domingo, 28 de fevereiro de 2010

Comunicação: Aprendendo a gerar saber

O comunicador Gilson Schwartz nos faz lembrar Paulo Freire quando diz que "a alfabetização, ou seja, apropriação de novas ferramentas e habilidades é um processo de aprendizado pelo reconhecimento".

Vejo que ele busca com essa frase nos dizer que alfabetizar-se é mais do que aprender as letras, somá-las e formar palavras. Alfabetizar-se é aprender a reconhecer o que já está posto, o que já faz parte do convívio do sujeito, mas até então não foi apropriado por ele. Nesse sentido, alfabetizar é emancipar, favorecer ao sujeito que se situe autonomamente em seu contexto; é facilitar para que ele reconheça o que o envolve e, assim, criar suas próprias estratégias de interação com o meio.

A estratégia de alfabetização que privilegia o reconhecimento das coisas em nosso redor opera no campo do desenvolvimento humano, pois nos faz crescer e nos fortalecer quando aprendemos a lidar com novos sistemas que, outrora, desconhecíamos. Fazendo uma comparação, quando chega um computador numa comunidade da Zona Costeira é uma coisa, mas quando passamos a saber usá-lo para atender necessidades, é outra — e bem diferente.

Certa vez ouvi o mesmo Gilson Schwartz falar de "alfabetização digital". Fiquei curioso pelo termo e fui estudar um pouco. Vi que não é bem um "conceito" novo da ciência da Educação, mas uma "imagem" que nos ajuda a entender qual deve ser nosso grau de aproveitamento das políticas de inclusão social que lançam por aí.

Li num texto desse comunicador que "quando se busca evitar o desperdício de recursos públicos, seria prudente também abandonar de vez a expressão inclusão digital. Já não se trata apenas de expandir o alcance da infra-estrutura ou de financiar com subsídios a aquisição de equipamentos, mas, sim, com urgência, de promover a alfabetização digital, processo intensivo de capacitação pela formação de redes", pelo reconhecimento da rede em que, naturalmente, estamos inseridos.

Vejam, ele fala da capacitação "pela" formação de redes e não "para" a formação de redes. Entendo o que ele nos quer fazer entender. A rede já está aí, posta pra nós...

É evidente que estamos aprimorando nossa articulação entre seus pontos, tecendo nosso pano de trocas. A comunicação em rede pode nos capacitar no meio digital, porque a rede demanda isso de nós; precisamos nos fazer eficientes para melhorar o diálogo com nossos interlocutores, nossos pares. O aprender fazendo – fazer aprendendo é o caminho para experienciarmos essa nova linguagem. Mais do que lidarmos com o meio digital (principalmente a Internet), estamos lidando com a comunicação em rede e nosso desafio é entrar nessa com propriedade.

A REALCE - Rede de Educação Ambiental do Litoral Cearense já se lança nesse sentido, fortalecendo as ações em diversos de seus núcleos ao longo da Zona Costeira Cearense (ZCC). Além da elaboração de ações articuladas por diferentes comunidades — o que requer interatividade e intercâmbios —, destacam-se a produção de material informativo, a aquisição de equipamentos (máquinas fotográficas, computadores, data-show) e a apropriação de veículos de comunicação já existentes nas regiões, como rádios comunitárias e jornais locais. Soma-se a esse potencial uma estratégia de fortalecimento da comunicação ao longo do litoral cearense, que vem sendo elaborada por três assessores do INSTITUTO TERRAMAR, a ser apresentada à coordenação da REALCE ainda esse ano. Essa proposta organiza-se em quatro frentes de ação:

1. Formação e consolidação de doze Núcleos de Comunicação, mobilizados por jovens e educadores ligados a REALCE;

2. Assessoria de imprensa dos movimentos da Zona Costeira e de comunicação institucional às entidades envolvidas no Fórum em Defesa da ZCC;

3. Produção de Novas Mídias e Novas Linguagens,

4. Realização de campanhas anuais de sensibilização e mobilização na ZCC.

Em suma, é possível dizer que a partir do reconhecimento dos potenciais de comunicação existentes na ZCC, vai-se fortalecendo o diálogo entre as pessoas, a troca de experiências e, conseqüentemente, a geração de conhecimento.

Alfabetizar-nos digitalmente significa compreender que o meio digital pode favorecer a aproximação entre as regiões, integrar os saberes e informar sobre os acontecimentos. Entretanto nossa rede é maior do que a digital... É escrita, é oral, é artesanal: nossa rede é natural. É a Natureza toda, que se abre pra que reconheçamos cada parte de cada um de nós e cada parte de nosso coletivo.

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