sábado, 24 de outubro de 2015

Oito mitos que as pessoas ainda acreditam em relação ao casamento

1º MITO - DEPOIS DE CASAR EU DOU UM JEITO NAQUILO QUE ME INCOMODA: segundo o psicólogo Luciano Passianotto, terapeuta de casal do CINAPSI (Centro Integrado de Neuropsicologia e Psicologia), de São Paulo (SP), as pessoas se esquecem que durante a fase de namoro o casal mora separado, se encontrando nos momentos mais propícios a atividades prazerosas. "Trata-se de uma fase em que a paixão e a sensação de conquista são acentuados", diz. Depois do casamento, ambos tendem a colocar menos atenção no parceiro para se dedicar mais a outras necessidades, como vida profissional, filhos e afazeres domésticos. "Por isso é que se um comportamento indesejado não mudou durante o período que costuma ser o de maior dedicação ao outro, será muito mais difícil depois", diz Luciano. Já a psicóloga e psicodramatista Adelsa Cunha, co-organizadora do livro "Por Todas as Formas de Amor - O Psicodramatista Diante das Relações Amorosas" (Ed. Ágora), lembra que temperamento, hábitos antigos, valores morais e culturais não são nada fáceis de mudar. "A convivência vai nos mostrando tudo o que nos incomoda no outro, por isso ninguém deve estabelecer um relacionamento acreditando que vai mudar o outro. Antes, devemos mudar a nós mesmos e verificarmos se conseguimos conviver com os defeitos alheios", fala Adelsa .

2º MITO - FILHO UNE AINDA MAIS O CASAL: em primeiro lugar, o fortalecimento do vínculo amoroso depende do quanto o casal está preparado para lidar com a chegada de um bebê. Uma visão romantizada da maternidade/paternidade pode causar imensas decepções. "Me assusto muito quando ouço frases do tipo 'Estamos pensando em ter um filho para alegrar o ambiente, pois caímos na rotina'. Acho complicado um casal desejar gerar uma criança dando-lhe a responsabilidade de harmonizar a relação", declara Alessandro Vianna, psicólogo clínico de São Paulo (SP). É importante lembrar que filhos requerem uma mudança radical no estilo de vida do casal e demandam um tempo que não será mais investido na relação. "Um filho sempre representa algo em comum, mas nunca é garantia de união", afirma Luciano Passianotto. Aliás, a chegada de um bebê pode representar o fim do par, se não houver preparo. "Tudo depende do vínculo amoroso, do projeto de vida em comum e do momento. Se um casal tem como projeto ter filhos, certamente, o filho pode unir, pois estarão realizando um objetivo comum. Mas não se deve esquecer que a chegada de um filho altera profundamente a relação de homens e mulheres que passam a exercer também os papéis de pais e mães, além de todos os demais", completa Adelsa.

3º MITO - NUNCA SE DEVE DORMIR BRIGADO COM O OUTRO: o que há de tão grave nisso? Será que não é mais sábio lançar mão daquele antigo ditado "nada como um dia após o outro e uma noite no meio"? Para o terapeuta de casal Luciano Passianotto, os problemas devem sempre ser resolvidos o quanto antes para evitar preocupações e a sensação de que algo errado está se arrastando, mas tentar resolver conflitos de cabeça quente impede o par de pensar adequadamente. Nem todas as questões precisam ser resolvidas no mesmo dia em que acontecem, principalmente quando os ânimos estão exaltados. "Às vezes, digerir o ocorrido e esperar passar a reação emocional ajuda a compreender mais amplamente o acontecido e permite conversas mais produtivas", diz a psicóloga Adelsa Cunha.

4º MITO - VAMOS SEMPRE AMAR RECEBER AMIGOS EM CASA: trata-se de um mito que tem muito a ver com uma visão romantizada (e um tanto adolescente) do casamento. É comum e desejável que recém-casados demonstrem entusiasmo com a casa nova. E é normal, ainda, o desejo de compartilhar essa alegria com os mais chegados. Mas esperar que o fato de receber os amigos seja uma espécie de termômetro da felicidade em comum é uma ideia equivocada. Cansaço, vontade de curtir o próprio canto sem interferências, filhos e trabalho em excesso são fatores que, em algumas circunstâncias, nem permitem que o casal se veja direito ao longo da semana contribuem para que as coisas não saiam como planejado. "A vida social é muito importante para o casal, mas deve trazer prazer para ambos. Receber amigos em casa foge da rotina do dia a dia e exige planejamento. Pode ser desgastante, dependendo da frequência. O importante é buscar sempre manter um equilíbrio", diz Luciano. "Ter a casa cheia de amigos não vai garantir a felicidade nem a longevidade de nenhuma relação amorosa", completa Adelsa Cunha.

5º MITO - EXCESSO DE INTIMIDADE ESTRAGA A RELAÇÃO: na opinião do psicólogo Luciano Passianotto, pessoas que dizem que o excesso de intimidade estraga a relação estão normalmente preocupadas em manter um clima de conquista entre os dois, onde sempre há algo de oculto a se descobrir. "Entretanto, uma coisa não tem relação nenhuma com a outra. O casal pode sempre conseguir satisfação sentimental e principalmente sexual sendo muito íntimos", afirma. O bom senso é sempre recomendável, pois a convivência permite uma intimidade que pode ser muito gostosa e positiva. "É bobagem, por exemplo, uma mulher se esforçar diariamente para acordar antes do parceiro para que ele não a veja acordando. Quem ama de verdade, ama a pessoa inteira, mesmo com olhos inchados, cabelos despenteados e etc.", explica a psicóloga Adelsa Cunha, que diz que, por outro lado, é desnecessário impor ao outro coisas incômodas e/ou escatológicas. "O que estraga a relação, nesse caso, é a falta de respeito com o outro, a não percepção do limite do que é aceito e o que incomoda", fala a especialista.

6º MITO - OS DOIS PRECISAM ESTAR DE ACORDO PARA TOMAR UMA DECISÃO: ceder, em alguns casos, não significa abrir mão de valores e crenças, mas saber tomar uma atitude inteligente e madura para o bem do casal. E, dependendo das circunstâncias, a falta de acordo faz com que o casal permaneça paralisado. Por mais parecidas que sejam as mentalidades, sempre haverá opiniões dissonantes e tentar convencer o outro a mudar de opinião pode gerar conflitos desnecessários, além de ser desrespeitoso. "O ideal seria ambos manterem suas opiniões e haver concessões alternadas de ambos os lados", diz Luciano. "O grande erro é que algumas pessoas cedem demais e um dia acabam explodindo. Daí o risco de fracassar a relação. Devemos ceder, sim, mas sem nos agredir", comenta o psicólogo clínico Alessandro Vianna.

7º MITO - É PRECISO ACEITAR OS DEFEITOS DO OUTRO PARA SER FELIZ: todas as pessoas têm defeitos; uns maiores, outros menores. Apesar de, em geral, o período do namoro servir para identificar e discutir todos antes da decisão pelo casamento, isso não funciona muito na prática, já que alguns defeitos somente são percebidos com a convivência. "A comunicação é importante para que ambos saibam o quanto determinado comportamento afeta o outro. Nos problemas maiores, deve-se discutir em busca de uma mudança de hábito, mas os menores devem também ser relevados, para evitar um clima de eterna tensão", explica Luciano Passianotto.


8º MITO - ACONTEÇA O QUE ACONTECER, VAMOS MANTER A CHAMA DA PAIXÃO ACESA: de acordo com o psicólogo clínico Alessandro Vianna, toda relação é cíclica. "Não existe a menor possibilidade de manter o padrão das primeiras semanas ou meses; o importante é ter qualidade, equilíbrio e motivação para investir no relacionamento, considerando que todos eles têm altos e baixos". Segundo a psicóloga e psicodramatista Adelsa Cunha, entre o desejado e o possível costuma haver uma estrada difícil, e esse mito apenas serve para perpetuar a ideia romântica de que o amor, quando encontrado, é para sempre. Mas tudo na vida passa por mudanças, e não poderia ser diferente com as relações. "Haverá fases em que a paixão estará muito acesa e, em outras, será substituída por outros sentimentos. Como a sexualidade é um dos pilares que mantêm uma relação amorosa, buscar criar momentos que possam estimulá-la é essencial. Porém, é ilusão pensar que em todo e qualquer momento da vida conjugal isso acontecerá", diz Adelsa .