sexta-feira, 22 de junho de 2018

Desafio da nossa época é lidar com a abundância

A abundância, quem diria, se tornou um problema. A humanidade passou milênios tentando sobreviver à fome, ao desabrigo e à escassez: hoje precisa aprender a lidar com o excesso.

Temos alimentos demais, bugigangas demais, roupas, carros, embalagens, papéis, remédios, drogas, livros, filmes, eletrônicos e diversões demais. Ainda estamos aprendendo a viver no meio de tantas coisas.

É uma delícia de problema, é claro. Até o século 18, a teoria malthusiana fazia sentido. O crescimento da população levava à escassez de comida e assim à diminuição da poluição. Crises de fome ceifavam multidões todos os séculos.

A Revolução Industrial nos fez escapar dessa armadilha. Produzindo mais com menos esforço, operamos um milagre: a população explodiu e a riqueza também. A fome, até então uma condição natural da humanidade, se tornou uma anomalia. Luxos que antes eram reservados a reis ou milionários (chás ou janelas com vidros e cortinas, por exemplo) entraram na casa de trabalhadores comuns.  

É claro que boa parte do mundo ainda enfrenta a fome e a escassez. Mas não é por falta de conhecimento que isso acontece. Pelo contrário, o caminho da prosperidade já está mais ou menos mapeado e pavimentado.

A abundância é um tipo de problema chique, que todo mundo gostaria de ter. Como o da grã-fina que está cansada de passar as férias em Paris. Mas ainda assim é um problema.

Muitas más notícias que os jornais publicam hoje são produtos da abundância: o trânsito, a obesidade, a poluição, o lixo, o tempo que crianças gastam em frente a telas. Não só crianças, mas os adultos —que em média tocam 2600 vezes no celular por dia.   
As pessoas parecem meio perdidas entre tanto conforto e atrações que desviam a atenção. Se perdem em realizações imediatas de consumo, sem foco e força de vontade para perseguir grandes desejos ou objetivos mais ousados.

Se o problema já é grave hoje, imagine no futuro. O autocontrole será cada vez mais necessário. Nossos filhos e netos terão que aprender desde cedo a se controlar diante do excesso de comida, de drogas, de opções de vida e de diversão.

O mundo capitalista já resolveu o problema da escassez: precisa agora de uma educação para a abundância.
Leandro Narloch
Jornalista, mestre em filosofia e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

EDUCAR PARA QUÊ?


“Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes”, constatou Paulo Freire já nos primeiros olhares lançados para um novo educar: Educar para a vida. Formar para a vida é o grande desafio. O dever de ensinar é um imperativo do Estado, da família, da religião e de todos aqueles que se preocupam com um mundo melhor, com um futuro melhor. Tudo passa pela educação, nada é feito sem a educação, não há objetivos sem a educação.
Desde os primeiros passos da civilização, o pedagogo não era aquele que dava o conhecimento, mas que conduzia a ele, que direcionava, ajudava nos primeiros passos. Passos esses que podem levar por diversos caminhos e vocações: advogado, médico, engenheiro, professor, artista, músico, dentista, militar... Não importa o que, mas como, e o “como” passa pelo educar, passa pelo educador. Educar é base, é o alicerce e não um adereço. A educação sem compromisso com a vida é criminosa, a educação que não se propõe à diversidade e às diferenças é violenta, a educação que não acolhe é excludente, e a exclusão é desumana.
O jovem é o futuro do amanhã, é o amanhã acontecendo, se formando. Ele precisa ser conduzido, preparado. Para isso há muitos métodos e teorias, muitas técnicas e sistemas, mas que não atingem lugar algum se não bem aplicados, se não comprometidos com a vida. A teoria é vazia e a ação é hipócrita se não há o conhecimento das causas maiores e das reais necessidades.

O desafio maior é como educar. Educar é vocação. Educar é exigente. Educar é amar. Não é fácil educar, é muitas vezes desgastante, angustiante, desmotivador. Toda educação passa ela dificuldade, e muitas delas nós já conhecemos, está na mídia quase que constantemente: violência, drogas, indisciplina, sexo, falta de recursos. Lamentavelmente os problemas são reais e não há como fechar os olhos como se não existissem. Devem ser assumidos, pautados, e principalmente, sanados. Nada se resolve com discursos ou com mágica, mas com trabalho coletivo, mas com papéis assumidos. Os frutos compensam, com certeza. Dizia Aristóteles: “A EDUCAÇÃO TEM RAÍZES AMARGAS, MAS SEUS FRUTOS SÃO DOCES”.