domingo, 31 de janeiro de 2010

A emancipação da África Negra

O final da Segunda Guerra Mundial criou um clima amplamente favorável a democracia e a emancipação dos países que ainda estavam sob o jugo colonial de nações estrangeiras. A vitória no confronto com os nazistas liderada pelos Estados Unidos, Inglaterra e França trazia no seu bojo o claro constrangimento das nações européias. Esses países da Europa, que proclamavam em alto e bom tom o seu ideário liberal e democrático, ainda se valiam do domínio sobre territórios africanos e asiáticos para aumentar suas riquezas e fortalecer suas economias.

Isso aumentava ainda mais as dificuldades internas dos países africanos em busca de emancipação e estabilidade política e econômica. Até mesmo em países que teoricamente estavam mais preparados para realizar a transição da posição de colônias para a de países livres, como eram os casos do Quênia e da Nigéria (ex-colônias britânicas) ocorreram muitos problemas.

O Quênia, país pobre situado na África Oriental, caracterizado por um território sem água, em que as terras são estéreis, tinha enormes problemas em setores básicos como a produção e a distribuição de alimentos. Suas poucas áreas propícias ao desenvolvimento de culturas agrícolas situam-se na região sul do país, na proximidade do Oceano Índico.

Se não bastasse essa penúria, o Quênia também sofria com os conflitos internos causados por algumas de suas tribos, como foi o caso da Rebelião Mau Mau (1952). Esse imbróglio foi causado pelos membros da tribo Kikuyu, que se organizou numa organização terrorista que atuava secretamente e lutava contra os colonizadores brancos que viviam em seu país, causando grande terror entre os membros dessa comunidade. Esse foco de rebelião foi sufocado apenas com a conquista da independência do país, em 1958.

A libertação da dominação colonial inglesa permitiu que chegasse ao poder o presidente Jomo Kenyatta, de origem Kikuyu. Kenyatta havia sido preso em 1953, onde permaneceu durante sete anos, sob a acusação de ser lider da revolta dos Mau Mau. Durante seu período de reclusão o presidente da recém libertada nação estudou o socialismo e criou uma versão própria dessa corrente política, adaptada a realidade africana.

Acreditava Kenyatta que o Quênia deveria adotar um socialismo que se aproximasse mais dos modelos escandinavos e britânico e não dos padrões adotados pelos russos ou pelos chineses. Advogava em favor do fim dos ressentimentos e tensões com os antigos colonizadores em prol da construção de um país melhor. Ao propor essas idéias, refutava os conceitos de luta de classes do marxismo clássico por entender que essa estrutura social não imperava na África. Em sua versão do socialismo, Kenyatta acreditava que seus compatriotas deveriam evitar que o poder e as riquezas de suas terras fossem apropriadas por indivíduos e grupos estrangeiros. Defendia-se também a participação plena e igualitária dos cidadãos na vida política nacional.

A Nigéria por sua vez, vivia assolada por denúncias de corrupção, desmandos e violência que se tornaram ainda mais devastadoras para o processo emancipatório local com o assassinato de seu primeiro-ministro e a ascensão de um governo militar em 1966. Para piorar ainda mais a situação um movimento separatista proclamou o surgimento da República de Biafra apenas um ano depois do estabelecimento dos militares no poder.

O país foi então tomado por uma guerra civil que se estendeu por três anos e vitimou mais de um milhão de pessoas. As maiores perdas não ocorreram nos campos de batalha e sim em virtude da fome e de doenças ocasionadas pela devastação do país. A derrota dos separatistas ocorreu apenas em 1970 e impediu a plena organização do país, um dos mais ricos em recursos minerais do continente africano (possui reservas de gás natural, carvão, petróleo e colúmbio – mineral utilizado para a produção do aço).

Havia também casos de países que realizaram sua independência sem que o poder fosse repassado para a maioria negra. Nesses casos a minoria branca concentrou as atribuições políticas, militares e econômicas e legou aos negros uma posição de submissão controlada a partir de um aparato de estado de caráter repressor.

Isso aconteceu, por exemplo, no Zimbábue (antiga Rodésia), onde a conquista da Independência levou ao poder o primeiro-ministro Ian Smith, que cortou todos os laços que uniam o país a metrópole inglesa, inclusive a participação na Comunidade Britânica. Essa atitude radical não promoveu, porém, o gradual repasse das atribuições políticas e econômicas à comunidade negra que formava a esmagadora maioria da população do país.

Acuado por pressões políticas externas, advindas principalmente da Inglaterra e dos Estados Unidos, Smith promoveu uma lenta abertura política a partir da qual se comprometeu a passar o poder político para os negros. Em 1979 o país teve o seu primeiro presidente negro eleito. Apesar disso as oposições mais radicais ao domínio dos brancos acreditavam que esse novo governo havia sido eleito de forma fraudulenta e que os componentes do governo eram apenas títeres controlados pelos brancos.

O mais célebre caso de governo despótico e racista aconteceu, no entanto, na África do Sul. Nesse país vigorou durante muitos anos o Apartheid, ou seja uma política discriminatória e extremamente preconceituosa em relação a comunidade negra que tinha respaldo não apenas dos dirigentes que controlavam o país, mas também da própria lei maior do país, a constituição.

Líderes nacionais que abertamente se posicionavam contra os abusos cometidos na África do Sul foram penalizados de forma brutal. Stephen Biko, influente defensor do protesto não violento foi assassinado na cadeia a partir do comando das principais autoridades do país. Ele realizava importante e expressiva campanha em prol da recuperação da auto-estima de seus compatriotas ao liderar protestos que tinham como principal bandeira o slogan “Black is beautiful”.

Nelson Mandela ficou encarcerado por décadas até que fosse libertado e pudesse se tornar o primeiro presidente negro da África do Sul já no início dos anos 1990. Desmond Tutu, bispo anglicano, respaldou-se na sua condição de religioso para proteger inimigos do estado racista e pregar abertamente contra o Apartheid em nível internacional. Apesar de seus esforços e de diversos outros ativistas a comunidade internacional que investia no país não apoiou de forma efetiva um boicote a África do Sul contra o racismo.

Outro caso contundente quanto as dificuldades dos países africanos para atingir autonomia plena foi o de Gana. Essa ex-colônia britânica, conhecida anteriormente como Costa do Ouro tornou-se independente em 1954. O líder do movimento emancipacionista foi Kwame Nkrumah (1909-1972), que apesar de suas origens humildes foi educado na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Tinha fortes tendências socialistas e era um estudioso do marxismo, apesar disso nunca declarou formalmente ter aderido ao socialismo. Buscou apoio para algumas de suas políticas internas em Moscou. Acreditava que as tradições culturais africanas como as de seu próprio país não poderiam ser esquecidas em favor das influências européias. Centralizador, o presidente de Gana criou um regime político unipartidário. Investiu em ações de caráter social com a construção de hospitais e um importante trabalho na área educacional.

Foi deposto por um golpe militar sob a acusação de corrupção e da criação de um culto a sua própria personalidade. Esse golpe, conforme auferido posteriormente foi financiado pela CIA (Agência Central de Inteligência) dos Estados Unidos. A ação norte-americana fazia parte das estratégias de combate a expansão do comunismo internacional daquele país. O importante era derrotar os russos, o que aconteceria com a África pouco importava...

Foi no Congo, colônia da Bélgica, que ocorreu uma das mais duras e violentas revoltas do continente africano. Prevendo que os acontecimentos locais poderiam redundar num banho de sangue os colonizadores belgas concedeu a independência a seus súditos locais. Esse acontecimento desencadeou lutas internas que motivaram o surgimento de movimentos separatistas, com especial destaque para a revolta que ocorreu em Katanga.

Katanga era a principal fonte de renda do país com suas ricas minas de cobre, controladas por empresas belgas. Lideranças locais motivadas pela riqueza de seu subsolo iniciaram revolta contra o poder central do país e promoveram o assassinato de vários líderes nacionais, inclusive do líder esquerdista Patrice Lumumba. Para isso contaram com o auxílio da CIA, preocupada com a possibilidade dos comunistas tomarem o poder no país.

A ação do Conselho de Segurança da ONU impediu a continuidade da guerra civil no país, no entanto não impediu que a história daquela nação continuasse problemática e cheia de dificuldades já que em 1971 assumia o poder o ditador Mobutu, que mudou o nome daquela nação para Zaire.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As Crianças Pensam?

Freqüentemente nos dirigimos às crianças e exigimos que eles tenham atitudes de adulto. Não são raros os momentos que chamamos sua atenção dizendo coisas do tipo: “Pensa direito menino!”, ou “Presta atenção no que faz, parece que você está no mundo da lua!”.

Quando não fazemos isto, acabamos aceitando todo tipo comportamento que possam ter, com a desculpa que ainda são crianças, e que, portanto não é o momento de exigirmos deles atitudes maduras.

Uma terceira possibilidade tão danosa quanto as duas anteriores acontece quando dizemos: “Não faça isto”, ou ainda “Não fale isto, que é feio”, sem darmos as justificativas pertinentes.

Em todas as alternativas acima, privamos as crianças do que é mais caro aos adultos: O PENSAR.

O problema não reside em dizermos às crianças o que elas devem ou não fazer, mas em como fazemos para que elas entendam o que pode ser feito ou não, isto significa que temos que dar a elas a chance de construir suas hipóteses sobre as coisas. Assim, antes de dizermos: “Não faça isto”, devemos fazer com que ela justifique porque está fazendo aquilo, e o que significa para ela agir de determinada maneira. Nossa preocupação deve estar voltada, portanto, não exclusivamente para algo que a criança faça ou fale, mas antes para as motivações que ela julga imperiosas e para as justificativas que consegue elaborar.

Esta mudança de perspectiva obriga a nós, adultos, deixarmos de nos preocupar tanto com o que as crianças fazem, nos fixando mais nos procedimentos e nas construções mentais que elas elaboram para chegar ao que externalizam. Ou seja, é mais importante o que provoca certas atitudes e não a própria atitude em si.

Isto obriga os educadores (porque é cada vez mais raro encontrar pais preocupados em fomentar nos filhos um sólido processo reflexivo) a garantirem duas coisas fundamentais na educação infantil: primeiro, que as crianças possam refletir sobre sua ação, buscando dar significado e sentido a ela, preenchendo de conteúdos as atitudes que tem, que muitas vezes parecem não fazer muito sentido para ela, porque não conseguem pensar por si mesmas sobre tudo. Trocando em miúdos: decidir menos por elas, e acreditar que elas podem encarar certos desafios típicos de sua idade, e aprender com eles, sem que alguém precise decidir por elas.

Segundo, que as atitudes delas deixem de ter caráter meramente repetitivo, deixando de ser meras cópias do que fazem os dos adultos, passando a obedecer a um caráter auto-reflexivo, amparado nos conceitos que consiga formular. Ou melhor: nada mais aterrorizante que pais que ficam obrigando os filhos pequenos jogarem futebol e serem “machos”, as filhinhas ficarem rebolando na frente das visitas (humilhando a criança, constrangendo os amigos que se vêem obrigados a dizer: Que lindo! E expondo a pobreza de espírito dos pais).

A criança quando é freqüentemente solicitada a justificar seu comportamento, acaba percebendo que não podemos agir e dizer coisas sem sentido.

Isto não significa que a criança deve ser repreendida e acossada por conta de todo tipo de enganos que cometa, mas sim que devemos garantir que elas consigam aprendam com seus erros dentro de um processo sadio, fraterno, equilibrado e paciente; promovendo a auto-estima, o desejo de enfrentar e superar, ao invés de um espírito acuado e acovardado e culpado. A aprendizagem não significa o castigo (como sugerem as religiões cristãs), nem a permissividade, mas sim a busca do entendimento das armadilhas e enganos, das implicações, das alternativas e das conseqüências daquilo que elas fazem.

O nosso sistema educacional, e grande parte dos nossos professores, por acreditar que o pensar nas crianças não é consistente, e, portanto o que elas dizem não deve ser levado à sério, preferem ensinar tudo, como se elas não tivessem ao longo de suas vidas elaborado suas hipóteses sobre as coisas que já vivenciaram.

Os professores preferem ensinar, por exemplo, “A lei da gravidade”, aos seus alunos, e não resgatar deles suas explicações e sensações. Ensinamos, portanto conceitos acabados, histórias mortas, fórmulas áridas, coisas desinteressantes às crianças e com certeza aos adultos também.

Mas se a escola se parece mais com matadouro do que com a vitrine para o mundo, ela não faz isto porque maldosamente nos deseja com a consciência lesada, faz sim porque nós somos e preferimos ser assim. Percebam não afirmei: porque somos assim, pois isto tem caráter fatalista, disse por que PREFERIMOS SER ASSIM, fazemos a opção por não pensar, e achamos que as pessoas que nos cercam e as crianças incomodam menos quando não perguntam.

Os pais preferem ver seus filhos crescerem na frente da televisão, sem qualquer critério e sabor pela vida, os professores preferem ocupar-se dos conteúdos do ensino. O problema não está na TV (coisa do demônio, segundo os estúpidos, tal qual foi a luneta, a vacina) nem nos conteúdos, mas na maneira como pais e educadores se comportamos diante dela. Ela é fonte importante de informações, mas informação sem reflexão não faz sentido, só esclarece e doutrina.

Nossas crianças não merecem continuar a serem adestradas.

Educar implica em aprender e fazer, em fazer e pensar, em compreender e justificar, em dizer e construir, em buscar e discordar, em criar e destruir. Mas como ninguém consegue ensinar o que não aprendeu, o caminho ainda parece longo.

Nilson Santos
Professor de Filosofia e História da Educação/UNIR

sábado, 23 de janeiro de 2010

Somos todos deficientes intelectuais?

O argumento de que todos somos deficientes é muito comum e tem o intuito de igualar as pessoas com deficiência a todas as outras. No entanto, igualar as deficiências sensorial, física e intelectual às deficiências humanas e pessoais como os defeitos de personalidade (egoísmo, agressividade, impaciência, etc.) é o mesmo que negar as deficiências como as conhecemos e são vistas socialmente.

Pessoas com deficiência são iguais a todos como pessoas humanas, porém dentro das suas diferenças específicas e nessas se distinguem suas deficiências.Se as pessoas querem aceitar as pessoas com deficiência, que as aceitem além de suas deficiências comuns e pessoais, mas com consciência plena de suas deficiências específicas que as impedem de enxergar, andar, ouvir ou pensar com rapidez.

As pessoas com deficiência só se sentirão plenamente aceitas se forem vistas em todas as suas características pessoais. Quando alguém diz que "afinal, todos temos nossas deficiências", começa a negar, na verdade, a mais social e pessoal das características das pessoas com deficiência que é a sua diferença e que por ela se denominam." *

Talvez nem todos saibam que eu sou pai de um menino com síndrome de Down (e de uma menina com síndrome de capataz - quer mandar em todo mundo) e, por esse motivo, já há alguns anos estou envolvido com as questões relativas à deficiência intelectual (isso mesmo, não se usa mais deficiência mental desde a Declaração de Montreal de 2004), especialmente a inclusão de todas as pessoas em todos contextos.

Desde que o Samuel nasceu tentam me provar (ainda não me convenceram e, à medida que ele cresce, me convenço menos ainda) que existem algumas áreas do raciocínio que são problemáticas nas pessoas com deficiência intelectual: percepção, memória, abstração e capacidade de interpretação. Lendo e escrevendo eu descobri que não são as pessoas com deficiência que tem essa dificuldade. Somos todos nós.

Temos sérios problemas de percepção. Poucas vezes conseguimos notar que algo diferente está acontendo ao nosso redor. Quando percebemos o fato, não conseguimos ler suas entrelinhas, quando lemos as entrelinhas distorcemos tudo.

Dizem que o brasileiro é um povo sem memória. Tenho a impressão que essa não é uma exclusividade nacional. Com a desculpa da nostalgia voltamos a cometer os mesmos erros do passado. De um lado valorizamos a forma de viver do "nosso tempo" (nesse caso sempre algo da nossa infância e juventude) como se esse tempo não fosse o agora. Ressucitamos anacronismos e ainda achamos bonito. Do outro lado, esquecemos totalmente a história, geralmente naquilo que ela teve de pior, até que seja tarde demais e o estrago já tenha sido feito...de novo.

Também descobri que o uso de metáforas, analogias, metonímias e outras figuras de linguagem são inviáveis. Ironia, então, nem pensar. Não sabemos ou não queremos exercitar nossa abstração. Isso dá trabalho e exige que se pare para pensar. Só conseguimos conviver com o que é concreto, visível, palpável ou compreensível de forma direta. Precisamos personificar conceitos, ou melhor, só personificar sem conceituar nada. Deve ser por isso que os reality-shows fazem tanto sucesso, uma vez que não exigem nenhum esforço intelectual.

Sempre que eu digo que o Samuel está alfabetizado desde os 6 anos, alguém me pergunta : "mas ele sabe ler (i.e. decifrar o código) ou consegue interpretar o que está escrito ?". Sou obrigado a responder que ele interpreta perfeitamente. Deve ser porque ele se limita a interpretar o que está escrito. Muitas das discussões que vejo nos grupos acontecem simplemente porque as pessoas começam a responder antes de ler o que está escrito. Não têm nenhuma capacidade de interpretação, não por incompetência, mas por displicência. Um fala bola e o outro responde a respeito das condições meteorológicas. Volta-se e explica-se o que é a bola e dizem que você não gosta de chuva.

No que que isso vai dar no futuro? Não sei, acho que não tenho a percepção do todo e, de qualquer forma, quando o futuro chegar ninguém vai se lembrar mesmo.Talvez os seres do porvir apenas nos interpretem como uma abstração qualquer. Os seres do porvir serão justamente esses que hoje chamamos de deficientes intelectuais, que prestam mais atenção, guardam nas suas memórias o que lhes é relevante, conseguem abstrair e interpretam corretamente o que é escrito porque, conscientes de suas limitações, estão preocupados em acertar.


Direitos Inegociáveis

Interessante notar que, no caso da inclusão escolar, muitos dizem que não é possível porque as escolas não estão preparadas, os professores não estão preparados e existem pais e pessoas com deficiência que não querem estudar em escolas comuns... Neste caso, a questão do direito é desconsiderada ou relegada...

A luta pelo livro acessível passa pelo mesmo viés: as editoras alegam que não estão preparadas... Mais uma vez, o direito é protelado...

De fato, as escolas e os professores não estão preparados e jamais estarão com os escolares com deficiência do lado de fora. A escola para todos é um direito inegociável.

Existem livros excelentes e péssimos livros. Mas, é preciso ler para saber o que presta e o que não presta. O direito de ler é sagrado e inegociável.

Quanto à audiodescrição, os argumentos não são muito diferentes e o direito vai pro ralo...

Dizem que muitos cegos não querem a audiodescrição. Muitos cegos resistiram ao computador e, depois, descobriram que não conseguem trabalhar sem ele. Muitos cegos não vão ao cinema porque o filme é inacessível. Não se trata de saber quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? É preciso assegurar e praticar a audiodescrição porque este direito é é inegociável com qualidade ou sem qualidade do produto. É a partir da garantia do direito que se constroem as soluções, as competências, os aprimoramentos, os novos conhecimentos e a cultura da audiodescrição ampla, geral e irrestrita.

A audiodescrição é uma inovação e as pessoas cegas só vão saber se a qualidade é boa ou sofrível se houver uma cultura de audiodescrição na TV, no cinema, no teatro, em espetáculos, na escola e em todos os espaços nos quais existam imagens visuais. Trata-se de um direito no campo da acessibilidade. Portanto, é para ser cumprido e não negociado.

Elizabet Sá - Psicóloga e Educadora (http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2009/11/direitos-inegociaveis-por-elizabet-sa.html)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Didática e o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação

Será que é possível trabalhar a Didática junto à Tecnologia e tudo que esta representa numa situação de aprendizagem? Percebe-se que existe certo desconforto quando se fala em didática e prática com o uso de tecnologias em sala de aula. Isso se deve por muitos professores acreditarem que este uso provocará indisciplina e poderá também prejudicar a criatividade e espontaneidade do aluno, e talvez por não dominarem totalmente a arte da tecnologia. Tudo depende do nosso olhar, da nossa vontade de mudar, de propiciar ao aluno novas maneiras de aprender. Um olhar positivo para uso correto da Tecnologia em sala de aula poderá constatar que ela trará muito mais do que se imagina, seu uso impulsiona a inteligência e cria ambientes favoráveis à aprendizagem. Precisamos quebrar os paradigmas que nos prendem a modelos antigos de educação, já que o objetivo da escola é o desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais e morais dos alunos, ela precisa democratizar o SABER e reconhecer a necessidade que se faz de trazer a Tecnologia para dentro da sala de aula, para dentro de seu planejamento, sendo entendida, assimilada, criticada... não importa, mas sendo usada. A escola tem que assumir uma postura didática de comprometimento com a Tecnologia, deve assumir uma postura de crescimento, mudança e buscar nela novas formas de fazer a educação, assumir a multifuncionalidade do processo de ensino-aprendizagem e articular suas três dimensões: técnica, humana e política. Nada adianta programas e mais programas de formação, se o professor não souber usar a Tecnologia como sua aliada e parceira na construção do conhecimento, usá-la como uma ferramenta pedagógica que o auxiliará a ampliar suas capacidades e possibilidades, ela deve ser bem compreendida para ser bem usada, gerar resultados e provocar transformações. Quanto mais a escola e seus professores protelam a necessidade eminente do uso da Tecnologia, mais distantes vão ficando seus alunos, que lotam lan houses (recordistas em acesso ao Google com 12 milhões de buscas POR DIA), que passam 02 horas em frente ao computador, que sabem manusear qualquer aparelho eletrônico como se tivessem escrito o manual de instruções destes. Respondam-me com sinceridade: algum de vocês já conseguiu que um aluno estudasse 02 horas por dia ou que em toda vida escolar dele, fizesse 12 milhões de perguntas? Segundo o dicionário Wikipédia, na internet, a palavra didática (didáctica) vem da expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. Tecnologia, por sua vez, (vem do grego τεχνη — "ofício" e λογια — "estudo") é um termo que envolve o conhecimento técnico e científico e as ferramentas, processos e materiais criados e/ou utilizados a partir de tal conhecimento. Se juntarmos as duas, poderemos ter a seguinte definição: Didática e Tecnologia: arte de ensinar com conhecimento técnico e científico. Essa é a função do professor, ensinar de forma técnica, com conhecimento e apropriação dos seus objetivos... Essa também é a função da escola e da educação, propiciar ao aluno, um mundo de possibilidades, um mundo de conhecimentos, no qual não existem fronteiras, um mundo que pode se transformar a cada “clique”. Cabe a você, educador, essa mudança de conceitos e definições. Faça. Mude. Proporcione. Transforme.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ética, nos olhos dos outros, é refresco

O idealismo é interessante, mas, quando ele se defronta com a realidade, seu custo se torna proibitivo. William F. Buckley Jr (jornalista americano)

Ética é o ramo do conhecimento que estuda o comportamento humano, estabelecendo os conceitos de bem e de mal. O debate a respeito de conceitos éticos sempre provoca discussões acaloradas. A começar pelo fato de que a ética de uns não é a mesma dos outros, ética sempre foi um conceito relativo no espaço, no tempo e nas diversas culturas. O que é bom ou aceitável na cultura ocidental não é , obrigatoriamente, tão bom nas culturas orientais. Queimar hereges na fogueira, algo absolutamente ético em tempos de inquisição é inaceitável no século da pós-modernidade.

No entanto, ultimamente, temos sido bombardeados, de um lado, pelos apelos de ética na política, no trabalho, na escola e, do outro por uma série de posturas e mensagens que invalidam esses mesmos apelos. É claro que a Internet não deixa de ser um tremendo canal para esses bombardeios, tanto de um lado como de outro.Com isso eu acabei descobrindo mais um ponto de relativização da ética, a saber, ética sempre é muito bom desde que praticada pelos outros a meu favor.

Mais de uma vez eu recebi a lista dos radares de velocidade espalhados pela cidade de São Paulo – uma aula prática de como burlar a lei sem ser punido (se bem que essa informação está em placas antes de todos os radares...). Como é do meu interesse andar em alta velocidade e não ser multado , isso pode ser uma norma de comportamento aceitável. Ou não ? Será que isso não significa que a ética é apenas a capacidade de cada um de não ser pego em delito ? Como diria o “filósofo” grego Aristóteles Onassis : “não ser descoberto em uma mentira é o mesmo que dizer a verdade”.

Há poucos dias recebi outro e-mail, me convocando para protestar contra a proteção anticópia dos CDs modernos, como diz o site : “Discos com proteção anticópia restringem os direitos dos consumidores e são uma grande ameaça à memória da cultura nacional. Quer dizer então que liberou geral? Se a ética se restringe apenas à defesa da memória da cultura nacional eu posso copiar e distribuir ilegalmente qualquer produto cultural (é claro que vou definir como produto cultural aquilo que me interessa o que inclui além de CDs e livros, todos os softwares que eu preciso, os video-games dos meus sobrinhos e, quem sabe, até moedas e notas de dinheiro, afinal numismática também é cultura).

Vivemos num momento de distribuição gratuita de conteúdo. Agora, uma coisa é redistribuir aquilo que os seus autores liberaram para tal (como os textos desse blog, por exemplo), outra é copiar ilegalmente conteúdos cujos criadores não autorizaram cópias.

Poderia desfiar uma série de outras posturas bastantes éticas como sonegar impostos, distorcer leis da forma que convém a cada um, subornar guardas de trânsito e fiscais, mentir para evitar encontros ou telefonemas indesejados, mas deixo a cada um a escolha da sua própria ética, ou melhor, a ética que cada gostaria que os outros praticassem desde que não fossem obrigados a agir da mesma forma.

Ao final das contas, assim como pimenta, ética, nos olhos dos outros, é refresco

Fonte: Xiita da Inclusão (http://xiitadainclusao.blogspot.com/search?updated-max=2009-06-30T17%3A10%3A00-03%3A00&max-results=10)

Sexualidade & Pessoas com deficiência Infantilização é empecilho ao desenvolvimento sexual

A infantilização das pessoas com deficiência é uma das causas que impedem o desenvolvimento da sua sexualidade. A ideia foi defendida (este ano em 23-03-09) durante o 1º Seminário Nacional de Saúde: Direitos Sexuais e Reprodutivos e Pessoas com Deficiência. O encontro, promovido pelo Ministério da Saúde, busca fortalecer o debate e as ações voltadas para a saúde e o bem-estar das pessoas com deficiência.

Para a jornalista Leandra Migotto, que tem Osteogenesis imperfecta, ou Síndrome dos Ossos de Cristal, como é popularmente conhecida, a infantilização das pessoas com deficiência pode aumentar a vulnerabilidade e impedir o desenvolvimento sexual.

"A partir do momento que a pessoa com deficiência é considerada ainda uma criança, a gente acha que ela, como criança, não desenvolve a sexualidade. Esse é o maior problema", afirmou.

De acordo com a professora da Universidade Federal da Paraíba e fundadora da organização não governamental Educação para Todos, Windyz Ferreira, a sociedade infantiliza, despersonaliza e rotula as pessoas com deficiência.

Para a professora Windyz, a sexualidade tem uma relação direta com o desenvolvimento e o crescimento humanos. Ela explica que as próprias pessoas com deficiência se preocupam tanto com as patologias que acabam não desenvolvendo a sexualidade e acabam se vendo como pessoas "assexuadas".

"Nós precisamos trabalhar esses âmbitos com uma diferenciação. Nós estamos buscando caminhos para que a sociedade seja o menos excludente possível", disse.

Durante o evento, a professora criticou a escassez de estudos sobre a questão da deficiência. Para ela, há falta de dados concretos para servir de base às políticas públicas.

"A falta de estudo é muito séria. Políticas públicas não podem ser construídas a partir de um grupo de pessoas, isso não é gestão democrática", disse.

Na opinião da professora, outro fator preocupante no país é que a maioria dos deficientes não tem acesso à educação, o que acaba perpetuando a invisibilidade.

"A educação é o primeiro momento da vida da pessoa com deficiência, aquele em que ela sai da família e se insere no contexto social", argumentou.

De acordo com Windyz, nos países desenvolvidos as pessoas com deficiência recebem todo tipo de tratamento, reabilitação e acesso a serviços, enquanto nos países menos desenvolvidos, como o Brasil, elas são isoladas, trancafiadas e escondidas.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 24,6 milhões de pessoas têm deficiência.

Fonte: Agência Brasil: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/03/23/materia.2009-03-23.3364769238/view

domingo, 17 de janeiro de 2010

Alfabetização

Inserir todas as crianças de seis anos em um ambiente alfabetizador foi um dos principais objetivos da aprovação do Ensino Fundamental de 9 anos, em fevereiro de 2006. A medida beneficiou crianças que não tinham acesso à Educação Infantil, ficando, muitas vezes, completamente distantes da cultura escrita - o que poderia representar um obstáculo para a sua experiência futura de alfabetização.

Apesar de a medida ser um passo importante, Telma Weisz, criadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa), do Ministério da Educação, acredita que ainda há muito a aprimorar na questão da alfabetização, sobretudo porque a tarefa não é apenas dos professores das séries iniciais. "Estamos sempre nos alfabetizando, a cada novo tipo de texto com o qual entramos em contato durante a vida", afirma.

Por essa razão, tratar leitura e escrita como conteúdo central em todos os estágios é a maior garantia de sucesso que as escolas podem ter para inserir os estudantes na sociedade. É o que fazem muitas professoras de 1ª a 4ª série de Catas Altas (MG), capacitadas pelo Programa Escola que Vale. Mesmo recebendo crianças que não nunca tiveram contato com o chamado mundo letrado antes da 1ª série, os educadores conseguem alfabetizar ao final de um ano.

"Um fator determinante para a alfabetização é a crença do professor de que o aluno pode aprender, independentemente de sua condição social", diz Antônio Augusto Gomes Batista, diretor do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. Esse olhar do docente abre as portas do mundo da escrita para os que vêm de ambientes que não ofereceram essa bagagem.

No município de São José dos Campos (SP), professores de Educação Infantil tentam evitar essa defasagem, lendo diariamente para os pequenos. Assim, por meio de brincadeiras, criam situações das quais a língua escrita faz parte. Já em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, duas especialistas de Língua Portuguesa e Ciências tiveram de correr atrás do prejuízo com turmas de 5ª série que ainda apresentavam problemas de escrita. Para isso, aliaram muita leitura a um trabalho sobre prevenção à aids, que fazia sentido para eles e tinha uma função social.

Retirado de: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/dicas-alfabetizacao-403863.shtml

Herbert Richers vive

“Herbert Richers transformou nossa linguagem. Ele revogou todas as regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido”

A morte de Herbert Richers foi o acontecimento mais marcante de 2009. O mais marcante e, desoladoramente, o mais negligenciado. Herbert Richers montou seu estúdio de dublagem em 1950. Em seis décadas de trabalho, adaptando filmes, seriados de TV e desenhos animados, ele contribuiu de maneira decisiva para moldar e disseminar o dialeto tapuio com o qual passamos a nos comunicar.

Se a língua portuguesa teve Camões – com seus latinismos, com seus volteios eruditos, com sua sonoridade épica –, o patoá nacional teve Herbert Richers – com seus estrangeirismos, com seus falsos cognatos, com sua sonoridade de locutor de rádio. De dublagem em dublagem, Herbert Richers transformou nossa linguagem. Violentando predicados, pervertendo complementos, corrompendo particípios, ele revogou todas as regras que constrangiam nossa fala. Em particular, ele nos libertou da estapafúrdia necessidade de expressar um sentido. Mas ele foi mais longe do que isso. Além de revolucionar nossa linguagem, Herbert Richers revolucionou também nossa moral. Quando Jack Lemmon, numa comédia de Billy Wilder, tem a mesma voz e, principalmente, os mesmos atributos estéticos de Salsicha, num episódio do desenho animado Scooby-Doo (ambos – Jack Lemmon e Salsicha – dublados por Mário Monjardim), o resultado só pode ser uma sociedade como a nossa, em que todos os valores se equivalem e, portanto, se anulam.

No Brasil, atualmente, Dilma Rousseff é quem melhor encarna a reviravolta moral e linguística realizada por Herbert Richers. Ela é o epígono ideal de Carlos Campanile (dublador de Clint Eastwood, Al Pacino, Robert de Niro e Thor dos Cavaleiros do Zodíaco), de Garcia Neto (dublador de Gregory Peck e do Homem-Fera) e de Sumara Louise (dubladora do desenho Gasparzinho e de Meryl Streep). Se alguém lhe pergunta por que as obras do programa Minha Casa, Minha Vida continuam paradas, Dilma Rousseff responde como um médico-legista, num filme estrelado por Bruce Willis (ambos – Dilma Rousseff e Bruce Willis – dublados por Newton da Matta): “Olha, não é isso que nós estamos vendo. Não é isso que a gente está vendo e eu vou te falar a partir do que. Hoje, já tem mais de 400 projetos apresentados para a Caixa, dominantemente naquela distribuição em que zero a três é o pessoal que faz a moradia para renda de zero a três salários mínimos, é a grande maioria”.

Sim, a morte de Herbert Richers, ocorrida dois meses atrás, foi o acontecimento mais marcante de 2009. Mas ele estará sempre presente em 2010.

Por Diogo Mainardi


Retirado de: http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Futuro da Desigualdade

A melhoria do ensino é a solução para reduzir a desigualdade na distribuição de renda neste novo Brasil

O Brasil é um país extremamente desigual. Uma importante manifestação deste fato é a desigualdade da distribuição da renda. Entretanto, nos últimos 15 anos, a desigualdade na divisão da riqueza diminuiu de forma sistemática, gerando otimismo quanto à capacidade de o País continuar nesta trajetória no futuro próximo. Renda, porém, é o resultado de um processo.

A renda de uma pessoa depende de sua capacidade de gerar riqueza para as empresas e para a sociedade, ou seja, de sua produtividade. Quanto maior a produtividade, maior a renda. Algumas pessoaspodem já nascer ricas e viver dos resultados de aplicações financeiras. Mas elas são exceções.

Em geral, as pessoas trabalham, são remuneradas, poupam parte desta remuneração e aplicam a poupança no mercado financeiro.
Portanto, uma diminuição sustentável da desigualdade da renda deve ter por base uma diminuição da desigualdade na distribuição da produtividade. Quanto mais igualitária for a distribuição da produtividade, mais igualitária será a distribuição da renda. A pergunta é: a redução da desigualdade da renda no Brasil nos últimos 15 anos decorreu de uma diminuição da desigualdade na distribuição da produtividade?

Estudos mostram que a redução dessa desigualdade foi o resultado, principalmente, de três fatores. A universalização da educação dos filhos das famílias atendidas pelo Bolsa Família, de outros programas de transferência de renda, principalmente o maior acesso a pensões do INSS por parte de idosos pobres (Loas), e dos ganhos reais do salário mínimo. Desses três fatores, apenas aquele ligado ao maior acesso à educação afeta a produtividade no futuro. Os outros dois são direcionados para adultos e idosos e não têm nenhum efeito sobre a produtividade dos trabalhadores.

O acesso à educação foi importante, em um primeiro momento, para reduzir a desigualdade na distribuição da produtividade. Porém, somente uma redução da desigualdade na qualidade do sistema educacional irá afetar estruturalmente a desigualdade da renda no País no futuro. Ocorre que o sistema educacional brasileiro é extremamente desigual. Em média, a qualidade da educação oferecida nas escolas está diretamente relacionada à renda per capita das famílias. Quanto mais pobre, menor a qualidade da escola frequentada por seus filhos. E muito pouco progresso foi feito para resolver este problema. Alguns estudiosos sugerem que houve até retrocesso.
O Brasil poderá entrar nos próximos dez anos em uma trajetória de crescimento forte e sustentável.

Na última vez em que isso aconteceu, entre as décadas de 50 e 60, o crescimento gerou excesso de demanda por trabalhadores qualificados e forte aumento da desigualdade da renda. Diante das desigualdades na qualidade do sistema educacional, podemos estar próximos de repetir essa história.

A solução é investir na melhoria da qualidade do ensino pré-escolar e fundamental. Esta é a única forma de reduzir a desigualdade da distribuição de produtividade e, portanto, a desigualdade da renda de forma sustentável. O passado recente não nos permite ser otimistas quanto ao futuro da desigualdade.


Retirado de: http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/37495_O+FUTURO+DA+DESIGUALDADE

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Como está a Educação do Brasil?

A Educação brasileira está cheia de siglas cabeludas e provas para medição de qualidade: Saeb, Ideb, Prova Brasil, Provinha Brasil, Saresp, Enem... Bom, Enem todo mundo sabe o que é, não é mesmo? Todas essas siglas significam que a Educação brasileira vem sendo avaliada. Sim, não são apenas as crianças e os jovens que passam por provas e recebem notas. A Educação também é medida. Todas essas siglas, portanto, indicam como anda a qualidade da Educação brasileira. Sem o Saeb, o Ideb, a Prova Brasil, a Provinha Brasil, o Saresp, o Enem, sem essas siglas esquisitas não haveria como saber se o seu filho está realmente fazendo o que deveria na escola: aprender.

Desde a década de 90, quando o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e outros índices foram criados, ficou possível ver se a escola estava cumprindo o seu papel de ensinar e o jovem tendo atendido seu direito de aprender. Vendo os problemas de aprendizagem do aluno ficou possível melhorar o sistema de ensino da escola. Como não é possível melhorar tudo de uma vez, especialistas ligados ao Movimento Todos pela Educação (TPE), que articula os esforços da sociedade civil, da iniciativa privada e de governos, reuniram-se, há três anos, para definir as metas para a melhoria da Educação básica do país. Traçaram um planejamento ano a ano e estabeleceram prazos para o cumprimento dessas metas até 2022. Se o Brasil alcançar todas as projeções até lá, terá chegado a um nível de Educação semelhante ao que têm hoje alguns dos países desenvolvidos como Estados Unidos e França.

Na prática, as metas do Todos pela Educação, se efetivadas, garantem que todas as crianças estariam na escola e teriam adquirido pelo menos o conhecimento mínimo esperado para chegar ao ensino superior. “O estabelecimento de metas para aferir periodicamente a Educação ocupa um espaço estratégico na mobilização do país em torno da melhoria do ensino”, afirma Mozart Neves Ramos, presidente-Executivo do movimento Todos Pela Educação. As cinco Metas do movimento, que você lê em detalhe abaixo, abarcam o atendimento escolar, a alfabetização das crianças, a aprendizagem escolar, a conclusão das etapas da Educação Básica, e também volume e gestão dos investimentos públicos em Educação. O primeiro relatório de monitoramento dessas metas foi lançado em dezembro de 2008.

O resultado das metas de 2009 (o relatório se chama De olho nas metas 2009) foi divulgado na quarta-feira, 09/12, e mostra que houve avanços no cenário educacional brasileiro, mas que ainda há muito a fazer. Foram analisados dados dos 26 estados e do Distrito Federal e relatório mostra o acompanhamento das metas 1 e 4. As demais não têm monitoramento neste ano. "Os números retratados pelas metas de atendimento e de conclusão escolar mostram que o Brasil melhorou, mas não na velocidade desejável”, explica Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna e Coordenadora da Comissão Técnica do movimento Todos Pela Educação.

A chapa cabocla - quarta-feira, 23 de dezembro de 2009 - Por Diogo Mainardi (In: Revista Veja)

“Uma chapa formada por José Serra e Marina Silva embaralharia a campanha de 2010, pegando o PT no contrapé e enterrando de vez a desastrada candidatura de Dilma Rousseff”

Os dois juntos, na mesma chapa. Quem? José Serra e Marina Silva. Isso mesmo: José Serra, presidente, e Marina Silva, vice-presidente.

A ideia ainda é embrionária. Só é debatida no interior de um grupelho do PSDB. Mas ganhou impulso na semana passada, depois que Aécio Neves renunciou à candidatura presidencial e assoprou para a imprensa petista que rejeita terminantemente uma vaga de vice-presidente na chapa de José Serra - a chamada chapa puro-sangue. Apesar de todos os apelos do PSDB, Aécio Neves repetiu aos seus interlocutores que pretende candidatar-se ao Senado e dedicar-se integralmente à campanha para eleger seu sucessor em Minas Gerais, Antonio Anastasia.

Uma chapa presidencial formada por José Serra e Marina Silva - a chapa cabocla ou, melhor ainda, a chapa mameluca - embaralharia a campanha de 2010, pegando o PT no contrapé e enterrando de vez a desastrada candidatura de Dilma Rousseff. O plano petista de contrapor Lula a Fernando Henrique Cardoso - o único atributo que, depois de muito empenho, os marqueteiros conseguiram arrumar para Dilma Rousseff - iria para o beleléu, considerando que Marina Silva, por mais de cinco anos, também fez parte do governo Lula. E a impostura bolivariana de que o PSDB defende o interesse dos ricos e o PT defende o interesse dos pobres seria imediatamente desmascarada. Em matéria de pobreza, ninguém pode competir com Marina Silva.

José Serra e Marina Silva saíram do armário duas semanas atrás, em Copenhague, na COP15. Um elogiou o outro, um apoiou as propostas do outro. Eles conseguiram até deter o aquecimento global, congelando o Hemisfério Norte e matando de frio algumas dezenas de poloneses. José Serra já está com a campanha presidencial pronta. O que ele representa é a “continuidade sem continuísmo”. Para o eleitorado, ele manterá as conquistas de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, e ainda poderá dar um passinho adiante. Apesar de atemorizar os banqueiros, José Serra é capaz de sossegar o lulista mais conservador. Se Marina Silva concordasse em se unir a ele, sua candidatura ganharia também um aspecto mais moderno, um caráter mais inovador.

Marina Silva, por outro lado, como candidata a vice-presidente poderia dar um sentido prático à sua plataforma ambiental, coordenando essa área no futuro governo José Serra. Reinaldo Azevedo, em seu blog na Veja on-line, disse que Marina Silva, mais do que candidata a presidente, é candidata a santa. Cruzei com ela recentemente e confirmo: ela levita. Elegendo-se na chapa de José Serra, ela teria a possibilidade de, finalmente, voltar a pisar no chão.

A chapa cabocla quarta-feira, 23 de dezembro de 2009 - Por Diogo Mainardi (In: Revista Veja)

“Uma chapa formada por José Serra e Marina Silva embaralharia a campanha de 2010, pegando o PT no contrapé e enterrando de vez a desastrada candidatura de Dilma Rousseff”

Os dois juntos, na mesma chapa. Quem? José Serra e Marina Silva. Isso mesmo: José Serra, presidente, e Marina Silva, vice-presidente.

A ideia ainda é embrionária. Só é debatida no interior de um grupelho do PSDB. Mas ganhou impulso na semana passada, depois que Aécio Neves renunciou à candidatura presidencial e assoprou para a imprensa petista que rejeita terminantemente uma vaga de vice-presidente na chapa de José Serra - a chamada chapa puro-sangue. Apesar de todos os apelos do PSDB, Aécio Neves repetiu aos seus interlocutores que pretende candidatar-se ao Senado e dedicar-se integralmente à campanha para eleger seu sucessor em Minas Gerais, Antonio Anastasia.

Uma chapa presidencial formada por José Serra e Marina Silva - a chapa cabocla ou, melhor ainda, a chapa mameluca - embaralharia a campanha de 2010, pegando o PT no contrapé e enterrando de vez a desastrada candidatura de Dilma Rousseff. O plano petista de contrapor Lula a Fernando Henrique Cardoso - o único atributo que, depois de muito empenho, os marqueteiros conseguiram arrumar para Dilma Rousseff - iria para o beleléu, considerando que Marina Silva, por mais de cinco anos, também fez parte do governo Lula. E a impostura bolivariana de que o PSDB defende o interesse dos ricos e o PT defende o interesse dos pobres seria imediatamente desmascarada. Em matéria de pobreza, ninguém pode competir com Marina Silva.

José Serra e Marina Silva saíram do armário duas semanas atrás, em Copenhague, na COP15. Um elogiou o outro, um apoiou as propostas do outro. Eles conseguiram até deter o aquecimento global, congelando o Hemisfério Norte e matando de frio algumas dezenas de poloneses. José Serra já está com a campanha presidencial pronta. O que ele representa é a “continuidade sem continuísmo”. Para o eleitorado, ele manterá as conquistas de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, e ainda poderá dar um passinho adiante. Apesar de atemorizar os banqueiros, José Serra é capaz de sossegar o lulista mais conservador. Se Marina Silva concordasse em se unir a ele, sua candidatura ganharia também um aspecto mais moderno, um caráter mais inovador.

Marina Silva, por outro lado, como candidata a vice-presidente poderia dar um sentido prático à sua plataforma ambiental, coordenando essa área no futuro governo José Serra. Reinaldo Azevedo, em seu blog na Veja on-line, disse que Marina Silva, mais do que candidata a presidente, é candidata a santa. Cruzei com ela recentemente e confirmo: ela levita. Elegendo-se na chapa de José Serra, ela teria a possibilidade de, finalmente, voltar a pisar no chão.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A década das cuecas

Estadistas prometem prosperidade, cientistas garantem a longa vida, escritores oferecem sabedoria e sacerdotes, a imortalidade. Nesta virada de ano vale tudo, lástima que os exaustos publicitários não perceberam a infinita utilidade destas peças do vestuário íntimo, de repente levadas às manchetes pelos ventos da notícia.

Cuecas, no Brasil, pudicamente designadas como roupas de baixo, são ferramentas valiosas. Sobretudo na esfera legislativa. Indispensáveis para a consumação da corrupção política, complemento do "caixa dois", cofres fortes porém levíssimos, sem segredos, inexpugnáveis.

Agora o terrorista nigeriano da Al-Qaeda descobriu que cuecas podem substituir as maletas 007 e carregar mortíferos arsenais de destruição em massa. Nem James Bond ou Batman poderiam imaginar um kit terrorista tão perfeito. E - desculpem – tão paradoxal: se o prêmio pelo martírio do fanático são 11 mil virgens à sua espera no Paraíso, guardar o pó explosivo nas cuecas seria, digamos, desperdício.

A direita americana está exultante: desde o caso Bill Clinton-Monica Lewinsky (em meados dos anos 90) que os herdeiros da Ku-Klux-Klan não se animam a botar a boca no trombone com tanto gosto. Antes queriam pedir o impeachment do democrata por causa do vestido da estagiária da Casa Branca manchado pelo sêmen presidencial. Agora querem culpar Barack Obama pela ineficiência dos órgãos de segurança americanos alimentada ao longo dos últimos oito anos pelos alucinados procedimentos de George W. Bush.

Os aloprados de Osama Bin Laden conseguiram o que queriam: criar a histeria das cuecas. Tal como aconteceu em dezembro de 2001, também perto do Natal, criaram o não-atentado com efeitos morais mais devastadores. O “martírio” de Richard Reid estava previsto para não consumar-se, os explosivos que levava nos tênis não deveriam detonar. Sua “tarefa” era criar o pânico mundial e, assim, condenar ao ostracismo o calçado-símbolo da modernidade ocidental. Conseguiu: agora, além de cintos e bolsas, os viajantes que vão e voltam dos EUA são gentilmente convidados a descalçar seus tênis. Logo desistirão de viajar com eles, mais uma vitória da jihad islâmica.

A não-façanha do terrorista-aprendiz Umar Faruk Abdulmutallab é ainda mais diabólica, satânica: ao ser flagrado com 80 gramas do inocente pozinho branco nas cuecas, o terrorista criou uma série de constrangimentos de proporções globais e ainda não devidamente avaliados: como detectar o perigoso pozinho branco no recôndito das cuecas e como diferenciá-lo do açúcar?

Na policialesca China que acaba de executar o taxista britânico que entrou no país com alguns quilos de coca refinada, o problema será gigantesco: alguém precisará cheirar e classificar o pó. Se entrar num “barato”, tudo bem. Se explodir, tudo mau.

O mundo sofreu drásticas transformações por causa das letras móveis inventadas por Gutenberg, da máquina a vapor desenvolvida por James Watt, do balão dirigível de Santos Dumont e da desintegração atômica concebida por Robert Oppenheimer. Peças de roupa também produziram extraordinárias revoluções, a mais importante decretada pelas feministas quando queimaram seus sutiãs.

Seria possível um mundo sem cuecas? Eis a questão. Nossos corruptos conseguirão carregar maços de notas apenas nas meias? Ceroulas não seriam mais produtivas numa avaliação custo-benefício? Com o aquecimento global a COP-16 não deveria estabelecer o modelo “samba-canção”, mais arejado e devassável? E então, por despeito, o bolivariano Hugo Chávez não lançará a cueca-bolero, solta, pintada de coqueiros, absolutamente isenta de perigo? E por que este ressentimento anti-masculino - calcinhas femininas não poderiam carregar igualmente os fatídicos 80 gramas de PETN?

Tudo seria possível na década inicial do século 21, marcada por tantas e tão transcendentes polarizações. Decênio encerrado, transição, idem. Hora de acordar.