quarta-feira, 25 de março de 2015

Contra a pena de morte

TEXTO RETIRADO DE: http://www.oantagonista.com/posts/contra-a-pena-de-morte

O Antagonista é contra a pena de morte, por razão prática e filosófica. A prática: nos países onde ela vigora, os índices de criminalidade não baixaram porque se matam condenados. Tanto é assim que a Indonésia, que está para executar o brasileiro Marco Archer no próximo domingo, por tráfico de cocaína, continua a ser um movimentado entreposto de drogas. Outro fato é que, mesmo em nações onde a investigação policial é rigorosa, erros são cometidos e inocentes terminam no corredor da morte -- caso dos Estados Unidos.
A filosófica: os Estados modernos têm o monopólio da Justiça. Ao conferir esse monopólio ao Estado, as sociedades retiraram dos indivíduos o direito de promover vinganças pessoais, como previsto pela antiga Lei do Talião. No seu lugar, entraram as punições institucionais, das quais a mais terrível é a privação de liberdade. A pena capital nada mais é do que a repetição monstruosa, por parte do Estado, de um ato de vingança individual. Em relação a um homicida, é igualar-se ao assassino. Em relação a um terrorista, é fazer seus os valores dele, como disse o jurista francês Robert Badinter, em discurso à Assembleia Nacional da França, em 1981, na condição de ministro da Justiça que defendia a extinção da pena de morte naquele país.
Hoje, no mais das vezes, a instauração ou reintrodução da pena capital, como forma de frear a criminalidade, é uma reinvindicação popular em nações com Polícia, Justiça e sistema carcerário falhos -- e certamente são muitos os brasileiros que a reclamam. É compreensível, mas não é eficaz ou aceitável.
Sentimos por Marco Archer e também por Rodrigo Gularte, outro brasileiro condenado a fuzilamento na Indonésia, por crime idêntico.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A PRODUÇÃO DO FRACASSO NA ESCOLA

Quando se ensina alguma coisa, o que seja, ensina-se também a colher com sabedoria os resultados, sem, contudo, esquecer de alertar contra os eventuais contratempos. Os dois aspectos são partes integrantes do aprendizado, e não apenas a maneira de se fazer a coisa. Uma criança ainda requer de muita experimentação antes de ser capaz de compreender cada coisa, por isso, a expectativa de resultados insatisfatórios, ou parciais, assim como a perspectiva de resultados positivos em qualquer empreendimento, deve sempre fazer parte de sua instrução preliminar. 

Não existe ilustração melhor do que ensinar a fazer. Não existe ensinamento mais profícuo do que aprender fazendo. Assim, mostrar como fazer vale mais que dizer que pode ser feito. Ainda assim, tudo começa com a demonstração de que aquilo pode ser realizado, desde que se possua a devida habilidade ou instrução. 

Uma obra sem utilidade, para uma criança, vale tanto quando uma pedra preciosa para uma galinha. Sua motivação é diretamente proporcional à utilidade da coisa produzida, seja para si mesma, seja para outros. Do mesmo modo, enganá-la com falsas propostas ou promessas, equivale e comprometer sua autoestima. Ocorre que ela não reage às frustrações como um adulto, mas antes disso, tende a se sentir rejeitada, inferiorizada, sem importância, já que tende a enxergar a si mesma no resultado do seu trabalho. 

Assim, seu trabalho representa sua pessoa, e a forma como esse trabalho será recebido, rejeitado, criticado, utilizado, apreciado e aceito, será também o modo como se sentirá como individuo. Ao sentir a inutilidade do seu trabalho, assim também se sentirá como pessoa; e a mesma regra vale para a aceitação, ou crítica construtiva. 

Uma crítica construtiva, longe de ser um elogio, ou uma espécie de recompensa, tem mais valor se bem compreendida como função motivadora. Comentar de forma clara sobre o trabalho, como, por exemplo, discutir um texto escrito de modo que ela perceba que o mesmo foi lido e analisado, torna-se uma excelente forma de motivação, e abre espaço para a crítica construtiva. Desse modo, ela tenderá a aceitar as ressalvas, correções, como uma forma clara de orientação e nunca de rejeição. 

Conhecer uma criança, não apenas seu nome, ou o nome dos seus pais, mas, daquilo que gosta ou não gosta, abre um espaço gigantesco para que o educador tenha acesso à mesma. Ela o permitirá, pois saberá que ele a conhece, e por isso mesmo, deve saber o que lhe parece mais adequado. Também, o educador sensato, o deve demonstrar publicamente, que conhece cada uma delas. Isso se consegue com comentários discretos, enfatizando ou ilustrando as preferências de cada uma. Mentalmente ela dirá: “Nossa, ele ainda lembra de mim...” 

Cuidado deve ter, entretanto, para nunca, sob nenhuma circunstância ou justificativa, criar ambientes competitivos entre elas. Seja por preferir uma ou outra, seja por elogiar o pior ou melhor desempenho de quem quer que seja. Motivar uma criança não deve ter como terreno a desmotivação do restante do grupo, e é exatamente isso que ocorre quando preferimos ou destacamos alguém, ou seu trabalho, de forma seletiva ou ostensiva.


O educador consciente sabe como fazer para nivelá-las, sem com isso avultar de forma provocativa uma ou outra; sem fazê-las sentirem-se inferiores ou superiores aos seus amigos. Tal gesto poderia incentivar a competição interna, a disputa por preferências, a falta de entendimento e sintonia do grupo. Aquela que sabe mais, ou que demonstra maior interesse, deve ser tratada com a devida atenção, mas sem demonstração explícita de que há preferências, ou que as demais são inferiores ou preteridas. 

Incentiva-se uma criança claramente destacada no meio do grupo, de forma discreta e com inteligência. Se ela é curiosa, deve ser incentivada de forma indireta a desenvolver ainda mais sua curiosidade. Nesse caso, a mensagem deverá ser dada para todo o grupo, e aqueles indivíduos mais interessados, entenderão que se trata de uma orientação direcionada a eles. Uma criança interessada pegará emprestado o livro que o professor trouxe para mostrar ao grupo, mas tendo ela como foco. 

Recompensas, elogios fáceis, promessas de sucesso, práticas comuns usadas para motivar ou incentivar as crianças a realizarem suas tarefas, deveres, ou mesmo cuidados pessoais, deverão ser evitadas a todo custo. O educador irá substituir tudo isso pelo simples reconhecimento de um trabalho bem feito, ou interesse sincero pelo andamento de uma tarefa ainda pendente. Deve estar disposto a ouvir as explicações das mesmas, de como realizaram aquele trabalho, e mesmo, contribuir pessoalmente com sugestões personalizadas. 



Outra forma de elogiar, de dar novo ânimo ao grupo, de modo a não haver comparações ou despertar ciúmes, é ensiná-las a trabalhar em equipe, deixando claro que, para uma tarefa dessa natureza, onde cada uma tem uma função, todas são igualmente necessárias e importantes. Deve ainda enfatizar ao grupo, que o tamanho de uma atividade, não quer dizer menos ou mais, mas que todas são igualmente importantes. Use pequenos contos como analogias para ilustrar o caso. Utilize as fábulas, estas são excepcionais exemplos; elas gostam de ouvir, e ainda aprenderão alguma coisa útil. 

Na formatação de uma equipe, o educador deve conhecer as capacidades e personalidades de cada aluno, cuidando de não incluir num mesmo grupo crianças de temperamentos contrários. Conhecendo as disposições psicológicas e habilidades individuais, poderá agrupá-las em equipes que se complementem. 

Finalmente, não se motiva uma criança comparando seu resultado com o do seu colega, ou de um estranho. Mais eficaz e sensato é dar-lhe desafios sempre crescentes e acompanhar de perto seu progresso ou dificuldades. E ao perceber o interesse do educador pelo seu trabalho, ela se sentirá motivada e responsável, pois, como foi dito antes, para ela, o seu trabalho e a sua pessoa é uma só coisa.