sábado, 30 de dezembro de 2023

ANTE O SUICÍDIO

Se a ideia do suicídio alguma vez te visita o pensamento, reflete no infortúnio de alguém que haja tentado inutilmente destruir a si mesmo, quando pela própria imortalidade, está claramente incapaz de morrer. Na hipótese de haver arremessado um projétil sobre si, ingerido esse ou aquele veneno, recusado a vida pelo enforcamento ou procurado extinguir as próprias forças orgânicas por outros meios, indubitavelmente arrastará consigo as consequências desse ato, a se lhe configurarem no próprio ser, na forma dos chamados complexos de culpa. 

Entendendo-se que a morte do corpo denso é semelhante a um sono profundo, de que a pessoa ressurgirá sempre, é natural que esse alguém penetre no Mundo Maior, na condição de vítima de si mesmo. Não nos é lícito esquecer que os suicidas, na Espiritualidade, não são órfãos da Misericórdia Divina, e, por isso mesmo, inúmeros benfeitores lhes propiciam o socorro possível. Entretanto, benfeitor algum consegue eximi-los, de imediato, do tratamento de recuperação que, na maioria das vezes, lhes custará longo tempo.  Ponderando quanto ao realismo do assunto, por maiores se te façam as dificuldades do caminho, confia em Deus que, em te criando a vida, saberá defender-te e amparar-te nos momentos difíceis. 

Observa que não existem provações sem causa e, em razão disso, seja onde for, estejamos preparados para facear os resultados de nossas próprias ações do presente ou do passado, em nos referindo às existências anteriores.  Cientes de que não existem problemas sem solução, por mais pesada a carga de sofrimento, em que te vejas, segue à frente, trabalhando e servindo, lançando um olhar par a retaguarda, de modo a verificar quantas criaturas existem carregando fardos de tribulações muito maiores e mais constrangedores do que os nossos. 

O melhor meio de nos premunirmos na Terra contra o suicídio, será sempre o de nos conservarmos no trabalho que a vida nos confia, porque o trabalho, invariavelmente dissolve quaisquer sombras que nos envolva a mente. E, por fim, consideremos, nas piores situações em que nos sintamos, que Deus, cujo infinito amor nos sustentou até ontem, embora os nossos erros, em nos assinalando os propósitos de regeneração e melhoria, nos sustentará também hoje.  

É CHEGADO O TEMPO

É chegado o tempo de um reajustamento de todos os valores humanos. Se as dolorosas expiações coletivas preludiam a época dos últimos “ais'” do Apocalipse, a espiritualidade tem de penetrar as realizações do homem físico, conduzindo-as para o bem de toda a Humanidade. O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos. No seu manancial de esclarecimentos, poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu, preparando-se as almas para a nova era. São chegados os tempos em que as forças do mal serão compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres, e os seus últimos triunfos são bem o penhor de uma reação temerária e infeliz, apressando a realização dos vaticínios sombrios que pesam sobre o seu império perecível. Ditadores, exércitos, hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias, organizações seculares, passarão com a vertigem de um pesadelo. A vitória da força é uma claridade de fogos de artifício. Toda a realidade é a do Espírito e toda a paz é a do entendimento do reino de Deus e de sua justiça. O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do imenso rebanho. O cajado do pastor conduzirá o sofrimento na tarefa penosa da escolha e a dor se incumbirá do trabalho que os homens não aceitaram por amor. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra. Os filhos da Jerusalém de todos os séculos devem chorar, contemplando essas chuvas de lágrimas e de sangue que rebentarão das nuvens pesadas de suas consciências enegrecidas. Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade europeia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos. Todavia, operários humildes do Cristo, ouçamos a sua voz no âmago de nossa alma: “Bem-aventurados os pobres, porque o reino de Deus lhes pertence! Bem-aventurados os que têm fome de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os aflitos, porque chegará o dia da consolação! Bem-aventurados os pacíficos, porque irão a Deus!”


(EMMANUEL, adaptado)

LUZ NAS SOMBRAS

 – Irmãos, continuemos hoje em nosso comentário acerca do bom ânimo. Não me creiam separado de vocês por virtudes que não possuo. A palavra fácil e bem posta é, muita vez, dever espinhoso em nossa boca, constrangendo-nos à reflexão e à disciplina. Também sou aqui um companheiro à espera da volta. A prisão redentora da carne acena-nos ao regresso. É que o propósito da vida trabalha em nós e conosco, através de todos os meios, para guiar-nos à perfeição. Cerceando-lhe os impulsos, agimos em sentido contrário à Lei, criando aflição e sofrimento em nós mesmos. No plano físico, muitos de nós supúnhamos que a morte seria ponto final aos nossos problemas, enquanto outros muitos se acreditavam privilegiados da Infinita Bondade, por haverem abraçado atitudes de superfície, nos templos religiosos. A viagem do sepulcro, no entanto, ensinou-nos uma lição grande e nova – a de que nos achamos indissoluvelmente ligados às nossas próprias obras. Nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para a nossa vitória ou nossa perda. A ninguém devemos o destino senão a nós próprios. Entretanto, se é verdade que nos vemos hoje sob as ruínas de nossas realizações deploráveis, não estamos sem esperança. Se a sabedoria de nosso Pai Celeste não prescinde da justiça para evidenciar-se, essa mesma justiça não se revela sem amor. Se somos vítimas de nós mesmos, somos igualmente beneficiários da Tolerância Divina, que nos descerra os santuários da vida para que saibamos expiar e solver, restaurar e ressarcir. Na retaguarda, aniquilávamos o tempo, instilando nos outros sentimentos e pensamentos que não desejávamos para nós, quando não estabelecíamos pela crueldade e pelo orgulho vasta sementeira de ódio e perseguição. Com semelhantes atitudes, porém, levantamos em nosso prejuízo a desarmonia e o sofrimento, que nos sitiam a existência, quais inexoráveis fantasmas. O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos... Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o Espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a retaguarda, por essa razão, continuam vivas. Laços de afetividade mal dirigida e cadeias de aversão aprisionam-nos, ainda, a companheiros encarnados e desencarnados, muitos deles em desequilíbrios mais graves e constringentes que os nossos. Nutrindo propósitos de regeneração e melhoria, somos hoje criaturas despertando entre o Inferno e a Terra, que se afinam tão entranhadamente um com o outro, como nós e nossos feitos. Achamo-nos imbuídos do sonho de renovação e paz, aspirando à imersão na Vida Superior, entretanto, quem poderia adquirir respeitabilidade sem quitar-se com a Lei? Ninguém avança para a frente sem pagar as dívidas que contraiu. Como trilhar o caminho dos anjos, de pés amarrados ao carreiro dos homens, que nos acusam as faltas, compelindo-nos a memória ao mergulho nas sombras?!... Druso fez ligeira pausa e, depois de significativo gesto, como que indicando a torturada paisagem exterior, prosseguiu em tom comovente: – Em derredor do nosso pouso de trabalho e esperança, alongam-se flagelos infernais... Quantas almas petrificadas na rebelião e na indisciplina aí se desmandam no aviltamento de si mesmas? O Céu representa uma conquista, sem ser uma imposição. A Lei Divina, alicerçada na justiça indefectível, funciona com igualdade para todos. Por esse motivo, nossa consciência reflete a treva ou a luz de nossas criações individuais. A luz, aclarando-nos a visão, descortina-nos a estrada. A treva, enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos erros. O Espírito em harmonia com os Desígnios Superiores descortina o horizonte próximo e caminha, corajoso e sereno, para diante, a fim de superá-lo; no entanto, aquele que abusa da vontade e da razão, quebrando a corrente das bênçãos divinas, modela a sombra em torno de si mesmo, insulando-se em pesadelos aflitivos, incapaz de seguir à frente. Definindo, assim, a posição que nos é peculiar, somos almas entre a luz das aspirações sublimes e o nevoeiro dos débitos escabrosos, para quem a reencarnação, como recomeço de aprendizado, é concessão da Bondade Excelsa que nos cabe aproveitar, no resgate imprescindível. Em verdade, por muito tempo ainda sofreremos os efeitos das ligações com os nossos cúmplices e associados de intemperança e desregramento, mas, dispondo de novas oportunidades de trabalho no campo físico, é possível refazer o destino, solvendo escuros compromissos, e, sobretudo, promovendo novas sementeiras de afeição e dignidade, esclarecimento e ascensão. Sujeitando-nos às disposições das leis que prevalecem na esfera carnal, teremos a felicidade de reencontrar velhos inimigos, sob o véu de temporário esquecimento, facilitando-se-nos, assim, a reaproximação preciosa. Dependerá, desse modo, de nós mesmos, convertê-los em amigos e companheiros, de vez que, padecendo-lhes a incompreensão e a antipatia, com humildade e amor, sublimaremos nossos sentimentos e pensamentos, plasmando novos valores de vida eterna em nossas almas. (...)


Francisco Cândido Xavier – Ação e Reação – pelo Espírito André Luiz

quarta-feira, 5 de julho de 2023

A INTOLERÂNCIA

 

O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, e consiste em não se ver

superficialmente os defeitos alheios, mas em se procurar salientar o que há de bom e

virtuoso no próximo. (E.S.E, Cap. XVIII item 18)

Precisamos romper em nós as algemas do apego à imagem que idealizamos com relação ao mundo e às pessoas. Não podemos pretender exigir de outrem aquilo que ele não pode nos oferecer. Importa aceitar e respeitar as criaturas mesmo dentro de suas limitações, mesmo quando corrompidas, criminosas ou viciadas. O amor universal a que a verdadeira caridade nos convida, consiste em vivenciar o amor em si mesmo, independente de preconceitos ou discriminações.

Aquele que só é justo com os bons, generoso com os pródigos, misericordioso com os

mansos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com as pessoas boas. Se a tolerância é uma virtude, ela vale por si mesma, e sobretudo para com as pessoas mais difíceis. Virtude que discrimina, não o é.

Tolerar consiste em não exigir; compreender e respeitar as condições ou limitações das

pessoas. Mais do que isso, tolerar não é suportar, mas encarar a todos com o pressuposto de que possuem uma essência espiritual, e enquanto tal são necessariamente dotadas de bons sentimentos, e com infinitas potencialidades latentes a serem manifestas.

Ser tolerante consiste, portanto, em eliminar a intransigência em nossas análises críticas em relação ao próximo; evitar comentários desairosos; afastar sentimentos de mágoa ou inconformação por algo contrário à nossa vontade.

Sede indulgentes, meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, corrige, enquanto o rigor desalenta, afasta e irrita. (ESE., Cap. X, item 16).

quarta-feira, 17 de maio de 2023

É urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã

Recentemente, passamos por uma pandemia que acelerou muitas mudanças num prazo muito curto; transformações que poderiam levar décadas para acontecer, mas que aconteceram em questão de meses. Em seu famoso livro Armas, Germes e Aço, o geógrafo americano Jared Diamond fala sobre três aceleradores de mudanças, que alteram rapidamente a história humana: as guerras, as pandemias e as revoluções científicas. Com a pandemia de covid-19, a tese do livro ficou bastante evidente: o mundo mudou muito em pouquíssimo tempo, e este é um caminho sem volta. Passamos a conviver com a telemedicina, a educação a distância, o home office e a produção recorde de vacinas, entre tantas outras transformações que ocorreram do dia para a noite.

As mudanças também foram muito sentidas na educação. Escolas, professores e estudantes tiveram de se adaptar a uma nova forma de ensinar e aprender, impactando diretamente o modo como crianças e jovens se desenvolveram. E essas transformações ainda não pararam por aqui: nas próximas décadas, elas tendem a se intensificar. Uma criança que está hoje na escola viverá, nos próximos 15 anos, o equivalente ao que a humanidade viveu nos últimos 150 anos. Ela crescerá numa sociedade em que será possível viver até os 150 anos graças aos avanços científicos, como os da Medicina, um acelerador mencionado por Diamond.

Diante dessas perspectivas, é urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã. Professores e profissionais da área precisam ter um olhar que considere qual a realidade que teremos adiante, pois é para este futuro que estamos formando as atuais gerações. São três perguntas fundamentais que devemos nos fazer: como será o mundo daqui a 20 ou 30 anos? Quais habilidades serão necessárias para viver neste cenário? Se a escola fosse desenhada de acordo com essas duas perguntas anteriores, como ela deveria ser?

Entretanto, é preciso que o Brasil ainda faça a lição de casa do século 20: garantir que toda criança seja alfabetizada na idade certa e aprenda com qualidade – o que já ficávamos devendo antes da pandemia e foi intensificado por ela. Por isso, será preciso atacar as duas frentes em paralelo. Ao mesmo tempo que é urgente garantir que as crianças aprendam a ler, escrever, calcular e pensar de maneira lógica – entre outras tarefas básicas da educação –, precisamos também prepará-las para estes desafios do século 21. A boa notícia, que vem da ciência, é de que aprender requer habilidades que vão além da fronteira cognitiva, mas também envolve competências socioemocionais, como resiliência emocional, persistência, foco, abertura ao novo, organização, curiosidade para aprender, entre outras, alavancas essenciais para a aprendizagem.

As dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trazem, entre seus elementos, essas competências. Mas, se nossas avaliações não conversarem com essa visão de educação e seguirem observando apenas o desempenho, como vamos saber se estamos tirando do papel este desenvolvimento que é um direito genuíno dos estudantes? Da mesma forma como valorizamos e avaliamos as habilidades de leitura e escrita, ou o nível de aprendizagem dos estudantes, precisamos também buscar formas de monitorar as novas competências necessárias para este novo mundo, pois todos esses aspectos do desenvolvimento são igualmente fundamentais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

CRIANÇAS COM DOENÇAS DE ADULTOS

Desde que a infância tem sido encurtada, há décadas, as crianças passaram a ter contato direto e irrestrito com o mundo adulto. Isso tem um preço: os mais novos passaram a manifestar bem mais algumas doenças típicas em adultos, como hipertensão arterial, problemas no trato digestivo e diabete. Isso é compreensível: a exposição quase que diária a crueldade, violência e todo tipo de adversidade que existe no mundo adulto trouxe às crianças noções de grande risco e perigo a elas mesmas e aos pais, o que pode afetar tanto a saúde física delas quanto a mental.

Medos de sequestro relâmpago, de assalto, de ser assassinado, de cair de um prédio e de morrer foram relatados por crianças com sintomas sérios de ansiedade. Por causa da pandemia, mães, pais e professores têm percebido um grande número de crianças com medos semelhantes a esses e sinais claros de ansiedade: dor de barriga, náuseas, grandes preocupações, taquicardia, transpiração excessiva, dificuldades no sono e na concentração e atenção, entre outros, e principalmente sofrimento psíquico.

Como consequência, elas apresentam dificuldades em várias situações e o relacionamento com colegas e família e o aprendizado escolar podem ficar prejudicados. Aliás, a ansiedade excessiva pode atrapalhar o desenvolvimento geral da criança e afetar não apenas o seu presente, mas seu futuro também.

Algumas escolas têm recorrido a práticas para ajudar o alunado a enfrentar os sintomas de ansiedade. Ioga e meditação diariamente, por exemplo, já estão presentes em diversas instituições escolares; modalidades corporais também têm apresentado efeitos positivos. Em alguns casos, é preciso apoio profissional na área de saúde mental. Para identificar tal necessidade, nada como conhecer o filho para perceber se a permanência dos sintomas é grande, com duração de meses, e pedir a opinião do pediatra que acompanha a criança regularmente. Dá para prevenir a ansiedade em excesso? Podemos, de um modo geral, adotar práticas educativas que colaboram bastante com os mais novos nesse sentido.

Saber identificar e nomear as emoções vivenciadas e aprender a boa convivência, que fazem parte da chamada educação socioemocional, são componentes importantes para a manutenção da saúde mental. Autoconhecimento e autocuidado são pontos de extrema importância para a manutenção da saúde física e mental dos mais novos. Precisamos insistir e persistir nesses ensinamentos a eles.