terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O DIA QUE NUNCA HOUVE NEM HAVERÁ

Sempre esperei que isso acontecesse num dia desses! Todos esperamos! Por mais absurdo que possa parecer. Sempre estamos esperando por alguma quimera, quem dera acontecer. Finalmente aconteceu. Aqui, o relato pormaiorizado dos fatos e atos, eventos e ventos, contados, rintintim por rintintim, como foram realmente, nesse dia de cão.
 O dia raiara no meio da tarde, quando a estiagem provocada pela seca inclemente fazia chover a cântaros. A canícula em seu cavalo incitatus galopava pelos campos asfaltados da plana serra. Depois passaram para a acidentada planície. Só quem botou os pés na rua foi o glorioso exército da salvação protegido com seus garbosos capacetes de aço que faziam os cântaros se despedaçarem quando em choque com eles. Nas primeiras horas da madrugada, quando o sol se punha, da foz do mar que desaguava rio adentro, um outro esquadrão apareceu trotando. Era um enxame de peixes cavalgando cavalos marinhos que, piscosos, saiam das águas igualmente marejados. Estava deflagrada a revolução praiana que iria invadir os sertões e reverter o revertere ad louco tuum, voltando tudo ao mesmo lugar de antes.  De uma vez por todas, para sempre. E nunca!
 Desde muito tempo, antes mesmos dos tempos homéricos, que babilônios e caldeus, aliados aos godos, visigodos e engodos de uma maneira geral, em cruzadas ebúrneas, almejaram a descoberta do princípio básico da alquimia para a fabricação de genéricos que pudessem possibilitar a disponibilidade de sombra-e-água-fresca universalizadamente. Ora direis ouvir galáxias! Por certo perdestes a última viagem do periscópio espacial Hubble que flagrou as excrescências celestes no próprio âmago dos intestinos cosméticos – escatológicas figuras – em toda sua flatulência.
 Foi quando empunhando a sua catapulta eletrônica o salvador da lavoura transgênica, Pipinus, dos grandes, defensor dos pobres e ó premidos, palatino da boca-livre, feriu os céus de todas elas, e lançando o seu brado retumbante, que o sol da liberdade em raios-x dissecaram em transparências lúcidas, ele, gemendo e suplicando, proferiu: eia, pois, enamorada nossa, fica proclamado o fim das intempéries.
 A chuva se transformou em confetes e serpentinas. O ar transfigurou-se e o cheiro de lança-perfume inebriou os sentidos todos, fazendo-se ouvir os mais imbecis sambas-enredos da antologia antológica, antes lógica, sua anta, lógico. Trabalhadores do mundo, cada um por si e deus por tolos. Avante ó terra estremecida pelos berrantes cantos exuberantes de exu. 
 Chega, basta. Ninguém merece essa agonia. Tipo assim. Esse estado catatônico a que chegamos. Noz, que recorremos à voz. Salvem as criancinhas. Continuemos a pelear. Agora e sempre.
 Isso jamais poderia acontecer. Como não aconteceu. Mesmo porque nunca, na história gregoriana, houve um dia trinta de fevereiro, dia da publicação do presente exemplar exemplar deste hebdomadário decendial. Confira neste cabeçalho, com ou sem rima, que encima esta edição, mais precisamente, que endireita a segunda linha dela. Nem nos mais tradicionais anos bissextos isso soe acontecer. Talvez, quem sabe, um dia, isso venha a ocorrer nos anos trissextos, esses com 666 dias, com três seis, como o nome não deixa dúvidas, quando porventura passarem a existir. Anus da besta! Desse dia em diante, começará a vigorar o decrépito decreto que institui a instituição da paz universal e a igualdade entre os homens. Quanto às mulheres, isso fica para depois. Para o próximo dia trinta de fevereiro.
Genserico Encarnação Júnior

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Papel da Educação

A educação é um processo contínuo que possibilita aos indivíduos alcançarem a plenitude de suas potencialidades, ao longo da vida.
A ação educativa tem como principio básico a formação integral, harmoniosa dos indivíduos,  e como um de seus objetivos, o desenvolvimento do espírito reflexivo da criança e do jovem, preparando-os para a construção da consciência crítica do adulto, para que ele aprenda a ser, a conviver na sociedade como sujeito consciente, participativo, sabendo discernir o bem do mal, aplaudir o correto e abominar e repudiar o incorreto.
Num tempo que já vai longe, competia à família a educação de seus filhos e à escola, o ensinar. Completavam-se.
Hoje, a educação passou a ser exercida por vários agentes, por vários meios, em vários espaços, onde avulta o papel da escola.
Agigantou-se sua responsabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, abrangendo a educação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que as famílias, muitas delas, declinaram do dever de educar seus filhos.
Por esta razão, a par de ser responsável pelo processo de ensino e de aprendizagem de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando de crianças e adolescentes, a escola assumiu a  atribuição de formar o cidadão, construindo com ele não só conhecimentos, competências e habilidades, mas a escala de valores, onde avultam a moral e a ética , que vai servir de farol, iluminando sua caminhada.
Vivemos numa época que perturba, de certo modo, a consolidação da consciência crítica do homem . Vivemos bombardeados pelos  acontecimentos, pela quantidade e variedade de  informações, sem ter tempo para refletir sobre eles e elas, analisando-os.
Aprendemos a chamada “cultura de mosaico”, fluida e inconsistente, que pouco ajuda a formar a consciência crítica das crianças, dos jovens e, mesmo, dos adultos.
Somos afetados pela avalanche de informações que, muitas vezes, nos levam a julgamentos apressados, por não terem passado pelo crivo da reflexão e da crítica.
Diante desta evidência e pelo fato da família não estar cumprindo seu dever, ampliou-se o papel da escola e dos professores, que acrescentaram às funções de ser espaço e mediadores da construção do conhecimento e do exercício da socialização, a de ser local e agentes privilegiados para educar, integralmente, as crianças e os jovens, preparando-os para viver num mundo e numa sociedade inquietantes, desafiadores, excludentes, marcados por constantes mudanças, por novos paradigmas, por frequentes exigências, por obstáculos a serem transpostos; mundo e sociedade marcados pelas injustas discriminações, desigualdades, pelas injustiças.
Diante desta constatação é importante que os professores exerçam sua função de educadores, que preservem sua consciência crítica para melhor formar sua visão de mundo, de modo a orientar seus alunos para a busca de caminhos certos e seguros, na travessia desta desafiadora aventura a que chamamos vida, para a qual o conhecimento, os valores morais e éticos e o discernimento são fundamentais.
Somente proporcionando aos alunos a vivência, o sentido de procurar conhecer bem cada fato, de poder analisar comportamentos, de refletir sobre possíveis causas e consequências,  de decidir sobre a melhor maneira de agir, é que os professores estarão levando seus alunos a desenvolverem seu espírito critico.
Dificilmente alguém alcançará realização como pessoa ou profissional, se não tiver formado espírito critico sobre si mesmo, sobre a realidade que o cerca, permitindo-lhe a formação de conceitos seguros, válidos no presente e no futuro, como ponto de referência, porque resultantes  de um espírito crítico bem formado, de uma consciência lúcida.
Esse é o caminho. Um caminho difícil como todo e qualquer caminho que conduz a um ideal. Difícil, mas não inatingível. Um caminho que amplia a importância da escola, que acrescenta ao papel que o professor tem como orientador e mediador da aprendizagem, o de promotor da educação de seus alunos, consciente da importância de seu papel na formação integral do homem, na construção de uma sociedade justa, esclarecida, que demonstre seu repúdio a fatos e a comportamentos pessoais que chegam ao nosso conhecimento, pela função esclarecedora exercida pela imprensa.
Como ficar impassível diante da fotografia exposta na primeira página de um jornal de grande circulação, em que riem da sociedade um contraventor e um advogado de renome, que já foi Ministro da  Justiça e que não se envergonha de aceitar a defesa de um corrupto notório?
Diante desta afronta e de tantas outras que, lamentavelmente, temos assistido como espectadores passivos, é que se torna imperioso desenvolver em nossos alunos o espírito reflexivo, a análise  isenta e a consciência crítica para que saibam demonstrar, publicamente, seu repúdio a atos que, por sua amoralidade, envergonham uma nação, enodoam  a imagem de um país.

sábado, 24 de outubro de 2015

Oito mitos que as pessoas ainda acreditam em relação ao casamento

1º MITO - DEPOIS DE CASAR EU DOU UM JEITO NAQUILO QUE ME INCOMODA: segundo o psicólogo Luciano Passianotto, terapeuta de casal do CINAPSI (Centro Integrado de Neuropsicologia e Psicologia), de São Paulo (SP), as pessoas se esquecem que durante a fase de namoro o casal mora separado, se encontrando nos momentos mais propícios a atividades prazerosas. "Trata-se de uma fase em que a paixão e a sensação de conquista são acentuados", diz. Depois do casamento, ambos tendem a colocar menos atenção no parceiro para se dedicar mais a outras necessidades, como vida profissional, filhos e afazeres domésticos. "Por isso é que se um comportamento indesejado não mudou durante o período que costuma ser o de maior dedicação ao outro, será muito mais difícil depois", diz Luciano. Já a psicóloga e psicodramatista Adelsa Cunha, co-organizadora do livro "Por Todas as Formas de Amor - O Psicodramatista Diante das Relações Amorosas" (Ed. Ágora), lembra que temperamento, hábitos antigos, valores morais e culturais não são nada fáceis de mudar. "A convivência vai nos mostrando tudo o que nos incomoda no outro, por isso ninguém deve estabelecer um relacionamento acreditando que vai mudar o outro. Antes, devemos mudar a nós mesmos e verificarmos se conseguimos conviver com os defeitos alheios", fala Adelsa .

2º MITO - FILHO UNE AINDA MAIS O CASAL: em primeiro lugar, o fortalecimento do vínculo amoroso depende do quanto o casal está preparado para lidar com a chegada de um bebê. Uma visão romantizada da maternidade/paternidade pode causar imensas decepções. "Me assusto muito quando ouço frases do tipo 'Estamos pensando em ter um filho para alegrar o ambiente, pois caímos na rotina'. Acho complicado um casal desejar gerar uma criança dando-lhe a responsabilidade de harmonizar a relação", declara Alessandro Vianna, psicólogo clínico de São Paulo (SP). É importante lembrar que filhos requerem uma mudança radical no estilo de vida do casal e demandam um tempo que não será mais investido na relação. "Um filho sempre representa algo em comum, mas nunca é garantia de união", afirma Luciano Passianotto. Aliás, a chegada de um bebê pode representar o fim do par, se não houver preparo. "Tudo depende do vínculo amoroso, do projeto de vida em comum e do momento. Se um casal tem como projeto ter filhos, certamente, o filho pode unir, pois estarão realizando um objetivo comum. Mas não se deve esquecer que a chegada de um filho altera profundamente a relação de homens e mulheres que passam a exercer também os papéis de pais e mães, além de todos os demais", completa Adelsa.

3º MITO - NUNCA SE DEVE DORMIR BRIGADO COM O OUTRO: o que há de tão grave nisso? Será que não é mais sábio lançar mão daquele antigo ditado "nada como um dia após o outro e uma noite no meio"? Para o terapeuta de casal Luciano Passianotto, os problemas devem sempre ser resolvidos o quanto antes para evitar preocupações e a sensação de que algo errado está se arrastando, mas tentar resolver conflitos de cabeça quente impede o par de pensar adequadamente. Nem todas as questões precisam ser resolvidas no mesmo dia em que acontecem, principalmente quando os ânimos estão exaltados. "Às vezes, digerir o ocorrido e esperar passar a reação emocional ajuda a compreender mais amplamente o acontecido e permite conversas mais produtivas", diz a psicóloga Adelsa Cunha.

4º MITO - VAMOS SEMPRE AMAR RECEBER AMIGOS EM CASA: trata-se de um mito que tem muito a ver com uma visão romantizada (e um tanto adolescente) do casamento. É comum e desejável que recém-casados demonstrem entusiasmo com a casa nova. E é normal, ainda, o desejo de compartilhar essa alegria com os mais chegados. Mas esperar que o fato de receber os amigos seja uma espécie de termômetro da felicidade em comum é uma ideia equivocada. Cansaço, vontade de curtir o próprio canto sem interferências, filhos e trabalho em excesso são fatores que, em algumas circunstâncias, nem permitem que o casal se veja direito ao longo da semana contribuem para que as coisas não saiam como planejado. "A vida social é muito importante para o casal, mas deve trazer prazer para ambos. Receber amigos em casa foge da rotina do dia a dia e exige planejamento. Pode ser desgastante, dependendo da frequência. O importante é buscar sempre manter um equilíbrio", diz Luciano. "Ter a casa cheia de amigos não vai garantir a felicidade nem a longevidade de nenhuma relação amorosa", completa Adelsa Cunha.

5º MITO - EXCESSO DE INTIMIDADE ESTRAGA A RELAÇÃO: na opinião do psicólogo Luciano Passianotto, pessoas que dizem que o excesso de intimidade estraga a relação estão normalmente preocupadas em manter um clima de conquista entre os dois, onde sempre há algo de oculto a se descobrir. "Entretanto, uma coisa não tem relação nenhuma com a outra. O casal pode sempre conseguir satisfação sentimental e principalmente sexual sendo muito íntimos", afirma. O bom senso é sempre recomendável, pois a convivência permite uma intimidade que pode ser muito gostosa e positiva. "É bobagem, por exemplo, uma mulher se esforçar diariamente para acordar antes do parceiro para que ele não a veja acordando. Quem ama de verdade, ama a pessoa inteira, mesmo com olhos inchados, cabelos despenteados e etc.", explica a psicóloga Adelsa Cunha, que diz que, por outro lado, é desnecessário impor ao outro coisas incômodas e/ou escatológicas. "O que estraga a relação, nesse caso, é a falta de respeito com o outro, a não percepção do limite do que é aceito e o que incomoda", fala a especialista.

6º MITO - OS DOIS PRECISAM ESTAR DE ACORDO PARA TOMAR UMA DECISÃO: ceder, em alguns casos, não significa abrir mão de valores e crenças, mas saber tomar uma atitude inteligente e madura para o bem do casal. E, dependendo das circunstâncias, a falta de acordo faz com que o casal permaneça paralisado. Por mais parecidas que sejam as mentalidades, sempre haverá opiniões dissonantes e tentar convencer o outro a mudar de opinião pode gerar conflitos desnecessários, além de ser desrespeitoso. "O ideal seria ambos manterem suas opiniões e haver concessões alternadas de ambos os lados", diz Luciano. "O grande erro é que algumas pessoas cedem demais e um dia acabam explodindo. Daí o risco de fracassar a relação. Devemos ceder, sim, mas sem nos agredir", comenta o psicólogo clínico Alessandro Vianna.

7º MITO - É PRECISO ACEITAR OS DEFEITOS DO OUTRO PARA SER FELIZ: todas as pessoas têm defeitos; uns maiores, outros menores. Apesar de, em geral, o período do namoro servir para identificar e discutir todos antes da decisão pelo casamento, isso não funciona muito na prática, já que alguns defeitos somente são percebidos com a convivência. "A comunicação é importante para que ambos saibam o quanto determinado comportamento afeta o outro. Nos problemas maiores, deve-se discutir em busca de uma mudança de hábito, mas os menores devem também ser relevados, para evitar um clima de eterna tensão", explica Luciano Passianotto.


8º MITO - ACONTEÇA O QUE ACONTECER, VAMOS MANTER A CHAMA DA PAIXÃO ACESA: de acordo com o psicólogo clínico Alessandro Vianna, toda relação é cíclica. "Não existe a menor possibilidade de manter o padrão das primeiras semanas ou meses; o importante é ter qualidade, equilíbrio e motivação para investir no relacionamento, considerando que todos eles têm altos e baixos". Segundo a psicóloga e psicodramatista Adelsa Cunha, entre o desejado e o possível costuma haver uma estrada difícil, e esse mito apenas serve para perpetuar a ideia romântica de que o amor, quando encontrado, é para sempre. Mas tudo na vida passa por mudanças, e não poderia ser diferente com as relações. "Haverá fases em que a paixão estará muito acesa e, em outras, será substituída por outros sentimentos. Como a sexualidade é um dos pilares que mantêm uma relação amorosa, buscar criar momentos que possam estimulá-la é essencial. Porém, é ilusão pensar que em todo e qualquer momento da vida conjugal isso acontecerá", diz Adelsa .

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A arte de dizer besteiras

Por Flávio Damiani em 18/07/2015


O filósofo americano Harry Frankfurt, ao escrever o livro Sobre falar merda, não poderia ser mais realista, analisando o comportamento daqui e de fora. Manda um recado direto aos que passam o tempo falando bobagens nas redes sociais, embora o objetivo dele seja o de desvendar a essência do discurso político. O livro, um mini-book com pouco mais de 60 páginas que podem ser devoradas durante uma ida ao banheiro, faz parte do currículo do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na cadeira de Filosofia, do professor Luiz Carlos Bombassaro.
Frankfurt estabelece uma diferença básica entre a mentira e o falar merda. Diz que o mentiroso esconde os fatos e inventa deliberadamente suas histórias; respeita a verdade, mesmo que fuja dela. Já o outro não tem o mínimo de classe, consideração ou respeito e tenta induzir quem quer que seja a aceitar sua versão como verdadeira, procurando sempre chamar a atenção, construindo uma impressão sobre si mesmo. Um perigo porque o mentiroso, embora reconheça o blefe, respeita regras e limites; já o “evacuador” revela o seu cardápio por meio de suas ideias ou palavras – ele é mais perigoso do que aquele que mente.
O orador, no entanto, não está mentindo, afirma o filósofo, porque não tem intenção de impor à plateia crenças que considera falsas. Um político, quando sobe à tribuna para falar em público, só está interessado na opinião dos outros sobre ele. “Ele quer ser considerado um patriota, alguém que aprecia a importância da religião, que é sensível à grandeza de nossa história, cujo orgulho combina com a humildade perante Deus”, destaca Frankfurt. Mais adiante, ele se debruça a analisar as áreas da propaganda e das relações públicas, “exemplos tão consumados de falar merda que podem servir como os paradigmas mais inquestionáveis e clássicos do conceito”.
Travestidos de pastores do bem
A obra encaixa como uma luva neste momento de turbilhão político em que velhas raposas da política, envolvidas até o pescoço com operações criminosas, duvidosas, escandalosas, mentem descaradamente para provar inocência quando suas vidas já foram vistas e revistas e suas falcatruas se tornaram públicas. Do outro lado, um exército de abnegados cidadãos sem a mínima consciência, levados no bico e totalmente desinformados, tenta defender as trincheiras da corrupção, entra no jogo político de quem não quer mudanças, quando a mudança é a única saída. A corrupção tem dois lados e contaminou os coxinhas que chamam a esquerda de petralhas e petralhas que chamam os da direita de coxinhas.
Na verdade, os mentirosos, travestidos de pastores do bem, com seus sermões e mazelas buscam controlar a ira do seu rebanho e os adeptos por sua vez só falam merda. Claro que ainda sobram os corruptores. Bom, estes estão por toda parte, na mídia em especial.
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Flávio Damiani é jornalista

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O QUE É APRENDER?

Aprender é construir "seus conhecimentos e sua afetividade na interação" com outros sujeitos e "por meio de influências recíprocas que vão estabelecendo cada sujeito constrói o seu conhecimento de mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito histórico" (LOPES, 1996:111).
Aprender significa ser capaz de reelaborar e reconstruir conhecimento através da formulação de questionamentos, de análise e síntese das descobertas. O indivíduo aprende é ao ser capaz de dialogar com o seu interlocutor, seja ele o professor, o livro, o jornal, o programa de TV, o vídeo ou a página da WWW. Dependendo do grau de escolaridade, aprender envolve saber questionar as verdades apresentadas, refletir, investigar suas dúvidas e elaborar nova síntese que lhe satisfaça a inquietação inicial.
Aprender significa ser capaz de pesquisar com olhos inquisidores, orientados por inquietações que tragam contribuições ao crescimento individual e coletivo. É um processo multifacetado e estimulante se interconectar diversas áreas do conhecimento mediadas pelas mídias impressa, audiovisual e digital em uma rede de relações interpessoais.
POSTMAN (1996:45) chama a atenção para o fato de só poder existir uma comunidade democrática e civilizada, se as pessoas que aí vivem, fazem-no de forma disciplinada como participantes de um grupo e que, portanto, precisam aprender a viver em grupo, onde as necessidades individuais estão subordinadas aos interesses do grupo. Aprender a conviver de forma colaborativa propicia o crescimento do grupo como um todo e, por conseguinte, o crescimento de cada um em particular.
Aprender implica na capacidade de construir significados, reconstruindo o passado e projetando o futuro. Se nós, professores, não temos muito claro, para nós mesmos, o que é o ensinar e o aprender e se não nos lançamos como navegadores nessa viagem estimulante, de volta ao nosso passado e nos projetamos para o futuro, como poderemos levar nossos alunos a empreender a viagem em busca do conhecimento, uma aventura que exige esforço, dedicação e que pode apresentar riscos e frustrações? Não são eles, jovens e adultos, seduzidos hoje pela mídia com "videogames" e viagens sedutoras embora alienantes?
Nós, professores, precisamos estar em constante aperfeiçoamento de nossa capacidade de reconstruir nosso conhecimento, de análise do nosso cotidiano, de questionamento da nossa prática individual e coletiva. Devemos estar alerta às constantes transformações que ocorrem no mundo para além das paredes da escola. Esse aperfeiçoamento e questionamento precisam ocorrer tanto no isolamento individual, quanto em equipes colaborativas que desenhem e realizem projetos conjuntos baseados na prática escolar. Não podemos ignorar a tecnologia que já está inserida no dia a dia do homem nesta sociedade tecnológica. Não podemos ignorar que temos uma história individual entrelaçada a uma história social.
Professores e alunos, precisamos praticar entre nós e com os outros o ato comunicativo, reconhecendo que esse ato é um ato de aprendizagem.
"... É preciso reconhecer que quero me comunicar, que quero trocar informações com alguém e que, nesta troca, vou me transformar, vou aprender" (KENSKI, 1996:135).
O desenvolvimento em equipe implica em saber trabalhar de forma interdisciplinar, de modo que a interdisciplinaridade fique colada como marca d’água na nossa didática e na nossa prática escolar.
A aprendizagem pode se dar através da linguagem, mas será mais completa e mais significativa se também ocorrer através da experiência, ainda que simulada. Aprender através da linguagem, via leitura dos mais diversos meios (texto impresso, vídeo, filmes, programas de rádio e de TV, programas de computador tutoriais ) ou via aulas ministradas por professores permite-nos uma leitura das idéias, dos pensamentos, das opiniões e dos conhecimentos de outras pessoas e de outras épocas assim como um confronto com as mesmas. Aprender através da linguagem implica em que se tenhamos um bom conhecimento da linguagem ou corremos o risco de não compreendermos o que "lemos" ou não sabermos "escrever" sobre o que "lemos" . A linguagem requer uma outra pessoa, a que observou, analisou, classificou, escreveu para podermos ler.
A aprendizagem por experiência nos coloca em contato direto com a realidade. Na escola, aprender por experiência ocorre nos laboratórios e, geralmente, tem a tecnologia como mediadora. Quanto maior a possibilidade de simulação maior a possibilidade o aluno tem de observar, de construir hipóteses e de testá-las para verificar se essas hipóteses estavam corretas. Aprender por experiência permite a manipulação da realidade, agindo e percebendo os resultados da nossa ação. Dessa forma, "podemos conhecer e compreender a realidade observando como ela responde às nossas ações" (Parisi, 1998, rt). É bastante raro podermos desenvolver esse tipo de aprendizagem na escola que privilegia o aprender pela linguagem escrita. Entretanto, se a escola tiver uma tecnologia que permita o uso de modelos simuladores que permitam que aquelas características obscurecidas pela linguagem escrita apareçam, as capacidades de abstração, de memória, de manipulação de símbolos e a habilidade lingüística serão complementadas pelo uso de outras capacidades como a de observar, reconhecer modelos, manipular, levantar e controlar hipóteses. Os alunos terão maior motivação para aprender e para estudar, pois com a experimentação e a simulação seguidas da reflexão estarão aprendendo mais do que apenas através da abstração. Em algumas situações estarão se divertindo, em outras estarão vivendo papéis diversos dos que vivem no seu cotidiano e, ainda, haverá situações em que serão desafiados a resolver problemas complexos.
Incorporar de forma inteligente a tecnologia significa adotar uma postura positiva e interdisciplinar em relação à tecnologia e trabalhar com elas como elementos emancipatórios na nossa prática pedagógica. Podemos aprender com essas tecnologias que a aprendizagem se dá no envolvimento integral do indivíduo, isto é,
"o emocional e o racional; a análise lógica e o lado do imaginário e do intuitivo; a imagem e o som; a açào, a presença, a conversa, a interação, o desafio, a exploração de possibilidades, o assumir de responsabilidades, o criar e o refletir juntos sobra a criação" (KENSKI,1996:146). 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O QUE É ENSINAR?

Ensinar é um processo que envolve indivíduos num diálogo constante, propiciando recursos temporais, materiais e informacionais para que se desenvolva a auto-aprendizagem e a aprendizagem com os outros ou a partir de outros (STOKROCKI, 1991). Não é apenas transmitir conhecimentos obedecendo a determinadas metodologias, cumprir os currículos de disciplinas estanques ou inter-relacionadas e "cobrir" determinados assuntos. Ensinar é fazer com que os alunos se comprometam num questionamento dialético de princípios fundamentais, desenvolvam estratégias de discussão de verdades estabelecidas É fazer com que analisem argumentos pró e contra e buscando a validação ou a contestação de hipóteses e crenças, com que estabeleçam novas hipóteses e novas crenças fundamentadas por pesquisa e reflexões sérias (CARR, 1997:325). Esse comprometimento não pode se dar apenas no âmbito individual, mas também coletivo.
Ensinar é instigar e orientar os alunos para que se apropriem de conhecimentos específicos de cada fase escolar para a "interiorização do saber sistematizado, historicamente acumulado"( LOPES, 1996:111).
Ensinar é criar condições para que os alunos desenvolvam as condições básicas de domínio das diversas linguagens, fundamentalmente a da escrita, de modo a poder sistematizar o conhecimento e expressar tanto suas dúvidas e incertezas quanto suas descobertas e criações. É, também, ajudá-los a desenvolver a reflexão, a saber fazer as perguntas certas e ir atrás das respostas adequadas
Em uma perspectiva sócio-inteacionista, é instrumentalizar os alunos para perceberem que já possuem um conhecimento que trazem de suas casas, para integrarem esse conhecimento com outro sistematizado na escola através de atos comunicativos com seus colegas e seus professores e para criarem novos conhecimentos individual ou coletivamente.
Ensinar, além de se caracterizar como uma atividade colaborativa entre professores e alunos, deve promover essa colaboração entre os próprios alunos, estimular o trabalho em equipe e proporcionar um espaço para que uns ensinem aos outros aquilo que dominam melhor. A investigação colaborativa propicia que os alunos se ajudem mutuamente na coleta e na análise de dados, e, na hora da interpretação, as vivências e as perspectivas individuais, podem produzir conclusões mais ricas.
Educadores, comunicadores, estudiosos mais atentos percebem que não se pode ter todo o conhecimento em sua área específica, e ainda mais, que esse conhecimento não é compartimentado, fragmentado em disciplinas estanques como a escola, em geral, continua a encarar.
É muito comum, no desenvolvimento da pesquisa durante os cursos de pós-graduação, depararrmo-nos com fontes e informações que podem interessar a nossos pares. À medida que encaminho essas descobertas a meus pares estou abrindo um caminho de volta de informações para a minha pesquisa. Para Dewey (apud Nassif:45), toda comunicação é educativa e o
"ser receptor de uma comunicação é ter uma experiência ampliada e alterada. Se se participa no que o outro pensou e sentiu, seja de modo restrito ou amplo, modifica-se a própria atitude. Da mesma forma, não deixa de ser afetado aquele que comunica".
Para ser eficaz como ato comunicativo é preciso que ocorra na atividade didática uma relação interativa, uma união entre as partes, no nosso caso, professores e alunos, decorrendo daí a necessidade de discussão, reflexão, aprofundamento sobre um conteúdo significativo.
Assim, a comunicação educativa se faz cada vez mais necessária para que o trabalho colaborativo se instale. A colaboração permite um sem número de conexões no âmbito escolar constituindo uma experiência que pode ser transferida para outros ambientes em que o indivíduo vive. Para o trabalho colaborativo acontecer e essas conexões se tornarem significativas, há que se ter uma vivência da ação colaborativa, de participação ativa e de construção conjunta nos cursos de formação inicial e continuada de professores nas graduações específicas que os formam, como Pedagogia e as Licenciaturas e Institutos Superiores de Educação, no Ensino Médio, na modalidade Escola Normal (Magistério), nos projetos de Formação Continuada de Professores em serviço e nos cursos de Pós-Graduação.

sábado, 13 de junho de 2015

Cidades educadoras

Faz quase seis meses que a presidente Dilma lançou o lema, mas até hoje não definiu como seria a Pátria Educadora, nem o que seu governo fará para construí-la.
Por falta de definição da presidente ou dos marqueteiros que criaram o lema, devemos imaginar como seria a Pátria Educadora e o que fazer para construí-la.
A condição fundamental, óbvia, é ter todas as suas crianças em escolas com a máxima qualidade, o que exige: professores muito bem preparados, escolhidos entre os melhores jovens da sociedade, para isso eles precisam estar entre os profissionais muito bem remunerados, todos bem selecionados e avaliados permanentemente; os prédios das escolas entre os mais bonitos, limpos e confortáveis, com os mais modernos equipamentos de tecnologia da informação, bibliotecas, ginásios poliesportivos e facilidades culturais; todas as crianças em horário integral, durante os 220 dias de aulas por ano, sem paralisações.
Quando todas as suas cidades forem assim, a Pátria Educadora não terá analfabetismo de adultos e todos os seus jovens concluirão, na idade certa, o ensino médio, com a qualidade ofertada nos países mais educados do mundo.
Para isso, a Pátria Educadora precisará ter todas suas Cidades Educadoras.
A Pátria Educadora só pode ser construída escola por escola, cidade por cidade, mas cada uma necessita de esforço nacional para apoiá-la. Para fazer suas Cidades Educadoras, o Brasil precisa adotar a educação de suas crianças, independentemente da cidade onde vivem e estudam.
Isso não será possível cortando recursos do Ministério da Educação nem prometendo os simbólicos 10% do PIB ou os royalties de um pretenso pré-sal de tamanho insuficiente para as necessidades da educação brasileira. Muito menos deixando a tarefa de construir a Pátria Educadora para as pobres e desiguais prefeituras do Brasil.
Deixar a educação nas mãos das cidades é manter as escolas sem os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários e também continuar com nossas crianças em escolas desiguais, conforme a renda dos pais e o orçamento da cidade onde vivem.
A simples evolução do atual degradado sistema escolar municipal não vai permitir construir a Pátria Educadora; o Brasil precisa implantar um novo sistema educacional, substituindo as atuais escolas em um processo ao longo de anos.
Uma cidade educadora custa R$ 10 mil por aluno por ano; para atender a 51,7 milhões de alunos em 2035, seriam necessários R$ 517 bilhões. Se o PIB e a receita do setor público crescerem a uma taxa de apenas 2% ao ano, em 2035 o Brasil vai precisar de 6,2% do PIB para transformar o atual sistema da pátria deseducadora no novo sistema federal da Pátria Educadora; ou seja, 0,5% acima dos 5,7% do PIB gastos atualmente, metade dos 10% determinados pela Lei do PNE.
Isso só será possível com a união de todos os brasileiros assumindo a responsabilidade pela educação de todas as crianças do Brasil, não importa a receita fiscal nem a vontade do prefeito da cidade onde elas vivam.

Cristovam Buarque

Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF

sexta-feira, 5 de junho de 2015

10 motivos para não se deprimir no Dia Mundial do Meio Ambiente

1 – A declaração de Fernando Meirelles, o grande cineasta, para a Revista Época: “Quando não sou ecochato, sou biodesagradável”.
2 – A mobilização de milhares de jovens americanos e europeus que exigem das universidades ricas onde estudam (Oxford e Harvard, inclusive) a retirada dos recursos investidos em fundos lastreados em combustíveis fósseis. Se depender da garotada, essas fortunas devem ser redirecionadas para fontes limpas e renováveis de energia.
3 – O lançamento da primeira geração de baterias solares para domicílios (“Powerwall”) ou indústrias (“Powerpack”) pela Tesla, que abriu mão das patentes para agilizar o desenvolvimento tecnológico desses produtos. Sol e vento já podem ser armazenados. Muitos especialistas consideram isso o início de uma revolução energética.
4 – A prisão de grandes empreiteiros que financiavam políticos para, depois das eleições, cobrar a fatura na forma de megaprojetos nem sempre inteligentes, invariavelmente caríssimos e nada sustentáveis. O Brasil ficou um país melhor depois que essa roubalheira veio à tona. A natureza, por vias indiretas, também agradece.
5 – Pela primeira vez em 40 anos de medições as emissões de gases estufa do planeta foram estabilizadas (em 2014) apesar da economia mundial ter crescido (3,0 %). A Agência Internacional de Energia atribuiu o resultado aos monumentais esforços da China para reduzir suas emissões de CO2.
6 – Ninguém gosta de falta d'água. Mas a maior crise hídrica da Região Sudeste do Brasil determinou uma tsunami de projetos de reúso de água, coleta de chuva e uso racional desse precioso recurso como jamais se viu antes.
7 –  Apesar das facadas e dos atropelamentos, os ciclistas resistem. De onde vem o poder das bicicletas, que ganham a cada ano mais quilômetros de ciclovias e ciclofaixas?  Difícil explicar. Mas é fato que o “carrocentrismo” colapsou as cidades, travou a mobilidade. Sobre duas rodas se vai mais rápido. Ou mais longe.
8 – Já ouviu falar em A3P? Então clica no Google e veja como esse Programa Ambiental na Administração Pública se espalha rapidamente como uma metástase verde. Até agora, 241 instituições públicas já aderiram. Um exército de servidores públicos brasileiros zela pela redução do desperdício de água, energia e lixo, entre outras medidas de ecoeficiência.
9 – Chega a 382 o número de projetos credenciados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para o leilão de energia solar do próximo dia 14 de agosto. Serão ofertados 12.528 megawatts (MW), mais que a capacidade instalada de Belo Monte. Analistas do setor dão como certo que a expansão do solar na matriz energética brasileira deverá ser tão ou mais rápida que a do vento.
10 – Se você prefere ver a parte vazia do copo, é uma opção. Mas pelo menos hoje, prefiro lembrar a frase atribuída ao ex-presidente Juscelino Kubitschek: “O otimista pode até estar errado, mas o pessimista já começa errando”. Dá pra virar esse jogo. Depende de nós.

domingo, 17 de maio de 2015

O futuro espancado

O que aconteceu em Curitiba, no dia 29 de abril, vai ficar como triste símbolo do tratamento dado a professores no Paraná. Nada justifica, nem mesmo a hipótese de infiltração de grupos radicais, a violência da polícia paranaense contra os educadores. Embora não tenha justificativa ética, o episódio serve para chamar atenção para uma triste lógica. O que aconteceu em Curitiba é injustificável, mas explicável. Explica-se pelo descaso com a educação e com os professores, em todo o Brasil, ao longo da nossa história.
Exemplo de tal descaso é o fato de o Brasil comemorar ter entre 95% a 97% de suas crianças matriculadas nas primeiras séries, quando deveria pedir desculpas por termos ainda de 3% a 5% nem ao menos matriculadas. Deveria ainda, em vez de comemorar, levar em conta que, entre alunos matriculados, apenas uma parte frequenta as aulas. Muitos não têm aulas todos os dias letivos, seja porque faltam, seja por escassez ou ausência de professores contratados.
Dos alunos que frequentam a escola, diversos envolvidos em indisciplina ou violência, uma parte não assiste efetivamente às aulas porque na sala fica alheia ao que o professor ensina. Outros não assistem porque vão à escola apenas pela merenda.
Dos que assistem às aulas, raros têm quatro horas por dia. No total, são raras as crianças brasileiras que assistem às aulas na quantidade que a lei determina para o ano e poucas dessas estão nas escolas públicas. Isso ocorre apesar de a legislação prever apenas 800 horas de aula por ano, quando deveria prever em torno de 1.300 horas.
Entre os que estão matriculados, frequentam e assistem regularmente a quatro horas de aulas por dia, é reduzido o número de alunos que permanecem até o fim do ensino médio. E quando resistem, pelo heroísmo deles e de seus professores, permanecem em escolas sem conforto, sem bibliotecas, sem equipamentos modernos, sobretudo sem a atenção necessária de professores, muitos dos quais, embora dedicados e competentes, são obrigados a dar mais de quarenta horas de aulas faz de conta por semana. Nas escolas públicas, os resistentes são aprovados, quase todos, graças a diversos métodos de promoção automática.
Dos poucos que resistem até o fim do ensino médio, no máximo metade adquire a educação básica com a qualidade necessária para seguir ao ensino superior, mesmo em boas escolas. Não mais do que 5% têm formação que lhes permita dar contribuição à sociedade e à economia do conhecimento no século XXI.
Esta é a realidade do conjunto das escolas, muito pior para as crianças das camadas pobres nas escolas públicas. Comemoramos os quase todos matriculados, esquecendo a frequência, a assistência, a permanência e o aprendizado. Curitiba é apenas um exemplo gritante do silencioso espancamento secular que sofre a educação de base, prejudicando as crianças e o futuro do país. Mas o silencioso gesto secular de espancamento do futuro do Brasil não parece nos horrorizar, apesar de nosso silêncio diante do horror histórico ser a causa do horror visto naquela tarde em Curitiba.
Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

domingo, 26 de abril de 2015

REPROVANDO A REPROVAÇÃO

Elencamos, a seguir, algumas situações absurdas que observamos em relação à reprovação, que muitas vezes é defendida com verdadeiro “ardor justiceiro”, nos famosos conselhos de classe de final de ano...
O aluno é reprovado numa escola, vai para outra como aprovado (por falha na secretaria) e vai bem; só se descobre o problema quando das vistas no processo para efeito de emissão de certificado da conclusão do Ensino Fundamental.
O aluno é reprovado apenas numa disciplina, repete o ano e no final passa naquela, mas é reprovado em outra disciplina que havia passado no ano anterior...
A mesma prova é analisada, mas tem resultados substancialmente diferentes e é corrigida por diferentes professores, pelo mesmo professor, tempos depois, pelo mesmo professor, pensando que é de outro aluno...
A reprovação muitas vezes não tem a ver propriamente com as condições cognitivas potenciais da criança, mas é um “acerto de contas” do professor com o aluno.
Alunos “marmanjos”, que foram reprovados várias vezes e agora são “problemas”. Se a reprovação ajudasse mesmo, dificilmente o aluno repetiria mais do que uma vez. No entanto, o aluno no Brasil está levando em média 12 anos para concluir o Ensino Fundamental, portanto, repetindo 4 vezes...
A partir destas situações e certamente de muitas outras que poderiam ser acrescentadas, fazemos uma perguntinha indiscreta: que sentido tem a reprovação?
O que normalmente se esquece é que:
O aluno reprovado é colocado nas mesmas condições que o levaram ao fracasso.
O aluno reprovado normalmente é rotulado. Tem professores que, num ato de extrema sensibilidade pedagógica, já pedem no primeiro dia de aula para os alunos repetentes se identificarem diante da turma...
O aluno é o único segmento que é sistematicamente avaliado e que tem consequências drásticas em função do resultado.

Celso dos S. Vasconcellos

quarta-feira, 25 de março de 2015

Contra a pena de morte

TEXTO RETIRADO DE: http://www.oantagonista.com/posts/contra-a-pena-de-morte

O Antagonista é contra a pena de morte, por razão prática e filosófica. A prática: nos países onde ela vigora, os índices de criminalidade não baixaram porque se matam condenados. Tanto é assim que a Indonésia, que está para executar o brasileiro Marco Archer no próximo domingo, por tráfico de cocaína, continua a ser um movimentado entreposto de drogas. Outro fato é que, mesmo em nações onde a investigação policial é rigorosa, erros são cometidos e inocentes terminam no corredor da morte -- caso dos Estados Unidos.
A filosófica: os Estados modernos têm o monopólio da Justiça. Ao conferir esse monopólio ao Estado, as sociedades retiraram dos indivíduos o direito de promover vinganças pessoais, como previsto pela antiga Lei do Talião. No seu lugar, entraram as punições institucionais, das quais a mais terrível é a privação de liberdade. A pena capital nada mais é do que a repetição monstruosa, por parte do Estado, de um ato de vingança individual. Em relação a um homicida, é igualar-se ao assassino. Em relação a um terrorista, é fazer seus os valores dele, como disse o jurista francês Robert Badinter, em discurso à Assembleia Nacional da França, em 1981, na condição de ministro da Justiça que defendia a extinção da pena de morte naquele país.
Hoje, no mais das vezes, a instauração ou reintrodução da pena capital, como forma de frear a criminalidade, é uma reinvindicação popular em nações com Polícia, Justiça e sistema carcerário falhos -- e certamente são muitos os brasileiros que a reclamam. É compreensível, mas não é eficaz ou aceitável.
Sentimos por Marco Archer e também por Rodrigo Gularte, outro brasileiro condenado a fuzilamento na Indonésia, por crime idêntico.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A PRODUÇÃO DO FRACASSO NA ESCOLA

Quando se ensina alguma coisa, o que seja, ensina-se também a colher com sabedoria os resultados, sem, contudo, esquecer de alertar contra os eventuais contratempos. Os dois aspectos são partes integrantes do aprendizado, e não apenas a maneira de se fazer a coisa. Uma criança ainda requer de muita experimentação antes de ser capaz de compreender cada coisa, por isso, a expectativa de resultados insatisfatórios, ou parciais, assim como a perspectiva de resultados positivos em qualquer empreendimento, deve sempre fazer parte de sua instrução preliminar. 

Não existe ilustração melhor do que ensinar a fazer. Não existe ensinamento mais profícuo do que aprender fazendo. Assim, mostrar como fazer vale mais que dizer que pode ser feito. Ainda assim, tudo começa com a demonstração de que aquilo pode ser realizado, desde que se possua a devida habilidade ou instrução. 

Uma obra sem utilidade, para uma criança, vale tanto quando uma pedra preciosa para uma galinha. Sua motivação é diretamente proporcional à utilidade da coisa produzida, seja para si mesma, seja para outros. Do mesmo modo, enganá-la com falsas propostas ou promessas, equivale e comprometer sua autoestima. Ocorre que ela não reage às frustrações como um adulto, mas antes disso, tende a se sentir rejeitada, inferiorizada, sem importância, já que tende a enxergar a si mesma no resultado do seu trabalho. 

Assim, seu trabalho representa sua pessoa, e a forma como esse trabalho será recebido, rejeitado, criticado, utilizado, apreciado e aceito, será também o modo como se sentirá como individuo. Ao sentir a inutilidade do seu trabalho, assim também se sentirá como pessoa; e a mesma regra vale para a aceitação, ou crítica construtiva. 

Uma crítica construtiva, longe de ser um elogio, ou uma espécie de recompensa, tem mais valor se bem compreendida como função motivadora. Comentar de forma clara sobre o trabalho, como, por exemplo, discutir um texto escrito de modo que ela perceba que o mesmo foi lido e analisado, torna-se uma excelente forma de motivação, e abre espaço para a crítica construtiva. Desse modo, ela tenderá a aceitar as ressalvas, correções, como uma forma clara de orientação e nunca de rejeição. 

Conhecer uma criança, não apenas seu nome, ou o nome dos seus pais, mas, daquilo que gosta ou não gosta, abre um espaço gigantesco para que o educador tenha acesso à mesma. Ela o permitirá, pois saberá que ele a conhece, e por isso mesmo, deve saber o que lhe parece mais adequado. Também, o educador sensato, o deve demonstrar publicamente, que conhece cada uma delas. Isso se consegue com comentários discretos, enfatizando ou ilustrando as preferências de cada uma. Mentalmente ela dirá: “Nossa, ele ainda lembra de mim...” 

Cuidado deve ter, entretanto, para nunca, sob nenhuma circunstância ou justificativa, criar ambientes competitivos entre elas. Seja por preferir uma ou outra, seja por elogiar o pior ou melhor desempenho de quem quer que seja. Motivar uma criança não deve ter como terreno a desmotivação do restante do grupo, e é exatamente isso que ocorre quando preferimos ou destacamos alguém, ou seu trabalho, de forma seletiva ou ostensiva.


O educador consciente sabe como fazer para nivelá-las, sem com isso avultar de forma provocativa uma ou outra; sem fazê-las sentirem-se inferiores ou superiores aos seus amigos. Tal gesto poderia incentivar a competição interna, a disputa por preferências, a falta de entendimento e sintonia do grupo. Aquela que sabe mais, ou que demonstra maior interesse, deve ser tratada com a devida atenção, mas sem demonstração explícita de que há preferências, ou que as demais são inferiores ou preteridas. 

Incentiva-se uma criança claramente destacada no meio do grupo, de forma discreta e com inteligência. Se ela é curiosa, deve ser incentivada de forma indireta a desenvolver ainda mais sua curiosidade. Nesse caso, a mensagem deverá ser dada para todo o grupo, e aqueles indivíduos mais interessados, entenderão que se trata de uma orientação direcionada a eles. Uma criança interessada pegará emprestado o livro que o professor trouxe para mostrar ao grupo, mas tendo ela como foco. 

Recompensas, elogios fáceis, promessas de sucesso, práticas comuns usadas para motivar ou incentivar as crianças a realizarem suas tarefas, deveres, ou mesmo cuidados pessoais, deverão ser evitadas a todo custo. O educador irá substituir tudo isso pelo simples reconhecimento de um trabalho bem feito, ou interesse sincero pelo andamento de uma tarefa ainda pendente. Deve estar disposto a ouvir as explicações das mesmas, de como realizaram aquele trabalho, e mesmo, contribuir pessoalmente com sugestões personalizadas. 



Outra forma de elogiar, de dar novo ânimo ao grupo, de modo a não haver comparações ou despertar ciúmes, é ensiná-las a trabalhar em equipe, deixando claro que, para uma tarefa dessa natureza, onde cada uma tem uma função, todas são igualmente necessárias e importantes. Deve ainda enfatizar ao grupo, que o tamanho de uma atividade, não quer dizer menos ou mais, mas que todas são igualmente importantes. Use pequenos contos como analogias para ilustrar o caso. Utilize as fábulas, estas são excepcionais exemplos; elas gostam de ouvir, e ainda aprenderão alguma coisa útil. 

Na formatação de uma equipe, o educador deve conhecer as capacidades e personalidades de cada aluno, cuidando de não incluir num mesmo grupo crianças de temperamentos contrários. Conhecendo as disposições psicológicas e habilidades individuais, poderá agrupá-las em equipes que se complementem. 

Finalmente, não se motiva uma criança comparando seu resultado com o do seu colega, ou de um estranho. Mais eficaz e sensato é dar-lhe desafios sempre crescentes e acompanhar de perto seu progresso ou dificuldades. E ao perceber o interesse do educador pelo seu trabalho, ela se sentirá motivada e responsável, pois, como foi dito antes, para ela, o seu trabalho e a sua pessoa é uma só coisa.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Compre experiências e não coisas

Carro com cheiro de novo, sapatos e roupas da última coleção ou a caríssima luminária criada por seu designer preferido. Comprar o que desejamos é um dos caminhos mais fáceis – e talvez enganosos – para a felicidade. Por isso o mundo em que vivemos é muitas vezes descrito como sociedade do consumo. Todos o praticam desenfreadamente. Comprar um objeto, um doce, um livro ativa em nosso cérebro mecanismos químicos de recompensa. Dá prazer. Leva a pessoa a pensar: “Eu sou alguém que sabe se vestir”. Ou ler. Ou comer. O problema é que a felicidade do consumo se dissipa rapidamente. Muitas vezes, antes mesmo da chegada da fatura do cartão.
A ciência está do lado de quem compra para viver – e não de quem vive para comprar. De acordo com pesquisas feitas nos últimos anos, investir em experiências aumenta substancialmente as chances de levar uma vida mais feliz, mais plena de sentido e significado. Uma dessas pesquisas foi divulgada recentemente pela Universidade de Cornell, nos EUA. Liderado pelo pesquisador americano Thomas Gilovich, o estudo intitulado Uma vida maravilhosa: o consumo experimental e a busca pela felicidade mediu, durante três anos, a forma como consumidores se sentiram em relação a suas compras, em intervalos de tempo distintos. Mais de 2 mil pessoas, dos 21 aos 69 anos, participaram da pesquisa.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Dicas para fazer deste novo ano o melhor de sua vida

  1. Um objetivo. Uma das principais razões pelas quais as nossas resoluções nunca deixam de ser isso mesmo é porque traçamos demasiados objetivos, a maioria dos quais extremamente vagos. Em vez de elaborar uma lista extensa, dedique-se apenas a um objetivo. Porquê? Porque a verdade é que somos mais poderosos e capazes de concretizar o que quer que seja se estivermos focalizados apenas numa coisa de cada vez. Se tiver 10 objetivos perderá demasiado tempo a olhar para todos eles e a decidir em que direção deve partir, o que deve fazer primeiro… se tiver um único objetivo à sua frente, poderá canalizar toda a sua atenção e energia para esse objetivo. E esse é um dos grandes segredos do sucesso, seja em que área for. Neste novo ano, concentre toda a sua atenção nesse objetivo e não só o vai conseguir concretizar, como vai sentir-se maravilhosamente bem por o ter conseguido.
  2. Crie um hábito novo. Os objetivos atingem-se por via dos hábitos, por isso, neste novo ano pense naquele hábito que, praticado diariamente, o vai ajudar a conquistar aquele objetivo único que estipulou para este ano. São os passos pequenos, mas contínuos, que permitem a concretização de objetivos mais vastos e importantes. Decidido qual o novo hábito que vai adotar – tendo sempre em conta a conquista do objetivo geral para o novo ano – dedique-se durante um mês à consolidação desse hábito diário, registando o seu progresso e procurando uma rede de suporte e apoio.  
  3. Hora de agir. Fazer uma lista de resoluções e traçar objetivos é relativamente fácil – o mais difícil é concretizá-los, porque até os melhores planos se tornam obsoletos se não agir, ou seja, se não arregaçar as mãos e começar a trabalhar. A ação é tudo e de forma a poder concretizar aquele objetivo que delineou para o novo ano, tem de começar a agir hoje, agora. Depois, amanhã concretize outra ação. Aliás, deve realizar uma ação palpável, que o leve cada vez mais perto da concretização do seu objetivo, todos os dias. Trate disso diariamente, logo pela manhã – pode ser algo tão simples como fazer 2 telefonemas ou levantar-se 30 minutos mais cedo. Acima de tudo, deve considerar essa ação a mais importante do dia, todos os dias. Se o fizer, será praticamente impossível falhar a concretização do seu objetivo.
  4. Simplifique. Menos é mais e a simplicidade na vida é tudo. Se dedicar algum tempo a simplificar a sua vida de alguma forma terá, certamente, um dos melhores anos de sempre. Quando temos os nossos dias demasiado cheios, a correr de um lado para outro, o mais certo é sentirmo-nos desgastados e sem rumo – tornamo-nos menos eficazes, menos felizes. Tornar a vida mais simples mantém-nos sãos e devolve-nos o poder, a eficácia e a motivação. Pare para refletir sobre as 4 ou 5 coisas mais importantes na sua vida e depois simplifique os seus compromissos, os seus planos, objetivos e listas de afazeres para que estes se alinhem com essas 4 ou 5 prioridades.
  5. Concentre-se na felicidade. Pode parecer um verdadeiro cliché, mas se resolver concentrar-se na felicidade, será efetivamente mais feliz. Não podia ser mais simples. O que é que lhe faz feliz? Então deve ser isso o foco da sua vida. Este ano, faça da felicidade a sua grande prioridade. Depois, faça tudo o que estiver ao seu alcance para tornar essa felicidade uma realidade.
  6. Agende tempo de qualidade para si e para quem mais ama. Se estas duas coisas não constam na sua lista de 4 ou 5 prioridades, então será uma boa ideia rever essa lista – pelo menos uma das coisas prioritárias deve ser fazer algo que goste e outra deve estar relacionada com passar tempo de qualidade com as pessoas de quem mais gosta. Porquê? Porque passar tempo de qualidade consigo, a fazer algo que adora fazer, vai ainda proporcionar-lhe tempo para refletir o que, por sua vez, vai ajudá-lo a eliminar o stress da sua vida e ser mais feliz. Não tem tempo? Arranje tempo! Passar tempo de qualidade com quem mais ama é fundamental na busca pela felicidade – faça disto uma prioridade absoluta!
  7. Aprenda a concentrar-se. A concentração é crucial para que possa atingir qualquer objetivo, quer seja aquele grande objetivo que traçou para o novo ano, quer sejam aquelas pequenas metas e lutas diárias que preenchem os nossos dias. É demasiado fácil perdemo-nos numa maré de papéis, telefonemas, emails ou outras distrações como a Internet. Se se permitir a si próprio a perda de concentração, será muito mais difícil realizar os seus objetivos. Para que este possa ser o seu melhor ano de sempre, aprenda a focalizar-se. Este pode muito bem ser um dos seus novos hábitos. Comece por identificar o seu principal objetivo para o ano novo, depois as suas 4-5 prioridades. Depois, concentre-se em pleno nessas coisas, todos os dias. Todas as manhãs ou na véspera, faça uma pequena lista das “3 coisas mais importantes que tenho de fazer hoje” e faça-as, com concentração absoluta e com a força de vontade necessária para eliminar todas e quaisquer distrações. Coloque o telefone em silêncio, organize a secretária, desligue a Internet… faça o que tiver de fazer para que se possa concentrar a 100% naquilo que tem para fazer. Terminada a primeira tarefa, faça uma pausa e recompense-se. Depois, parta para a tarefa seguinte. Para quem trabalha assim, nada é impossível.