática, quando muito em ciências.
Sinceramente, não perco meu tempo me esforçando a entender essas revoltantes simplificações. Posso até ser limitado, mas tenho a humildade de saber que não há uma fórmula capaz de garantir educação de qualidade sem professor bem remunerado, com carreira atrativa, boa formação inicial e continuada. Também não consigo debater educação opondo os direitos dos educadores aos direitos dos alunos – e vice-versa. Acredito e defendo aquilo que até está sacramentado na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Lei nº 9.394/1996): a educação se dá em um processo contínuo de ensino-aprendizagem.
Aliás, a boa e séria bibliografia nacional e estrangeira mostra que é preciso envolver no processo educativo, além de professores e estudantes, as famílias, diretores e coordenadores pedagógicos, os demais profissionais da educação, os gestores dos sistemas públicos de ensino, a comunidade do entorno da escola, a sociedade civil, etc. Em educação, a participação dos atores altera positivamente o produto.
Diante da minha experiência de trabalho, da minha aposta na escola pública e, principalmente, do meu respeito ao bom senso, não consigo mais ler, ouvir e ler as insistentes aspas e falas de que “a educação brasileira não precisa de recursos, mas de melhor gestão”. Esse discurso é falso mesmo em sua variante politicamente correta, “não basta mais recursos, isso até é importante, mas é preciso boa gestão”. É uma espécie de falácia circular, que como toda falácia, não leva a nada.
Em primeiro lugar, eu não conheço a mágica capaz de garantir boa gestão sem profissionais bem remunerados e motivados, tanto nas escolas, como nos órgãos gestores das redes. 
De uma vez por todas, se o objetivo da nação for a consagração dos direitos sociais e a universalização de um padrão digno de qualidade de vida, não há outra saída: é preciso investir mais em educação pública. Até por que o Brasil é um dos países que mais envelhecem no mundo e, se não investirmos desde agora na atual e na próxima geração de crianças, adolescentes e jovens, não haverá gente capaz de investir no Brasil num futuro bem próximo. Nosso problema, concretamente, é muito mais profundo do que aquilo que o imediatismo ou a superfície do debate educacional e econômico nos permite observar.
Tudo isso posto, não temos mais tempo para insistir na reprodução de falácias ou na busca de soluções mágicas e falsas de gestão. Passou da hora de termos menos hipocrisia e falso bom mocismo no debate educacional. É urgente a necessidade de o Brasil pôr a educação, a ciência e tecnologia e a saúde no centro de suas prioridades. Objetivamente, pela distribuição orçamentária observada hoje, elas não são. Aliás, infelizmente, essas três áreas fundamentais estão muito distantes de alcançar algum status de prioridade no orçamento público brasileiro.

domingo, 2 de junho de 2019

LEITURA DA EDUCAÇÃO

Educar requer maturidade, buscas, pois não existe fórmula mágica. Teorias são simplesmente teorias, e muitos, principalmente coordenadores sem paixão pelo seu trabalho, tentam encaixar a escola nesse molde disforme, muitas vezes ultrapassado, impondo que professores sigam essas tendências, permitindo que o ranço continue impedindo o avanço.
Como o milagre da atuação do Conselho Escolar não acontece, a proliferação dos problemas se intensifica, fazendo com que a responsabilidade dos órgãos competentes passe longe dos corredores da sala de aula, que, com a perda de autonomia do professor e o alastramento da indisciplina, está se tornando uma atmosfera cada vez mais difícil de respirar.
O mundo evoluiu numa velocidade tão alarmante que a escola se distancia da sociedade e se perde pelos caminhos que antes acreditava serem trilhas seguras; a escola de paredes e grades está perdendo terreno para a “escola da vida”. Seus atrativos são fantásticos: portões amplos, corredores iluminados e mestres com “habilidades e competências” para transformar seus alunos em doutores na arte de ser delinquentes, pois a tradicional continua estagnada no tempo, com técnicas e princípios que não educam, e, mesmo com os avanços da ciência, que buscam caminhos alternativos para sanar problemas emergentes, estamos distantes de termos uma educação que cumpra metas para que a escola atinja as suas funções sociais.
A explicação de tantos fracassos chega a galope, pois os acontecimentos transitam por corredores, pátios, salas… e não é preciso mergulhar no tempo para entendermos: há
pouco mais de uma década, pedagogos e psicólogos eram os senhores que retinham as teorias e técnicas educativas. Atualmente, simplesmente coordenam um grupo de formadores de opinião que não assimilam a dimensão da responsabilidade diante daqueles que passam por sua regência.

No novo contexto que visa à qualidade, um dos maiores desafios é ser coordenador, pois a missão de administrar problemas e transformá-los em soluções exige mais do que idealismo. É preciso assumir a responsabilidade de direcionar trabalhos pedagógicos, motivar um corpo docente acostumado a sentar à espera das atividades prontas com ideias que abram passagem para integrar a escola à sociedade e, através desse intercâmbio, fazer com que a unidade de ensino atinja as metas sociais, políticas e econômicas da Educação. 
Na fase de estruturação, alunos, professores, governo e pais não falam a mesma língua. E cada um tem um pretexto convincente para explicar o não cumprimento dos seus deveres. O mercado de trabalho está recebendo profissionais despreparados e terá que capacitá-los para garantir a qualidade de seus serviços e produtos para não ser esmagado pela concorrência.
Ante o desequilíbrio, a escola se depara com dificuldades para cumprir o seu papel na aplicação dos valores humanos, pois, mesmo inserida nesse contexto, lança barreiras que a impedem de atingir seus objetivos. 

Mas conduzir a escola por um caminho que atenda às necessidades, em meio a um furacão de instabilidade, é realmente um sonho que se torna cada vez mais distante de se realizar, pois educar uma sociedade deficiente de valores exige uma escola que descarte teorias frívolas, conteúdos evasivos e métodos ultrapassados através de reformas condizentes às necessidades da clientela.
Enquanto a escola permitir ser administrada sob interesse político-partidário e a Educação continuar com professores desmotivados e descompromissados com o ofício de ensinar, a escola dos meus sonhos continuará a ser apenas um sonho.

domingo, 5 de maio de 2019

Loucos por gente

Nós, professores, temos um grande vício: somos apaixonados. E todo apaixonado é meio insano, faz alguma coisa que nem sempre deveria, se dedica mais do que pode, às vezes se esquece de si mesmo. Ou então não se lembra de que nós exercemos uma profissão, que precisamos receber nosso salário de forma adequada, que temos de lutar na estrutura sindical e organizar nossas reinvindicações no público e no privado. Às vezes, até disso nós nos esquecemos. Não deveríamos, mas esquecemos, porque somos apaixonados.
Todo professor íntegro leciona por paixão. Paixão pelo quê? Por ganhar pouco, correr o dia inteiro, ficar para lá e para cá? Não, claro que não. Temos paixão por aquela ideia de que gente foi feita para ser feliz. Como diria Shakespeare, “Vida é uma coisa cheia de som e fúria”. Nós somos furiosos, brigamos muito.
Imagine uma reunião de professores no final do ano. Um colega quase pula no pescoço do outro por causa de um aluno. Nós fazemos barulho e somos tão ruidosos porque somos apaixonados. Aliás, professor adora se encontrar, adora reunião — se for paga, então, gosta mais ainda. Reunião de professor dura, mais ou menos, uma hora e meia, sempre dividida da seguinte maneira: na primeira meia hora, ficamos às vezes falando mal de quem não veio, dizendo “Nós estamos aqui, é um absurdo”; na segunda meia hora, ficamos falando bem de quem veio, “Mas nós viemos, nós vamos levar isso à luta porque isso é importante”; e, na terceira meia hora, buscamos horário para marcar outra reunião. E acontece tudo de novo…
Professor adora o período de férias, quando os alunos desaparecem da escola. Ele aguenta um dia, dois, de repente começa a sentir falta. A escola fica triste e em silêncio, não tem aquele barulho. Tem professor que fica louco para as aulas começarem, e, quando elas começam, depois de uma semana, ele não aguenta mais, quer que tudo pare. É mais ou menos como a mãe que diz para os filhos: “Eu não aguento vocês; eu vou me matar; um dia, eu vou sumir, e vocês vão ver”. Nós também falamos demais.
Mas temos uma coisa inacreditável, que é uma amorosidade muito grande. Só isso explica por que uma pessoa dá aula por 20, 30 anos, se aposenta e depois volta a lecionar. Por que tem professor que não aguenta ficar fora de uma sala de aula? Ora, não tem gente que é louca por pizza? Então, também existe quem seja louco por gente. Que, em vez de cuidar só da própria vida, resolve ajudar outras vidas também.
Essa característica não é exclusiva dos professores, claro. Isso tem a ver com a amorosidade, que, por sua vez, tem a ver com amor, que é uma palavra que anda meio ausente na Educação e não deveria. Quem ama não desiste. Quando começamos a desistir um pouco da nossa atividade, dos nossos alunos, começamos a perder um pouco o gosto. Se você está deixando de amar, aí é melhor deixar, porque Educação pressupõe uma capacidade amorosa imensa, não é inesgotável, porque nada o é, mas ela deve ser imensa. E, por ser amorosa, essa atividade precisa de condições de trabalho, de estrutura salarial, de organização pedagógica, de jornadas adequadas… senão não dá para exercer essa amorosidade de forma concreta.
Lembrar sempre: insistir, repartir e não desistir.

CORTELLA, Mario Sergio. Nós e a Escola: Agonias e Alegrias, p. 20-22, Petrópolis: Vozes, 2018.

domingo, 7 de abril de 2019

Um bom começo, por uma primeira infância saudável para todos

Há hoje um certo consenso, entre especialistas em educação e saúde, de que a primeira infância é o momento mais importante para se criar as condições para um desenvolvimento integral e saudável da criança. 
É nessa fase que se ensaiam elementos de compreensão de mundo, de comunicação com os outros, de conhecimento do próprio corpo e o manejo das emoções. 
A formação de sinapses permitirá que sensações sejam processadas e que aprendizados se acumulem, em um processo orientado pela riqueza das experiências vividas pela criança e pelo afeto de que se vê cercada. 
O grande inimigo dessa fase é o chamado estresse tóxico ou traumático, em que a violência ou a negligência extrema podem trazer danos fortes, alguns irreversíveis, ao desenvolvimento infantil.
Pela complexidade e relevância dessa fase, há igualmente um consenso de que se trata de um período em que diferentes políticas públicas devem atuar para assegurar o pleno desenvolvimento da criança e a garantia de seus direitos. 
Para a educação, o que se busca é assegurar que as crianças cujos pais assim o desejarem tenham acesso a creches de qualidade, com prioridade para as famílias em situação de pobreza extrema, e garantir a todas elas boas pré-escolas. 
Mas não é suficiente —e, em alguns casos, nem desejável, institucionalizar crianças pequenas. A formação de vínculos fortes com pais e outros membros da família é tão ou mais importante quanto os cuidados e a educação de uma creche. 
(...)
Ainda há muito o que fazer para promover igualdade de oportunidades em nosso país, mas, se todas as crianças em situação de vulnerabilidade se beneficiarem de atenção, educação e cuidados necessários, será um bom começo.

Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O que verdadeiramente somos? Ego ou Alma ?

O que nós verdadeiramente somos? Somos Seres Espirituais que habitam um corpo físico. Não somos nosso corpo, isso é matéria, é orgânico. O corpo é protegido pelo nosso ego. Somos seres sensitivos que pensam. Somos emocionalmente racionais.
Um dia, todos nós iremos morrer e ele vai acabar. O nosso verdadeiro Ser, aquilo que realmente somos é nossa Alma, que é infinita, e é isso que nunca morre. A alma necessita do corpo físico e do nosso ego para transcender em nossa existência neste plano terrestre.
A palavra Alma vem do latim animus, que anima. Ela é nossa parte imortal, é nossa vida, essência fundamental, é o Sopro de Vida. Ela é um movimento que é maior que o corpo, maior que a matéria. A Alma “vive dentro do corpo, por isso precisa dele, porém ela também é separada dele, pois não acaba quando ele morre, ela é eterna e não se dissipa.
É claro que manter nosso corpo físico saudável é essencial, essa é a função maior do nosso ego, afinal a manutenção de nossa Alma neste plano depende da manutenção da matéria. Mas não devemos esquecer que os desígnios espirituais são muito mais importantes que os materiais.
É comum não pararmos para refletir sobre o que é mais essencial em nossas vidas, assim focamos em acumular bens materiais que, na verdade, não tem valor. O ego tem necessidade da riqueza material, de relacionamentos e também de conhecer a bondade e compaixão. Afinal quando morremos, não levamos nenhum dinheiro, casa, e nem o prestígio ou poder que essas riquezas proporcionam no plano terrestre.
Temos que ter atenção para não nos perdermos na correria dos afazeres e dificuldades do cotidiano que nos distraem de ver o todo, apreciar os pequenos momentos de felicidade que estão em todo o lugar e finalmente nos desviam de encontrar nossa missão, realizar nosso propósito e deixar um legado terreno. Quando não focamos em nossos objetivos maiores as distrações nos aprisionam. Você já parou para refletir sobre aquilo que está aprisionando seu Ser, sua Alma, que não a deixa ser livre?
Podemos viver em dois estados internos, o Estado de Graça, beleza interior, paz, não comparação, não julgamento, que é a Consciência da Unidade“ ou o Estado de Sofrimento, de dor, de comparação, julgamento, um estado destrutivo, que é a “Consciência do Ego.
Temos o poder de escolher de qual Estado interno e de qual consciência partimos, de qual Estado interno realizamos nossas tarefas, tratamos as pessoas, buscamos atingir nossas metas, conviver com o outro e convivemos com nós mesmos.
Convido você a refletir também: de qual Estado você quer criar Riqueza, Abundância e Prosperidade? Você vive em um Estado de Paz ou Guerra Interna? E o que isso gera para você e para as pessoas dos seus sistemas?
Se você vive em um Estado de Sofrimento seu Ego está dominando você. O Ego é parte de nós, mas não é nossa Alma, o Ego é criado pela Alma  e tem como propósito protegê-la. Protegendo o corpo físico a Alma é protegida.
Quando somos dominados pelo Ego não vivemos no tempo presente, ficamos presos ao passado e julgamento ou ao futuro. Neste estado somos mais egoístas e vivemos na realidade material, diferentemente da Alma que vive na realidade energética.
O Ego tem necessidades. A experiência maior do Ego é o Medo. Medo da morte, da limitação do corpo e de não conseguir satisfazer suas necessidades. Quando vivemos pela experiência do Ego ficamos como medo da falta de dinheiro, de não termos conforto, de não sermos estimados, de não sermos lembrados, amados, de não termos poder. A alma não tem medo, tem desejos.
Porém quando vivemos em um Estado de Graça, vivemos pelo Propósito da Alma, vivemos em paz, estamos presentes, experienciando o AGORA, e consequentemente alcançamos uma riqueza energética, estamos mais próximos do divino, da Iluminação, pensamos no coletivo, na Unidade, e geramos uma Abundância e Prosperidade duradouras que se propagam a todos aqueles ao nosso redor e não somente nós mesmos.
Quando vivemos pelos desígnios da Alma buscamos a evolução e a conexão. Nossos dons e talentos únicos são usados para atingir nosso propósito maior de servir com amor toda a Humanidade, realizamos os desejos mais verdadeiros e profundos do nosso Ser.
Como podemos nos livrar da dor, dos sentimentos negativos e viver pela experiência da Alma? Como podemos verdadeiramente libertar nossa Alma? O primeiro passo é buscar o Autoconhecimento Intenso e daquilo que te trava, que te impede de seguir em frente, visando e alcançando seus objetivos com mais facilidade.
Tenha em mente que a solução das suas dificuldades não está no mundo exterior. As perturbações são criadas e vivem dentro de nós, assim procurar as respostas a questões tão essências no externo nunca trará resultados completamente satisfatórios. Você não se sentirá absolutamente livre visando o que está fora de você, pois sempre surgirão novos questionamentos.
A solução definitiva é conhecer-se e não se perder dentro de suas dificuldades. E assim, pelo Autoconhecimento, você toma as rédeas de sua vida para realizar seu propósito com mais clareza, de maneira mais leve e em paz, desse modo se alcança a verdadeira Liberdade Interna.
Te convido a refletir mais uma vez: quais são as suas sombras? A partir de qual Estado da Consciência (Ego ou Unidade) e de qual Estado Interno (Sofrimento ou Graça) você vive? Há alguém que você tenha que perdoar? Você já perdoou a si mesmo pelos erros e insucessos do passado? O que te faz perder a paciência? Você já descobriu seu propósito maior? Esse e tantos outros questionamentos são essências para descobrir o que te aprisiona e como você pode libertar a sua Alma.
Só você tem as respostas para as perguntas que farão a diferença em sua vida. Lembre-se sempre de se lembrar de nunca mais esquecer: na Caverna mais profunda está o Tesouro mais Precioso e no Veneno sempre estará o Antídoto.
Assim você encontrará as respostas para as questões mais difíceis da sua vida em si mesmo, libertando-se do passado, ressignificando suas dores, enxergando a realidade através da perspectiva positiva, perdoando quem lhe causou mal e perdoando a si mesmo.
Somente aí você será “VERDADEIRAMENTE LIVRE  e poderá cumprir seu verdadeiro propósito, o Propósito da Alma de SER FELIZ !

O TEXTO NÃO É MEU, MAS VALE A PENA A LEITURA. MPS