terça-feira, 17 de novembro de 2020

A BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS

Esgotamento. Essa é a palavra que descreve o estado de muitos de nós nesta época, mas em particular de estudantes e de seus pais em relação aos trabalhos escolares em tempos de pandemia. Eles estão à beira de um ataque de nervos e da exaustão física e mental, e um dos motivos que tem contribuído muito para isso são os estudos remotos. Sabemos que um grande número de alunos brasileiros ficaram sem aprendizagem neste período de escolas fechadas por falta de condições de acesso virtual. E não foram apenas os alunos das escolas públicas, não.

Os alunos que conseguiram realizar o estudo remoto nem sempre tiveram aprendizagem, é bom lembrar. Por quê? Pela idade não compatível com estudos a distância, por aulas remotas muito longas, por falta de preparo da escola e dos alunos, pela ausência de um período de adaptação, principalmente dos alunos, ou pela simples transposição do ensino presencial ao remoto. Isso não funciona.

O problema é que, independentemente de todas essas dificuldades e características do tempo de exceção que vivemos, a pressão para o bom rendimento escolar continua a existir. E essa pressão segue um caminho, que é mais ou menos o seguinte: a escola se sente pressionada pelos pais a mostrar sua competência e cobra dos professores que eles realizem um ensino que resulte em aprendizagem; os professores dão conta como podem desse trabalho, mas mesmo testemunhando dificuldades de muitos alunos com o ensino remoto cobram dos pais que acompanhem e façam seus filhos realizarem todas as tarefas solicitadas; e os pais, cobrados pela escola, tentam cumprir um papel que nem é deles. Resultado? O esgotamento ao qual me referi logo no início do texto.

Todas as vezes em que falo que não é papel dos pais garantir que seu filho realize os trabalhos solicitados pela escola sou bastante questionada, por isso convido você a uma breve reflexão a esse respeito. Os alunos não vão para a escola, necessariamente, porque querem aprender. Vão porque é obrigatório, certo? Já a escola quer que seus alunos aprendam e utiliza todos os recursos que tem disponíveis.

Os professores querem ensinar, mas nem sempre seus alunos querem aprender. Há aí um conflito que precisa ser trabalhado pela escola com seus alunos. Conflito é bom porque faz crescer, e sempre que existe qualquer situação que envolva mais de uma pessoa é inevitável que ele apareça. Administrar os conflitos que surgem entre escola e alunos é um grande passo de ensino e de aprendizagem.

Tomemos um recurso muito usado pelas escolas como estratégia para o aprendizado: o trabalho para ser feito fora da escola. Tarefa de casa, como muitos chamam. O que cabe à família? Ajudar o filho a se organizar no tempo e no espaço para que ele cumpra a sua responsabilidade. Atenção: a responsabilidade é do aluno, não dos pais dele.

Vamos tomar um exemplo que ocorre com muita frequência: os pais lembram ao filho da lição que ele deve fazer, organizam um local, tiram as distrações dele e, mesmo assim, o filho não a faz. Vai para a escola sem o dever cumprido, e um recado aos pais é enviado.

Notem que o aluno, ao não fazer a lição dada pela escola, ele inaugura um conflito entre ele a escola. Conflito esse que deveria ser administrado lá, entre os envolvidos: escola e alunos. Quando a escola deriva aos pais a busca de solução para esse conflito, ela continua com o mesmo conflito. É isso que atrapalha a aprendizagem: problemas que não são resolvidos seguem prejudicando o ambiente de aprendizagem escolar. Vamos reconhecer: há muitas famílias que não colaboram com os estudos dos filhos ou porque não conseguem, ou porque não ligam. Agora, vamos pensar: que culpa tem o aluno da família que tem? Vamos, na escola, trabalhar com quem está conosco nos estudos escolares: os alunos!