terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O DIA QUE NUNCA HOUVE NEM HAVERÁ

Sempre esperei que isso acontecesse num dia desses! Todos esperamos! Por mais absurdo que possa parecer. Sempre estamos esperando por alguma quimera, quem dera acontecer. Finalmente aconteceu. Aqui, o relato pormaiorizado dos fatos e atos, eventos e ventos, contados, rintintim por rintintim, como foram realmente, nesse dia de cão.
 O dia raiara no meio da tarde, quando a estiagem provocada pela seca inclemente fazia chover a cântaros. A canícula em seu cavalo incitatus galopava pelos campos asfaltados da plana serra. Depois passaram para a acidentada planície. Só quem botou os pés na rua foi o glorioso exército da salvação protegido com seus garbosos capacetes de aço que faziam os cântaros se despedaçarem quando em choque com eles. Nas primeiras horas da madrugada, quando o sol se punha, da foz do mar que desaguava rio adentro, um outro esquadrão apareceu trotando. Era um enxame de peixes cavalgando cavalos marinhos que, piscosos, saiam das águas igualmente marejados. Estava deflagrada a revolução praiana que iria invadir os sertões e reverter o revertere ad louco tuum, voltando tudo ao mesmo lugar de antes.  De uma vez por todas, para sempre. E nunca!
 Desde muito tempo, antes mesmos dos tempos homéricos, que babilônios e caldeus, aliados aos godos, visigodos e engodos de uma maneira geral, em cruzadas ebúrneas, almejaram a descoberta do princípio básico da alquimia para a fabricação de genéricos que pudessem possibilitar a disponibilidade de sombra-e-água-fresca universalizadamente. Ora direis ouvir galáxias! Por certo perdestes a última viagem do periscópio espacial Hubble que flagrou as excrescências celestes no próprio âmago dos intestinos cosméticos – escatológicas figuras – em toda sua flatulência.
 Foi quando empunhando a sua catapulta eletrônica o salvador da lavoura transgênica, Pipinus, dos grandes, defensor dos pobres e ó premidos, palatino da boca-livre, feriu os céus de todas elas, e lançando o seu brado retumbante, que o sol da liberdade em raios-x dissecaram em transparências lúcidas, ele, gemendo e suplicando, proferiu: eia, pois, enamorada nossa, fica proclamado o fim das intempéries.
 A chuva se transformou em confetes e serpentinas. O ar transfigurou-se e o cheiro de lança-perfume inebriou os sentidos todos, fazendo-se ouvir os mais imbecis sambas-enredos da antologia antológica, antes lógica, sua anta, lógico. Trabalhadores do mundo, cada um por si e deus por tolos. Avante ó terra estremecida pelos berrantes cantos exuberantes de exu. 
 Chega, basta. Ninguém merece essa agonia. Tipo assim. Esse estado catatônico a que chegamos. Noz, que recorremos à voz. Salvem as criancinhas. Continuemos a pelear. Agora e sempre.
 Isso jamais poderia acontecer. Como não aconteceu. Mesmo porque nunca, na história gregoriana, houve um dia trinta de fevereiro, dia da publicação do presente exemplar exemplar deste hebdomadário decendial. Confira neste cabeçalho, com ou sem rima, que encima esta edição, mais precisamente, que endireita a segunda linha dela. Nem nos mais tradicionais anos bissextos isso soe acontecer. Talvez, quem sabe, um dia, isso venha a ocorrer nos anos trissextos, esses com 666 dias, com três seis, como o nome não deixa dúvidas, quando porventura passarem a existir. Anus da besta! Desse dia em diante, começará a vigorar o decrépito decreto que institui a instituição da paz universal e a igualdade entre os homens. Quanto às mulheres, isso fica para depois. Para o próximo dia trinta de fevereiro.
Genserico Encarnação Júnior

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Papel da Educação

A educação é um processo contínuo que possibilita aos indivíduos alcançarem a plenitude de suas potencialidades, ao longo da vida.
A ação educativa tem como principio básico a formação integral, harmoniosa dos indivíduos,  e como um de seus objetivos, o desenvolvimento do espírito reflexivo da criança e do jovem, preparando-os para a construção da consciência crítica do adulto, para que ele aprenda a ser, a conviver na sociedade como sujeito consciente, participativo, sabendo discernir o bem do mal, aplaudir o correto e abominar e repudiar o incorreto.
Num tempo que já vai longe, competia à família a educação de seus filhos e à escola, o ensinar. Completavam-se.
Hoje, a educação passou a ser exercida por vários agentes, por vários meios, em vários espaços, onde avulta o papel da escola.
Agigantou-se sua responsabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, abrangendo a educação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que as famílias, muitas delas, declinaram do dever de educar seus filhos.
Por esta razão, a par de ser responsável pelo processo de ensino e de aprendizagem de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando de crianças e adolescentes, a escola assumiu a  atribuição de formar o cidadão, construindo com ele não só conhecimentos, competências e habilidades, mas a escala de valores, onde avultam a moral e a ética , que vai servir de farol, iluminando sua caminhada.
Vivemos numa época que perturba, de certo modo, a consolidação da consciência crítica do homem . Vivemos bombardeados pelos  acontecimentos, pela quantidade e variedade de  informações, sem ter tempo para refletir sobre eles e elas, analisando-os.
Aprendemos a chamada “cultura de mosaico”, fluida e inconsistente, que pouco ajuda a formar a consciência crítica das crianças, dos jovens e, mesmo, dos adultos.
Somos afetados pela avalanche de informações que, muitas vezes, nos levam a julgamentos apressados, por não terem passado pelo crivo da reflexão e da crítica.
Diante desta evidência e pelo fato da família não estar cumprindo seu dever, ampliou-se o papel da escola e dos professores, que acrescentaram às funções de ser espaço e mediadores da construção do conhecimento e do exercício da socialização, a de ser local e agentes privilegiados para educar, integralmente, as crianças e os jovens, preparando-os para viver num mundo e numa sociedade inquietantes, desafiadores, excludentes, marcados por constantes mudanças, por novos paradigmas, por frequentes exigências, por obstáculos a serem transpostos; mundo e sociedade marcados pelas injustas discriminações, desigualdades, pelas injustiças.
Diante desta constatação é importante que os professores exerçam sua função de educadores, que preservem sua consciência crítica para melhor formar sua visão de mundo, de modo a orientar seus alunos para a busca de caminhos certos e seguros, na travessia desta desafiadora aventura a que chamamos vida, para a qual o conhecimento, os valores morais e éticos e o discernimento são fundamentais.
Somente proporcionando aos alunos a vivência, o sentido de procurar conhecer bem cada fato, de poder analisar comportamentos, de refletir sobre possíveis causas e consequências,  de decidir sobre a melhor maneira de agir, é que os professores estarão levando seus alunos a desenvolverem seu espírito critico.
Dificilmente alguém alcançará realização como pessoa ou profissional, se não tiver formado espírito critico sobre si mesmo, sobre a realidade que o cerca, permitindo-lhe a formação de conceitos seguros, válidos no presente e no futuro, como ponto de referência, porque resultantes  de um espírito crítico bem formado, de uma consciência lúcida.
Esse é o caminho. Um caminho difícil como todo e qualquer caminho que conduz a um ideal. Difícil, mas não inatingível. Um caminho que amplia a importância da escola, que acrescenta ao papel que o professor tem como orientador e mediador da aprendizagem, o de promotor da educação de seus alunos, consciente da importância de seu papel na formação integral do homem, na construção de uma sociedade justa, esclarecida, que demonstre seu repúdio a fatos e a comportamentos pessoais que chegam ao nosso conhecimento, pela função esclarecedora exercida pela imprensa.
Como ficar impassível diante da fotografia exposta na primeira página de um jornal de grande circulação, em que riem da sociedade um contraventor e um advogado de renome, que já foi Ministro da  Justiça e que não se envergonha de aceitar a defesa de um corrupto notório?
Diante desta afronta e de tantas outras que, lamentavelmente, temos assistido como espectadores passivos, é que se torna imperioso desenvolver em nossos alunos o espírito reflexivo, a análise  isenta e a consciência crítica para que saibam demonstrar, publicamente, seu repúdio a atos que, por sua amoralidade, envergonham uma nação, enodoam  a imagem de um país.