quarta-feira, 17 de maio de 2023

É urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã

Recentemente, passamos por uma pandemia que acelerou muitas mudanças num prazo muito curto; transformações que poderiam levar décadas para acontecer, mas que aconteceram em questão de meses. Em seu famoso livro Armas, Germes e Aço, o geógrafo americano Jared Diamond fala sobre três aceleradores de mudanças, que alteram rapidamente a história humana: as guerras, as pandemias e as revoluções científicas. Com a pandemia de covid-19, a tese do livro ficou bastante evidente: o mundo mudou muito em pouquíssimo tempo, e este é um caminho sem volta. Passamos a conviver com a telemedicina, a educação a distância, o home office e a produção recorde de vacinas, entre tantas outras transformações que ocorreram do dia para a noite.

As mudanças também foram muito sentidas na educação. Escolas, professores e estudantes tiveram de se adaptar a uma nova forma de ensinar e aprender, impactando diretamente o modo como crianças e jovens se desenvolveram. E essas transformações ainda não pararam por aqui: nas próximas décadas, elas tendem a se intensificar. Uma criança que está hoje na escola viverá, nos próximos 15 anos, o equivalente ao que a humanidade viveu nos últimos 150 anos. Ela crescerá numa sociedade em que será possível viver até os 150 anos graças aos avanços científicos, como os da Medicina, um acelerador mencionado por Diamond.

Diante dessas perspectivas, é urgente e necessário repensarmos como estamos preparando os estudantes de hoje para os desafios de amanhã. Professores e profissionais da área precisam ter um olhar que considere qual a realidade que teremos adiante, pois é para este futuro que estamos formando as atuais gerações. São três perguntas fundamentais que devemos nos fazer: como será o mundo daqui a 20 ou 30 anos? Quais habilidades serão necessárias para viver neste cenário? Se a escola fosse desenhada de acordo com essas duas perguntas anteriores, como ela deveria ser?

Entretanto, é preciso que o Brasil ainda faça a lição de casa do século 20: garantir que toda criança seja alfabetizada na idade certa e aprenda com qualidade – o que já ficávamos devendo antes da pandemia e foi intensificado por ela. Por isso, será preciso atacar as duas frentes em paralelo. Ao mesmo tempo que é urgente garantir que as crianças aprendam a ler, escrever, calcular e pensar de maneira lógica – entre outras tarefas básicas da educação –, precisamos também prepará-las para estes desafios do século 21. A boa notícia, que vem da ciência, é de que aprender requer habilidades que vão além da fronteira cognitiva, mas também envolve competências socioemocionais, como resiliência emocional, persistência, foco, abertura ao novo, organização, curiosidade para aprender, entre outras, alavancas essenciais para a aprendizagem.

As dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trazem, entre seus elementos, essas competências. Mas, se nossas avaliações não conversarem com essa visão de educação e seguirem observando apenas o desempenho, como vamos saber se estamos tirando do papel este desenvolvimento que é um direito genuíno dos estudantes? Da mesma forma como valorizamos e avaliamos as habilidades de leitura e escrita, ou o nível de aprendizagem dos estudantes, precisamos também buscar formas de monitorar as novas competências necessárias para este novo mundo, pois todos esses aspectos do desenvolvimento são igualmente fundamentais.