segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Há recursos suficientes para a educação?

Considerando a nossa carga tributária e a capacidade brasileira de gerar riquezas -o Brasil é hoje a nona maior economia do mundo-, seguramente não deveriam faltar recursos para educarmos nossas crianças, desde que as verbas fossem adequadamente priorizadas e administradas. Contudo, a cada dia ficamos estarrecidos com mais casos de corrupção, malversação de dinheiro e assalto aos cofres públicos.
A situação se agrava ainda mais ao assistirmos corruptos condenados cumprirem penas mínimas e serem soltos pelo Supremo Tribunal Federal. Não obstante, temos um enorme contingente que nem sequer foi julgado, graças ao absurdo mecanismo do foro privilegiado, que nada mais faz do que abarrotar o STF. Além de subtrair recursos públicos fundamentais da educação, essas pessoas espúrias submetem nossas crianças a péssimos exemplos de comportamento.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil gasta anualmente US$ 3,8 mil (R$ 12,2 mil) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental. A cifra representa menos da metade da quantia média desembolsada por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8,7 mil (R$ 27,9 mil).
Nos anos finais dos ensinos fundamental e médio, a situação não é diferente. O Brasil gasta, por ano, a mesma soma de US$ 3,8 mil (R$ 12,2 mil) por aluno desses ciclos e ocupa, assim, um dos últimos lugares entre os 39 países que forneceram dados para a organização. Nos últimos anos, essas nações investiram, em média, US$ 10,5 mil (R$ 33,7 mil) por aluno, o que representa 176% a mais do que o gasto brasileiro.
Esse estado de coisas tem de mudar rapidamente. Há que se louvar e aplaudir aqueles que estão lutando para desbaratar essas quadrilhas de corruptos, apesar de sabermos que essa é uma tarefa árdua, principalmente porque há indícios da perpetuação desse modelo de corrupção por estados e municípios em todo o país. Esses esquemas subtrairiam, não se sabe ao certo, bilhões de reais, não só da educação.
Se quisermos ser uma nação desenvolvida e competitiva, é urgente reestruturar o nosso programa educacional. E permanecer no caminho de combate à corrupção, sem esmorecer e de forma inflexível, é um grande passo para alcançar esse objetivo.
Se quisermos nos transformar num país evoluído econômica e socialmente temos de, inexoravelmente, cuidar para que nossas crianças sejam educadas e preparadas para viver e vivenciar uma nação diferente, onde todas tenham oportunidades equânimes de adquirir conhecimentos com qualidade, e possam aprender a viver harmonicamente numa sociedade com valores éticos, morais, respeito ao meio ambiente e, principalmente, aos seus semelhantes.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A importância do vínculo entre professor e criança

No contexto da educação infantil, o vínculo criado entre educador e criança é tão importante quanto outros parâmetros considerados primordiais pelos referenciais de qualidade. É por meio da construção de uma relação afetiva acolhedora que a criança se sente segura e disponível para as atividades entre pares e o consequente desenvolvimento de suas possibilidades.
O vínculo é uma relação afetiva preferencial que se estabelece entre o aluno e seu professor. E à medida que cresce, a criança amplia o forte apego dos primeiros anos de vida aos pais para outras pessoas e o apego passa então a ser chamado de vínculo. Nesse contexto, o vínculo é uma relação em que o professor passa a ser uma espécie de amigo preferido no espaço escolar.
O vínculo é, sim, uma relação afetiva, mas não significa bajular, dar beijos ou passar a mão na cabeça da criança, no sentido da superproteção, mas fazê-la sentir-se segura, valorizada e acolhida no ambiente escolar.
É fácil perceber se há vínculo entre a criança e seu educador. A busca de proximidade é o maior sinal de que o vínculo foi instaurado. Há vínculo se a criança procura o professor, confere suas dúvidas com ele. Se ela evita o professor e fica retraída em sala é porque não tem nele seu porto seguro.
Outra evidência da presença ou da falta de vínculo é a vontade que a criança tem de ir à escola. O normal é que a criança ame ir à escola. Se chora e não quer ir, há um desajustamento que pode significar a falta de vínculo. A criança não se sente protegida, acolhida.
Uma das funções do vínculo é exatamente dar a sensação de proteção e conforto para a criança, cujo primeiro impulso é transferir para o professor a relação de segurança que teria com a mãe. Nesse momento, o educador é o mediador afetivo da criança nesse espaço escolar, e quem facilita sua adaptação. No caso de uma criança que chora e não quer entrar no ambiente desconhecido, quando estabelece esse vínculo afetivo, ela passa a entender que neste espaço o educador cuida, protege e sana suas necessidades, ele é o substituto da mãe.
O primeiro papel do vínculo é favorecer a adaptação da criança na creche ou na escola, mas não se encerra por aí. Um segundo aspecto é a mediação com o conhecimento. O educador lida com esta acolhida afetiva que a criança tem de ter e, por outro lado, com a ampliação dos horizontes e a aquisição de novos conhecimentos. A creche ou a escola são mundos muito novos e distantes da realidade vivida pela criança até ali. Há outras regras, horários, espaços e modos de funcionamento, assim como estímulos diversos – de socialização, habilidades motoras, artísticos e contato com a língua. O educador viabiliza a entrada da criança em todo este universo do conhecimento.

Se há no espaço escolar todo um mundo a descobrir, a criança precisa do vínculo para sentir que o espaço é afetivo e lidar bem com os novos desafios. Se não tiver segurança afetiva, ela se encolhe, se protege e não se lança à aventura da brincadeira e da expressão. Ela vai se retrair e não vai se envolver, o que afeta seu aprendizado no curto e no longo prazo.