Se perdoardes aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai Celestial vos
perdoará os vossos pecados. (Mt., 6: 14)
O perdão é complemento da mansuetude, pois os que não são mansos e pacíficos não
conseguem perdoar. Geralmente aquele que não consegue perdoar é uma alma sempre
inquieta, insatisfeita consigo mesma, de uma sensibilidade amargurada. Aquele que perdoa
é calmo, liberto, cheio de mansuetude. Perdoar alguém é receber perdão do Pai, pois
libertamos a nós mesmos perante Deus.
Espiritas, não esqueçais nunca que, tanto por palavras como por atos, o perdão das
Injúrias não deve ser uma expressão vazia. Pois se vos dizeis espiritas sede-o de fato:
esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais
fazer. (ESE., Cap. X, item 14)
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do
coração (E.S.E., Cap. X, item 15). Muitos dizem "eu perdôo, mas nunca esqueço do que ele
me fez." Ora, este não é o verdadeiro perdão. O que é, de fato, perdoar?
Segundo a referida passagem do Evangelho, o verdadeiro perdão consiste em esquecer o
mal que nos tenham feito. No entanto, não podemos entender o "esquecimento" a que o
Evangelho nos convida como o fato de "apagar as faltas" de alguém, pois não podemos
considerar o que já aconteceu como anulado, como se não tivesse acontecido. Perdoar não
é apagar os fatos, mas apagar o sentimento negativo em nós, ou seja, o verdadeiro perdão
consiste em cessar de odiar. Perdão é a "virtus" que triunfa sobre o ódio, sobre o rancor.
Perdoar é renunciar à vingança, é deixar de odiar, e por isso, quem ama verdadeiramente
nem precisa perdoar, pois nunca se magoa. "O que você não me perdoaria?" Pergunta o
garotinho ao pai. E o pai não encontra nada. Os pais, por exemplo, por amar os filhos não
têm o que perdoar, pois o amor toma o lugar do perdão. Jesus era consumido por um
amor, mas um amor universal, e por isso dizia, mesmo ao sua vida ser sacrificada:
"Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem. " (Lc., 23 :34)
Jesus nada tinha a perdoar, pois ele não tinha ódio no coração. Mesmo sendo vítima da
injustiça e de agressão, em nenhum momento ele foi conduzido pelo pensamento do mal, do
rancor; ao contrário, compreendia, e por isso rogava à própria justiça divina que os
perdoasse.
Se ainda não conseguimos vivenciar esse amor incondicional qual Jesus, busquemos pelo
menos combater o ódio em nós. Na impossibilidade de vencermos o ódio em nossos
agressores, busquemos pelo menos dominar a nós mesmos. O amor é uma alegria, mas o
ódio é uma tristeza a mais, e não no culpado, mas em quem a sente.
No entanto ... se por vezes fracos, aprendamos a nos perdoar também !