sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Não somos máquinas !

A cobertura jornalística da tragédia aérea ocorrida em Medellín, na Colômbia, no último dia 28/11, trouxe aspectos incomuns, mas enriquecedores – tanto pessoais quanto para análise do ofício. Foram mais de 70 mortos, incluindo a delegação da Chapecoense, tripulantes e vários profissionais da imprensa.
A veiculação jornalística relativa às mortes no Brasil, das mais diversas origens, tem sido recorrente dentro de uma abordagem, muitas vezes, numérica e distanciada da “humanização”. Acostumados a um produto frio – repleto de dados –, os leitores e/ou telespectadores carecem do retorno do jornalismo humanizado, pelo qual as histórias dos personagens enriquecem a notícia e fornecem elementos, além dos dados frios, para uma melhor percepção e interpretação do fato. Isso foi possível no caso em questão, diferente da prática comum no jornalismo contemporâneo.
Só para se ter uma ideia da dimensão dessa triste realidade, em que jornalistas são submetidos por ofício a um contato cotidiano, vejamos os dados estatísticos apresentados pela ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra, na Suíça, em maio deste ano. A taxa de mortes oriundas de acidentes de trânsito no Brasil é de 23,4 para cada 100 mil habitantes. Isso coloca o Brasil na quarta colocação na América, atrás somente de Belize, República Dominicana e Venezuela.
Não obstante, as mortes causadas por homicídios também representam uma parcela significativa do noticiário e, por consequência, ocupam boa parte da rotina profissional dos jornalistas brasileiros. Segundo dados do Atlas da Violência 2016, divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a taxa de homicídios no Brasil chegou a 29,1 mortes por 100 mil habitantes. Pelo menos 59.627 pessoas sofreram homicídio no Brasil em 2014.
Nenhuma morte se sobrepõe a qualquer outra em termos de valor, mas guarda, evidentemente, elementos classificatórios na escala técnica de seleção e priorização da notícia. A simples categorização enquanto acidente aéreo já seria um desses elementos que garante a priorização enquanto fato noticioso.
Entre choros e lágrimas
A cobertura jornalística, sobretudo televisiva, mostrou a dificuldade de vários profissionais em executar a sua missão. O experiente repórter Ari Peixoto não conteve a emoção e chorou durante um link ao vivo no jornal Hoje (TV Globo), exibido no dia 1˚ de dezembro. Dois dias depois, durante a transmissão do funeral na Arena Condá, o repórter esportivo Eric Faria, da TV Globo, também não conteve a emoção.
Outra cena que chamou a atenção foi o abraço dado por dona Ilaídes, que perdeu o filho (o goleiro Danilo) no desastre, no repórter Guido Nunes, do SporTV, durante uma entrevista ao vivo. Outros exemplos seguiram no decorrer da semana, envolvendo Galvão Bueno e Fernanda Gentil, que – mesmos no estúdios – se viram “traídos” pela emoção.
Recorri a todo esse histórico para refletir sobre alguns conceitos que percorrem a atividade jornalística. Entre os quais, a imparcialidade. O sociólogo alemão Max Weber, ao teorizar sobre a prática científica, abordou a questão da neutralidade. Óbvio que não se trata de uma abordagem direta da atividade jornalística, mas produz ensinamentos que nos conduzem para a reflexão da prática em si.
A objetividade como mito
Recorrendo ao historiador Lucien Febvre (1989), e parafraseando-o, é possível lançar a indagação: a cidade da objetividade pode, realmente, vigiar e expulsar, de vez, o cavalo de Tróia da subjetividade? Ou seja, em que medida a nossa construção, enquanto indivíduo, não molda nossos olhares e torna limitada a nossa capacidade plena de isenção diante dos fatos?
A proximidade com as vítimas, seja por laços pessoais ou profissionais, levou, no caso da cobertura do acidente aéreo envolvendo colegas da imprensa, os jornalistas, em alguns momentos, a abandonarem – não no sentido voluntário – a postura impessoal e de isenção. Afinal, não somos máquinas programadas para cumprir o ofício sem qualquer interferência de nossa história de vida, descolados das relações sociais.
A adoção de conceitos como o da objetividade, da neutralidade e da impessoalidade, por meio de técnicas que auxiliam nesse exercício profissional, fazem-se necessários na busca pelo bom jornalismo. Entretanto, não se devem desprezar os elementos da subjetividade da qual somos reféns. Reconhecer a sua existência, negando a ideia de um indivíduo robotizado, é o primeiro passo na busca pela imparcialidade, ainda que esta seja um mito em sua plenitude.
Em termos práticos, o mesmo ensinamento weberiano para a pesquisa científica, separando de forma rigorosa o juízo de fato (o que é) e o juízo de valor (o que deve ser), também vale para o exercício jornalístico. É a partir do reconhecimento dessa tensão que se pode construir um produto final carregado de honestidade em sua produção.
A emoção e o aspecto valorativo na cobertura aqui analisada não invalidaram o trabalho da imprensa televisiva. Pelo contrário, mostrou-se eficiente pela naturalidade, seriedade e honestidade com as quais foi produzida. Afinal, não somos máquinas!
***
Alessandro Emergente é jornalista, professor de Sociologia e editor do portal de notícias Alfenas Hoje

domingo, 18 de dezembro de 2016

Sonhar é essencial para o aprendizado

Procure lembrar-se da última vez que você sonhou e de qual foi o sonho. Embora costume ser difícil lembrar os detalhes, duas coisas provavelmente aconteceram. Primeiro, elementos do seu sonho faziam parte de coisas que aconteceram no dia anterior. Segundo, é bem provável que o que aconteceu tenha sido algo significativo para você, especialmente alguma situação nova que envolvia algum tipo de dificuldade ou desafio.
Essas duas observações simples estão na base das descobertas recentes da neurociência sobre o fenômeno. “Os sonhos usam informações da memória recente para simular situações que serão vividas no futuro, ajudando assim o indivíduo a se adaptar ao meio”, explica o neurocientista Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ou seja, é o momento em que o indivíduo elabora informações recebidas e se prepara para usar esse conhecimento no futuro. Na prática, isso significa que o sonho é um momento crucial para o aprendizado.
Essas descobertas determinam que os sonhos têm uma função biológica, resolvendo um mistério que perdurou até anos recentes. “O sonho havia sido banido da biologia, sendo considerado como um fenômeno impossível de ser testado cientificamente”, diz Sidarta Ribeiro. Por esse mesmo motivo, a teoria da psicanálise, baseada totalmente em observações clínicas e fenômenos psíquicos, também foi ignorada pelos biólogos. “Na verdade, essas descobertas confirmam aspectos da teoria psicanalítica, como a incorporação dos restos diurnos e o aprendizado, aproximando-a das neurociências.”

Treino para o estresse

O sonho foi reconhecido biologicamente só na década de 1950, quando foi identificado o sono REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos), durante o qual ocorrem os sonhos. O sono REM acontece depois do sono profundo, e os dois tipos se alternam ao longo da noite. Conforme a manhã se aproxima, o sono REM se torna mais longo, até que a pessoa acorde.
Duas décadas depois, os cientistas perceberam que a privação de sono atrapalhava o aprendizado, e que a pessoa dormia mais após períodos de aprendizado intenso. “As pessoas que sonham mais são mais estressadas”, explica a neurocientista Paula Tiba, da Universidade Federal do ABC. “O sonho pode ter a função de ser uma espécie de treinamento para situações estressantes, uma tentativa de elaborar uma estratégia para lidar com essas situações.”
Curiosamente, esse fenômeno foi detectado também em ratos e aves canoras (distintas pelo canto), tendo duração proporcional ao conteúdo do dia anterior – ou seja, quanto maior o aprendizado, maior a atividade cerebral durante a noite. Até recentemente, porém, não se sabia que esse aprendizado ocorria especificamente durante o sonho. “Hoje sabemos que a reverberação das memórias, que Freud chamava de ‘restos’ do dia, acontece durante o sono profundo. Durante o sono REM, quando os sonhos acontecem, são ativados os genes que promovem a fixação das memórias”, diz Sidarta Ribeiro. A fixação de memórias acontece quando as memórias de curta duração, armazenadas no hipocampo (estrutura importante para a memória), são transpostas para o córtex cerebral, região mais exterior, onde são armazenadas as memórias de longa duração.

Relação com a escola

Na educação, as descobertas sobre sono, sonho e aprendizado têm implicações importantes. “O sono deve ser visto como algo relevante para os alunos, e não como mero problema de disciplina”, diz o neurocientista Fernando Louzada, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ou seja, quando um aluno dormir na aula, o professor deve lembrar que isso não é necessariamente falta de interesse.
Um dos problemas é que as aulas começam muito cedo e não respeitam o ritmo biológico dos jovens, diferente do de adultos e crianças. Embora entre os cientistas isso seja um consenso, o horário das aulas nas escolas não mudou. A principal dificuldade é reorganizar o horário de forma que seja bom para todo mundo: escolas, alunos e professores. Além disso, é importante perceber que o bom sono não serve só para manter os alunos atentos no dia seguinte durante as aulas, mas também para consolidar o que se aprendeu na aula do dia anterior. “A falta de sono na noite anterior pode fazer com que o aluno não aprenda direito. Se ele dormir mal no dia seguinte, porém, ele vai aprender, mas seu aprendizado será menos flexível”, explica Paula Tiba. “Em laboratório, observamos que ratos aprendem a se localizar em um labirinto, mas se dormem mal no dia seguinte, fazem sempre o mesmo caminho. Se você bloquear esse caminho, ele tem dificuldade em achar uma alternativa.” Dormindo bem e sonhando, o cérebro reativa redes neurais ativadas durante o dia e transforma memórias de curto prazo em longo prazo, que poderão ser utilizadas depois, aproveitando ao máximo as informações.
A falta de sono também pode estar por trás de problemas de aprendizagem. “Alguns alunos que parecem ter dificuldade para acompanhar a aula podem na verdade estar com algum distúrbio do sono, como a apneia, que diminui o fluxo de oxigênio e atrapalha o aprendizado”, diz a neuropsicóloga Camila Cruz Rodrigues, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Teorias do inconsciente

Por enquanto, a neurociência abordou aspectos periféricos da psicanálise. Mesmo assim, a aproximação entre duas áreas antes completamente apartadas é significativa. “Acreditamos que o pai da psicanálise, o austríaco Sigmund Freud, tenha deixado um verdadeiro plano de pesquisa que poderá inspirar os neurocientistas em descobertas futuras sobre o funcionamento da mente”, diz Sidarta Ribeiro. Para os psicanalistas, a aproximação não causa grande surpresa. “Freud começou trabalhando com neurociência, mas optou pela clínica porque percebeu que não havia instrumentos para avançar no conhecimento da mente”, diz Tales Ab’Sáber, psicanalista e autor do livro Sonhar restaurado (Editora 34). Explicar o significado biológico dos sonhos, no entanto, não explica qual o significado do conteúdo do sonho para as pessoas. Nesse ponto, a psicanálise ainda é a única ferramenta disponível. No início do século passado, Freud observou que os sonhos são formados de desejos reprimidos durante o dia, quando os mecanismos de censura estão mais ativos. Geralmente, esses desejos são suprimidos por questões morais. Mas, de noite, a censura afrouxa, e os desejos podem se manifestar mais livremente. Mesmo de noite, porém, a censura ainda mantém alguma força, distorcendo a forma como os desejos se manifestam nos sonhos. Por isso, os sonhos geralmente são tão enigmáticos. Embora o sonho seja parecido com um filme que é projetado na mente, em alguns casos é possível entrar nesse filme e viver o sonho de maneira quase consciente. O chamado sonho lúcido acontece quando a consciência desperta, mas a pessoa ainda está sonhando, ou seja, em sono REM.
Ao contrário do que muita gente pensa, o sonho hoje não é mais o elemento central da psicanálise, e o fato de a pessoa se lembrar do sonho também não é fundamental para a busca do autoconhecimento mediante essa técnica. “O sonho é algo feito para ser esquecido; por isso, raramente lembramos.” Por outro lado, aquilo que é esquecido são elementos do nosso inconsciente que de alguma forma tentam voltar. O que a análise faz é convidar a pessoa a tratar desses elementos inconscientes”, diz Tales Ab’Sáber. “A análise não precisa se debruçar sobre os sonhos, porque ela segue a lógica do sonho.” Ou seja, assim como o sonho, a análise traz à tona aquilo que foi reprimido, para que a pessoa entre em contato com as próprias emoções. Uma vez feito isso, é mais fácil entrar em contato com a realidade.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

HOMENS NAS BALADAS

O MAROMBADO
Esse tipo provavelmente estará trajando camiseta
justinha. Isso porque ele precisa mostrar cada
centímetro de seu bíceps, conquistado com horas de academia e suplementos alimentares de cavalo. Ele é um tipo armário e tá se achando, portanto, quando vai para pista... saiam de perto! Com um gingado de madeira-de-lei, ele "dança" executando séries e mais séries de movimentos com os braços... Passará a noite fazendo essa
dança ao redor da "TÔ ME ACHANDO".

O TOPETE+CAMISETA+CAMISA
Balada para esse tipo é dia de vestir essa combinação básica! Penso que essa moda só pode ter sido lançada por
algum tipo, em propagandas de marcas conhecidas.O fato é
que e este tipo, também conhecido como mauricinho, segue
esse estilo como se fosse membro de uma seita. Anda em
bandos e todos seguram uma bebida enquanto ficam em
rodinhas babando para as "TÔ ME ACHANDO", zoando
as "PORRA-LÔCA" e fugindo das "AMIGA INHAS". Esse tipo
fica grande parte da noite passando a mão no topete,
arrumando os fios rebeldes enquanto finge estar curtindo
a balada com a galera da seita.

O PSEUDO-INTELECTUAL DA BALADA
Esse é aquele que, como TODO HOMEM, avalia as mulheres
pelo quesito BPPC (bunda, perna, peito, cara), mas...
tem a cara-de-pau de chegar junto, secar seu decote e
falar: "Oi... você leu o último livro do Saramago? ".
Esse tipinho não vai para a pista. Afinal, ele curte
mesmo é... JAZZ! Obviamente ele acha que o Jô Soares é o
maior músico de jazz do mundo! Enfim, esse pseudo-
intelectual-man passa a noite no bar bebendo... uísque, porque cerveja é muito povão! Como na maioria dos casos
ele é desprovido de beleza, tem de arregaçar as mangas
para mostrar seu rolex novinho e ver se
sua "intelectualidade" chama a atenção de alguma nota A
em BPPC.

O AFOBADINHO
ALCOOLIZADO
Esse tipo são os tímidos, tiozões (de 18 a 60 anos,
porque estilo tiozão não tem idade), rejeitados,
complexados, depressivos, enfim, todo o público-alvo das
empresas de bebidas alcoólicas. Eles ficam ali na porta
do banheiro feminino (!!!) curtindo aquele cheiro de
pinho sol com xixi enquanto mandam ver no décimo copo de
álcool. Aí fazem a alegria das AMIGA INHAS quando
bolinam as meninas com cantadas grotescas ou se jogam em
cima das passantes. No começo da balada até dá para
entender aUAL DA BALADA
Esse é aquele que, como TODO HOMEM, avalia as mulheres
pelo quesito BPPC (bunda, perna, peito, cara), mas...
tem a cara-de-pau de chegar junto, secar seu decote e
falar: "Oi... você leu o último livro do Saramago? ".
Esse tipinho não vai para a pista. Afinal, ele curte
mesmo é... JAZZ! Obviamente ele acha que o Jô Soares é o
maior músico de jazz do mundo! Enfim, esse pseudo-
intelectual-man passa a noite no bar bebendo... uísque, porque cerveja é muito povão! Como na maioria dos casos
ele é desprovido de beleza, tem de arregaçar as mangas
para mostrar seu rolex novinho e ver se
sua "intelectualidade" chama a atenção de alguma nota A
em BPPC.

O AFOBADINHO
ALCOOLIZADO
Esse tipo são os tímidos, tiozões (de 18 a 60 anos,
porque estilo tiozão não tem idade), rejeitados,
complexados, depressivos, enfim, todo o público-alvo das
empresas de bebidas alcoólicas. Eles ficam ali na porta
do banheiro feminino (!!!) curtindo aquele cheiro de
pinho sol com xixi enquanto mandam ver no décimo copo de
álcool. Aí fazem a alegria das AMIGA INHAS quando
bolinam as meninas com cantadas grotescas ou se jogam em
cima das passantes. No começo da balada até dá para
entender as coisas idiotas que o tipo fala, mas lá para
o meio da noite, eles tomam sua forma real, a de ANTAS,
e passam a emitir apenas grunidos. No fim da noite, ele s
não terão "catado" ninguém porque quando alguma AMIGA
INHA ia aceitar a "corte" do tipinho, ele desmaia e vai
atrapalhar o sono de algum residente de plantão no
HOSPITAL DAS CLÍNICAS: coma alcóolico na certa.

A PESSOA EM DIA "FUN FOR ME"
Suas vestimentas são adequadas e ele vai abilolar na
pista com um bom humor de dar gosto!!! Conhece todas as
músicas e sabe exatamente o que fazer com braços,
cabeça, pernas! Não fica bêbado apesar de beber boas
doses de álcool. Se você estiver a fim, ele vai adorar
dançar com você. Tem um ótimo papo e é super educado e
gentil: abre passagem, entra na muvuca do bar para
comprar bebida para você e te ajuda a prender aquela
mecha de cabelo que cai insistentemente em seu rosto.
Enfim, ele é o par perfeito para uma balada. Ah... sim,
ele é gay!!! (Sem preconceito, é claro!)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Questões que deveriam cair no Enem

“SQN”, só que não, como diz essa gente jovem reunida. Não deixam de ser, todavia, questões nacionais de suma importância para um exame de consciência. Responda e comente à vontade nas redes sociais do EL PAÍS BRASIL. Vale tudo: colar, pescar, conferir no tio Google, xingar este cronista versado na pedagogia da Patafísica (vide na terceira pergunta deste questionário), só não vale deixar esta prova de Enem em branco. Chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor:
a ( ) O projeto “Escola sem partido”, pauta de audiência especial com o ator Alexandre Frota em Brasília.
b ( ) Ouvir e debater sobre o plano do ensino médio com os estudantes que ocupam escolas contra a PEC 241 em todo o país.
c ( ) O episódio dos alunos algemados e tratados como bandidos nas ocupações.
d ( ) NDA, nenhuma das anteriores.
2) Quais foram as técnicas de tortura recomendadas por um juiz de Brasília para minar a força dos estudantes nas ocupações das escolas:
a ( ) Cortes de água, luz, gás e privação de sono por meio de barulho produzido pela PM.
b) ( ) Um sarau apenas com poemas dos livros “Anônima Intimidade”, antologia do presidente Michel Temer, e “Marimbondos de Fogo”, obra do acadêmico imortal José Sarney.
c) ( ) Um bate-papo descontraído com Kim Kataguiri, líder do MBL, linha auxiliar do governo.
d) ( ) Todas as anteriores.
3A Patafísica, criação genial do dramaturgo e ciclista pioneiro Alfred Jarry, corresponde a:
a ( ) Possibilidade de ter havido a prática de “caixa 2” por parte de quem pagou o pato da Fiesp, ave-símbolo da campanha contra a corrupção.
b ( ) A Patafísica é a ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções.
c ( ) Trata-se de um impeachment em busca de um crime de responsabilidade, como no teatro de Pirandello.
d ( ) Todas as opções anteriores.
4) Como você resumiria a PEC 241 do governo Temer:
a) Conjunto de medidas salvadoras que levará a classe operária ao paraíso.
b) Tão romântica e poética que também pode ser chamada de a “Lira dos vinte anos”, homenagem à obra homônima de Álvares de Azevedo.
c) Está mais para “Vidas Secas” (Graciliano Ramos).
d) Um arrochinho econômico de nada. O que são cinco Copas do Mundo? Passa já, você nem sente no bolso.
5) Qual das frases com mesóclise foi dita por Michel Temer para tratar dos rumos e tormentas da economia.
a ( ) Fi-lo porque qui-lo.
B ( ) Procurarei não errar, mas, se o fizer, consertá-lo-ei.
c) ( ) Bebo porque líquido, se sólido, comê-lo-ia.
d) ( ) Ter-te-ei esta noite, não é verdade, Terta?

Mais um dedinho de prosa

O macho é antes de tudo um frouxo. Foge de um médico como um vampiro corre da luz do dia. Quando se trata do exame do toque, vade retro, tenta escapar por uma vida inteira. Como se um simples dedo de prosa com o urologista fosse comprometer a masculinidade. Essa macheza toda, em muitas ocasiões, o impede de detectar a tempo de cura o câncer de próstata, o segundo mais fatal entre os brasileiros –fica atrás apenas do câncer de pulmão.
Daí a campanha do “Novembro Azul” para alertar os marmanjos sobre o perigo. Seja homem, amigo, encare com galhardia a dedada profilática. Dura segundos. Se dói? Relaxa que nem sentirá o cuidadoso gesto. Esquece as piadas de salão sobre o delicado tema. Vai por mim, é o fio-terra mais compensador da pobre existência. Vale uma vida. Vale o alívio. Não vejo a hora de voltar ao consultório, como reza a anedota. Bom exame.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Big Jato” (Companhia das Letras), entre outros livros. Na televisão, participa dos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Discussão de amor e ódio com a urna

Prezada urna eletrônica, saudações, bom dia, sei que não és culpada, mas te reencontro neste domingo ainda ressabiado, com uma ressaca nada democrática, espero que compreendas o meu esperneio, sabes bem do que estou falando. Poxa, foi chato ver o meu voto virar pó naquela fatídica emboscada parlamentar iniciada pelo Eduardo Cunha e seus renegados bandoleiros, os mais rápidos do velho centro-oeste.
Sei, isso passa, é tanto que estou aqui de volta na cabine de papelão, boto fé na reconquista do nosso relacionamento, espero que o apitinho do “confirma” não fique na minha cabeça como a marcação sonora de um filme de terror. Óbvio que ainda não engoli as manobras do impeachment mandrake — golpe em qualquer dicionário de republiqueta —, mas, juro, vou relaxar um pouco, farei tudo para reatar o nosso namoro. Só precisamos de uma longa D.R., daquelas discussões lentas e arrastadas como um filme iraniano. Amor e democracia dão trabalho — quer moleza, vai para oTinder, malandragem.Sei que não tens culpa no cartório das conspirações e tampouco és calmante para os meus ressentimentos morais e cívicos. Ao te rever, porém, inevitável lembrar que a confiança em ti anda meio suspeitosa.
E olhe que não estou tratando, estimada urna, do simples desgosto de ver a minha vontade eleitoral frustrada contigo. É do jogo. Gozo para todos. Foi exatamente a não aceitação democrática da derrota que levou o Aécio Neves a desmerecer 54 milhões de votos e tocar fogo no circo. O resto da história a gente viu como foi, não gastarei tua santa paciência na véspera atarefada de mais um pleito.
Que seja feita a tua vontade. Te mando este recado porque não posso mais escrever umas malcriações nas velhas cédulas. Lembras? Os eleitores revoltados elegiam até os bichos em vez dos homens. Neste zoo anarquista, destacamos o Bode Cheiroso de Jaboatão dos Guararapes (PE), o rinoceronte Cacareco em São Paulo e o Macaco Tião no Rio de Janeiro.
Prezada e moderna urna, nos vemos neste domingo em Santa Cecília, na Pauliceia que um dia já foi desvairada. Vai ser lindo, apesar do meu ressentimento democrático. Depois de te tocar, com o carinho da primeira vez, continuarei essa D.R. imaginária no boteco do Fuad, ali na esquina da nossa zona eleitoral preferida. Quantas vezes cantei vitórias ou chorei derrotas de véspera desobedecendo a lei seca. Quantas vezes roguei praga em quem votava diferente.
Agora lamento apenas pelo desrespeito com o meu voto do ano 2014. Um voto aberto e declarado que me custou caro, eu diria um voto mais explícito do que o Marlon Brando e a Maria Schneider em “O último tango em Paris” (1972). Deixa quieto, passa a manteiga da legalidade e confirma. O bom é que vamos nos ver de novo neste domingo. Chega de ressentimento patriótico, sei que nada poderias fazer para manter aqueles milhões de votos válidos. A tramoia parlamentar era inegociável, uma pena.
Juro, urninha modernete, encerrarei por aqui a ladainha, que seja feita a tua vontade, embora no Pastoril do Velho Faceta eu sempre brinque com a turma do Cordão Encarnado.
Vai ser lindo te rever, apertarei com gosto, sem perder a delicadeza jamais. Como aquele sexo caliente depois da briga no relacionamento.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de Big Jato (editora Companhia das Letras), entre outros livros. Comentarista do programa “Papo de Segunda” (GNT).

sábado, 24 de setembro de 2016

Os diferentes caminhos para uma educação de qualidade

(...) Se de um lado os resultados do Ensino Médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) são preocupantes, de outro a existência de políticas consistentes e com continuidade aponta para avanços importantes em alguns estados e municípios. Em comum, estas políticas têm dois fatores essenciais: elas são embasadas por evidências e adaptadas para contextos locais. 
Fatores como currículo, formação de professores (inicial e contínua) e gestão escolar com foco no aluno e na aprendizagem têm sido apontados como pontos fundamentais para o sucesso escolar. No entanto, é na combinação desses fatores e na forma de implementação das políticas ligadas a eles que reside a chave para o sucesso.
Países com alto desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) apresentam diferenças na combinação destes fatores e, especialmente, na concepção e visão ligadas às suas políticas. Para alguns países, a equidade, a confiança e a cooperação são bases para as múltiplas dimensões da educação pública. Já para outros países, a competição e a responsabilização de educadores e gestores escolares constituem os eixos dos desenhos das políticas.
Na semana passada, o Instituto Unibanco e a Folha de S. Paulo organizaram um seminário sobre o Ensino Médio, chamado Caminhos para a qualidade da educação pública: Impactos e evidências. Nele, foram debatidas diferentes experiências nacionais e internacionais. Todas elas apontam para essas diferenças na implementação e para a priorização dos componentes das políticas públicas. É importante destacar ainda que, para além dessas diferenças, é preciso levar em conta também a forma como cada escola se apropria e desenvolve essas políticas, como vimos nos resultados de uma pesquisa realizada pelo Cenpec em 4 estados brasileiros (leia mais sobre ela aqui).
Mais importante do que as próprias experiências apresentadas no evento é a mensagem de que políticas públicas precisam ser embasadas por estudos e pesquisas. Além de ter como base dados sobre a situação da educação (como o número de matrículas, evasão escolar, desempenho dos alunos, desigualdades, etc) e suas possíveis implicações, o sucesso de um programa também depende da sua adaptação para o contexto local. É consenso na gestão pública que uma política que obtém êxito em determinada localidade não necessariamente terá os mesmos resultados em outro contexto. Nesse sentido, o seminário também chamou atenção sobre a importância de medir o peso de cada componente de uma política pública específica para um determinado território, e considerar suas condições de desenvolvimento.
Tais questões são fundamentais no momento atual do debate brasileiro, em que temos propostas para a Desvinculação dos Recursos da Educação (DRU) e uma medida provisória anunciada para enfrentar os baixos resultados do Ideb no Ensino Médio. É prioritário que se leve em conta tanto evidências de políticas que deram certo como os diferentes contextos do país ao se pensar em decisões políticas com impacto na educação. Isso é especialmente importante no Brasil, onde a diversidade cultural é muito grande e as desigualdades regionais, raciais e educacionais ainda formam um abismo que impede o avanço da qualidade da educação.

MARIA ALICE SETUBAL

Maria Alice Setubal, a Neca Setubal, é socióloga e educadora. Doutora em psicologia da educação, preside os conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal e pesquisa educação, desigualdades e territórios vulneráveis.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Os reais motivos pelos quais fazemos sexo

Pássaros, abelhas, chimpanzés, humanos - todos nós fazemos, mas poucos percebem que a reprodução sexual no começo evoluiu em criaturas bem diferentes de nós.
Então quais eram essas criaturas e como tudo começou?
A alvorada da reprodução sexual sempre foi um quebra-cabeça para cientistas. Hoje, 99% das criaturas multicelulares - os grandes organismos que conseguimos ver - se reproduzem sexualmente. Todos possuem seus mecanismos específicos, mas por que esse processo evoluiu é um tema cheio de mistério.
Até para Charles Darwin, o pai da evolução, o sexo era algo confuso. Ele escreveu em 1862: "Não sabemos nem de longe a causa final da sexualidade; por que novos seres devem ser produzidos pela união de dois elementos sexuais. Todo o assunto está cercado de escuridão."
Muitas espécies são totalmente envolvidas no sexo e fazem de tudo para conseguir um parceiro. O bowerbird macho, ou pássaro-pavilhão, constroi ninhos incríveis para impressionar as fêmeas.
A fêmea de um verme ilumina a cauda para impressionar o macho. Até o perfume produzido por uma flor é simplesmente um truque para atrair insetos que irão coletar pólen e fertilizar plantas vizinhas.
Mesmo com toda essa diversidade, todos os organismos que se reproduzem sexualmente seguem a mesma rotina - dois membros da mesma espécie combinam seu DNA para produzir um novo genoma.
É um mecanismo simples de corta-e-divide, algo que todas as bactérias, a maioria das plantas e até alguns animais fazem.Antes de o sexo evoluir ao que é hoje, a reprodução era feita de forma assexuada, o que, basicamente, é a divisão celular - um organismo se parte no meio e forma dois.
O mecanismo de reprodução assexuada é muito mais eficiente e menos bagunçado do que a reprodução sexual. Uma espécie assexuada não precisa perder tempo e energia procurando e impressionando um parceiro: seus indivíduos apenas crescem e se dividem em dois. Compare com o complicado e às vezes perigoso processo de atrair um parceiro para reprodução sexual.
pássaro-pavilhãoImage copyrightALAMY STOCK PHOTO
Image captionO pássaro-pavilhão constroi ninhos incríveis para impressionar as fêmeas
E há outros custos óbvios do sexo. Juntar pedaços de genomas separados requer um processo diferente - um ovo precisa ser fertilizado. Significa que cada genitor transmite apenas metade de seus genes à cria.
Pais assexuados, em contraste, produzem crias que basicamente são suas cópias - o que parece uma abordagem boa para um mundo em que nos dizem que nossos genes egoístas querem garantir sua sobrevivência.
Considerando isso tudo, por que tantas espécies encaram esse longo e tortuoso caminho da reprodução sexual, quando há uma rota mais simples? O sexo precisa oferecer alguma vantagem evolutiva que supere as desvantagens.

Compartilhar recursos

Em 1886, o biólogo evolucionista August Weismann sugeriu a existência de uma vantagem. Argumentou que a reprodução sexual reembaralha os genes para criar "diferenças individuais" sobre as quais a seleção natural atua.
Em linhas gerais, o sexo seria uma oportunidade para dois organismos da mesma espécie compartilharem recursos.
Algumas de suas crias carregarão uma mistura benéfica de genes dos dois pais, o que significa que irão responder melhor a perturbações ambientais que deixariam espécies assexuadas em apuros.
organismosImage copyrightALAMY STOCK PHOTO
Image captionAlguns organismos se dividem ao meio para formar outros dois
O sexo pode até acelerar o ritmo da evolução - uma vantagem óbvia quando as condições ambientais também mudam rapidamente.
Prova definitiva desses benefícios veio de estudos que modificam espécies de reprodução assexuada para se reproduzir sexualmente. Organismos unicelulares primitivos passam bem apenas com reprodução assexuada, mas se o estresse das condições ambientais for alto, podem se tornar espécies sexuais.
Perturbações ambientais podem ser qualquer coisa, de uma pequena mudança no clima a um impacto de meteoro.

Procurando o começo

A origem da reprodução sexual é um mistério há muito tempo porque observamos o mundo como é agora, onde muitos organismos assexuados se desenvolvem bem, e alguns organismos que podem se reproduzir das duas maneiras ainda parecem se inclinar pela reprodução sem sexo.
Alguns destes organismos incluem levedura, caramujo, estrela-do-mar e pulgão.
Mas o método de reprodução que as espécies escolhem depende das circunstâncias do ambiente que as cerca - a maioria se reproduz sexualmente apenas em tempos de estresse e seguem assexuadamente no restante do tempo.
O mundo primitivo, no entanto, era um lugar mais inóspito, com mudanças ambientais muito rápidas. Sob essas circunstâncias, altas taxas de mutação poderiam ter, sob condições determinadas, forçado um organismo assexuado a se tornar sexuado.
Fósseis podem nos dizer mais sobre a origem da reprodução sexual, mas são escassos e difíceis de achar, então é complicado afirmar exatamente o que ocorreu. Chris Adami, da Universidade de Michigan (EUA) olha para esse processo teoricamente.
Adami explica que pode analisar a evolução em termos de informação - as coisas que você precisa saber para sobreviver. Evolução é sobre "preservação e aquisição de informação - quanto mais sabe melhor você é", afirma.
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Image captionZebras dando tempo necessário à reprodução

Aprendizado genético

Ou seja, é um processo de "aprendizado": um organismo "aprende" nova informação e transmite essas lições (pelo DNA) para a nova geração para ajudá-la a sobreviver.
O sexo permite que isso ocorra de modo mais eficiente, oferecendo um jeito mais fácil para espécies "lembrarem" de informações úteis - está codificado em seus genes.
Isso ocorre porque o processo envolve a escolha de um parceiro sexual que já atingiu a maturidade sexual fazendo boas escolhas. Sexo significa escolher um bom parceiro e um bom futuro para suas crias.
"Aquisição e manutenção de informação são necessárias para a evolução funcionar - lembrando o velho e imaginando o futuro."
Esse elemento de escolha ajuda a explicar outro quebra-cabeça: por que precisamos de machos? Se apenas metade de suas crias - as filhas - vão de fato procriar, porque a evolução se preocupou com filhos?
A solução de Darwin para o "mistério do macho" foi sugerir que a seleção natural não seja a única pressão evolutiva em ação no sexo. Haveria algo que Darwin chamou de seleção sexual: a preferência de um sexo por certas características em indivíduos do outro sexo.
Estudo publicado em 2015 descobriu que competir para reproduzir é vital para machos, e escolher entre esses machos em competição é vital para fêmeas. Seleção sexual pela existência de dois sexos mantém a população saudável e a protege contra extinção.
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Image captionMudanças nos padrões climáticos afetam a evolução das espécies
Também ajuda a manter variação genética positiva numa população. Quando compete com rivais e atrai parceiros na luta pela reprodução, um indivíduo precisa ser bom na maioria das coisas, então a seleção sexual fornece um filtro importante e efetivo para manter e aprimorar a saúde genética da população.
Os achados contribuem para explicar o motivo pelo qual o sexo continua a ser um mecanismo dominante para procriação e dita quem consegue reproduzir seus genes nas gerações seguintes.

Pioneiros no sexo

O sexo é uma força evolutiva poderosa e disseminada, mas quando essa prática evoluiu e quais criaturas foram as primeiras a adotá-la?
A maioria das pessoas racionais aceita a teoria da evolução, segundo a qual humanos se desenvolveram de um ancestral comum que dividimos com macacos, que evoluíram de organismos ainda mais primitivos. Esses pensamentos remontam a 1871, quando Darwin publicou A Origem do Homem e a Seleção Sexual.
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Image captionA Terra pimitiva era um ambiente muito mais hostil do que hoje
A evolução do sexo como o conhecemos pode remeter a um passado mais distante do que nossos ancestrais primatas. Vai até um peixe primitivo denominado Microbrachius dicki.
"Microbrachius" significa "pequenos braços", mas cientistas descobriram a utilidade dessas estruturas apenas recentemente. Eles possuem pequenas ventosas, e análises dos fosseis mostraram que as fêmeas tinham pequenas estruturas que se associavam a esses braços, como velcro. Os braços, portanto, estavam envolvidos em alguma forma de reprodução sexual.
Não qualquer forma. Esses peixes foram os vertebrados mais antigos que se reproduziam por fertilização interna, como os humanos. Também foram as primeiras espécies a mostrar o que biólogos chamam de dimorfismo sexual: machos e fêmeas são diferentes nesse sentido.
A maioria dos peixes hoje se reproduz lançando ovos e esperma fora do corpo. Pesquisadores não sabem ao certo por que o M. dicki desenvolveu um sistema interno de fertilização, mas o fato é que isso pavimentou o caminho para a forma mais comum de reprodução sexual.
Para entender a origem real da reprodução sexual, no entanto, é preciso voltar ainda mais no tempo.
Sabemos que todos os organismos que se reproduzem sexualmente derivaram de um ancestral comum, então é uma questão de analisar as pistas reunidas em um fóssil para saber quando e onde esse ancestral viveu.
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Image captionQual é a história real de pássaros e abelhas?
Em rochas na região ártica do Canadá estão as pistas que cientistas buscam. Essas rochas foram depositadas há 1,2 bilhão de anos e contêm fósseis que nos contam da primeira reprodução sexual.
Um fóssil chamado Bangiomorpha pubescens é um organismo multicelular que se reproduzia sexualmente, a ocorrência mais antiga encontrada em um fóssil. B. pubescens não era um peixe nem um animal. Era um tipo de alga vermelha, marinha - uma alga marinha foi, portanto, o primeiro organismo a fazer sexo.
Evidências de que esses fósseis se reproduziam sexualmente estão na descoberta de que os esporos ou células reprodutivas que os geraram vinham em duas formas - macho e fêmea. Hoje sabemos que algas vermelhas não possuem esperma que nadam. Apostam em correntes para transportar suas células reprodutivas, e vêm fazendo isso nos últimos milhões de anos.
Algas vermelhas são um dos maiores e mais antigos grupos de algas, com cerca de 5 mil a 6 mil espécies de algas marinhas multicelulares, entre elas algumas conhecidas.
São um grupo muito diverso, que permaneceu parecido durante 1,2 bilhão de anos. Essa longevidade significa que podem ser descritos como "fósseis vivos" - são uma lembrança do passado e de nossas origens.
O ambiente hostil e em constante mudança em que o B. pubescens viveu pode ter motivado o sexo a evoluir.
Galen Halverson, da Universidade McGill, no Canadá, explica: "Em relação ao clima, parece que fósseis de Bangiomorpha pubescens apareceram na mesma época em que um equilíbrio de milhões de anos no ambiente chegava ao fim. Houve grandes perturbações nos ciclos de carbono e oxigênio naquele momento, sugerindo mudanças ambientais significativas."
Naquele momento, o sexo foi fundamental para o sucesso e a evolução subsequente de organismos multicelulares.
Esses fósseis, portanto, marcam avanços significativos na evolução da vida.
"As conexões entre reprodução sexual, multicelularidade, oxigenação e o ciclo global do carbono permanecem nebulosas, mas é difícil não supor que esses eventos estejam intimamente ligados", afirma Halverson.
Estudar essas rochas para entender o tipo de ambiente que permitiu a evolução do sexo e, por consequência, a origem da multicelularidade em nosso planeta ajuda a entender nosso passado e de onde viemos, mas também o potencial de evolução da vida em outros planetas.
É estranho imaginar que algas tenham sido o "motor" dessa "revolução" sexual, mas tais desenvolvimentos evolutivos, há 1,2 bilhão de anos, pavimentaram de fato o caminho para a vida na Terra como a conhecemos.

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/vert-earth-37173711?ocid=socialflow_twitter