sábado, 27 de fevereiro de 2021

A SEGREGAÇÃO ENTRE "CASA E RUA"


A segregação entre “casa e rua”, que até hoje nos persegue (porque a casa é inocente e a rua é bandida), esquece que os mais exaltados “governos fortes” e as ditaduras foram ou são exercidos por nossos colegas, amigos, compadres, parentes e subordinados. Nenhum governo conseguiu encarar o fosso entre a morada e a vida pública nas suas mais claras contradições, pois a casa é monárquica, a rua, republicana! Na casa existe uma dura hierarquia de gêneros e idades, na rua há uma surpreendente igualdade que, quase sempre, nos obriga a usar o “você sabe com quem está falando?” como um ritual de distinção.

Não deve ter sido por acaso que a passagem da monarquia para a República foi realizada por terríveis rompimentos com elos pessoais. Novas concepções de como se relacionar com Deus e de como limitar o luxo e o poder dos nobres tiveram um papel básico nas relações com aqueles que ocupavam um papel superior. Disciplinar funcionários do Estado foi fundamental no caso das primeiras burocracias - dos primeiros requisitos para mudar o feitio e o estilo de governar legal e politicamente para todos.

No caso brasileiro tivemos Estados fortes e fracos, mas pouco discutimos que a segmentação entre Estado e sociedade tem como consequência isentar a responsabilidade e o peso da sociedade junto ao Estado. No fundo, mantemos até hoje em separado entidades que estão entrelaçadas, posto que o Estado é a sociedade e os seus estilos de vida e vice-versa.