sábado, 23 de julho de 2011

Apologia do giz

Se criticar é fácil, criticar uma escola é mais fácil ainda. A escola é um ninho de contradições. Muitos dizem, por exemplo "Ih, essa escola ainda está no século 19, ainda usam giz e lousa."

Bem, em primeiro lugar, precisamos ter mais respeito com o século XIX. Mas a questão aqui é outra. É a modernização do ensino, a melhora, o upgrade, o "plus", o novo, o "mais evoluído". É a briga do datashow contra o giz. De hollywood contra o contador de estória.

Vou admitir aqui, publicamente, sem vergonha alguma: sou um usuário de giz. Completamente viciado. Não consigo entrar em uma aula sem aquela caixinha de bastões coloridos com um pedaço de carpete na tampa. Nada contra os computadores, muito pelo contrário, eles são ótimos. Fazem de tudo, se você ensinar direito.

E é essa justamente a vantagem do giz. Ele não precisa que você ensine nada. Está lá, livre em sua simplicidade, pronto para responder a qualquer idéia maluca que venha do professor ou dos alunos. Ou uma dúvida mais complexa, um comentário interessante. O giz é a prova de que estamos realmente vivendo uma vida, interagindo com as pessoas, e não fazendo download em massa de conteúdos para um vestibular platônico.

Algumas lousas, é verdade, atrapalham o poder esclarecedor do giz, quando são ruins de escrever ou apagar. Algumas mãos também podem atrapalhá-lo. Mas isto não por incapacidade, mas por falta de respeito. Não se pode tratar o giz como uma caneta ou pedaço de carvão. Precisamos usá-lo como um pintor faz com o pincel, com precisão, sabedoria, intuição, criando uma pequena realidade para que alguns olhos a vejam. Com este simples bastão de gesso, a cultura pode ser criada ao vivo, na frente dos alunos, interagindo de fato com eles.

Um giz não pode ser confundido com uma máquina de xeróx, fazendo cópia de coisas que já estavam no papel. Isto é um completo desrespeito à sua natureza. O giz é a antítese da máquina de xeróx. Ele é o aqui e o agora, o efêmero, o registro escrito do tempo de uma aula. O xeróx é a cópia, o igual. Se diz que o professor de escola pública usa muito o giz como se fosse xeróx. Não sei se é realmente o caso, mas de qualquer forma precisamos antes nos perguntar. O professor de escola pública pode tirar xeróx? Como isso acontece na prática?

Bem, se o giz não é xeróx nem hollywood, todo seu poder criativo vem da mão que o segura. E esta é sua grande qualidade. Por trás de um giz que é usado como giz, há um ser humano que continua se esforçando para ser humano.

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