terça-feira, 31 de agosto de 2010

Poesia para quê?

A poesia talvez seja a manifestação mais excêntrica da linguagem. Esqueçamos por ora do espírito humano ou da figura do poeta, mera abstração que as teorias de estruturalistas sobre a “morte do sujeito” enterraram nos anos 60. Suponhamos, mal seguindo Michel Foucault, Jacques Lacan e Derrida, que a poesia não passe de um prurido mórbido do código verbal, recalque da “phoné” ancestral, um signo incômodo. Ou, como ensinou o linguista Roman Jacobson, uma reles sobreposição do eixo do significante sobre o do significado. Completa inutilidade. A que vem ela então? A que vem o poeta? Cada escritor tem pronta a sua resposta. Vou tentar dar a minha.

Estas reflexões me ocorrem na ocasião dos 80 anos do poeta Ferreira Gullar, que pode ajudar na busca de minha decifração. Ele nasceu José Ribamar Ferreira em São Luís do Maranhão, em 10 de setembro de 1930. Desde 1949 vem publicando volumes de poesia. São 21, o último deles recém-lançado. Intitula-se Em alguma parte alguma (José Olympio, 144 páginas, R$ 30,00). É o primeiro livro em 12 anos. O anterior, Muitas vozes, saiu no século passado. Segundo Gullar, sua poesia é filha da perplexidade, nasce de um olhar indagador lançado à matéria, ao universo, à existência. São coleções de espantos. Recolhê-los demanda pelo jeito tempo. São 59 em Algum lugar algum, divididos em quatro seções, enumeradas em algarismos romanos, que podem ser descritas assim: a vida, o universo, a arte e a memória. Suas novas surpresas acontecem sob a estranha luz do século XXI. Um século no qual o poeta ingressou pisando em ovos, talvez com receio de mostrar seus pecados líricos.

Antes de ler os poemas, é preciso ter em mente que Gullar é um escritor que não se limita à arte poética. Passeou por outros gêneros. Escreveu peças de teatro de sucesso, como Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, em parceria com Oduvaldo Vianna Filho, de 1966. Fez crônicas, biografou a psiquiatra Nise da Silveira, cometeu duas obras de ficção (Gamação, de 1996, e Cidades inventadas, de 1997). Artista plástico amador, não resistiu a praticar uma das modalidades de texto mais desafiadoras: a crítica. Tornou-se um dos grandes críticos de arte e cultura do Brasil, isso desde 1959, quando publicou Teoria do não-objeto. Um de seus ensaios mais importantes é Vanguarda e subdesenvolvimento, lançado em 1969. São doze volumes de ensaística no total. Em resumo, Gullar não pode ser considerado um poeta espontâneo. Como vários poetas de sua geração, mergulhou na polêmica artística, brigou com os artistas e poetas concretos, denunciou as vanguardas e refletiu profundamente sobre arte e poesia. Seu espanto é banhado em racionalidade.

Aos poucos se tornou figura pública. Em 1961, fundou com Carlos Lyra os Centros Populares de Cultura, como forma de resistir à banalização da cultura de massa e, em seguida, à ditadura. Perseguido (o relato de seus meses como fugitivo do exército está em suas memórias, Rabo de foguete, publicadas em 1998), foi forçado a se exilar do Brasil em 1971, instalou-se no Chile. Com a queda do presidente socialista Salvador Allende, mudou-se para Buenos Aires. E foi lá que escreveu em 1975 sua obra prima, Poema sujo. Trata-se da nova canção do exílio (a antiga, fora composta por um conterrâneo seu, Gonçalves Dias), construída sobre a saudade da terra natal e a revolta com a ditadura brasileira, que praticava censura, repressão, tortura e assassinato com um descaramento que só fazia aumentar a perplexidade dos intelectuais. Poema sujo é uma poderosa meditação sobre ser brasileiro. O poeta Vinicius de Moraes conheceu o poema da boca de Gullar em Buenos Aires e tratou de divulgá-lo informalmente no Brasil. “É o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”, disse Vinicius. Ele próprio gravou o poema e distribuiu-o em fita cassete para os amigos. Poema sujo foi a fita pirata mais ouvida no Brasil naquele tempo, até porque o poema estava censurado. De volta ao Brasil em 1978, Gullar conseguiu levar uma vida “normal” e publicar suas obras.

No século XXI, veio a consagração. Em 2002 e 2004, foi cogitado para o Prêmio Nobel de Literatura – e é sem dúvida o candidato mais forte do Brasil. Em 2010, ganhou o prêmio Camões, dado aos grandes escritores de língua portuguesa. Hoje ele responde pelo título de poeta maior do Brasil, papel assumido antes por João Cabral de Mello Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Olavo Bilac, Castro Alves, Gonçalves Dias. Eu colocaria a seu lado outros polemistas do verso, como Augusto de Campos, Décio Pignatari e Mario Chamie, autores que chegam aos 80 anos mais ativos e críticos do que nunca, brigando entre si, como se arte e poesia fossem as coisas mais importantes do mundo. Mas não tenho restrições se o título ficar para Gullar apenas. Seu papel de militante de esquerda lhe dá um verniz mais cintilante do que o dos colegas céticos em relação ao socialismo. E Gullar também não se rende ao monumentalismo. Tem 80 anos, mas fala e age como um jovem desbocado e irreverente. Na última Festa Literária Internacional de Paraty, ele se tornou a maior estrela, declamando seus poemas e falando diretamente aos jovens. Gullar é jovem, é pop.

Em Algum lugar algum, ele faz versos a seu gato, às bananas podres e às fofocas da São Luís de sua juventude, aos mortos queridos, ao universo, ao caos e até ao fêmur que em certa ocasião ele fraturou. São poemas diagramados na página, com os versos se espalhando de forma irregular, como fazia seu mestre, o poeta francês Stéphane Mallarmé. Como Mallarmé, Gullar reflete sobre seu exercício verbal, no poema “Fica o não dito por dito”:

“O poema
antes de escrito
antes de ser
é a possibilidade
do que não foi dito
do que está
por dizer
e que
por não ter sido dito
não tem ser
não é
senão
possibilidade de dizer
mas
dizer o quê?
dizer
olor de fruta
cheiro de jasmim?
mas
como dizê-lo
se a fala não tem cheiro?
(...)

assim,
o poeta inventa
o que dizer
e que só
ao dizê-lo
vai saber
o que
precisava dizer
ou poderia
pelo que o acaso dite
e a vida
provisoriamente
permite”.

A poesia é a forma pura da improvisação, do dizer o que ainda não foi dito porque realmente não foi dito nem pensado, mas que, ao ser dito, torna-se uma inscrição definitiva. É o homem que se inventa para livrar-se da ideia da finitude. A poesia inscreve o homem na História, esculpe um sentimento, uma sensação, uma cisma que vibra mesmo quando o corpo do poeta não estiver mais aqui. Quando o leitor tentar abraçar o poeta “e os braços se diluem no abraço”. O poeta e seu gato: “Num dia qualquer/ não existirá mais/ nenhum de nós dois/ para ouvir/ nesta sala/ a chuva que eventualmente caia/ sobre as calçadas da rua Duvivier”. Quando o leitor não encontrar mais o poeta, ele recomenda: “pensa que resta alguma coisa de mim/ por aqui/ Não te custará nada imaginar/ que estou sorrindo ainda naquela nesga/ azul celeste/ pouco antes de dissipar-me para sempre”.

Gullar está vivo, e declamando para que a gente ouça, destilando ouro com sua verve irrefreável. Está dizendo com todas as palavras e palavrões coisas que nos interessam, nos trazem surpresa e elevação. Mas ninguém está nem aí. Pena que ninguém mais leia poesia, ou não lê tanto ou com tanta devoção como no passado. Soaria como uma jeremiada arrolar os motivos para a fuga de público: o avanço tecnológico, a dispersão provocada pelo excesso de entretenimento e informação, a queda do nível de escolaridade do brasileiro, o pragmatismo do mundo globalizado. Seja lá o que for, imagino que os poetas gostem do isolamento em relação aos ruídos de um mundo que enlouquece e não liga mais para a literatura. Eles têm prazer em contemplar a vida de um ângulo enviesado, como se a amassem e ao mesmo tempo a criticassem.

A poesia dispensa aparelhos, dispensa leitores. Ela surge e cresce no silêncio. Não serve para nada senão ensinar a viver, contemplar as coisas com paixão, a uma certa distância dos excessos. Ensina a sentir a pulsação de um espírito que talvez não seja mais que uma palavra dita, sentida, lembrada. É a ferramenta da subversão da ordem, da quebra de hábitos. Poesia é anticonsumo em um mundo cada vez controlado e submetido a esforços repetitivos. É o arcano da liberdade.

domingo, 29 de agosto de 2010

Encha o tanque do carro com xixi

Um grupo da Universidade Heriot-Watt, no Reino Unido, está investigando um motor alimentado por xixi. A energia é gerada por células de combustível, que usam um processo químico, para converter a uréia, substância encontrada na urina, em energia. O projeto, dos pesquisadores Shanwen Tao e Rong Lan recebeu 130 mil libras de um fundo governamental para energias alternativas.

O sistema desenvolvido por Tao e Lan pode usar qualquer fonte de uréia, tanto a produzida industrialmente como fertilizante, quanto a proveniente da urina, de humanos ou animais. Para os pesquisadores, é uma alternativa às substâncias hoje usadas para as células de combustível: o hidrogênio (altamente inflamável) e o metanol (que é tóxico).

Tao diz que o sistema movido a urina pode ser usado em submarinos militares. Ou para veículos e motores em regiões remotas, como desertos ou ilhas.

Não é a primeira pesquisa envolvendo xix como fonte de energia. Pesquisadores americanos da Universidade de Ohio coordenados pela professora Gerardine Botte conseguiram produzir hidrogênio a partir da urina. O processo de obtenção do novo biocombustível consome cerca de um quarto da energia utilizada para transformar a água em hidrogênio.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cenas Colóquios do avião

Pego a ponte aérea de volta para casa. É o último voo de SP para o Rio e o avião está lotado. Estou acomodado na poltrona do corredor. À minha frente, na janela, vejo uma atriz conhecida (não vou falar o nome) tentando ler um livro. O passageiro ao lado, impiedosamente, a criva de perguntas. A atriz, simpática e solícita, larga o livro e passa a responder ao questionário do recenseador diletante. Olho para o meu livro, satisfeito (o nome do livro eu falo no fim da crônica), e agradeço o silêncio respeitoso de meu vizinho de poltrona. Mas, como diz o ditado, o que é bom dura pouco.
“E essa história da Ivete Sangalo no Rock’n Rio, hein?”.
“Oi?”.
“Essa história da Ivete Sangalo cantar no Rock’n Rio, o que você acha disso?”
O sujeito deve ter uns trinta anos de idade, tem a barba por fazer e usa óculos fashion de aros vermelhos.
“O que eu acho da Ivete Sangalo cantar no Rock’n Rio? Acho ótimo”.
“Mas a Ivete não faz rock! Acho ela linda, o máximo, tudo de bom, mas não canta rock”.
Ai, ai.
“Tudo bem. Rock é um conceito que já incorporou muitas outras linguagens, como o jazz. O que chamamos de rock, hoje em dia, é uma vasta vertente da música pop que mistura ritmos negros, samba, axé, reggae, rap, canções românticas, country music, baladas celtas, funk e até, eventualmente, rock”, explico, como um catedrático entediado.
“Mas a Ivete não é rock”.
“Tampouco o Rock’n Rio se propõe a ser um festival de rock purista. O Rock’n Rio é um grande evento comercial e precisa de estrelas de primeira grandeza, como a Ivete, para atrair grandes públicos. Não sei se você já era nascido no Rock’n Rio I, mas lá se apresentaram Ney Matogrosso, Gilberto Gil e James Taylor. Estes caras também não são músicos de rock. Que eu saiba”.
“Mas as coisas mudaram de lá pra cá”.
“É verdade, mudaram”, concordo. “As coisas costumam mudar”.
Desvio um olhar de soslaio para meu livrinho. Ai, ai. Meu interlocutor – que até então permanecera olhando para frente, como uma esfinge -, vira-se então para mim e esboça um sorrisinho sarcástico: “Os Titãs também não são mais os mesmos de antigamente…”, dispara, provocador, os olhinhos brilhando sob as lentes fashion.
“Nem você. Ou você já nasceu com essa barbinha e esses óculos in-crí-veis?”.
A questão fica sem resposta e o colóquio desmorona no abismo do silêncio. Sorrio satisfeito, e retorno à leitura de meu livro.
Livr0…
… O livro que eu estava lendo, Point Omega, de Don DeLillo, um dos mais instigantes autores contemporâneos.

Por Tony Bellotto

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

‘Making of’ ou ‘making off’?

“Qual é o certo: ‘making off’ ou ‘making of’? Costumo usar o primeiro, mas já vi dos dois jeitos.” (Anelise de Souza)

A dúvida, como se vê, não é de português, mas de inglês. Isso não a torna menos relevante para o público brasileiro: making of (nada de efe dobrado, já veremos por quê) consagrou-se entre nós com um sentido que, antes de sua importação, costumava ser atendido pela expressão “cenas de bastidores” ou coisa parecida.

Trata-se do registro do processo de produção de um objeto cultural qualquer, filme, disco, show, ensaio fotográfico etc. Metalinguístico, o making of é geralmente um filminho promocional que se debruça sobre a ação de preparar a atração principal, tirando o espectador do auditório e levando-o para dentro da oficina dos artistas. A era do DVD ajudou a consagrá-lo.

Faz muitos anos que making of é figurinha fácil no vocabulário da imprensa cultural brasileira. Pode-se discutir – e discute-se mesmo – a implicação de nosso apetite anglófilo. Há quem julgue a importação de making of servil e desnecessária, pois poderíamos dizer a mesma coisa de outra forma. Para estes, optar por making of é algo tão idiota quanto chamar adolescente de teen. Outra corrente argumenta que o caso aqui é diferente, pois making of tem um sentido preciso – de produto acabado que inclui “cenas de bastidores”, mas não se esgota nelas – e contra a precisão é quixotesco lutar.

Os dois lados têm sua dose de razão. Seja como for, uma coisa é indiscutível: a degeneração ortográfica making off, que parece ser de uso ainda mais frequente do que a forma correta em nossa imprensa cultural, revela, esta sim, um traço constrangedor da macaqueação linguística – a ignorância alvar, a falta de juízo crítico. Se vamos ser anglófilos, que tal aprender um pouco de inglês, em vez de achar que dobrar consoantes é sempre mais chique?

Processo de produção (making) de (of) um objeto cultural, é só disso que se trata. Making off – substantivação de to make off, “fugir, dar no pé” – seria no máximo algo como fuga. Fuja dele.

sábado, 14 de agosto de 2010

Educação

A educação é uma coisa admirável, mas é bom recordar que nada do que vale a pena saber pode ser ensinado.

Oscar Wilde

O mestre disse: Por natureza, os homens são próximos; a educação é que os afasta.

Confúcio

Educação é aquilo que a maior parte das pessoas recebe, muitos transmitem e poucos possuem.

Karl Kraus

A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui.

Jean Jacques Rousseaus

É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade.

Immanuel Kant

O que é ensinado em escolas e universidades não representa educação, mas são meios para obtê-la.

Ralph Emerson

A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida.

John Dewey

Toda a educação assenta nestes dois princípios: primeiro repelir o assalto fogoso das crianças ignorantes à verdade e depois iniciar as crianças humilhadas na mentira, de modo insensível e progressivo.

Franz Kafka

A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tam pouco a sociedade muda.

Paulo Freire

Educação é aquilo que fica
depois que você esquece o
que a escola ensinou.

Albert Einstein

Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo.

J. Petit Senn

Toda a educação, no momento, não parece motivo de alegria, mas de tristeza. Depois, no entanto, produz naqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça.

Textos Bíblicos

A boa educação consiste em esconder o bem que pensamos de nós próprios e o pouco bem que pensamos dos outros.

Mark Twain

A boa educação não está tanto no fato de não derramar molho sobre a toalha de mesa, mas em não perceber se outra pessoa o faz.

Anton Tchekhov

sábado, 7 de agosto de 2010

Gostar de aprender

Ler é essencial para que possamos ter um bom desempenho na comunicação com as pessoas, na escrita e também por possibilitar a ampliação do nosso vocabulário; a leitura é informativa, envolvente, fascinante e interessante. Bem, já que sabemos dos benefícios da leitura, porque para muitos ela é tão difícil?

Em primeiro lugar precisamos encontrar prazer na leitura, procurando ler materiais que nos leguem satisfação ao ler. Nesse primeiro momento é aconselhável buscar leituras mais rápidas, ligeiras ou que estejam focadas em assuntos e temas de nosso interesse específico. Os livros, revistas, jornais, gibis que despertam nosso interesse e incentivam a leitura são aqueles que têm linguagem acessível e que, principalmente, nos colocam em universos fantásticos ou reais com os quais criemos identificação e familiaridade.

Muitas vezes, as crianças desistem da leitura ao encontrarem palavras desconhecidas, mas, na maioria dos casos, só de continuar a leitura acabamos por entender o que tais palavras querem dizer, e não podemos nos esquecer de utilizar com freqüência o dicionário e de ensinar os pequenos a usar esse grande aliado.

Nos aniversários ou datas especiais, dê livros interessantes de presente, essa atitude poderá agradar muito mais do que você imagina. Tente nunca fazer da leitura uma obrigação nem a utilize como um castigo. Para a criança ser um leitor de carterinha, ela precisa ler com prazer.

Lembrando das palavras de Paulo Freire:

“Um texto para ser lido é um texto para ser estudado. Um texto para ser estudado é um texto para ser interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem curiosidade; se desistimos da leitura quando encontramos a primeira dificuldade”.

Pensando nisso e para facilitar o nosso entendimento na leitura segue abaixo algumas dicas:

1. Antes de iniciar a leitura de um texto é indispensável ter ao lado um dicionário e usá-lo sempre, muitas vezes. Assim como o dicionário, outros instrumentos também são pontos de apoio importantes para uma boa leitura, são eles: lápis, canetas de cores diferentes, boas condições de silêncio e iluminação.

2. Você sabe o significado da palavra “TEXTO”? Se quisermos conhecer a qualidade de um tecido temos que desfazê-lo. Obviamente não é diferente o que necessita fazer com um texto. É por este motivo que toda leitura deve ser feita com o objetivo de se descobrir a idéia principal. Mas como fazer isso?

    2.1 Após a primeira leitura, faça as seguintes perguntas:

    • DO QUE SE TRATA O TEXTO?
    • A QUE ASSUNTO SE RELACIONA?
    • O QUE ESTÁ QUERENDO ME DIZER?
    • É POSSÍVEL TRAÇAR PARALELOS COM OUTRAS OBRAS?

    2.2 Procure sublinhar as idéias principais, no entanto destaque apenas o que considerar realmente importante.

    2.3 Descobrindo a idéia principal e dividindo o texto em partes, você está já o está analisando. O “agora já sei” é na verdade a síntese que permite, em poucas palavras, descrever a descoberta.

    3. Procure relacionar o texto com outros já lidos sobre o assunto ou estudados em sala de aula. Caso o assunto seja novidade (você está vendo pela primeira vez), fique atento e esteja sempre pronto para relacionar o texto lido com idéias novas que surgirem

4. Ao concluir a leitura do texto, faça um resumo do mesmo; diga não as cópias e escreva da sua maneira, com as suas palavras, da forma que você entendeu.

Ler pode e deve ser uma gostosa aventura no mundo do aprendizado. Conhecemos novas pessoas por meio da leitura, descobrimos lugares, sonhamos e imaginamos um mundo diferente, apresentado pelos autores durante as histórias que nos são reveladas. Enfim, independente do final da história, tendo ou não um “foram felizes para sempre”, vale a pena a aventura.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ensinar e aprender: duas coisas diferentes

Ensinar e aprender são duas coisas diferentes.
Parece óbvio, mas não é.

Na prática, está muito arraigada a idéia de que ensinar e aprender são a mesma coisa. Que basta que alguém ensine para que outro aprenda. O professor, diante do aluno que admite que não sabe ou não entende, responde quase sem pensar:

- "Mas eu já ensinei isso!"
E se o aluno responde:
- "Mas eu não aprendi".

O professor pode até entender isso como uma incoerência, algo sem sentido e até como uma insolência, não como uma possibilidade real, como uma defasagem perfeitamente normal dentro de todo processo de conhecimento que envolve uma relação ensino-aprendizagem.

A própria expressão ensino-aprendizagem, tão repetida e utilizada na Pedagogia tem contribuído, sem dúvida, para favorecer e alimentar a confusão, criando a imagem (fonética e visual) de que os dois termos constituem uma unidade inseparável, dividida apenas por um minúsculo hífen. Mas a realidade nos indica que não existe essa unidade inseparável e que no meio há algo maior e mais grave que um hífen.

Porque a verdade é que pode haver ensino sem aprendizagem como também pode haver aprendizagem sem ensino.
Um professor pode ensinar as propriedades da soma e nenhum de seus alunos aprender o que ele ensina. Da mesma forma, um aluno pode aprender as propriedades da soma sem que ninguém tenha ensinado, pegando um livro e estudando por conta própria.

Ensinar e aprender são processos diferentes que envolvem sujeitos também diferentes: um educador e um educando.
Ensinar e aprender, por envolver processos e sujeitos diferentes, supõe também métodos diferentes: os mecanismos e estratégias que o professor utiliza para desenvolver a lição de História são diferentes daqueles que o estudante utiliza para aprender essa mesma lição.

O estudante vai recorrer, por exemplo, a associações com nomes ou episódios conhecidos ou vivenciados, enquanto que o professor estará se preocupando em reconstituir os autores consultados, buscar uma relação entre os acontecimentos, encontrar exemplos, etc.
A situação de ensinar sem que isso se traduza em aprendizagem efetiva é bastante comum e, de fato, acontece todo dia no sistema educativo. Se todo ensino se traduzisse automaticamente em aprendizagem todos os nossos estudantes seriam gênios.

O problema é que os professores ensinam, mas os alunos não aprendem.
O problema é que existe uma grande brecha e um grande desperdício entre a abundante informação que se ensina no sistema educativo e a informação que é efetivamente registrada, processada e aprendida pelos estudantes.
Uma margem razoável de desperdício de informação é inevitável em todo processo educativo.

Falta de motivação, de interesse, de atenção, de concentração, de compreensão, etc., impedem que o conhecimento seja registrado e fixado. Por outro lado, existem mecanismos naturais de seleção: nem tudo interessa a todos, nem da mesma maneira, motivo pelo qual cada um seleciona e prioriza a informação que recebe.

Por assumir que ensinar equivale a aprender, a educação tem se centrado tradicionalmente no ponto de vista do ensino, tirando a partir daí conclusões sobre a aprendizagem.

A Pedagogia, o debate metodológico tem girado fundamentalmente em torno aos métodos de ensino e não de aprendizagem, dando por sentado que os métodos de ensino coincidem com os métodos de aprendizagem.

Hoje, os novos ventos educativos estão finalmente fixando sua atenção na aprendizagem, ou seja, no ponto de vista do aluno. Esse fato marca uma mudança radical na pedagogia.

O objetivo final da educação é a aprendizagem e é a partir dela que se avalia o aluno, o professor e o sistema.

O que importa é que os alunos aprendam, não que os professores ensinem. Nessa perspectiva, o bom professor não é o que ensina muitas coisas, mas sim aquele que consegue que seus alunos aprendam efetivamente aquilo que ensina.

Em busca do respeito na sala de aula Como atingir o comportamento moral e ético?

“Colocar a justiça acima da autoridade e a solidariedade acima da obediência”(Jean Piaget)

É pela educação que torna-se possível aprender a se comunicar e a desempenhar um papel responsável na sociedade.Nesse sentido, o tema respeito é central na moralidade. Cada pessoa, juntamente com sua vida intelectual, afetiva, religiosa ou fantasiosa, também tem uma vida moral.

A atividade moral acaba por envolver toda a atividade vital do homem e, dessa forma, durante seu desenvolvimento, sua vida está vinculada ao “comportar-se moralmente”. É interessante ressaltar que Libâneo (1991) nos introduz as propostas e tendências nesse campo. Segundo ele, há dois grupos distintos: os de posicionamento liberal e os de cunho progressista.

- As idéias pedagógicas tradicionais são evidenciadas por Comenius, Rosseau, kant, Pestalozzi e Durkheim, autores clássicos e que consideram de forma consistente a moral em suas teorias.

- As idéias pedagógicas renovadas são enfatizadas nos trabalhos de Dewey e Piaget, com o desenvolvimento do juízo moral na criança; e o tecnicismo educacional tendo como principal referência o trabalho de Skinner.

- As idéias de renovação educacional por iniciativa de militantes socialistas, estão enquadradas no segundo grupo, e tem como principal representante a produção de Makarenko.

O que podemos perceber atualmente, inclusive com a orientação dos órgãos oficiais de educação, é que há um reconhecimento da importância da participação construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do professor para a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento das capacidades cognitivas, físicas, afetivas, motoras e éticas, fundamentais para o exercício da cidadania e para a participação.

Apesar de Aristóteles e Kant, mais tarde terem incluído o respeito no âmbito das emoções, excluindo-o das virtudes, o filósofo Demócrito foi o primeiro a atribuir uma significação moral e inserir este conceito na ética.

É importante que a criança sinta a conseqüência de uma atitude errada eticamente. Contudo, a disciplina e o sentimento da responsabilidade podem se desenvolver sem nenhuma punição expiatória, em um clima de reciprocidade, dentro da moral de cooperação, para que a diferenciação social e o individualismo resultem na solidariedade. Para Piaget (1996), “o respeito constitui o sentimento fundamental que possibilita a aquisição de noções morais”.

O aprendizado da cooperação é elemento fundamental do desenvolvimento moral. Para a cooperação acontecer, efetivamente, é necessário que os sujeitos envolvidos aprendam a fazer contratos, a comprometer-se com o grupo, a relacionar-se de forma recíproca e, sobretudo, a exercitar sua expressão verbal, bem como o saber escutar. Em outras palavras, a exercitar o diálogo.

O diálogo é a própria expressão da humanidade, da comunicação entre os seres humanos e possibilita o desenvolvimento do respeito mútuo. A linguagem é um fato social por meio do qual as pessoas organizam seus pensamentos e expressam suas opiniões.

Na ação dialógica, o sujeito entenderá a importância de suas atitudes e como elas envolvem respeito, dedicação, busca, engajamento, pesquisas, trocas, participação e descoberta. O homem entende que neste processo de comunicação irá aprender a fazer leituras diversas da realidade em que vive e atua, conquistando a partir daí, sua autonomia moral e intelectual.

Cooperação e diálogo, por fim, parecem sempre caminhar juntos e são exigências fundamentais de todo o ensino. O ato de ensinar para a autonomia supõe a reciprocidade, condição básica da cooperação, e atesta o processo de comunicação.

Consideramos a relação professor-aluno como o ponto mais delicado do processo de aprendizagem, pois estão implicadas aí não só questões racionais, como também afetivas. Verifica-se que a maneira como o professor conduz sua aula, como lida com a motivação dos seus alunos e como se compromete com o projeto pedagógico são fundamentais para organizar a vida escolar do aluno.

Segundo Piaget, “a adolescência marca nas nossas sociedades o começo da liberdade de pensar; pelo menos uma emancipação em relação à infância, e isso tanto do ponto de vista sociológico como psicológico”.

Sob a perspectiva piagetiana, o professor que na sala de aula dialoga com seu aluno busca decisões conjuntas por meio de cooperação, para que haja o aprendizado do fazer contratos, honrar a palavra empenhada, ocasionando comprometimento nos projetos coletivos e estabelecimento de relações de reciprocidade.
Ainda em Piaget, podemos considerar a natureza afetiva e moral das sanções, em que é necessário instalar-se no infrator, um sentimento de vergonha pelo delito, fazendo-o perceber que seu ato lhe fez perder o valor, inviabilizando a confiança mútua.

Temos que observar se a figura do professor tem importância afetiva para os alunos, a ponto de eles se sentirem mal e envergonhados por perderem o merecimento de seus professores. Quando o professor é justo, compromissado e que respeita os alunos há um melhor aproveitamento dos anos escolares.

A relação verdadeira entre professores e alunos, que não seja somente para a informação, mas para promover também debates sobre questões morais, levando ao exercício da cidadania e construção da autonomia, ajudaria o desenvolvimento dos jovens, bem como os faria mais motivados.

Só se estabelece um encontro significativo quando o mestre incorpora o real sentido de sua função, que é orientar e ensinar o caminho para o conhecimento, amparado pela relação de cooperação e respeito mútuos.