quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A voz do Natal!! Perguntas para você...

OI!
Gostaria de falar com você...
Será que você realmente merece ter um bom Natal...?
O que você fez do seu ano?
Será que o seu Natal mais uma vez vai se resumir a beber e comer muito?
Reunião em família e o Espírito do Natal se resumem a baladas com amigos?
Faça uma verdadeira reflexão sobre o Natal:

Estamos a poucos dias de comemorarmos
a data que deveria ser o maior acontecimento dos tempos:
o nascimento de Jesus.
Há, porém, uma tristeza indelével pairando no ar.
Pessoas que vão e vêm pelas ruas,
preocupadas apenas com os presentes que irão oferecer
aos filhos, pais, parentes ou amigos.
Outros, porém existem,
que sofrem nesse dia a perda irreparável de entes queridos
que não irão estar presentes às comemorações,
esquecendo-se de que a vida é eterna
e que só morremos realmente,
quando deixamos de acreditar em nossos sonhos.
Alguns sofrem por estarem longe
de seus filhos, pais ou irmãos que estão distantes.
Há aqueles que sofrem por não terem condições financeiras
de oferecer aos filhos o tão esperado
presente de “Papai Noel”
e talvez nem mesmo dinheiro possuam
para comprar um alimento
para ser servido à mesa no dia de Natal.
E o verdadeiro sentido desta data, onde entra?
Jesus não veio ao mundo para que
seu nascimento fosse comemorado
com bens materiais.
Jesus veio ao mundo para que nossa visão de vida
ganhasse um novo sentido de esperança.
Veio nos ensinar a deixar de lado nosso egoísmo;
veio nos ensinar o amor ao próximo,
mas não aquele amor que só ama
aos que realmente estão próximos a nós;
isso é fácil!
Jesus veio nos ensinar que devemos
estender nossa visão para além daquilo
que conseguimos enxergar.
E existe muito, muito mesmo o que se ver.
Pessoas se preocupam demais
com coisas que vistas pelo lado espiritual,
perdem sua importância.
Jesus veio pregar o amor, a compreensão,
o desapego, a caridade e a solidariedade.
Amor que deve se estender a todos os seres vivos.
Desapego aos bens materiais,
porque ao nascer não trazemos nada nas mãos,
a não ser o desejo de aprender e crescer espiritualmente
e ao partir levamos apenas as nossas experiências de vida.
Solidariedade e caridade para com o irmão
necessitado do pão para seu corpo sim,
mas muito mais do pão para sua alma.
E essa solidariedade e caridade,
não devem ser praticadas apenas no decorrer
das festividades de Natal e Ano Novo.
Devem ser postas em prática a vida inteira,
assim como Jesus nos ensinou.
Pessoas existem
que se confraternizam nesta época do ano,
se perdoam mutuamente as ofensas trocadas,
apertam as mãos, se abraçam, cantam,
bebem e riem juntos,
mas no dia seguinte, quando a vida volta ao normal,
todas as promessas são esquecidas
e cada qual retoma sua vida
e seus propósitos se dissolvem no ar feito fumaça.
O mesmo egoísmo volta a dominar suas vidas.
O Natal é uma data bonita que deve ser comemorada
com a alma, com alegria, com amor.
Jesus nasceu com o objetivo claro e único
de dar a vida por nós, para nos salvar.
Vamos procurar mostrar a Ele
que seu sacrifício não foi em vão.
Pense nisto:
vamos procurar fazer deste Natal
não apenas mais uma data em que trocaremos presentes,
abriremos champanhe e brindaremos
junto aos nossos mas, sim,
uma data de renovação de nossos propósitos de vida
e de renascimento interior.
FELIZ NATAL!


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Opulência e desigualdade

O Brasil tem 12% da água doce do planeta, mal distribuída porém

O Brasil mantém uma posição privilegiada no cenário mundial: detém cerca de 12% da água doce superficial do planeta, enquanto regiões da Europa, como Portugal e Espanha, além de Oriente Médio e grande parte da África, lutam contra a escassez crônica do produto. A distribuição pelo território brasileiro é, porém, desigual. A Amazônia derrama no mar 78% da água superficial do Brasil, com um excedente hídrico que atrai a cobiça global. O Sudeste fica com apenas 6%, o que representa um grande déficit, pois tem de irrigar quase metade da produção agrícola do País e dar de beber a cerca da metade dos 190 milhões de brasileiros, além de fornecer água para mover 50% do Produto Interno Bruto industrial. Isso coloca a região em um patamar crítico, com menos de 10% do volume de água por habitante preconizado pelas Nações Unidas, ou apenas 200 metros cúbicos por segundo/ano.

O cenário coloca algumas áreas de São Paulo sob o risco de perder investimentos industriais e pressiona as empresas de saneamento e distribuição a lançar mão de criatividade. Um exemplo é o Polo Petroquímico de Capuava, na região de Mauá, que vai receber mil litros de água de reúso por segundo para manter sua capacidade operacional, pois não há mais disponibilidade de água tratada potável no entorno. É um volume suficiente para abastecer a população de uma cidade de cerca de meio milhão de habitantes como a de Santos.

Com as alterações no clima a provocar um grande desequilíbrio na distribuição das chuvas, a capacidade dos ecossistemas em recompor suas reservas tem sido prejudicada. Cresce o risco de aumentar a desertificação no Nordeste, enquanto no Sul, regiões tradicionalmente ricas para a agricultura, como os pampas gaúchos, não conseguem mais manter uma produção estável.

A divisão da água no Brasil é ainda desigual em relação aos usos e às responsabilidades de cada setor. A agricultura fica com cerca de 70% da água captada em mananciais, usada muitas vezes sem o devido cuidado em relação às técnicas de irrigação, além de deixar escorrer novamente para os cursos d’água uma grande quantidade de produtos utilizados como fertilizantes e defensivos agrícolas. Na verdade, venenos que precisarão ser retirados em seu próximo uso, em estações de tratamento que vão enviar água encanada às residências e indústrias.

A cadeia de uso da água é pouco comprometida com a qualidade nos mananciais e rios, onde a preocupação se dá mais em relação à infraestrutura de escoamento do que com foco na qualidade física da água. Rios assoreados provocam enchentes e comprometem, por exemplo, a capacidade de geração de energia elétrica em seus cursos.

O descaso com a qualidade das águas de rios e costeiras, que absorvem a maior parte da carga de resíduos e esgotos das cidades brasileiras, e na maior parte do mundo, prejudica também a capacidade dos ecossistemas em sustentar as áreas de reprodução e pesca de grande parte das espécies de peixes de uso comercial e na alimentação humana. Mesmo com um volume de consumo considerado pequeno, com 6,4 quilos por habitante/ano, ante 13,3 quilos da média mundial, o Brasil tem uma produção pesqueira de 1,05 milhão de toneladas, das quais mais da metade são extrativistas e dependem da qualidade dos ecossistemas para manter a produtividade.

A fragilidade dos biomas aquáticos coloca em risco o crescimento da exploração pesqueira. Entre 1961 e 2001, o consumo mundial de pescado mais do que triplicou – de 28 milhões para 96 milhões de toneladas–, levando os cientistas a alertarem para o iminente esgotamento desses recursos. O alerta feito em 2006 por um grupo de pesquisadores da Universidade Dalhousie, no Canadá, estimou um prazo de 40 anos para que “os estoques de peixes e frutos do mar pescados para a alimentação humana entrem em colapso se nada for feito para conter a perda da biodiversidade marinha”.

Como se pode ver, a complexidade da gestão de recursos hídricos não é apenas um problema local, relacionado ao abastecimento e à saúde pública. Seus reflexos são diversos e globais. Na área de saúde existe um número considerad­o mágico pelas autoridades, de que cada dólar aplicado em saneamento se reflete em uma economia de 5 dólares em tratamentos posteriores. A comparação estimulou uma grande campanha do Programa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, lançado pelas Nações Unidas em 2000, no qual se propõe que até 2015 o acesso à água potável esteja praticamente universalizado no mundo. Segundo a Unicef, quase 40% da população mundial, ou 2,6 bilhões de seres humanos, continuam sem acesso à coleta e ao tratamento de esgotos.

No Brasil os números do saneamento básico deixam muito a desejar. Cerca de 87% dos brasileiros têm acesso à água tratada, mas menos de 70% podem comemorar o luxo de ter seu esgoto coletado. Só 25% podem ver seus dejetos diluí­dos em estações de tratamento antes de ser lançados nos rios, lagos e mares. É a média nacional. No Sudeste, o índice de coleta é de 91,4%. No Norte, não chega a 9% das habitações. Para o secretário de Recursos Hídricos e Meio Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Luciano Zica, o desequilíbrio vem da falta de definições de prioridades para o setor ao longo de diversos governos.

O governo federal lançou, em 2006, o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que tem metas definidas até 2011 e propôs compromissos com a qualidade da água no Brasil até 2020. Os principais objetivos são melhorar a disponibilidade, a qualidade e a quantidade de água dos mananciais superficiais e subterrâneos; reduzir os conflitos reais e potenciais em relação ao uso e trabalhar para reduzir os impactos de eventos climáticos extremos causados pela água e buscar a conservação da água como um valor socioambiental relevante. Muitos desses objetivos estão contemplados em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê investimentos de 40 bilhões de reais.

Segundo a ONG Trata Brasil, que acompanha os investimentos em Sanea­mento no País por meio do Projeto De Olho no PAC, após três anos, menos de 20% dos recursos contratados foram realmente investidos. O De Olho no PAC monitorou, durante um ano, uma amostra representativa das obras – 101 contratos de saneamento nos municípios com mais de 500 mil habitantes. Em termos de recursos, a amostra selecionada pelo Trata Brasil totaliza 2,8 bilhões de reais de investimentos.

Para Raul Pinho, presidente do Instituto Trata Brasil, os diversos entraves identificados pelo acompanhamento estão relacionados à falta de cumprimento efetivo da legislação, necessidade de aumento da eficiência dos processos, maior valorização da etapa de projeto, melhor coordenação das ações da administração pública entre os níveis municipal/estadual e federal, além de incentivos à qualificação/atualização dos profissionais envolvidos. A retomada dos investimentos é fundamental para garantir a oferta de água de qualidade a um custo menor nos investimentos das empresas para a produção industrial ou para o abastecimento doméstico.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Brincando com os números

O educador brasileiro Malba Tahan publicou, em 1962, uma obra em dois volumes intitulada Didática da Matemática, na qual discute várias questões relativas ao ensino desta cátedra. Por exemplo: a relação da matemática com as outras ciências, os fatores que interferem em sua aprendizagem, o método heurístico, o papel do laboratório e dos jogos e recreações no seu ensino. Segundo Malba Tahan, qualquer que seja o método adotado pelo professor, o jogo pode figurar entre as atividades mais úteis à aprendizagem, particularmente porque se trata de uma atividade que desperta “alto coeficiente de interesse”, seja pela forma curiosa como são enunciadas, seja pela maneira arguta como são resolvidas. Logo, é importante que o professor procure praticar em sala jogos que interessem e agradem aos alunos.

O sudoku é um jogo que pode despertar interesse dos adolescentes. É raro um professor de matemática que não tenha se deparado com alguns de seus alunos resolvendo um sudoku ou lhe inquirindo sobre estratégias de resolução. Algo parecido com o que também acontece com o cubo mágico. O sudoku é um jogo que traz em si uma série de elementos próprios da matemática como: estratégia de resolução, desenvolvimento lógico, cálculo mental, levantamento de hipóteses, persistência e validação, entre outros. Além disso, como jogo, permite certas dinâmicas de competição e cooperação. Para os autores dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), o aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver. O presente artigo visa discutir uma possibilidade do uso do sudoku em sala de aula de matemática, partindo de sua concepção mais simples que é a dos quadrados mágicos.

O quadrado mágico A palavra diagrama é de origem grega (diágramma, atos) que significa “o que se representa por desenho ou forma escrita”. Podemos imaginar que todo diagrama matemático é composto de três aspectos: o aritmético, o geométrico e o algébrico. A linguagem aritmética, o cálculo operacional, está expresso no diagrama diretamente pelos números e suas operações. A linguagem geométrica se refere à forma e se manifesta na posição que estes números ocupam na figura retangular, ocupan¬do posições entre linhas e colunas que guardam entre si uma determinada lógica. Já a linguagem algébrica pode não ser visível imediatamente, mas ela está presente nos possíveis valores numéricos que cada lacuna do diagrama pode ter, respeitadas as regras do jogo. Ela precisa ser deduzida a partir das duas anteriores: a aritmética dá pistas sobre o processo de cálculo e a geométrica, sobre o ordenamento destes cálculos. Os antigos matemáticos chineses dedicaram-se de maneira especial aos estudos e trabalhos com diagramas. Mas sua motivação inicial associava a matemática ao mito e à magia.

Na mitologia chinesa, a tartaruga é um animal enigmático que guarda os segredos do céu e da terra. A forma de seu casco representa a abóboda celeste, e o seu peitoral, plano e quadrado, a terra. Os 24 recortes do casco simbolizam os vinte e quatro períodos do calendário agrícola e sua longevidade simboliza sua solidez. Foi assim que, conta a mitologia, uma tartaruga surgiu das águas do Huang-He (Rio Amarelo) para o imperador Yu-Huang (2800 a.C.), da dinastia Hsia, quando este, sentado às suas margens, buscava uma solução para as catástrofes oriundas às enchentes daquele rio. Atento, observou que o animal trazia em seu casco um diagrama dividido em nove partes, cada uma delas com determinada quantidade de pontos, de acordo com o sistema de numeração chinês na época. A partir deste diagrama foi traçado um quadrado considerado mágico (Lo Shu), pois nele havia uma relação numérica na qual a soma dos números em cada linha, coluna ou diagonal sempre dava o mesmo resultado: 15, o número de dias que a Lua Nova leva a tornar-se Lua Cheia. Desta forma, um quadrado é mágico quando as somas de cada linha, coluna ou diagonal resulta o mesmo número chamado constante mágica. Quadrados latinos Quase 4,5 mil anos após sua aparição na China, associando magia e ciência, o quadrado mágico se insere como objeto de estudo matemático, servindo de modelo para a resolução de alguns determinados tipos de problemas.O matemático suíço Leonard Euler (1707-1783) foi um dos mais talentosos de todos os tempos e construiu grande fama ao propor e resolver uma série de problemas, entre o quais destacamos o seguinte, pelas próprias palavras de Euler: “Um problema bastante curioso, que pôs à prova durante muito tempo a sagacidade de muita gente, levou-me às investigações seguintes, que parece terem aberto nova via na análise e em particular na doutrina das combinações. Esse problema diz respeito a uma assembleia de trinta e seis oficiais de seis patentes diferentes pertencentes a seis regimentos diferentes; trata-se de os dispor num quadrado de modo que em cada linha, quer horizontal, quer vertical, encontrem-se seis oficiais de patentes e regimentos diferentes. Ora, depois de todos os esforços feitos para resolver o problema, somos obrigados a reconhecer que tal disposição é absolutamente impossível, se bem que não se possa dar uma demonstração rigorosa.”

Como em outros problemas importantes da matemática deixados como conjecturas, este somente foi demonstrado tempos depois, necessitando, para isso, de novos conceitos e métodos modernos da matemática. Isto se deu em 1959, quando os matemáticos Parker, Bose e Shrikhande demostraram que este problema não tem solução quando se consideram 36 oficiais, mas para outras quantidades, como 9, por exemplo, teria solução.

O importante aqui a se considerar é que na busca da interpretação e solução desse problema, Euler criou o que chamou de “quadrado latino”, por ter usado letras do alfabeto latino como símbolos. Trata-se de um quadrado de ordem n, isto é, n linhas e n colunas, preenchidas com n símbolos de tal forma que cada um aparece no máximo uma vez em cada linha ou coluna (fila ortogonal), como mostrado nos exemplos abaixo:

O sudoku
Mergulhado na tradição mágica, artística e matemática, o sudoku, que significa, em japonês, número único, tornou-se uma diversão lógico-numérica popular por ter regras simples e exigir conhecimento das operações básicas. Criado em 1979 pelo americano Howard Garns, foi aperfeiçoada pelo especialista em quebra-cabeça japonês Nobuhiko Kanamoto. Tem como grande mérito a combinação entre a estrutura dos quadrados mágicos com as regras do quadrado latino.

O jogo consta de uma matriz composta de nove quadrados (divididos em 9 partes como os quadrados mágicos) dispostos em três linhas e três colunas. Algumas “células” já contêm números, denominadas pistas. O objetivo do jogo é completar todos os quadrados, utilizando números de 1 a 9, sem que os números se repitam nas filas ortogonais.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Camisinhas ao alcance

Projeto de distribuição gratuita de preservativos na rede pública de ensino gera polêmica

Instalada no pátio, no corredor, no banheiro ou mesmo na enfermaria da escola, uma máquina semelhante às utilizadas para vender refrigerantes e salgadinhos pode ser a fonte em que alunos do Ensino Médio da rede pública poderão conseguir pacotes de preservativos. Este cenário será realidade caso vingue o projeto piloto para instalar máquinas automáticas de distribuição de camisinhas nas escolas. Fruto de parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, a iniciativa faz parte do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), que conta com o apoio de órgãos como a Unesco e o Unicef.

“A escola é mais um espaço para o jovem ter acesso aos insumos de prevenção e à informação também”, explica Nara Vieira, do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais, órgão ligado ao Ministério da Saúde. Trazer a camisinha para dentro da escola é apenas uma das ações do SPE, cujo objetivo global é promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, ao articular políticas públicas que tornem os jovens menos vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis e à Aids. Contribuir para a redução dos índices de evasão escolar causados pela gravidez na adolescência também é uma das metas do programa. “A partir do momento em que há uma máquina dispensadora de preservativos na escola, sem dúvida ela vai despertar interesse para discutir sobre o tema da prevenção.”

O projeto prevê a instalação das máquinas apenas em estabelecimentos de ensino que façam parte do SPE, ou seja, que já realizem ações educativas e discussões sobre prevenção e sexualidade com a comunidade escolar. De acordo com o Censo Escolar de 2008, cerca de 60 mil escolas de Ensino Básico participam do programa e 11 mil distribuem de alguma forma o preservativo para seus alunos. “A máquina vai ser apenas um facilitador, não vai implicar mudança alguma dentro da escola”, esclarece Ellen Zita, assessora técnica do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais. Segundo Ellen, um dos objetivos da ideia é harmonizar as formas de distribuição do preservativo. Assim, a máquina não funcionaria como um elemento isolado, mas, sim, como um complemento de um projeto pedagógico maior.

Aluno do terceiro ano do Ensino Médio, Renan Souza Meira, 18 anos, faz coro com uma pesquisa realizada em 2005, na qual foi constatado que 89,5% dos estudantes consideram a disponibilização de camisinhas no ambiente escolar “uma ideia legal”. “Acho ótimo. Vai evitar o constrangimento de precisar ir até uma farmácia para comprar”, defende. A mesma pesquisa, feita com 102 mil estudantes em 14 estados, revela ainda que o principal motivo alegado por 42,7% dos estudantes para não usar o preservativo é não tê-lo na hora H – cerca de 10% deles declararam ainda que não têm dinheiro para comprá-lo.

Seis escolas públicas do Ensino Médio em Santa Catarina, na Paraíba e no Distrito Federal receberão as 40 primeiras máquinas para ser testadas dentro do ambiente escolar. Os protótipos são de tecnologia 100% nacional e foram desenvolvidos a partir de um concurso (Prêmio de Inovação Tecnológica) lançado em 2007 para todos os Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) do Brasil. Foi de Santa Catarina que saiu o protótipo de máquina mais bem avaliado, escolhido para ser usado no projeto.

As máquinas oferecerão preservativos masculinos de dois tamanhos aos alunos, mediante a apresentação de uma senha e do número de matrícula. O número de preservativos disponíveis para cada aluno ainda não foi estabelecido e será decidido de acordo com os resultados dessa primeira experiência, prevista para durar seis meses. “O contexto de cada escola vai modificar o projeto inicial. Não existe fórmula mágica”, explica Ellen Zita.

MUDANÇA DE PARADIGMA
Além de ser uma forma de sistematizar as diferentes formas de distribuição do preservativo nas escolas, oferecer camisinhas gratuitamente, por meio de uma máquina automática, facilita o acesso do jovem ao preservativo, uma vez que evita que ele deixe de adquirir o produto por falta de dinheiro ou embaraço de precisar pedir para terceiros ou ir até um posto de saúde retirar a camisinha.

No terceiro ano do Ensino Médio, Verônica Nogueira, 17 anos, acha que a instalação da máquina em escolas pode contribuir também para iniciar um debate em torno do assunto. A estudante acredita que, apesar do estranhamento inicial de pegar camisinhas “na frente de todo mundo”, a máquina poderia tornar o processo de aquisição do produto mais fácil. Aluna de um colégio particular em São Paulo, Verônica não tem aulas de educação sexual. “Eu sinto muita falta, acho que eles deveriam tirar mais dúvidas da gente.” De acordo com a estudante, o assunto “sexo” só é abordado na aula de Biologia, mesmo assim “muito por cima”.

Para a sexóloga Maria Cláudia de Oliveira Lordello, o adolescente em geral tem acesso ao conhecimento de que é preciso usar camisinha e outros métodos anticoncepcionais, a fim de evitar a gravidez e a contaminação por DSTs. Ainda assim, os anos de campanhas massivas a respeito da importância do uso do preservativo parecem não ter sido capazes de modificar alguns comportamentos típicos da adolescência. Talvez seja por isso que, quando o assunto é camisinha, a prática acaba se provando muito diferente da teoria. Um dos motivos, de acordo com a especialista, é o pensamento do “comigo não acontece”. “Trata-se de um olhar bem típico dessa fase. O adolescente sente-se protegido, onipotente, e não tem muita consciência das consequências de seus atos”, explica. Ainda assim, a maior presença do preservativo no cotidiano do adolescente ajuda a contornar esse tipo de caso.

Outro problema constatado é a resistência de certos setores da sociedade, alimentada pelo pensamento, equivocado, na opinião da sexóloga, de que falar sobre sexo com os jovens estimularia de alguma forma um comportamento sexual mais precoce. “Isto não é real. Muito pelo contrário. Quanto mais se fala, menos curioso e proibido o assunto se torna.” Apesar da impressão de que hoje o sexo é encarado com mais naturalidade pela maioria, Maria Cláudia lembra que ainda é complicado para muitas pessoas entender o sexo como algo prazeroso – e não só como uma forma de reprodução. A origem de tal pensamento estaria na repressão sexual experimentada durante séculos pela sociedade ocidental, que só começou a ensaiar uma abertura a partir da revolução sexual dos anos 60. “A mudança de conceito do sexo reprodutivo para o sexo prazeroso está sendo difícil. Esta ainda é a principal dificuldade que os pais encontram na hora de falar com seus filhos sobre sexo”, explica. Apesar desse tipo de reação, a realidade apontada por pesquisas é de que a população brasileira inicia sua vida sexual por volta dos 15 anos. Outro dado apontado é que praticamente a metade – 44,7% – dos estudantes já possui vida sexual ativa. “A existência da máquina de camisinha atesta justamente isso, que os jovens fazem sexo por prazer e não só para se reproduzir”, afirma a sexóloga.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O mel, as cabras, a farinha e a avó

Como o método de ensino de Abdalaziz de Moura modifica o Semiárido

Quem vê o senhor sentado na varanda do seu sítio em Gravatá (a duas horas do Recife) a discorrer sobre as pimentas que cultiva e com as quais produz um molho aromático e marcante não imagina o quanto ele contribui para mudar a paisagem do Semiárido pernambucano. A história de vida do educador Abdalaziz de Moura, hoje com 67 anos, é genuína. O semblante de avô dedicado esconde um espírito aguerrido e incansável, cevado nos tempos de seminarista em Olinda e Camaragibe no começo dos anos 60. Da igreja progressista herdou a indignação ante a injustiça social. Em 1989, decidido a intervir na realidade, Moura criou o Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), com o intuito de apoiar a autonomia do homem do campo.

O Serta desenvolveu uma metodologia internacionalmente premiada de ensino, a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads).- Trata-se de um conjunto de técnicas de educação contextualizada. Ou seja, os professores, com apoio das comunidades, usam a realidade local para ensinar as crianças. “O cara é um sonhador, acredita num mundo melhor e sabe que a utopia se realiza aos poucos, com recursos técnicos e diálogo em todas as instâncias”, afirma o secretário de Comunicação da Prefeitura de Olinda, Inácio França, que conheceu Moura no tempo em que trabalhava no Unicef-Recife.

O Unicef firmou contratos com o Serta para implementar nas cidades do Semiárido políticas que visam à melhora nas condições de vida de crianças e adolescentes. Os municípios que conseguem avançar recebem o selo do organismo. Levantamentos preliminares mostram que as escolas que adotaram a Peads têm obtido desempenhos melhores no Índice de Desenvolvimento de Ensino Básico (Ideb).

O segredo da metodologia é a “ressignificação” da vida no campo a partir de atividades práticas e da valorização de todos os saberes: seja ele o tradicional – a avó perita em ervas medicinais, por exemplo, é levada para a sala de aula –, seja o inédito, como a adoção de técnicas de cultivo menos agressivas ao meio ambiente. A Peads eleva a ciência do aprendizado a um patamar integrador, ao libertar as disciplinas dos compartimentos estanques de sempre. Geografia, história, português e matemática se interpenetram, conversam entre si, reproduzem os hábitos rurais, ganham concretude e razão de ser para o aluno.

Outro ponto essencial é a construção conjunta do conhecimento: professora, alunos, pais, comerciantes, criadores de cabras, verdureiros, apicultores, todos colaboram. Uma aula típica pode começar com uma visita à casa de farinha da cidade para a coleta de dados sobre o processo de produção ou trabalhar cálculos decimais a partir da quantidade de mel contida numa lata ou do lucro obtido com a venda das cabras.

“Quanto mais o exercício estiver inserido no cotidiano do aluno, mais seguro é seu aprendizado”, ensina Moura no livro Peads, lançado pelo Serta em 2003 e no qual a metodologia, até então intuitiva e dispersa em artigos, anotações e registros de discussões em grupo, foi sistematizada. Ao ler o relato percebe-se que a Peads é a síntese de um caldeirão filosófico, com lugar para a pedagogia de Paulo Freire e outros educadores, para os princípios de economistas de cunho socio-ecológico (como o polonês Ignacy Sachs, o Prêmio Nobel Armatya Sem, a americana futurista Hazel Henderson) e para a física quântica de Fritjof Capra, autor do best seller O Ponto de Mutação.

O desenvolvimento sustentável permeia toda a didática. “Na Peads as disciplinas são ambientais, porque a educação tem de levar em conta a pluralidade. Tudo na escola deve estimular a cooperação: os textos, os cálculos, a distribuição de tarefas, os valores transmitidos”, diz o ex-seminarista, graduado em Teologia em Roma, com especialização em Genebra.

Foi no início dos anos 70 e no auge da ditadura que Moura voltou da Europa e passou a atuar ao lado de dom Helder Câmara, arcebispo emérito do Recife e de Olinda, morto em 1999, um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e único brasileiro indicado quatro vezes ao Nobel da Paz. Defensor dos direitos humanos e da máxima- cristã de que fé sem ação é nula, dom Helder fez parte de um numeroso grupo de religiosos e leigos progressistas precursor da Teologia da Libertação, favorável a uma prática religiosa mais simples, humilde, não violenta, voltada para os pobres e movida pela ação social.

Ao semear informações e cidadania no campo, o grupo de Moura teve de enfrentar a ira de coronéis e políticos, além do descrédito dos próprios trabalhadores, muitas vezes contaminados por boa-tos de que os técnicos eram terroristas, delinquentes ou, no mínimo, espertalhões dispostos a enganá-los. “Conheci Moura nessa época, como participante do movimento Encontro de Irmãos, em que pessoas pobres, de periferia, se reuniam à luz do Evangelho”, recorda a pedagoga Maria Conceição da Silva, 55 anos, casada com o ex-seminarista e mãe de três dos quatro filhos dele.

Ceiça, como é conhecida, recorda que, até meados dos anos 80, a Igreja era um grande guarda-chuva sob o qual se abrigavam movimentos de mulheres, de operários, de negros. “Foi-se o tempo em que a Igreja era progressista e suas ações pautavam o movimento sindical rural e parte dos movimentos sociais”, reflete Moura, que hoje não assiste nem à missa. Na opinião dele, atualmente, a educação rural, da qual o Serta virou expoente na América Latina, é que pauta e agenda parte desses movimentos. “Está claro que o conhecimento é, hoje, instrumento privilegiado de intervenção e que é agregado a valores, à ética.”

Referência especialmente na formação de jovens, o Serta oferece há dez anos o curso de Agente de Desenvolvimento Local, superdisputado por egressos do ensino fundamental. A formação sacode as convicções da maioria dos jovens, como conta o jornalista Everaldo Costa, pais agricultores e, antes do Serta, convicto, assim como os 16 irmãos, de que a única saída para uma vida melhor era a estrada para São Paulo. “No Serta, ao contrário da escola formal, trabalhávamos com os conhecimentos que a gente já tinha e construíamos projetos de intervenção em nossa comunidade. Fazíamos pesquisas, seminários e festivais que valorizavam nosso povo, e passamos a gostar do lugar onde vivemos”, diz ele, que faz mestrado em Comunicação e continua a morar em Glória do Goitá.