domingo, 22 de dezembro de 2013

Aprender e Ensinar

Segue abaixo um trecho do livro Jeitos de ver a Vida: Aprender e Ensinar, escrito por Dalal El Achkar e Wannise Lima. “Em todas as horas e lugares as pessoas estão acessando informações, buscando conhecimento. Os avanços tecnológicos e a disseminação do conhecimento exigem mudanças constantes e permitem que sejamos aprendentes e ensinantes, pois nos colocam diante de novas formas de convivência, outros acordos de cooperação, e, essencialmente, novas formas de relacionamento, novas formas de amor. Por exemplo, há alguns anos atrás, não muitos, quando queríamos falar com uma pessoa e estavamos na rua, o jeito era comprar uma ficha telefônica e usar o telefone público, abrir o papelzinho que embalava a ficha, colocá-la no telefone e fazer a ligação (claro que em poucos minutos era necessário colocar outra ficha para continuar o diálogo). Muitos de nós experimentamos esta forma de comunicação. De repente, os celulares, os microcomputadores e a internet invadem as nossas vidas e aprendemos outras formas de contato, e precisamos nos adaptar a elas. Para alguns, estes novos jeitos são mais confortáveis e rápidos; outros, admitem a eficácia, mas reclamam das dificuldades enfrentadas para aprender a novidade. O fato é que, por estas vias podemos acessar diferentes pessoas nas mais variadas partes do mundo e não apenas falar com elas, mas vê-las, mostrar fotos e vídeos, acessar os conhecidos e os desconhecidos. Este simples exemplo ilustra o quanto as mudanças causam impacto nas nossas vidas, e como as nossas reações a elas produzem efeitos. Mudar não é fácil, afinal, muitas de nossas tarefas, de tão rotineiras, acabam sendo automatizadas pelo nosso cérebro. É sobre isso que vamos tratar (…)”.

sábado, 30 de novembro de 2013

Educar hoje para colher amanhã

Transformações nos sistemas educacionais provocam mudanças em longo prazo, causando impactos em todas as áreas de um país. Exemplos como a Finlândia, Coreia do Sul e Japão mostram que boas mudanças sustentadas por décadas alavancaram esses países colocando-os em situações privilegiadas em vários aspectos, inclusive economicamente. E quando as transformações necessárias são negligenciadas, feitas em uma velocidade mais lenta do que a realidade mundial impõe ou feitas de forma incorreta? Como ficam esses países? O relatório da Consultoria McKinsey, “Como os sistemas escolares com melhor desempenho no mundo chegaram ao topo”, indica que os principais fatores de sucesso dos países melhores colocados no PISA (Programa para Avaliação Internacional de Alunos) são: 1) Capacidade de atrair para a carreira docente os estudantes de ensino médio com melhor desempenho; 2) Formação para o magistério de alta qualidade. Duas chaves do sucesso dos países que fazem a lição de casa. Andando na contramão desses indicadores de sucesso a carreira docente no Brasil é uma das menos desejadas e que atrai os alunos com menor desempenho no ensino médio. Segundo pesquisa elaborada pelas Fundações Carlos Chagas e Victor Civita, sobre a atratividade da carreira docente no Brasil, apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio optam por graduações de pedagogia ou licenciaturas, sendo que as notas do ENEM obtidas por eles são, na média, as mais baixas. Quanto à formação docente, os estudos dessas Fundações indicam que as faculdades de pedagogia não dão o embasamento necessário para que os futuros educadores possam lidar com sua tarefa de ensinar. A mesma pesquisa mostra que as licenciaturas têm foco quase exclusivo no conteúdo das disciplinas e pouca atenção no desenvolvimento de competências pedagógicas. Se colhermos aquilo que estamos plantando, teremos sérios problemas pela frente. Sendo assim, a educação precisa ser colocada com urgência como prioridade nacional e uma reforma estruturante de longo prazo precisa se consolidar para mudarmos a direção que estamos caminhando. Aumento salarial dos professores, reestruturação curricular das formações docentes e investimento em infraestrutura das escolas, são algumas das ações óbvias para essa fundamental transformação. >> Este artigo foi escrito por Luciano Diniz, coordenador da pós-graduação em Educação Integral Transformadora da Associação Gente de Bem.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

10 ferramentas online grátis que os professores estão usando

10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 1. Blogger Muitas pessoas já estão familiarizadas com o Blogger, mas muitos professores não sabem que ele pode ser muito útil como recurso de aprendizado. Você pode usar um blog especial para a sua sala e usá-lo para divulgar links, dicas, planos de aula e afins. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 2. Wikispaces Tanto estudantes quanto professores podem se aproveitar do Wikispaces para publicar e compartilhar textos, imagens, vídeos, etc. A plataforma online permite que você altere as configurações de privacidade, permitindo que qualquer pessoa veja sua página ou restringindo-a a um número específico de estudantes. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 3. Google Drive O Google Drive permite que estudantes e professores criem documentos, apresentações, planilhas e afins e depois compartilhem esses conteúdos com outras pessoas. Além disso, seus trabalhos serão automaticamente salvos conforme você os cria. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 4. 4Teachers Bem como o nome sugere, o 4Teacher é um site repleto de conteúdo e ferramentas educacionais para professores. Ele pode ajudar com a criação de tarefas, questionários, etc. Ainda existem ferramentas disponíveis para estudantes. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 5. Dropbox O serviço do Dropbox permite o armazenamento e a sincronização de arquivos em diversos computadores. Também funciona como um serviço de back-up. Os arquivos armazenados nele podem ser acessados de qualquer lugar. 8 ferramentas para detectar plágio em trabalhos acadêmicos 8 ferramentas para detectar plágio em trabalhos acadêmicos 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 6. Evernote O Evernote é uma ferramenta grátis que pode ser usada para capturar e armazenar informações em diversos formatos, como textos, imagens e até mesmo áudios. Também pode ser acessado pelos mais diferentes meios, como desktops, smartphones e tablets. Pode ajudar os professores a organizar as informações das aulas. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 7. Animoto O Animoto permite que os professores criem vídeos educacionais. Essa ferramenta oferece tutoriais que ajudam na criação de apresentações que incluem textos, pequenos clipes e imagens. Os vídeos ainda podem ser compartilhados via e-mail, site ou blog e até mesmo no YouTube. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 8. Voki Voki pode ser usado de graça e permite que você crie personagens falantes que podem ser utilizados para ensinar seus alunos. Funciona como uma ferramenta efetiva de ensino e ajuda a motivar seus alunos a tomar a responsabilidade pelos seus trabalhos. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 9. Tag Galaxy Se você está pesando em inserir imagens e fotos no seu plano de aulas, o Tag Galaxy é a ferramenta ideal. Pode ser utilizado em qualquer matéria ou tópico com o objetivo de construir um aprendizado visual. 10 ferramentas online grátis que os professores estão usando: 10. Go! Animate O Go! Animate é similar à ferramenta anterior. Você pode fazer os seus próprios vídeos e criar índices e tópicos introdutórios para os seus alunos.

4 ideias para dar aulas mais dinâmicas e interativas em 2013

4 ideias para dar aulas mais dinâmicas e interativas: 1. Ambientes e aulas interativas Todo tipo de iniciativa ou estratégia que tire os alunos da posição de ouvintes dormentes e inativos para participantes entusiasmados e colaborativos na sala de aula irá não apenas revigorar, mas também transformar radicalmente todo o processo de aprendizado e relacionamento entre eles e o educador. Jogos, teatros, tecnologias e outras atividades podem ser empregadas para que seus estudantes entendam que a construção do aprendizado é feita quando se divide o processo com outras pessoas. 4 ideias para dar aulas mais dinâmicas e interativas: 2. Passeios e visitas Lembre-se de seus dias de estudante e a alegria que sentia todas às vezes que saia para visitas, seja ao zoológico, parques ou museus. A diversão nunca foi motivo para impedir que não aprendesse, pelo contrário, na maioria das vezes você aprendeu ainda mais e as lembranças boas fizeram com que o conhecimento ficasse marcado para sempre na memória. Esse tipo de recordação o ajudará a entender como as visitas e passeios podem fazer toda a diferença na vida e desenvolvimento de um aluno, não importa a série em que esteja ou assunto abordado. 4 ideias para dar aulas mais dinâmicas e interativas: 3. Tecnologia O desenvolvimento de novas tecnologias que atendem às necessidades de professores e alunos na sala de aula e fora dela tem possibilitado que muitos resultados positivos sejam alcançados e barreiras sejam quebradas. Um exemplo disso é o auxilio que tais ferramentas podem trazer para estudantes diagnosticados com autismo. Eles conseguem se comunicar de maneira mais efetiva e sentem-se mais confiantes. 4 ideias para dar aulas mais dinâmicas e interativas: 4. Internet A dica acima já oferece uma introdução a esse assunto, já que a internet merece um tópico individual. São cada vez mais impressionantes as revoluções que ela tem causado no cotidiano dos alunos e na forma como a educação é vista e adquirida. Imagine por um segundo todas as oportunidades que podem ser criadas quando as melhores universidades do mundo oferecem cursos gratuitos online?

domingo, 22 de setembro de 2013

Como o professor vê a Educação

O ponto de partida para comprender a atuação do docente em sala de aula é a opinião sobre suas próprias práticas educativas. Os docentes das escolas públicas urbanas do Brasil consideram-se preparados para dar boas aulas, opinião predominante em 64% dos entrevistados. Mas apenas a metade deles considera que a formação inicial trouxe subsídios suficientes para a sua atuação como docente. É interessante observar que os homens sentem-se menos preparados do que as mulheres, talvez pela predominância dos egressos de licenciaturas, que têm preparação menos específica para as questões diretamente vinculadas ao âmbito pedagógico. O mesmo ocorre em relação à educação continuada. Cursos de extensão e atualização, embora sejam considerados positivos para a formação, têm aprovação de apenas 51% dos professores que participaram do estudo, no que diz respeito da adequação à realidade em sala de aula. Do depoimento de um grande número de professores pode-se depreender que, embora se sintam preparados em relação ao conteúdo das disciplinas, os educadores manifestam dificuldade no momento de ensinar, não conseguindo, muitas vezes, conquistar a atenção do aluno, o que remete às estratégias pedagógicas e às opções metodológicas. Mais uma vez, observa-se uma maior satisfação com a própria qualificação entre aqueles que se dedicam à Educação Infantil, condição que diminui gradativamente até chegar aos professores do Ensino Médio. Diferenças também se notam quando se observam as opiniões por faixa etária: com o passar dos anos, a experiência adquirida em sala de aula contribui para que o professor esteja mais confortável com seu desempenho. Os professores descrevem um cotidiano no qual sua atuação não se resume apenas ao campo da didática, mas engloba um espectro mais amplo, no qual está incluído o enfrentamento de questões ligadas à convivência, ao comportamento e à formação de atitudes e valores. A falta de disciplina dos alunos surge como uma das maiores queixas desses profissionais da educação, sendo apontada, espontaneamente, por 46% dos entrevistados como o principal desafio em sala de aula. Para o professor, o aluno está desmotivado, demonstrando pouco interesse em aprender (34%). Esses números são mais significativos entre os que lecionam no segundo ciclo do Ensino Fundamental: 43% dos entrevistados apontam para a disciplina como um obstáculo ao trabalho educativo. A falta de apoio e interesse da família é, do ponto de vista de 31% dos professores, um fator determinante para o agravamento desse quadro. Pais que têm pouco tempo para os filhos e baixo envolvimento com a educação destes estão, para os professores dos principais centros urbanos brasileiros, entre os principais fatores que explicam o baixo rendimento dos alunos. Se a indisciplina pode ser avaliada como uma atitude até certo ponto natural para as crianças e, especialmente, os adolescentes, torna-se um problema grave quando associada à violência. A agressão a colegas e professores é diagnosticada como rotineira por 14% dos entrevistados – 18% no caso do Ensino Fundamental II. Embora em menor proporção do que se imagina, dada a alta repercussão que os episódios de violência acabam tendo na mídia, não se pode ignorar a presença de questões ligadas à violência doméstica e ao envolvimento com drogas. Pais com problemas de alcoolismo (5%), comércio de drogas na escola (5%), crianças envolvidas com criminalidade (5%) ou que sofrem agressão (3%) e abuso sexual (2%) são algumas das tragédias da cena brasileira que devem ser enfrentadas pelos professores. É claro que a problemática da violência e dos conflitos traz para a escola e para os professores uma série de elementos novos, certamente não contemplados no programa dos cursos de formação de professores. É preciso observar que os problemas enfrentados pelos professores não se limitam ao relacionamento com os alunos. Há problemas estruturais claros, como a falta de equipamentos (para 18% dos entrevistados), salas superlotadas (16%), além de instalações deficientes (18%) ou mal conservadas (12%). E há lacunas também no suporte ao trabalho pedagógico, como a falta de materiais (para 19% dos professores ouvidos); a necessidade de aulas de reforço, que garantam o aprendizado de alunos com menor nível de conhecimento (12%) e mesmo a falta de conhecimento didático (5%), que aparecem como elementos importantes. Pode-se imaginar que um ambiente pouco propício para o desenvolvimento de uma cultura que promova conhecimento e o estímulo a aprendizagens significativas faça apenas com que aumente a propensão ao desrespeito, à indisciplina e, num extremo, à violência. A pesquisa buscou conhecer, também, um pouco mais a diversidade de instrumentos que o professor utiliza para oferecer aos alunos caminhos mais ricos de aprendizagem. Os dados mostram que livros, revistas, internet e música são instrumentos bastante utilizados no planejamento das aulas. Como seria razoável supor, a internet (57%) e a música (47%) são mais utilizadas por professores jovens, enquanto os de maior faixa etária dão preferência a instrumentos mais tradicionais: livros paradidáticos, jornais e revistas. De modo geral, os professores utilizam, em média, quatro fontes diferentes no planejamento de suas aulas. Quanto aos recursos disponíveis para as aulas, os livros (68%), aparelhos de DVD (54%), televisores (52%) e aparelhos de videocassete (48%) são os mais citados. A título de curiosidade vale citar que o tradicional giz não é mais utilizado por quase metade dos professores das principais capitais brasileiras. Em que pese o esforço de informatização da escola, o computador ainda não é uma realidade na grande maioria das escolas públicas urbanas, ao menos no que se refere aos equipamentos de uso do professor. Apenas 21% deles contam com esse recurso. Até porque recursos fundamentais e prosaicos representam graves carências para boa parte dos entrevistados: uma boa lousa, boa iluminação, livros didáticos, paradidáticos e literários ainda não estão disponíveis em um número significativo de escolas. Outros recursos de apoio são demandados pelos professores. As saídas culturais são bastante citadas, com 21% de menções espontâneas. Filmes, jogos, enciclopédias e rádios também são requisitados por esses professores. Embora não se possa fazer generalizações, é possível dizer que os professores contam com uma razoável variedade de recursos didáticos. Por outro lado, é importante destacar que nem sempre o material didático enviado pelo governo chega no prazo prometido. Em torno de 25% dos entrevistados reportaram atraso na chegada dos insumos de apoio ao trabalho pedagógico. As informações da mídia são utilizadas por 92% dos professores como material de apoio em suas aulas. Como principais fontes, surgem jornais, revistas, televisão, internet, rádio e filmes, nesta ordem. A realização de debates e trabalhos em grupo e a análise e interpretação de textos são alguns dos formatos mais corriqueiros. Reportagens sobre violência, política, esportes e outras atualidades, bem como matérias sobre saúde e meio ambiente, além de propagandas, estão entre os principais temas mencionados. Enquanto 89% dos professores consideram que o ideal seriam classes com, no máximo, 30 alunos, a realidade se mostra bastante diferente: 74% dos entrevistados declaram que suas salas superam esse limite. Mais uma vez, é importante destacar as diferenças entre as diversas modalidades de ensino: na Educação Infantil, os professores consideram 25 alunos o número máximo de crianças por sala de aula (em acordo com o parâmetro estabelecido pelo Conselho Nacional de Educação), mas isso só ocorre em 40% dos casos. Já nas séries mais avançadas, embora o número avaliado como ideal seja o de, no máximo, 30 estudantes, na prática, encontram-se classes com mais de 35 alunos, em 70% dos casos. Pouco mais da metade dos entrevistados leciona em dois períodos, enquanto 19% estão comprometidos com três períodos. Essa sobrecarga de trabalho evidencia-se nos ciclos mais avançados, chegando a 31% entre os que dão aulas no Ensino Médio. Parece óbvio imaginar a dificuldade dos professores da última etapa do Ensino Fundamental e do Ensino Médio em trabalhar, com qualquer grau de individualização, os diferentes níveis de aprendizagem de seus alunos. Contraditoriamente com a imagem preponderante de uma juventude agressiva e problemática, os professores acreditam que 81% de seus alunos são crianças felizes, normais, que gostam de estar na escola e vivem com os pais. Conforme os docentes, ao menos a metade delas está interessada em aprender e gostaria de ter uma carreira de sucesso. Ao mesmo tempo, o retrato oferecido pelos docentes apresenta um painel alarmante sobre um dos principais dilemas da escola contemporânea, o trabalho com os alunos com níveis mais baixos de aprendizagem. Para os docentes, tais alunos representam 25% das turmas da Educação Infantil e 42% das do Ensino Fundamental e Médio. Os dados impressionam e confirmam os resultados aferidos pelas avaliações de rendimento: para os professores do Ensino Fundamental II, 20% de seus alunos, em média, não sabem ler e escrever, sendo que 40% não se expressam verbalmente de forma adequada. O quadro desenhado pelos professores dos grandes centros urbanos brasileiros mostra ainda o quão graves são os problemas vivenciados pelas crianças e adolescentes que extrapolam o campo pedagógico. Os docentes detectam problemas dentários (em 26% das crianças, em média), oftalmológicos (16%) e até mesmo de desnutrição (9%). Ainda que não tenham a validade de diagnósticos médicos, a percepção dos professores é suficientemente grave para levantar um alerta sobre a necessidade de uma maior articulação das políticas sociais, que inclua a escola. Os aspectos psicológicos também causam apreensão, com relatos de agressividade (entre 20% dos alunos), prática do preconceito (17%) e agressão física frequente (9%). Os problemas estendem-se à família. Os professores atribuem 14% de casos de alcoolismo entre os pais de seus alunos. Olhando para esta realidade, não é difícil entender por que os professores consideram a sobreposição dos papéis da escola como um dos principais fatores que interferem no baixo rendimento escolar e cobram ações mais efetivas do poder público para solucioná-la. Dessa forma, a percepção dos professores reflete uma escola pública muito heterogênea, na qual convivem extremos, como crianças com famílias estáveis, pais escolarizados, adaptadas ao ambiente escolar e com projetos de educação de longo prazo, ao lado de alunos de comunidades em situação de risco, vítimas de mazelas sociais persistentes e sempre na iminência do fracasso escolar.

Sala de aula lotada diminui aprendizado do aluno

Escolas com salas lotadas da rede pública de ensino em Rio Preto apresentam os piores índices educacionais do município. A relação entre número de alunos por sala e qualidade educacional foi feita pelo Diário a partir do cruzamento de dados do Censo Escolar 2010 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ambos do Ministério da Educação. De cem escolas públicas, municipais e estaduais, da rede de ensino rio-pretense, 16 têm ao menos uma série com média de pelo menos quatro alunos a mais por sala de aula do que o limite máximo recomendado tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura. Três dessas escolas, todas municipais, têm três séries superlotadas. Uma delas é a Yolanda Ferrari Vargas, no Jardim Maria Lúcia, zona norte. O primeiro, quarto e quinto anos apresentam média de alunos por sala, respectivamente, de 30, 34,3 e 34,7, acima do limite determinado pela própria Secretaria Municipal de Educação: até 25 alunos no 1º ano, 30 alunos do 2º ao 5º anos e 35 do 6º ao 9º. O colégio apresentou o pior Ideb das escolas públicas de Rio Preto no 5º ano, com índice 5,0. O Ideb é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar e médias de desempenho nas avaliações do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep): o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios. O último resultado é de 2009. A escola Wilson Romano Calil, bairro Solo Sagrado, zona norte da cidade, teve índice 5,7 no último Ideb de 5º ano, o quinto pior do município. Nessa série, são 34,4 alunos por sala, em média, - o limite é de 30 - mas chega a 36, caso do 5ºF, segundo o aluno Filipe Augusto de Oliveira, 10 anos. “Minha sala tem 36 alunos, mas já teve 40, no começo do ano. É muita bagunça, fica difícil prestar atenção no que o professor fala”, afirma. A situação é semelhante à escola estadual Yvete Gabriel Atique, no Eldorado. São 40,2 alunos por sala no 9º ano (antiga 8ª série), cinco a mais do que o limite recomendado pela Secretaria de Estado da Educação. A escola teve índice 4,1 no último Ideb, o segundo pior de Rio Preto. Má qualidade “Diante de uma sala lotada, não dá para o professor abraçar todos os alunos. Então ele escolhe os melhores e abandona aqueles que mais precisam de atenção. O resultado é uma educação de má qualidade, quando se considera a sala como um todo. Muitos alunos terminam o primeiro ciclo do fundamental não alfabetizados”, diz José Marcelino de Rezende, especialista em políticas educacionais da USP. “Como 40, 45 alunos irão prestar atenção no que o professor diz na sala? Ficam palavras no ar”, afirma Osnilda Grassi, conselheira regional da Apeoesp (sindicato da categoria). A professora C.B. leciona história em duas escolas estaduais de Rio Preto. No 9º ano de uma delas, são 40 alunos. “A gente tenta na base da bronca, e acaba dando aula gritando. Mesmo assim, não tem jeito, eles não respeitam, te enfrentam”, reclama. Outra docente solicitou afastamento no início da semana passada por estresse. Problema decorrente, segundo ela, da superlotação. “São mais de 40 alunos por sala, gritando, bagunçando. Cheguei ao meu limite. Acabo de deixar o hospital depois que a minha pressão chegou a 18 por 11.” Colégios particulares têm 12 alunos por sala Superlotação nas salas de aula é algo raro na rede privada de ensino em Rio Preto. Das 62 instituições com ensino fundamental na cidade, duas apresentam séries com médias de alunos por sala lotadas. As demais têm realidade bem diversa da rede pública - a média é de apenas 12,6 alunos por sala. A relação entre quantidade de alunos e qualidade do ensino pode ser expressa por números. Considerando uma aula de 50 minutos, cada aluno da 8ª série da escola Bento Abelaira Gomes, no Jardim Antunes, média de 44 por sala, dispõe de 1,1 minuto da atenção do professor, em média. No colégio Azevedo Marques, mesma série, são 3,5 minutos para a média de 14 alunos por sala. “É uma política recorrente das escolas particulares do município ter poucos alunos por sala, porque isso se reflete diretamente na qualidade do ensino. Não adianta visar somente o lucro e entupir a sala com 50 estudantes. A qualidade despenca, e a credibilidade também”, diz Antonio Carlos Tozzo, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Ensino Básico em Rio Preto. O colégio Interativo, no Alto Rio Preto, estabeleceu limite de até 15 estudantes por sala no 1º e 2º anos do fundamental, 18 no 4º e 5º anos e 22 do 6º ao 9º. “Essa é uma proposta pedagógica que vem desde a fundação da escola, há 11 anos. Com menos alunos, a conversa paralela em sala é menor, e a atenção individualizada do professor, maior”, afirma a diretora pedagógica do colégio, Maria Aparecida de Lucca. A 7ª série tem 17 alunos, metade do teto preconizado pelo Estado, 35. “Ajuda no trabalho em sala. Posso colocar um aluno de frente para o outro para dinâmicas, e não precisa chamar a atenção. A aula rende mais”, diz Marcos Nevian, professor de português. Arthur de Toledo, 13 anos, também diz notar as vantagens de poucos alunos na sala. “O professor dá mais atenção ao aluno que tem dificuldade.” Fundeb Para o especialista em políticas educacionais da USP José Marcelino de Rezende, o sistema de repasse de recursos para a educação, via Fundeb, o fundo da educação básica, incentiva a lotação. “É uma lógica per capita. Como o repasse de dinheiro é por estudante, para que o dinheiro renda é interessante que haja muitos alunos por sala”, afirma. Neste ano, o Fundeb repassou R$ 55,3 milhões para Rio Preto, de acordo com o Ministério da Educação. Para Rezende, a saída para eliminar o problema seria editar uma lei determinando o número máximo de alunos por sala. O que existe hoje é apenas uma recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 2009, referendada pelo MEC, que pode ou não ser seguida por Estados e municípios. Estado e Prefeitura dizem cumprir norma A Secretaria de Educação de Rio Preto informou por meio de nota encaminhada pela assessoria que segue o número máximo de alunos por série estabelecido pela própria pasta para o ensino fundamental: até 25 alunos no 1º ano, 30 alunos do 2º ao 5º anos e 35 do 6º ao 9º. Em relação às escolas Lydia Sanfelice, Antonio Teixeira Marques e Wilson Romano Calil, além da demanda dos respectivos bairros, conforme a assessoria, as unidades têm atendido alunos da zona rural. A pasta lembra que, para melhorar a oferta de vagas na rede municipal, está em construção escolas de ensino fundamental nos quatro “Núcleos da Esperança”, no Jardim Santa Catarina, Vila Azul, Santa Clara e Alvorada, todos na periferia. Além disso, estão sendo construídas mais cinco novas escolas na cidade, de acordo com a assessoria: duas no bairro Nova Esperança (infantil e fundamental), duas no Parque da Liberdade (infantil e fundamental) e uma de educação infantil no bairro Aroeira 2. Todas essas unidades irão disponibilizar 7 mil novas vagas. A assessoria da Secretaria de Estado da Educação garantiu cumprir a resolução que determina o máximo de 30 alunos no primeiro ciclo do fundamental, 35 no segundo ciclo e 40 no ensino médio. “É importante destacar que a região possui 16.216 matrículas e 502 salas no ensino fundamental. O ensino médio, por sua vez, conta com 11.839 estudantes para 363 salas. Nas duas situações, a média é de 32 alunos por sala. Portanto está abaixo das recomendações estabelecidas pelo Estado”, informa a nota.

sábado, 14 de setembro de 2013

Gustavo Ioschpe: devo educar meus filhos para serem éticos? (In Revista Veja)

Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, saía de casa para a escola numa manhã fria do inverno gaúcho. Chegando à portaria, meu pai interfonou, perguntando se eu estava levando um agasalho. Disse que sim. Ele me perguntou qual. “O moletom amarelo, da Zugos”, respondi. Era mentira. Não estava levando agasalho nenhum, mas estava com pressa, não queria me atrasar. Voltei do colégio e fui ao armário procurar o tal moletom. Não estava lá, nem em nenhum lugar da casa. Gelei. À noite, meu pai chegou em casa de cara amarrada. Ao me ver, tirou da pasta de trabalho o moletom. E me disse: “Eu não me importo que tu não te agasalhes. Mas, nesta casa, nesta família, ninguém mente. Ponto. Tá claro?”. Sim, claríssimo. Esse foi apenas um episódio mais memorável de algo que foi o leitmotiv da minha formação familiar. Meu pai era um obcecado por retidão, palavra, ética, pontualidade, honestidade, código de conduta, escala de valores, menschkeit (firmeza de caráter, decência fundamental, em iídiche) e outros termos que eram repetitiva e exaustivamente martelados na minha cabeça. Deu certo. Quer dizer, não sei. No Brasil atual, eu me sinto deslocado. Até hoje chego pontualmente aos meus compromissos, e na maioria das vezes fico esperando por interlocutores que se atrasam e nem se desculpam (quinze minutos parece constituir uma “margem de erro” tolerável). Até hoje acredito quando um prestador de serviço promete entregar o trabalho em uma data, apenas para ficar exasperado pelo seu atraso, “veja bem”, “imprevistos acontecem” etc. Fico revoltado sempre que pego um táxi em cidade que não conheço e o motorista tenta me roubar. Detesto os colegas de trabalho que fazem corpo mole, que arranjam um jeitinho de fazer menos que o devido. Tenho cada vez menos visitado escolas públicas, porque não suporto mais ver professores e diretores tratando alunos como estorvos que devem ser controlados. Isso sem falar nas quase úlceras que me surgem ao ler o noticiário e saber que entre os governantes viceja um grupo de imorais que roubam com criatividade e desfaçatez. Sócrates, via Platão (A República, Livro IX), defende que o homem que pratica o mal é o mais infeliz e escravizado de todos, pois está em conflito interno, em desarmonia consigo mesmo, perenemente acossado e paralisado por medos, remorsos e apetites incontroláveis, tendo uma existência desprezível, para sempre amarrado a alguém (sua própria consciência!) onisciente que o condena. Com o devido respeito ao filósofo de Atenas, nesse caso acredito que ele foi excessivamente otimista. Hannah Arendt me parece ter chegado mais perto da compreensão da perversidade humana ao notar, nos ensaios reunidos no livro Responsabilidade e Julgamento, que esse desconforto interior do “pecador” pressupõe um diálogo interno, de cada pessoa com a sua consciência, que na verdade não ocorre com a frequência desejada por Sócrates. Escreve ela: “Tenho certeza de que os maiores males que conhecemos não se devem àquele que tem de confrontar-se consigo mesmo de novo, e cuja maldição é não poder esquecer. Os maiores malfeitores são aqueles que não se lembram porque nunca pensaram na questão”. E, para aqueles que cometem o mal em uma escala menor e o confrontam, Arendt relembra Kant, que sabia que “o desprezo por si próprio, ou melhor, o medo de ter de desprezar a si próprio, muitas vezes não funcionava, e a sua explicação era que o homem pode mentir para si mesmo”. Todo corrupto ou sonegador tem uma explicação, uma lógica para os seus atos, algo que justifique o porquê de uma determinada lei dever se aplicar a todos, sempre, mas não a ele(a), ou pelo menos não naquele momento em que está cometendo o seu delito. Cai por terra, assim, um dos poucos consolos das pessoas honestas: “Ah, mas pelo menos eu durmo tranquilo”. Os escroques também! Se eles tivessem dramas de consciência, se travassem um diálogo verdadeiro consigo e seu travesseiro, ou não teriam optado por sua “carreira” ou já teriam se suicidado. Esse diálogo consigo mesmo é fruto do que Freud chamou de superego: seguimos um comportamento moral porque ele nos foi inculcado por nossos pais, e renegá-lo seria correr o risco da perda do amor paterno. Na minha visão, só existem, assim, dois cenários em que é objetivamente melhor ser ético do que não. O primeiro é se você é uma pessoa religiosa e acredita que os pecados deste mundo serão punidos no próximo. Não é o meu caso. O segundo é se você vive em uma sociedade ética em que os desvios de comportamento são punidos pela coletividade, quer na forma de sanções penais, quer na forma do ostracismo social. O que não é o caso do Brasil. Não se sabe se De Gaulle disse ou não a frase, mas ela é verdadeira: o Brasil não é um país sério. Assim é que, criando filhos brasileiros morando no Brasil, estou às voltas com um deprimente dilema. Acredito que o papel de um pai é preparar o seu filho para a vida. Essa é a nossa responsabilidade: dar a nossos filhos os instrumentos para que naveguem, com segurança e destreza, pelas dificuldades do mundo real. E acredito que a ética e a honestidade são valores axiomáticos, inquestionáveis. Eis aí o dilema: será que o melhor que poderia fazer para preparar meus filhos para viver no Brasil seria não aprisioná-los na cela da consciência, do diálogo consigo mesmos, da preocupação com a integridade? Tenho certeza de que nunca chegaria a ponto de incentivá-los a serem escroques, mas poderia, como pai, simplesmente ser mais omisso quanto a essas questões. Tolerar algumas mentiras, não me importar com atrasos, não insistir para que não colem na escola, não instruir para que devolvam o troco recebido a mais... Tenho pensado bastante sobre isso ultimamente. Simplesmente o fato de pensar a respeito, e de viver em um país em que existe um dilema entre o ensino da ética e o bom exercício da paternidade, já é causa para tristeza. Em última análise, decidi dar a meus filhos a mesma educação que recebi de meu pai. Não porque ache que eles serão mais felizes assim - pelo contrário -, nem porque acredite que, no fim, o bem compensa. Mas sim porque, em primeiro lugar, não conseguiria conviver comigo mesmo, e com a memória de meu pai, se criasse meus filhos para serem pessoas do tipo que ele me ensinou a desprezar. E, segundo, tentando um esboço de resposta mais lógica, porque sociedades e culturas mudam. Muitos dos países hoje desenvolvidos e honestos eram antros de corrupção e sordidez 100 anos atrás. Um dia o Brasil há de seguir o mesmo caminho, e aí a retidão que espero inculcar em meus filhos (e meus filhos em seus filhos) há de ser uma vantagem, e não um fardo. Oxalá.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Função da Família na Educação

É imprescindível que as crianças para se tornarem cidadãos instruídos, precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se encontram com professores desejosos de transmitir o que sabem para, assim, desenvolver no aluno um desejo de saber, o que é lido como curiosidade e investigação para aprender. A escola representa um lugar de emancipação da criança a respeito de seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e falar com outros além de seus pais. Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que lhe possibilitam receber recursos que poderá utilizar no futuro: com outros semelhantes, na escolha de profissão, etc. Dito isso, fica claro que a escola propicia a socialização da criança, mas, é a família e sua função um dos maiores responsáveis pela educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a Educação pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia, depende da estrutura familiar do aluno. Quando a família valoriza os estudos - a aprendizagem - estimula no filho o mesmo. O interesse dos pais no que seus filhos produziram, aprenderam, faz com que eles (filhos) sintam-se valorizados em relação ao que fizeram. O gosto pela leitura, a curiosidade em saber, em descobrir são homólogas a outras curiosidades e não estão desvinculadas da curiosidade sexual. Mas em muitas famílias o sexual é um assunto proibido e, dependendo do grau de dificuldade em falar sobre esse assunto, isso aparecerá na dificuldade da criança em ter outras curiosidades, incluindo a de saber em sala de aula. As garatujas, os rabiscos, os desenhos e as letras são produções que primeiramente são endereçadas ao Outro – entenda-se, por Outro, a mãe e o pai ou aquele que tem a função de cuidar e ensinar à criança. E vai depender de como vai ser o acolhimento disso, o que a criança fará depois. Se vão continuar produzindo ou se sofrerão inibições, impossibilidades de continuar descobrindo, evoluindo e fazer associações com a família das letras. Sabemos que quando algo não vai bem na esfera familiar, os sintomas aparecem na escola, tais como: as dificuldades de leitura, de aprendizagem; dificuldades em disciplina, o que chamamos limites, na participação em grupos, etc. A aquisição da leitura, portanto, é um processo que depende da passagem por outras fases: primeiro tem lugar os rabiscos, os traços no papel onde somente a criança pode dizer o que desenhou. Pois o traço no papel representa a estrutura psíquica dela e é homóloga a uma assinatura. Por esse motivo o desenho de uma criança não se confunde com o de outra. Depois, temos as formas até chegar às letras, as sílabas e por fim as frases e seu encadeamento. E o desenvolvimento desse processo dependerá da estrutura familiar. Dependência, que está vinculada aos limites, à possibilidade de que estejam operando em casa, para que isso seja possível. Um lar desestruturado, sem limites, sem condições básicas, atrapalha o desenvolvimento escolar da criança. Uma dificuldade escolar - seja ela qual for - geralmente está camuflando outras dificuldades, o que chamamos de sintomas emocionais. Por que tem um conflito emocional, a criança apresenta em seu corpo e comportamento aquilo que não está podendo ser dito em palavras. Encontro em minha experiência de psicanalista, crianças com sérias dificuldades escolares e, nas entrevistas com os pais, descubro que existem outros problemas. Dificuldades no casal parental, em relação ao nascimento de um filho, dificuldades no trabalho, algumas vezes uma doença na família, uma mudança, etc. Portanto, á maioria das dificuldades que as crianças apresentam são provenientes de sintomas dos pais. Acontecimentos que os pais ou um deles não está conseguindo resolver e isso é transmitido aos filhos. “O pensamento não é autônomo, é por sua articulação com o desejo, que o sujeito se reconhece autor de seu pensamento”. A criança quando não tem dificuldades de ler ou escrever, de fazer uso das letras, de mostrar o que sabe, geralmente é porque está convivendo em uma boa harmonia familiar, quando não tem obstáculos em suas relações familiares. Mas também, é fundamental que os ensinantes, os educadores, tenham uma boa formação, conhecimentos e desejo para transmití-los aos seus alunos. Um professor com pouco desejo terá pouca ou nenhuma possibilidade de transmissão, pois ele não “contagiará” seu aluno, se ele não tiver causado. Em contrapartida, encontramos exemplos de alunos que têm bons professores, escolas e condição ambientais favoráveis (materialmente), mas não se desenvolvem como esperado, pois a causa reside em conflitos familiares. Podemos encontrar pais que não se interessam por seus filhos (porque acreditam que eles vão para a escola para brincar); brigas na família; doença em algum familiar; pouca expectativa no filho, crianças muito mimadas. Enfim, a relação pode ser extensa. Podemos encontrar um exemplo bem comum que é, quando os pais passam por um processo de separação, os filhos apresentam dificuldades escolares. E dependendo de como os pais vão fazer, como falarão com seus filhos, estes poderão deslocar ou extinguir os sintomas. Sendo muito importante que eles falem com seus filhos, que expliquem o que lhes aconteceram para tomarerm tal decisão. O que mais encontramos são famílias que não querem falar sobre o assunto, calam-se e o não saber sobre sua história, desloca-se para o não-saber em sala de aula. Atendi uma garota de 4 anos que não conseguia aprender na escola e quando fui atender aos pais e fazer as entrevistas, descobri que ela ainda era tratada e cuidada como um bebê; usava fraldas, tomava mamadeiras, chupava chupeta e não conversavam com ela, “pois achavam que ela não entendia”. A consequência disso foi o fracasso que a garota tinha na escola “pois os bebês não podem fazer coisas relativas à criança de 4 anos”. À medida que esses pais foram tratando sua filha como uma garota capaz, ela foi se desenvolvendo na escola. Para concluir, quando algo não vai bem em sua casa, quando a estrutura familiar não possibilita harmonia, ou quando os pais não se interessam pelo que seu filho faz, o reflexo disso aparecerá na atividade escolar. Poderá até - em alguns casos - aprender as letras, aprender a escrever, mas não conseguirá estabelecer laços nem com o professor, nem com os semelhantes. Poderá com muito custo e dispêndio atravessar sua fase escolar. Como disse acima, na escrita a criança se mostra, é sua imagem que ela representa no (rabisco) garatuja, traços, formas e letras, porém, se tem algo que não vai bem em seu psíquico, se ela tiver algum sofrimento emocional, muito provavelmente terá dificuldades na escola. Geralmente a problemática familiar já existe, mas a entrada da criança na escola vai revelar o mal estar subjacente, pois é o momento em que ela vai se mostrar para os outros, que vai ter que organizar-se para poder aprender ás letras, dirigir sua pesquisa para outro saber, não somente o saber sobre o sexual, nascimento dos bebês, teorias sexuais infantis, mas, o saber dirigido ao intelecto. E como esse comportamento - dificuldade escolar - aparece no meio social, os pais sentem-se pressionados para procurar uma ajuda. Existindo, porém, uma grande dificuldade em pedi-la, como se isso atestasse que eles falharam. O que eu fiz? Será que não é um problema de adaptação? Perguntam. A escola muitas vezes fica em um impasse, pois sabem que algo não está bem com a criança, mas, sabe da dificuldade de alguns pais em aceitar que a criança ou eles precisam de uma ajuda. Porém, é imprescindível que fiquem atentos para os sintomas escolares que seus alunos apresentam, que os questionem, investigue sobre a história familiar, que não coloquem uma mão simbólica em cima, que faça seu aluno falar, para que eles possam colocar em palavras o que ele está mostrando em ato. Andreneide Dantas Psicanalista

domingo, 21 de julho de 2013

A Educação nos Primeiros Dias

Se nosso mundo parece imperfeito, injusto, repleto de indivíduos egoístas, onde o conflito pessoal parece ser uma coisa inevitável, nós, como adultos e educadores, precisamos aprender alguma coisa, algo além das fórmulas que já foram exaustivamente tentadas para resolver essa questão. Mas, do mesmo modo do agricultor que deseja se tornar mestre em cultivo precisa conhecer porque sua colheita não se desenvolve adequadamente, como educadores, também precisamos saber porque nossas crianças e alunos continuam a repetir os antigos e distorcidos comportamentos, os mesmos que construíram o mundo repleto de vícios e imperfeições, que ora não nos agrada. A lógica é bem simples: se não nos agrada - achamos que isso se aplica a uma maioria - por que razão se perpetua ao longo dos séculos o sofrimento humano e suas causas, os conflitos entre indivíduos, a violência, a inveja, e todas essas coisas que conhecemos bem? Por que continuam nossos filhos, e filhos destes, a repetirem os mesmos conflitos dos seus antepassados, as mesmas angústias, as mesmas formas de medo, tamanha confusão? Será que, como educadores e pais, ainda não dos damos conta de tudo isso, incluindo os ciclos que se repetem, dos comportamentos que criam novos indivíduos a imagem e semelhança dos antigos, onde se incluem seus problemas? Especialmente como pais, será que não temos em nossos filhos uma cópia de nossas angústias pessoais, gostos e tradições, exatamente como também já fizeram conosco nossos pais, e como já herdaram nossos avós, dos seus predecessores? Reconhecer onde está um problema deve ser a primeira providência a ser tomada por aquele que pretende solucioná-lo. Mas, se apenas deseja repassá-lo como herança à posteridade, então nada deve ser feito, apenas repetir o processo, replicar aquilo que já aprendemos. Se de uma sementeira, apenas alguns grãos são capazes de germinar, reconhecer que ali, dentre os sadios, existem grãos defeituosos, deve ser o primeiro passo do agricultor que pretende ter uma boa colheita. Depois, como ele fará para separar os defeituosos dos sãos, deverá ser sua providência para resolver o problema. O Cuidar tem hora para começar, jamais para terminar. Supondo que assim seja por tradição, isto é, que sementes saudáveis, por força de antigos costumes praticados durante anos, onde, aquele que não serve é igualmente misturado ao que serve, continuar com tal prática, sugere que uma boa colheita jamais será possível. Ciente de que na antiga prática está o problema, parte da solução já está encaminhada. Supondo que alguém, ao dirigir-se ao rio para coletar água e levar para sua casa, perceba que seu vasilhame está com muitos furos. Assim, depois de tentar várias vezes transportar a água, ele percebe que, se caminhar mais depressa, poderá chegar em casa, com uma quantidade maior de água. Então ele resolve que aquilo é a solução para o problema, e daí passa o costume para seus herdeiros. Agindo dessa forma, não estaria resolvendo o problema, mas, apenas admitindo que tal prática ou processo defeituoso seja coisa válida. Seria o mesmo que tentar resolver o problema do sofrimento humano, apenas aumentando, por exemplo, as formas capazes de lhes proporcionar algum tipo de alegria. Assim, como pais e educadores, se de verdade nos preocupamos com o futuro de nossos filhos e alunos, com a continuidade do homem sobre a terra, em primeiro lugar, precisamos estar cientes de que todas as deformações sociais, têm como base, nossos modelos de conduta que se arrastam através dos tempos. Estão incrustadas em nossas vidas, como tradições, como dogmas, como verdades intocáveis, incontestáveis, que acabamos por aceitar como coisas necessárias, imprescindíveis ao nosso viver. Reconhecer onde está o problema é parte da solução. Depois, reconhecer que o novo modelo não pode ser derivado do antigo, é a solução em si. De que adianta descobrirmos uma nova forma de arar e preparar o terreno, novos fertilizantes e meios de irrigação, se as sementes continuam as mesmas de antes? Cumpre como de extrema urgência a pais e educadores, descobrirem por si mesmos a verdade contida em tudo isso, pois apenas dessa forma serão capazes de não repetirem os antigos vícios, todas as antigas e mal sucedidas formas de conduta. E, apenas pelo reconhecimento inequívoco de que a solução não virá de fora, de uma espécie de entidade mágica que irá se materializar para resolver nossos problemas, a troco de nossos agrados e penitências, só assim, pela negação de tudo isso, poderemos, juntos, com seriedade, tentar resolver de uma vez a questão.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A desvalorização do professor na sociedade atual

Desde que o mundo é mundo temos em nosso meio uma célebre frase: “no meu tempo as coisas eram bem melhores…”. Com certeza ela vem carregada de fortes ingredientes saudosistas e alguns outros de desconhecimento histórico. Quando se fala do professor, essa frase tem um peso ainda maior. Aqueles que hoje ultrapassaram os 40 ou 50 anos de idade e tiveram a oportunidade de estudar são os mais enfáticos nessa afirmação. Todavia, precisamos ter cuidado com as comparações, porque a história mostra claramente os motivos que levaram nossa sociedade a descaracterizar tão rapidamente o professor. Não podemos nos esquecer que até os anos 60 do século passado, estudar era um privilégio de poucos. Menos de 30% das crianças tinham acesso aos estudos. Isso no chamado primário, pois para seguir existia o exame de admissão – uma espécie de “bloqueador” da continuidade – que só foi abolido nos anos finais daquela década. Privilégio que o Estado garantia para suas classes mais abastadas ou com maior capacidade de acesso por outros motivos, inclusive de localização territorial. Um dado que pode demonstrar isso é o de que quando da universalização do ensino fundamental, em 30 anos (1975-2005) o número de matrículas no norte do país aumentou de 780 mil alunos para 3.350.000, enquanto no sul do país a evolução foi de 3.590.000 para 4.228.000, ou seja, enquanto no primeiro foi da ordem de 329%, no segundo foi de 17%. A universalização do ensino fundamental iniciada no final dos anos 70 do século passado e alcançada no ano 2000 foi acompanhada de uma série de outros fatores que levaram a profissão de professor perder seu valor social e econômico. Os investimentos em estrutura física não foram acompanhados por investimentos em pessoas. Pelo contrário, o grande aumento na oferta de vagas foi acompanhado pela admissão de profissionais com titulação inadequada para executar a profissão de professor, barateando o valor do trabalho. Isso trouxe outro fenômeno: a necessidade de “agilizar” a formação dos professores acabou trazendo para nossa realidade “cursos rápidos” de formação de professores que diminuíram e muito a qualidade dessa formação. Até bem pouco atrás tempo tínhamos cursos ditos universitários para professores com duração de dois anos. Isso porque até 1997 mais de 50% dos profissionais da educação só tinham o ensino médio completo. Também nesse momento histórico o fenômeno do trabalho feminino ganhava força no país. E essa “força de trabalho emergente” na procura por seu espaço laboral, sujeitava-se a remunerações muito abaixo das dos homens. Não só na educação, mas principalmente nela isso foi determinante para as estratificações salariais observáveis no magistério em nosso país. Explicando: o maior contingente de professoras mulheres está na educação infantil e no ensino fundamental, onde os salários são os mais baixos do país e onde a demanda de educandos é infinitamente maior. Quando avançamos na hierarquia formativa, observamos uma inversão nesse quadro. No ensino médio existe quase que uma paridade entre homens e mulheres e no ensino superior, onde os salários são convidativos, a predominância de homens é significativa. Portanto, a desvalorização do profissional da educação não aconteceu por acaso no Brasil. Hoje temos cerca de 2,3 milhões de professores espalhados por este país vivendo realidades as mais variadas. Só numa coisa eles têm uniformidade: sua desvalorização. É aviltante acompanharmos o atual debate do piso salarial dos professores onde diversos Estados e municípios não querem praticá-lo. Está mais do que na hora de o governo federal aumentar sua participação nos investimentos da educação básica. Dados de 2009 revelam que para cada R$ 1,00 investido na educação básica, os Estados investem $ 0,41, os municípios $ 0,39, a União entra com somente $ 0,20. Está mais do que na hora de os Estados e municípios aumentarem seus investimentos na educação – 25% não são suficientes para atingirmos os amplos objetivos educacionais que temos. Está mais do que na hora de se rever a Lei de Responsabilidade Fiscal no que tange a folha de pagamento da educação, já que a mesma é um fator inibidor para as esferas públicas investirem mais nos salários. Concluo dizendo que hoje o maior desafio para nossa educação é a formação e a valorização do nosso professor. Se não resolvermos essa equação, não teremos muitas perspectivas no campo educacional. E isso não se dá com discurso. Só existe uma forma disso ser conquistado: investimentos maciços no sistema educacional brasileiro. Só assim poderemos ter além da universalização das vagas, professores reconhecidos e capacitados para sua profissão e para a educação de nossos filhos.

Educação no Brasil

Ao propor uma reflexão sobre a educação brasileira, vale lembrar que só em meados do século XX o processo de expansão da escolarização básica no país começou, e que o seu crescimento, em termos de rede pública de ensino, se deu no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980. Com isso posto, podemos nos voltar aos dados nacionais: O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados (PISA). Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil crianças ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professores recebem menos que o piso salarial (et. al., na mídia). Frente aos dados, muitos podem se tornar críticos e até se indagar com questões a respeito dos avanços, concluindo que “se a sociedade muda, a escola só poderia evoluir com ela!”. Talvez o bom senso sugerisse pensarmos dessa forma. Entretanto, podemos notar que a evolução da sociedade, de certo modo, faz com que a escola se adapte para uma vida moderna, mas de maneira defensiva, tardia, sem garantir a elevação do nível da educação. Logo, agora não mais pelo bom senso e sim pelo costume, a “culpa” tenderia a cair sobre o profissional docente. Dessa forma, os professores se tornam alvos ou ficam no fogo cruzado de muitas esperanças sociais e políticas em crise nos dias atuais. As críticas externas ao sistema educacional cobram dos professores cada vez mais trabalho, como se a educação, sozinha, tivesse que resolver todos os problemas sociais. Já sabemos que não basta, como se pensou nos anos 1950 e 1960, dotar professores de livros e novos materiais pedagógicos. O fato é que a qualidade da educação está fortemente aliada à qualidade da formação dos professores. Outro fato é que o que o professor pensa sobre o ensino determina o que o professor faz quando ensina. O desenvolvimento dos professores é uma precondição para o desenvolvimento da escola e, em geral, a experiência demonstra que os docentes são maus executores das ideias dos outros. Nenhuma reforma, inovação ou transformação – como queira chamar – perdura sem o docente. É preciso abandonar a crença de que as atitudes dos professores só se modificam na medida em que os docentes percebem resultados positivos na aprendizagem dos alunos. Para uma mudança efetiva de crença e de atitude, caberia considerar os professores como sujeitos. Sujeitos que, em atividade profissional, são levados a se envolver em situações formais de aprendizagem. Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo, e não como uma agressão. Certamente, os professores não podem ser tomados como atores únicos nesse cenário. Podemos concordar que tal situação também é resultado de pouco engajamento e pressão por parte da população como um todo, que contribui à lentidão. Ainda sem citar o corporativismo das instâncias responsáveis pela gestão – não só do sistema de ensino, mas também das unidades escolares – e também os muitos de nossos contemporâneos que pensam, sem ousar dizer em voz alta, “que se todos fossem instruídos, quem varreria as ruas?”; ou que não veem problema “em dispensar a todos das formações de alto nível, quando os empregos disponíveis não as exigem”. Enquanto isso, nós continuamos longe de atingir a meta de alfabetizar todas as crianças até os 8 anos de idade e carregando o fardo de um baixo desempenho no IDEB. Com o índice de aprovação na média de 0 a 10, os estudantes brasileiros tiveram a pontuação de 4,6 em 2009. A meta do país é de chegar a 6 em 2022. Eliane da Costa Bruini

sábado, 8 de junho de 2013

Valorizar o professor, tem certeza?

Sou daquelas que não acredita em ideia brilhante que produza educação de qualidade sem educadores e, para mim, internet, livro, música, lousa, ferramenta, vídeo, robô ou o que for, vem depois de garantir uma pessoa preparada para lidar com os alunos . A maioria (fiquei tentada a dizer todos, mas vá lá) dos especialistas e autoridades de Educação que entrevisto juraria o mesmo e, pelo resultado da enquete com 25 mil votantes do iG sobre qual é a meta mais importante do Plano Nacional de Educação (PNE), essa é a prioridade para 78% das pessoas. Não pode ser. Como para tudo na vida, virão os que gostam de dizer que a culpa é dos governantes. Claro que sim: se a valorização do professor não fosse apenas bordão, qualquer dinheiro de tablet, uniforme para crianças que nem querem usá-lo e compra de material didático que em geral já existe viraria investimento na formação e no bolso do professor. Inclusive, desconfio que há mais razões do que a simples ideologia para que governos privilegiem compras – e portanto pagamento a empresas que podem se tornar parceiras em campanhas – do que investimento em pessoal. Mas qual a reação que você leitor e cidadão tem quando vê o aluno com um computador portátil na rede pública? E quando se depara com professor em greve? Há poucas semanas, mais ou menos quando as redes estadual e municipal de São Paulo estavam parcialmente paralisadas, os professores também pararam na Dinamarca. Lá foram quatro semanas inteiras em que todos deixaram de trabalhar e, como no país com um dos melhores sistemas de ensino do mundo educação pública não difere classe social, todos os pais se viram com seus filhos em casa por um mês. Confesso que encontrei um número reduzido de relatos sobre o assunto, mas em geral os depoimentos ou reportagens comentavam como as famílias se revezaram para cuidar das crianças umas das outras ou as empresas permitiram que os funcionários levassem visitantes mirins aos escritórios. Nenhum insultava as pessoas a quem depois seria confiada a educação das crianças e adolescentes. Todos sabemos que no Brasil é diferente. Os alunos que agem com violência contra os mestres nas escolas são apenas reflexo da sociedade toda. Quando na matéria “As vidas que o PNE poderia mudar”, o professor Renato Ribeiro disse que chega a ganhar R$ 53 por mês – com holerite oficial do Governo do Estado de São Paulo na mão e explicação para o absurdo no texto – nem um, nem dois, mas vários leitores o acusaram de mentiroso. Nenhum prestou solidariedade. No máximo, outros professores corroboraram a informação. Em um outro comentário, do Geraldo Donizete dos Santos, fica claro que não é só o salário que desvaloriza: “Sou aluno de ciências sociais e apesar da grande carência de professores na rede pública estadual, prefiro dar aula para cachorro, pois sou adestrador de cães e é com esta profissão que pago minha faculdade e mantenho minha família. Infelizmente o governo de São Paulo coloca o professor e os alunos abaixo de cães. Como adestrador mantenho minha dignidade.” Lembrei da Geni, do Chico Buarque. Não se trata de mandar uma maçã para o professor – se bem que até um gesto simpático seria benvindo – mas ajustar o discurso à prática. Autor: Cinthia Rodrigues http://colunistas.ig.com.br/escola-publica/2013/06/07/valorizar-o-professor-tem-certeza/?doing_wp_cron

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Noções de Inclusão

Há várias maneiras de se compreender o processo de inclusão; uma delas é inserir socialmente um individuo contra o preconceito a sua volta. Seja ele por ser o indivíduo portador de necessidades especiais, obter ideologia religiosa, pertencer a classes sociais, raça ou cultura diferente, etc. Mas para que se possa entender o processo de inclusão deve-se compreender a falta dela. Atualmente, pode-se observar que o conceito sobre exclusão é muito amplo. Segundo AMARO (2004), "vários fatores pode levar alguém a ser excluído socialmente". Tais como: Fatores de natureza estrutural: Relacionado ao sistema econômico, desenvolvimento estrutural, ambientes dominantes, paradigmas culturais, etc. Fatores de âmbito local: condições que interferem no cotidiano do individuo. Como preconceitos culturais e sociais, mercado de trabalho, normas e comportamentos sociais, etc. Fatores de nível individual e familiar: Refere-se às situações pessoais e familiares, capacidades frustradas ou não valorizadas, situações de desemprego, grau de escolaridade, etc. Uma das formas de trabalhar esses fatores em sala de aula é por meio do processo teoria-prática. Paulo Freire relaciona a teoria e a prática de forma indivisível. Para Freire não faz sentido a elaboração de uma teoria sem uma prática condizente com a realidade do aluno, que não esteja relacionada com o meio que o indivíduo está inserido. E é a partir deste processo teoria-prática que será planejado e organizado o processo ensino-aprendizagem, cabendo ao professor transmitir para o aluno uma mensagem por trás de tudo que é trabalhado em sala de aula, seja leituras, viagens, músicas, jogos, etc. Mas que transmita para o aluno algo que o leve a fazer uma relação com suas experiências dentro e fora da escola de uma forma interpessoal e multidimensional. É formar um aluno ativo e participante não apenas nas semanas das provas. Propõe assim, que "falemos menos e trabalhemos mais", isto é, mais ação e menos teorias, o que na maioria das vezes ficam apenas no papel. Como por exemplo, alguns temas transversais do decálogo da educação em valores da LDB. Que seriam: Capacidade de convivência; Igualdade de direitos; Justiça; Respeito mútuo. Os temas citados são basicamente obrigatórios, mas praticamente não são cumpridos por todos, na maiorias das vezes por causa da falta do diálogo. Pode-se dizer que o diálogo é a palavra fundamental em toda e qualquer relação social. É uma forma de estar no mundo, convivendo com as outras pessoas e aprendendo sempre. Pois é por causa desta interação com as outras pessoas que somos seres sociáveis. E, para que este diálogo seja posto em prática na sala de aula, a escola tem que fazer uma leitura social através de cada geração, cada século, de cada cultura para poder adaptar a escola ao aluno de acordo com seu ambiente fora da mesma. Se o professor for parar para observar o motivo de muitos alunos tomarem determinadas atitudes dentro da sala de aula, ele irá ter a noção de que os alunos com problemas interpessoais não estão apenas nos livros dos professores ou nos noticiários, e sim que estes problemas e dificuldades estão bem vivos dentro e fora da escola. Sendo transmitido em seus alunos. Com isso, o professor irá perceber que cada aluno tem uma história de vida diferente, que cada um traz para a escola um pouco do que vivencia, e que não são uma ?tábua rasa? esperando apenas que o professor com sua educação bancária, deposite neles os conteúdos e espere o dia da prova para "sacar" exatamente a quantidade que foi depositada. Outra forma que também pode levar à exclusão é a educação da opressão. De acordo com Paulo Freire (1996), "Se recusa, de um lado, silenciar a liberdade dos educandos, rejeita, de outro, a sua supressão do processo de construção da boa disciplina." Ou seja, faz do aluno um oprimido que acha que tudo dito pelo seu opressor (professor) seja de certeza plena. Aos referentes lidos, pode ser afirmado que nenhum conhecimento é finito, isto é, o conhecimento não acaba quando o professor cala. O aluno não deve estar satisfeito apenas com o que lhe é dito pelo professor. Deve ter a paciência impaciente de sempre ir em busca de um algo mais, algo além do que lhe é transmitido. Com isso, o professor também deve ter a consciência de que o conhecimento é inacabado. De que o que seu aluno aprende não apenas o que ele ensina; e que tudo o que o aluno ? excluído ou não ? de hoje aprende, vai refletir na sociedade do amanhã. Sociedade essa em que todos vão fazer parte, e também as futuras gerações dos próprios professores. E para que seu aluno não se depare sendo mais um excluído entre tantos na sociedade, professor deve despertar no aluno uma autonomia. Dar ao mesmo o direito da decisão. E, a partir daí, mostrar-lhe que ele será o responsável pelos seus erros e atitudes diante do contexto cultural em que o mesmo está inserido. Assumindo o compromisso da liberdade. Tomando suas próprias decisões com um olhar critico perante a sociedade em que vive. Pode-se dizer que o paradigma da inclusão é, justamente, tornar a sociedade um ambiente agradável para convivência entre as pessoas com todos os tipos de inteligências e capacidades na luta pela realização de seus direitos. Para que o professor reconheça qual sua meta verdadeira com relação à educação de seus alunos é necessário que este se sinta realmente respeitado e valorizado perante todos da sociedade em que vive. Pois se qualquer pessoa que seja for desrespeitada por alguém, logo, a mesma irá inconscientemente ou não transmitir essa indignação pra todos à sua volta. Justamente como afirma Paulo Freire (1996), "o respeito que devemos como professores aos educandos dificilmente se cumpre, se não somos tratados com dignidade e decência pela administração privada ou publica da educação." Autor: Nancí da Silva Tavares Abreu

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Maioria dos métodos de estudar para provas não funciona, diz estudo.

Os métodos favoritos de se preparar para provas escolares não são os que garantem os melhores resultados para os estudantes, segundo uma pesquisa feita por um grupo de psicólogos americanos. Universidades e escolas sugerem aos estudantes uma grande variedade de formas de ajudá-los a lembrar o conteúdo dos cursos e garantir boas notas nos exames. Entre elas estão tabelas de revisão, canetas marcadoras, releitura de anotações ou resumos, além do uso de truques mnemônicos ou testar a si mesmo. Mas segundo o professor John Dunlosky, da Kent State University, em Ohio, nos Estados Unidos, os professores não sabem o suficiente sobre como a memória funciona e quais as técnicas são mais efetivas. Dunlosky e seus colegas avaliaram centenas de pesquisas científicas que estudaram dez das estratégias de revisão mais populares, e verificaram que oito delas não funcionam ou mesmo, em alguns casos, atrapalham o aprendizado. Por exemplo, muitos estudantes adoram marcar suas anotações com canetas marcadoras. Mas a pesquisa coordenada por Dunlosky - publicada pela Associação de Ciências Psicológicas - descobriu que marcar frases individuais em amarelo, verde ou rosa fosforescente pode prejudicar a revisão. "Quando os estudantes estão usando um marcador, eles comumente se concentram em um conceito por vez e estão menos propensos a integrar a informação que eles estão lendo em um contexto mais amplo", diz ele. "Isso pode comprometer a compreensão sobre o material", afirma. Mas ele não sugere o abandono dos marcadores, por reconhecer que elas são um "cobertor de segurança" para muitos estudantes. Resumos e mnemônicos Os professores regularmente sugerem ler as anotações e os ensaios das aulas e fazer resumos. Mas Dunlosky diz: "Para nossa surpresa, parece que escrever resumos não ajuda em nada". "Os estudantes que voltam e releem o texto aprendem tanto quanto os estudantes que escrevem um resumo enquanto leem", diz. Outros guias para estudo sugerem o uso de truques mnemônicos, técnicas para auxiliar a memorização de palavras, fórmulas ou conceitos. Dunlosky afirma que eles podem funcionar bem para lembrar de pontos específicos, como "Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, Seno A Cosseno B, Seno B Cosseno A", para lembrar a fórmula matemática do seno da soma de dois ângulos: sen (a + b) = sena.cosb + senb.cosa. Mas ele adverte que eles não devem ser aplicados para outros tipos de materiais: "Eles não vão te ajudar a aprender grandes conceitos de matemática ou física". Repetição Então, o que funciona? Somente duas das dez técnicas avaliadas se mostraram efetivas - testar-se a si mesmo e espalhar a revisão em um período de tempo mais longo. "Estudantes que testam a si mesmos ou tentam recuperar o material de sua memória vão aprender melhor aquele material no longo prazo", diz Dunlosky. "Comece lendo o livro-texto e então faça cartões de estudo com os principais conceitos e teste a si mesmo. Um século de pesquisas mostra que a repetição de testes funciona", afirma. Isso aconteceria porque o estudante fica mais envolvido com o tema e menos propenso a devaneios da mente. "Testar a si mesmo quando você tem a resposta certa parece produzir um rastro de memória mais elaborado conectado com seus conhecimentos anteriores, então você vai construir (o conhecimento) sobre o que já sabe", diz o pesquisador. 'Prática distribuída'​ Porém a melhor estratégia é uma técnica chamada "prática distribuída", de planejar antecipadamente e estudar em espaços de tempo espalhados - evitando, assim, de deixar para estudar de uma vez só na véspera do teste. Dunlosky diz que essa é a estratégia "mais poderosa". "Em qualquer outro contexto, os estudantes já usam essa técnica. Se você vai fazer um recital de dança, não vai começar a praticar uma hora antes, mas ainda assim os estudantes fazem isso para estudar para exames", observa. "Os estudantes que concentram o estudo podem passar nos exames, mas não retêm o material", diz. "Uma boa dose de estudo concentrado após bastante prática distribuída é o melhor caminho", avalia. Então, técnicas diferentes funcionam para indivíduos diferentes? Dunlosky afirma que não - as melhores técnicas funcionam para todos. E os especialistas acreditam que esse estudo possa ajudar os professores a ajudar seus alunos a estudar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Escolas públicas terão prazo limite de até oito anos para alfabetizar crianças

O Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (26), a Medida Provisória 586/12, que cria incentivos públicos para a alfabetização de todas as crianças com até oito anos de idade nas escolas públicas. O texto da medida será convertido em lei com a sanção da presidenta Dilma Rousseff. A MP viabiliza as ações do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, uma iniciativa do governo federal, em parceria com estados e municípios. O objetivo é alfabetizar as crianças ao final do 3º ano do ensino fundamental da educação pública básica e, no máximo, com oito anos. Tudo para garantir que, até essa idade, elas saibam escrever, ler e interpretar textos simples, além de dominar as operações matemáticas básicas. Aproximadamente 5.270 municípios já aderiram ao Pacto. O texto da MP estabelece o dia 31 de dezembro de 2022 como data limite para o cumprimento da meta de alfabetizar as crianças da rede pública até os oito anos de idade. O apoio financeiro, por exemplo, se dará pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com o investimento na formação continuada dos professores alfabetizadores, a concessão de bolsas para os educadores e o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos, entre outras medidas. O Pacto O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental. Isto significa que, aos oito anos de idade, as crianças precisam ter a compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio das correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos. A alfabetização é uma das prioridades nacionais no contexto atual, pois o professor alfabetizador tem a função de auxiliar na formação para o bom exercício da cidadania. Para exercer sua função de forma plena é preciso ter clareza do que ensina e como ensina. Para isso, não basta ser um reprodutor de métodos que objetivem apenas o domínio de um código linguístico. É preciso ter clareza sobre qual concepção de alfabetização está subjacente à sua prática. Ao aderir ao Pacto, os entes governamentais se comprometem a alfabetizar todas as crianças em língua portuguesa e em matemática, realizar avaliações anuais universais, aplicadas pelo INEP, junto aos concluintes do 3º ano do ensino fundamental e, no caso dos estados, apoiar os municípios que tenham aderido às Ações do Pacto, para sua efetiva implementação.

Apenas cinco estados cumprem integralmente lei do piso dos professores

Apenas quatro estados e o Distrito Federal cumprem integralmente a Lei do Piso Nacional do Magistério (Lei 11.738/2008), informou a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Desde que foi sancionada, a lei é motivo de embate entre professores, governos estaduais e prefeituras. Prefeitos e governadores argumentam não ser possível pagar o valor proposto com os repasses atuais para a educação. O valor piso salarial nacional do magistério da educação básica em 2011 é de R$ 1.567. O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que, embora tenha sido editada em 2008, a lei tem validade a partir de abril de 2011, data quando a Corte confirmou sua legalidade. Os ministros atenderam a recursos do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Ceará e Mato Grosso do Sul, que alegaram dificuldades para adaptar as finanças às novas regras. A decisão resolve dúvidas sobre a formação de passivo que poderia ser cobrado pelos professores pelos salários inferiores ao piso antes de 2011. De acordo com o presidente da CNTE, Roberto Leão, a decisão do STF não deixa mais nenhuma brecha para o descumprimento da lei. Estados e municípios que, desde abril de 2011, não estavam pagando o piso, poderão ser acionados na Justiça para o pagamento retroativo de 2011 até o presente momento. A categoria pretende se mobilizar para o cumprimento da lei com passeatas, e se necessário, greves. "Só queremos o cumprimento da lei, parece algo tão óbvio de se pedir", disse Leão. Além do valor do salário, a lei trata também sobre as condições de trabalho, estipulando, por exemplo, jornada de no máximo dois terços da carga horária para o desempenho das atividades de interação com os alunos. Segundo a confederação, as únicas unidades federativas que cumprem a lei na totalidade são: Acre, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso e Rondônia . Mais dez estados cumprem parcialmente e oito descumprem a lei. O restante está em negociação com os sindicatos. O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) disse, em nota, que desde a aprovação da Lei 11.738/2008, os estados vêm ajustando os padrões de remuneração do magistério e acolhem "sem surpresa ou impacto" a decisão de hoje do STF. Na nota, o conselho diz que "todos [estados] já pagavam, em abril de 2011, o valor do piso aos seus professores com formação de nível médio na modalidade normal". Com relação à jornada de trabalho dos docentes, o conselho informou que "em breve" os estados também terão adotado o limite imposto pela lei - dois terços para interação com os estudantes e um terço para atividades. Em relação aos municípios, não há um levantamento que indique quantos estão em conformidade com a lei. Para a presidenta da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, é "importante que todos os municípios garantam o piso para atrair novos profissionais e valorizar os que estão nas escolas". No entanto, "boa parte" deles não consegue pagar os salários. "Precisamos da aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) e dos recursos dos royalties e do pré-sal para conseguir cumprir as metas de universalização da educação do próprio plano".

domingo, 14 de abril de 2013

Quem tem medo da avaliação?

Na década de 80, tentar avaliar escolas ou alunos era um ato de guerra. Mas as assombrações foram vencidas na década de 90, com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Provão (que avalia o desempenho nos cursos superiores) e com Estados começando a avaliar. Hoje sabemos quais Estados avançaram, quais travaram ou regrediram. Que reputações eram fictícias e que façanhas permaneciam desconhecidas. O véu da ignorância encolheu. O Provão recompensou os bons cursos com notas A e B. Os descuidados foram punidos com notas ruins e houve uma corrida para melhorar os cursos. Criou-se um gigantesco mercado para mestres e doutores, cuja presença no ensino privado aumentou 37% nos dois anos seguintes ao primeiro Provão. O Enem é uma prova em que não é preciso decorar currículos imensos, mas sim haver dominado aquilo que é importante aprender. Se vier a substituir os vestibulares amadorísticos e enciclopédicos, permitirá às escolas médias concentrarem-se no que é importante ensinar. Os remédios que salvam vidas têm sempre efeitos colaterais. Os médicos, pragmaticamente, optam pelo mal menor. Para curar o doente, dão o remédio e lidam, depois, com os efeitos colaterais e com as doenças iatrogênicas, isto é, aquelas que são geradas pelos tratamentos e hospitais. Os testes são assim, têm também efeitos colaterais e criam as próprias moléstias. Mas note-se, nos países educacionalmente avançados, onde os testes quantitativos fazem parte da vida escolar, toda a acalorada discussão não é para eliminá-los, mas para melhorá-los e para aprender a conviver com suas limitações. Precisamos igualmente reconhecer seus méritos e lidar criativamente com seus efeitos colaterais. Ademais, o objetivo de tais testes não é agradar a administradores ou estudantes, mas informar os interessados e permitir correções de rumo. Hoje, porém, vemos tanto as explosões emocionais contra os testes quanto tentativas dissimuladas de comer pelas bordas. Há perigo de retrocesso e volta ao obscurantismo. Os testes quantitativos captam algumas dimensões do desempenho, mas não conseguem lidar com outras. Contudo, lembremo-nos do que já dizia Aristóteles: há algumas coisas que não podemos fazer com números e há outras que não podemos fazer sem eles. Há excelentes razões para complementar os testes quantitativos com análises qualitativas. Só podem enriquecer nossos frágeis julgamentos. Mas substituir um pelo outro é voltar atrás. As avaliações qualitativas permitem entender como operam as escolas. No entanto, são os testes quantitativos que tornam possível comparar e situar as escolas ou os alunos em um universo mais amplo. Sem tal informação, voltaríamos a patinar nos "achismos" da década de 80. Quando a educação atinge certos níveis de qualidade, as dimensões não captadas pelos testes (imaginação, valores etc.) adquirem maior relevo. Mas quando os níveis de aproveitamento são muito baixos, o que medem os testes é muito mais central. E quando eles dizem que os alunos não entendem o que lêem, pouco adianta reclamar que não medem outras coisas. Quase todos os que falam do Provão cometem erros grosseiros de interpretação, pois suas propriedades estatísticas não são intuitivas (por exemplo, o Provão jamais disse quais cursos são bons, apenas quais são melhores ou piores. Igualmente, C representa a pontuação mais freqüente e não um resultado ruim). Estudar para o Provão tampouco é pecado, pois os alunos sempre estudam para a prova. Como o Provão é um exame mais bem-feito que os tipicamente preparados de véspera pelos professores, direciona melhor o esforço dos alunos. Contudo, o Provão tem efeitos colaterais. Um deles é enrijecer os currículos, tirando dos cursos a liberdade de experimentar. Outro é a questão do valor adicionado. Sabemos que 80% dos resultados são determinados por diferenças dos alunos, já no vestibular. Portanto, não podemos execrar um curso que ofereça um ensino correto cujo único pecado é ter alunos mais fracos. Em suma, não deixemos o acessório engolir o principal e não sejamos presa dos interesses pessoais dos que denunciam os testes por lhes trazerem notícias desagradáveis.

Será que o gigante está despertando?

De forma muito clara, agora, é mais fácil ver as mudanças. Há cerca de cinco anos, usei o termo "revolução silenciosa" para descrever a situação, e a revista VEJA adotou a expressão. Hoje, seria inadequado usar o mesmo termo. A revolução não é mais invisível. A característica mais marcante dos avanços na década de noventa é que o segmento mais dinâmico - a proporção da clientela terminando a educação básica - é exatamente aquele no qual o desempenho brasileiro era mais fraco. Um outro aspecto muito interessante e pouco estudado desse processo é o papel dos grupos de interesse, em particular, os sindicatos de professores. Esses grupos de tendência esquerdista adquiriram grande força na década de 80 e no início da de 90 e dominaram as arenas de discussão. Na verdade, estabeleceu-se na prática um monopólio dos fóruns e conferências, criando um ambiente abertamente hostil a outras linhas de pensamento (as chamadas patrulhas ideológicas). De fato, a avaliação deste autor é que a presença de grupos de interesse foi, durante muito tempo, uma presença pouco construtiva no cenário educacional, sempre a queixar-se de que a educação é uma ferramenta que reproduz a estratificação social e desviando a discussão das políticas práticas para melhorar as escolas. Todavia, muitos representantes desses grupos foram assumindo governos munici-pais e estaduais, enquanto alguns subgrupos mais ruidosos começaram a perder boa parte de seu poder e qualquer liderança intelectual fora de seus seguidores. Não obstante, há várias iniciativas respeitáveis sendo desenvolvidas pelos segmentos de esquerda. Ao mesmo tempo, o movimento sindical tem-se orientado para uma posição mais organizada e de crítica técnico-científica da política governamental, apresentando alternativas à ação governamental. O que, hoje, faz mudar a educação é a feliz conjunção de todos os níveis de governo tentando acertar e um público, liderado pela sociedade civil, exigindo que acertem. Os governos estão fazendo mais, sobretudo, porque as forças vivas da sociedade querem uma educação melhor e não se contentam com menos. Falta muito, mas as mudanças estão mais ou menos no rumo correto. As reformas acontecem, mesmo neste nosso Brasil de tão pobres tradições na área. Vivemos um momento único e precioso. O que falta, então, para que alguém se atreva a enfrentar assombrações e uma reforma de ensino que sugerem um amplo leque de mu-danças? Faltavam pessoas que vissem mais longe e que apostassem no futuro. Este é o tema deste livro. Procuraremos examinar como nossa educação encami-nhou-se, de muito atrasada, à fase atual de tentativa de recuperação. Tínhamos um sistema que se construiu, tardiamente, mesmo para os padrões dos países latinos americanos. O problema que se nos coloca resume-se em uma interrogação: quais devem ser os rumos da educação brasileira, a partir de agora? Sem (ou com) espírito de polêmica, é possível alinhar seis problemas que merecem atenção: a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental, a reforma e expansão do Ensino Médio, com grande preocu-pação com a qualidade; a diversificação e aprimoramento do Ensino Superior, pela busca de caminhos alternativos, também, no âmbito do ensino público; o desenvolvimento de uma estratégia inteligente para a Educação Infantil; a introdução de novas tecnologias, como instrumento de democratização da educação, e, finalmente, o desen-volvimento rápido e vigoroso de propostas diferenciadas de qualificação e re-qualificação de docentes.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Escolas empobrecidas: sem História nem Geografia

A escola vive uma profunda crise de legitimidade*. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas. Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.? A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação? Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes. Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola. À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português. Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática! As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas? Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê? A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática. A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos. Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português? Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico? De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas. As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial. Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

MEC anuncia reajuste de 7,97% do piso salarial de professores

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou nesta quinta-feira (10) reajuste de 7,97268% do piso salarial de professores do ensino básico da rede pública brasileira, que abrange educação infantil e nível médio. Com o aumento, o piso salarial para os professores passa de R$ 1.451 para R$ 1.567. O aumento é concedido com base no percentual de aumento, de 2011 a 2012, do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). Veja a evolução do piso salarial dos professores nos últimos anos 2010 R$ 1.024,67 2011 R$ 1.187,08 2012 R$ 1.451,00 2013 R$ 1.567,00 No ano passado, o reajuste do piso salarial dos professores de educação básica e que cumprem 40 horas semanais foi de 22,22%. Portanto, o reajuste deste ano representa quase um terço do aumento ocorrido em 2012. “Dessa vez, [a correção] não tem o mesmo impacto que a correção do ano passado, mas é um reajuste acima da inflação. O problema é que nós partimos de um patamar muito baixo de salário. R$ 1.567 é pouco mais que dois salários mínimos”, afirmou. O ministro disse que os estados e municípios precisam respeitar reajuste do piso salarial, ainda que tenham perdido receitas devido à desaceleração da economia brasileira. A correção deve ser aplicada já nos pagamentos salariais relativos a janeiro. “Houve uma desaceleração da economia, uma queda de receitas, mas a lei é essa, e a lei está embasada num caminho de recuperação do piso para permitir que a educação brasileira dê um salto de qualidade”, disse. Para o ministro, o aumento de R$ 14,2 bilhões, em 2013, dos repasses da União aos estados e municípios através do Fundeb pode ajudar a pagar o reajuste salarial de 7,97%. Em 2012, o Fundeb foi de R$ 102,6 bilhões. Em 2013, os repasses somarão R$ 116,8 bilhões, de acordo com Mercadante. Impacto O ministro afirmou que, segundo associações de estados e municípios, o impacto do piso de R$ 1.567 será de R$ R$ 2,1 bilhões aos cofres dos governos estaduais e prefeituras. Segundo o ministro a expectativa é de que em 2014 o reajuste do piso seja superior ao deste ano. “O reajuste está vinculado ao desempenho econômico. Sempre é assim. À medida que a economia cresce, o reajuste cresce mais. O MEC continua empenhado em solução pactuada [com estados e municípios] porque no ano que vem o reajuste deve ser ainda maior”, afirmou. Em 2012, estados e municípios criticaram o reajuste de 22,22%. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios, o aumento custou cerca de R$ 7 bilhões, entre gastos com o salário de docentes, com a contratação de novos professores e com o reajuste na pensão dos professores aposentados. Entenda como é feito o cálculo Desde 2009, por lei, o reajuste do piso salarial é feito anualmente em janeiro seguindo como indicador o Fundeb. O fundo reúne recursos provenientes de tributos e da complementação da União, que são repassados aos governos municipais e estaduais. Durante o ano vigente, o valor mínimo anual investido pelo fundo por aluno da educação básica é calculado com base em estimativas de arrecadação. A variação desse valor impacta na variação do salário dos professores. Para o ano de 2012, a estimativa do custo por aluno era de R$ 2.096,68, o que representaria um aumento de 21,2% em relação ao valor final de 2011 (R$ 1.729,28). Assim, o reajuste estimado do piso salarial era maior do que o que de fato aconteceu. Porém, em 28 de dezembro de 2012, o governo revisou o valor para baixo (R$ 1.867,15) porque as estimativas de receita não se concretizaram. A variação do valor por aluno entre 2011 e 2012, então, foi de 7,97%.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O papel da escola no novo mercado de trabalho

Grande parte dos adolescentes ingressam no mercado de trabalho despreparados, isso é constatado no cotidiano, assim como é indicado por pesquisas de âmbito nacional. A Revista Veja, no ano de 2009, publicou matérias neste sentido, indicando quão importante é o investimento da família e escola, juntas, na preparação destes adolescentes. Estudiosos indicam que, daqui a uma década, o mercado de trabalho estará drasticamente modificado. Luiz Carlos Cabrera, consultor e professor da FVG-SP, em uma de suas entrevistas, aponta que o mercado será tomado por novas profissões e cargos, com exigência de autonomia e empreendedorismo elevados. Atualmente, estudos indicam que 1/3 dos universitários acabam por fazer reopção de curso após gastarem tempo, esforços e dinheiro. Outros jovens, após a graduação, acabam por atuar em ramo não escolhido, por encontrarem o mercado saturado na profissão para a qual se prepararam. Tendo como foco esta realidade, faz-se imprescindível o planejamento da carreira, ou seja, antes de os jovens fazerem a escolha profissional, importante que eles conheçam: a dimensão dos problemas no mercado de trabalho, quais as solicitações e carências do mesmo, os conhecimentos, habilidades e atitudes demandadas pelas empresas e quais os comportamentos desejados e indesejados pelos contratantes. Importante que o jovem tenha ciência sobre leis trabalhistas, lei que regulamenta o estágio e programas como o Jovem Aprendiz, seus direitos e deveres. A Orientação Profissional ocupa-se de propiciar o autoconhecimento necessário ao estudante, o conhecimento sobre as profissões, e ajuda-o a escolher a profissão e/ou curso de graduação. Mas a nova configuração do mercado pede que este trabalho da Orientação Profissional seja expandido, assim, além das atividades previamente citadas, o estudante precisa conhecer o mercado de trabalho. Prepará-lo implica em instrumentalizá-lo de forma adequada para ser capaz de superar as dificuldades com as quais poderá deparar-se neste novo sistema. E conhecer esta configuração do mercado de trabalho antes mesmo de adentrá-lo, pode ser um grande trunfo. Uma possível nova estratégia de atuação da Orientação Profissional tem o nome de "Potenciação" ou "Empowerment". Esta, trabalha questões de participação democrática na vida social, escolar e profissional. É um grande auxilio, pois parte dos adolescentes não tem conhecimento adequado dos recursos de sua cidade, das dificuldades e realizações dos profissionais próximos, assim como também não têm um vasto autoconhecimento e da possível potenciação de suas habilidades. Ao buscar por estes serviços (Orientação Profissional), a escola intensifica seu papel como espaço de crescimento intelectual, pessoal e, mais do que nunca, espaço de amadurecimento e preparação profissional. As novas estratégias, além de possibilitarem uma melhor escolha e boa colocação dos jovens no mercado de trabalho, também podem auxiliar no cotidiano escolar, com atitudes e comportamentos mais assertivos e amadurecidos por parte dos estudantes.

Governo promete investir R$ 2,7 bilhões para alfabetizar crianças até os 8 anos

O governo federal vai investir R$ 2,7 bilhões nos próximos dois anos para que as crianças brasileiras sejam plenamente alfabetizadas em língua portuguesa e matemática até os 8 anos de idade, ao final do terceiro ano do ensino fundamental. O investimento faz parte do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa lançado nesta quinta-feira 8 pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a média nacional de crianças não alfabetizadas aos oito anos chega a 15,2%. Essa taxa alcança índices ainda maiores e, em alguns casos chega a dobrar, em estados como Maranhão (34%) e Alagoas (35%). A menor taxa é registrada na Região Sul, com o índice de 4,9% de crianças não alfabetizadas. “Considero esse programa a prioridade das prioridades do MEC. É o maior desafio histórico e que esse país deveria colocar no topo de agenda de todos os gestores do Brasil”, assegurou Mercadante. O ministro destacou que 8 milhões de crianças estão inseridas nesse primeiro ciclo de alfabetização. Ainda segundo ele, o prejuízo de uma criança que não é alfabetizada no período certo pode se estender a outras etapas do ensino. Entre os objetivos da pasta está o de garantir a alfabetização e assim evitar a futura reprovação de alunos. Segundo o ministro, o impacto da reprovação de alunos, em toda a educação básica, vai de R$ 7 bilhões a R$ 9 bilhões. Ao todo, 5.270 municípios e todas as 27 unidades federativas já aderiram ao pacto, que envolve a capacitação de 360 mil professores alfabetizadores. Trinta e seis universidades públicas vão preparar cursos de 200 horas para uniformizar procedimentos educacionais em todo país. Os recursos investidos no pacto também vão garantir uma bolsa de R$ 750 mensais aos orientadores, que vão capacitar os professores alfabetizadores. Com o pacto, o Ministério da Educação vai distribuir 26,5 milhões de livros didáticos nas escolas de ensino regular e do campo, além de 4,6 milhões de dicionários, 10,7 milhões de obras de literatura e 17,3 milhões de livros paradidáticos. Leia também: O financiamento do novo Plano Nacional de Educação Mercadante defende tema da redação do Enem Carta na Escola vence prêmio de Melhor Capa do Ano Para mensurar os resultados do pacto entre as crianças brasileiras, o MEC vai implementar duas avaliações. Ao final do 2º ano, será aplicada a nova versão da Provinha Brasil, realizada pelos próprios professores dentro de sala de aula para avaliar os conhecimentos sobre o sistema alfabético da escrita e quais habilidades de leitura as crianças dominam. No final do 3º ano, será aplicada uma nova prova, ainda sem nome, regras ou datas definidas. Essa avaliação ficará a cargo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Além das medidas anunciadas, a pasta vai investir R$ 500 milhões em premiação para as melhores experiências de alfabetização. Para Mercadante, as ações do pacto estimulam os professores a voltarem a atuar na profissão.