sábado, 23 de julho de 2011

Qual é o melhor método de ensino?

A questão da metodologia na educação tem sido muito discutida. Devemos ter uma escola tradicional ou construtivista? Engraçado como gostamos de dividir o mundo em dois, quando na verdade há incontáveis possibilidades.

Se digo para as pessoas que não ensino o método científico, elas estranham. Estranho, para mim, é dizer "método científico", assim, no singular. Não dá para achar que um químico segue o mesmo método que um astrólogo ou um historiador. O que há em comum, se é que há, são alguns princípios que norteiam a produção do conhecimento científico. A partir deste princípios, os pesquisadores criam ou copiam métodos consagrados. Isto é ciência. Não há um único método científico.

E na educação? Faz sentido a pergunta do título? Eu não creio. Qualquer professor minimamente experiente já aprendeu que o melhor método é variar os métodos. Discutir é bom? Claro, mas discutir toda a aula pode deixar as conclusões pouco consistentes. Aula expositiva é bom? Claro, principalmente se você tem algo importante e complexo para dizer. Passar vídeo ajuda? Sem dúvida, mas imagine se os alunos ficarem a manhã inteira vendo vídeos. Os que não dormissem seriam adestrados pela TV, ao invés de serem educados.

Ou seja: conheça muitos métodos. Saiba as possibilidades e limitações de cada um. Escolha um ou outro em virtude de seus objetivos pedagógicos, da dinâmica da classe, do tempo, logística, etc. Nao se limite a uma única forma de ensinar, pois não é assim que se aprende. O corpo "foi feito para" aprender num mundo cheio de coisas diferentes.

A própria questão da indisciplina escolar, por exemplo, está ligada a esta repetição de métodos (ou de objetivos, ou de conteúdos). Pelo menos é isso que aprendi em minha experiência como professor.

Para terminar, algumas palavras do mestre Deleuze, criador do conceito filosófico de "rizoma" (grifo meu):

"Aprender é o nome que convém aos atos subjetivos operados em face da objetividade do problema (idéia), ao passo que saber designa apenas a generalidade do conceito ou a calma posse de uma regra das soluções. (...)

Nunca se sabe de antemão como alguém vai aprender - que amores tornam alguém bom em latim, por meio de que encontros se é filósofo, em que dicionários se aprende a pensar. (...)

Não há método para encontrar tesouros nem para aprender, mas um violento adestramento, uma cultura ou paideia que percorre inteiramente todo o indivíduo (um albino em que nasce o ato de sentir na sensibilidade, um afásico em que nasce a fala na linguagem, um acéfalo em que nasce pensar no pensamento)"

DELEUZE, GILLES. (1968) Diferença e repetição. Ed Graal, pgs. 236-37

Apologia do giz

Se criticar é fácil, criticar uma escola é mais fácil ainda. A escola é um ninho de contradições. Muitos dizem, por exemplo "Ih, essa escola ainda está no século 19, ainda usam giz e lousa."

Bem, em primeiro lugar, precisamos ter mais respeito com o século XIX. Mas a questão aqui é outra. É a modernização do ensino, a melhora, o upgrade, o "plus", o novo, o "mais evoluído". É a briga do datashow contra o giz. De hollywood contra o contador de estória.

Vou admitir aqui, publicamente, sem vergonha alguma: sou um usuário de giz. Completamente viciado. Não consigo entrar em uma aula sem aquela caixinha de bastões coloridos com um pedaço de carpete na tampa. Nada contra os computadores, muito pelo contrário, eles são ótimos. Fazem de tudo, se você ensinar direito.

E é essa justamente a vantagem do giz. Ele não precisa que você ensine nada. Está lá, livre em sua simplicidade, pronto para responder a qualquer idéia maluca que venha do professor ou dos alunos. Ou uma dúvida mais complexa, um comentário interessante. O giz é a prova de que estamos realmente vivendo uma vida, interagindo com as pessoas, e não fazendo download em massa de conteúdos para um vestibular platônico.

Algumas lousas, é verdade, atrapalham o poder esclarecedor do giz, quando são ruins de escrever ou apagar. Algumas mãos também podem atrapalhá-lo. Mas isto não por incapacidade, mas por falta de respeito. Não se pode tratar o giz como uma caneta ou pedaço de carvão. Precisamos usá-lo como um pintor faz com o pincel, com precisão, sabedoria, intuição, criando uma pequena realidade para que alguns olhos a vejam. Com este simples bastão de gesso, a cultura pode ser criada ao vivo, na frente dos alunos, interagindo de fato com eles.

Um giz não pode ser confundido com uma máquina de xeróx, fazendo cópia de coisas que já estavam no papel. Isto é um completo desrespeito à sua natureza. O giz é a antítese da máquina de xeróx. Ele é o aqui e o agora, o efêmero, o registro escrito do tempo de uma aula. O xeróx é a cópia, o igual. Se diz que o professor de escola pública usa muito o giz como se fosse xeróx. Não sei se é realmente o caso, mas de qualquer forma precisamos antes nos perguntar. O professor de escola pública pode tirar xeróx? Como isso acontece na prática?

Bem, se o giz não é xeróx nem hollywood, todo seu poder criativo vem da mão que o segura. E esta é sua grande qualidade. Por trás de um giz que é usado como giz, há um ser humano que continua se esforçando para ser humano.

Tipos de professor que todos conhecem

  • Todo curso tem que ter um professor chato. Ninguém gosta dele. Normalmente é o cara que no final todo mundo tem que admitir que aprendeu muito com ele.
  • Tem professor que o cara é simplesmente um artista. Dá aula como se estivesse representando uma peça de Shakespeare;
  • Tem aqueles professores atualizados, que sabem de tudo e passam a aula inteira falando do que viu, conclusão, informação sim e matéria não.
  • Tem aquele antigo o famoso dinossauro. Saudosista, fica toda hora citando casos da época que vc nem havia nascido e achando que vc está interessado
  • Tem aquele maluco, toda escola tem pelo menos um. O cara é doidão,mas é muito inteligente. Quase sempre é o professor + popular entre os alunos.
  • Tem uns que vivem fazendo piada sem graça durante a aula. Até p/ te reprovar ele tem uma piada na manga: “Eu falei p/ estudar e ñ estudou…se ferrou!"
  • E o professor aluno: Olha pessoal, eu não estou aqui p/ ensinar. Estou aqui p/aprender com vocês!?
    Aí você pensa: Então vou querer uma parte do seu salário!

sábado, 9 de julho de 2011

Diretor e coordenador: aliança pela qualidade

Em todas as regiões do Brasil, diretores e coordenadores pedagógicos dizem cultivar uma relação harmoniosa e propícia ao bom desenvolvimento das atividades escolares. Essa é uma das conclusões da pesquisa O Coordenador Pedagógico e a Formação de Professores: Intenções, Tensões e Contradições, encomendada pela Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC). Contudo, uma das ações mais importantes para que a escola cumpra seu papel de ensinar a todos com qualidade - a formação continuada de professores - ainda necessita de mais atenção por parte da dupla gestora. "Apesar de cada um pensar a gestão sob diferentes perspectivas, ambos têm de compreender que são responsáveis por um mesmo objetivo, que é a aprendizagem", afirma Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR.

Para afinar os ponteiros e avançar rumo a esse horizonte comum, é preciso que a direção garanta as condições básicas para a formação continuada (confira no check-list se a escola oferece boa infraestrutura para o coordenador realizar o seu trabalho). Uma delas é a reunião periódica que deve acontecer entre os gestores. O ideal é que os encontros sejam semanais e que aconteçam em um ambiente tranquilo. "Conversar com pressa, em pé, na porta da diretoria, não resolve nada. O ritual dos encontros deve ser encarado com profissionalismo, do começo ao fim. Afinal, trata-se de um momento de tomada de decisões", alerta Maura.

O primeiro passo é estabelecer o cronograma de trabalho e depois pensar nas pautas das reuniões. Não podem ficar de fora temas como: aprendizagem, as demandas dos professores para que possam ensinar melhor, a movimentação dos alunos, os assuntos que devem ser levados ao conselho escolar, o planejamento e o acompanhamento dos projetos institucionais, a condução das reuniões de pais, os formatos escolhidos para divulgar interna e externamente o trabalho da escola e prestar contas à comunidade e as semanas de planejamento e avaliação.

É natural que os aspectos abordados estejam mais ou menos relacionados à atuação de cada um. Torna-se fundamental, portanto, que ambos levem para a discussão todos os elementos que estiverem sob sua alçada. O diretor, por exemplo, pode tabular os números da movimentação escolar (matrículas, frequência, evasão, repetência e distorção idade-série) e compartilhá-los com o coordenador. Já quem trabalha na coordenação costuma estar mais por dentro das questões didáticas e é interessante compartilhar resultados, problemas e dúvidas com a direção.

Coordenador pedagógico: um profissional em busca de identidade

Em algumas redes de ensino, ele é chamado de orientador, supervisor ou, simplesmente, pedagogo. Em outras, de coordenador pedagógico, que é como GESTÃO ESCOLAR sempre se refere ao profissional responsável pela formação da equipe docente nas escolas. Nas unidades que contam com sua presença, ele faz parte da equipe gestora e é o braço direito do diretor. Num passado não muito remoto, essa figura nem sequer existia. Começou a aparecer nos quadros das Secretarias de Educação quando os responsáveis pelas políticas públicas perceberam que a aprendizagem dos alunos depende diretamente da maneira como o professor ensina.

Diante desse cenário, a Fundação Victor Civita (FVC) decidiu descobrir quem é e o que pensa esse personagem relativamente novo no cenário educacional brasileiro, escolhendo-o como tema de uma pesquisa intitulada O Coordenador Pedagógico e a Formação Continuada de Professores: Intenções, Tensões e Contradições. Realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC), sob a supervisão de Cláudia Davis, o estudo teve a coordenação de Vera Maria Nigro de Souza Placco e de Laurinda Ramalho de Almeida, ambas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e de Vera Lúcia Trevisan de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Graças a ela, fizemos esta edição especial, com reportagens e seções tratando de temas relativos à coordenação pedagógica.

Uma das principais conclusões da pesquisa é que, apesar de ser um educador com experiência, inclusive na função(saiba mais sobre o perfil desse profissional no quadro abaixo), ainda lhe faltam identidade e segurança para realizar um bom trabalho. Ele se sente muito importante no processo educacional, mas não sabe ao certo como agir na escola frente às demandas e mostra isso por meio de algumas contradições: ao mesmo tempo em que afirma que sua atuação pode contribuir para o aprendizado dos alunos e para a melhoria do trabalho dos professores, não percebe quanto isso faz diferença nos resultados finais da aprendizagem (veja mais no quadro da próxima página). "A identidade profissional se constrói nas relações de trabalho. Ela se constitui na soma da imagem que o profissional tem de si mesmo, das tarefas que toma para si no dia a dia e das expectativas que as outras pessoas com as quais se relaciona têm acerca de seu desempenho", afirma Vera Placco.

O que é Síndrome de Down?

A Síndrome de Down é definida por uma alteração genética caracterizada pela presença de um terceiro cromossomo de número 21, o que também é chamado de trissomia do 21. Trata-se de uma deficiência caracterizada pelo funcionamento intelectual inferior à média, que se manifesta antes dos 18 anos. Além do déficit cognitivo e da dificuldade de comunicação, a pessoa com Síndrome de Down apresenta redução do tônus muscular, cientificamente chamada de hipotonia. Também são comuns problemas na coluna, na tireoide, nos olhos e no aparelho digestivo. Muitas vezes, a criança com essa deficiência nasce com anomalias cardíacas, solucionáveis com cirurgias.

A origem da Síndrome de Down é de difícil identificação e engloba fatores genéticos e ambientais. As causas são inúmeras e complexas, envolvendo fatores pré, peri e pós-natais.

A Síndrome de Down na sala de aula

A primeira regra para a inclusão de crianças com Down é a repetição das orientações em sala de aula para que o estudante possa compreendê-las. "Ele demora um pouco mais para entender", afirma Mônica Leone Garcia, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. O desempenho melhora quando as instruções são visuais. Por isso, é importante reforçar comandos e solicitações com modelos que ele possa ver, de preferência com ilustrações grandes e chamativas, com cores e símbolos de fácil compreensão.

A linguagem verbal, por sua vez, deve ser simples. Uma dificuldade de quem tem a síndrome, em geral, é cumprir regras. "Muitas famílias não repreendem o filho quando ele faz algo errado, como morder e pegar objetos que não lhe pertencem", diz Mônica. Não faça isso. O ideal é adotar o mesmo tratamento dispensado aos demais. "Eles têm de cumprir regras e fazer o que os outros fazem. Se não conseguem ficar o tempo todo em sala, estabeleça combinados, mas não seja permissivo."

Mantenha as atividades no nível das capacidades da criança, com desafios gradativos. Isso aumenta o sucesso na realização dos trabalhos. Planeje pausas entre as atividades. O esforço para desenvolver atividades que envolvam funções cognitivas é muito grande. Às vezes, o cansaço da criança faz com que as atividades pareçam missões impossíveis. Valorize sempre o empenho e a produção. Quando se sente isolada do grupo e com pouca importância no trabalho e na rotina escolares, a criança adota atitudes reativas, como desinteresse, descumprimento de regras e provocações.

Dia Internacional da Síndrome de Down

Em 2006, a associação Down Syndrome International instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data foi escolhida por ser grafada como 21/3, que faz alusão à trissomia do cromossomo 21.

sábado, 2 de julho de 2011

‘Eu, particularmente’ é uma expressão redundante?

“Tenho uma implicância terrível com a expressão ‘eu, particularmente’, que muitos usam em entrevistas televisadas para expressar opinião sobre determinado tema. Esta é uma expressão aceita na nossa linguagem? (Giselda de Sales Bicalho)

“Ouço algumas pessoas, principalmente quando vão dar opinião sobre um assunto qualquer, iniciarem a frase assim: ‘Eu, pessoalmente, acho que…’ ou ‘ Eu, particularmente, acho que…’. Gostaria de saber se tal construção configura uma redundância. Pois acho que se é minha opinião, só pode ser pessoal ou particular, dispensando então o ‘pessoalmente’ ou ‘particularmente’.” (Miguel Gomes)

A implicância de Miguel e Giselda é compreensível: andam sem dúvida abusando da expressão “eu, particularmente (ou pessoalmente)”. No entanto, eu (particularmente?) não condenaria essa construção de modo sumário como mero vício de linguagem e redundância sem sentido. Dependendo do contexto, ela pode ser funcional.

Trata-se de uma introdução que estabelece um segundo nível de opinião, mais pessoal, contra outro que se poderia chamar de público. Quem diz “eu, particularmente, sempre dirigi muito bem depois de tomar dois chopes” pode, sem cair em contradição, emendar: “Mas apoio inteiramente a Lei Seca”. Da mesma forma, o deputado que defende o apoio de toda a bancada a alguma posição tomada por seu partido pode acrescentar que, “particularmente”, pensa um pouco diferente, mas considera a lealdade um valor maior.

São apenas dois exemplos. A vida é cheia de situações assim. Isso não quer dizer que todas as ocorrências de “eu, particularmente” sejam tão bem fundamentadas. Pelo contrário: o fato de dois leitores terem aparecido aqui com a mesma dúvida prova que a expressão se tornou, no mínimo, um modismo. É aí que reside o verdadeiro risco, a meu ver: menos numa possível redundância do que na repetição irrefletida de clichês, um pecado a que todos estamos sujeitos.

O que o picareta tem a ver com a picareta?

A pergunta acima tem mais de uma resposta. Se dermos crédito ao etimologista brasileiro Silveira Bueno, o único em quem encontrei uma tese sobre o assunto, a relação é simples: o picareta teria vindo diretamente da picareta, por sentido figurado. Em outras palavras, a acepção de “pessoa embusteira, aproveitadora, que recorre a expedientes acanalhados para se dar bem”, um brasileirismo consagrado mas de datação imprecisa, seria uma extensão do primeiro sentido da palavra, existente na língua portuguesa desde o século 16 – o de “instrumento próprio para cavar a terra e revolver pedras”. E como se chegou a isso? Por metáfora, é o palpite de Bueno, que se baseia na ideia de que o picareta “em tudo mete a cara para cavar dinheiro, emprego”. O picareta seria então o cavador. Ponto final?

Não. A segunda resposta possível à pergunta do título é um pouco menos simples, mas talvez mais completa. Embora esteja fora de questão que o picareta (enganador) é uma extensão de sentido do vocábulo picareta (instrumento), a hipótese que lanço aqui é a de que essa ampliação semântica não se deu por metáfora e sim por influência da palavra pícaro, que quer dizer justamente “ardiloso, trapaceiro, velhaco”. Hoje de uso restrito aos estudos literários, o pícaro ou personagem picaresco (termos do século 17) já gozou na linguagem comum de uma circulação proporcional à do gênero de literatura popular que representava. E é um sinônimo praticamente perfeito de picareta.

Uma curiosidade adicional é que, embora pícaro seja considerado por muitos estudiosos uma palavra de origem obscura, há quem acredite que o espanhol, de onde a importamos, a retirou da mesma matriz de onde saiu a picareta: o verbo picar.