domingo, 14 de abril de 2013

Será que o gigante está despertando?

De forma muito clara, agora, é mais fácil ver as mudanças. Há cerca de cinco anos, usei o termo "revolução silenciosa" para descrever a situação, e a revista VEJA adotou a expressão. Hoje, seria inadequado usar o mesmo termo. A revolução não é mais invisível. A característica mais marcante dos avanços na década de noventa é que o segmento mais dinâmico - a proporção da clientela terminando a educação básica - é exatamente aquele no qual o desempenho brasileiro era mais fraco. Um outro aspecto muito interessante e pouco estudado desse processo é o papel dos grupos de interesse, em particular, os sindicatos de professores. Esses grupos de tendência esquerdista adquiriram grande força na década de 80 e no início da de 90 e dominaram as arenas de discussão. Na verdade, estabeleceu-se na prática um monopólio dos fóruns e conferências, criando um ambiente abertamente hostil a outras linhas de pensamento (as chamadas patrulhas ideológicas). De fato, a avaliação deste autor é que a presença de grupos de interesse foi, durante muito tempo, uma presença pouco construtiva no cenário educacional, sempre a queixar-se de que a educação é uma ferramenta que reproduz a estratificação social e desviando a discussão das políticas práticas para melhorar as escolas. Todavia, muitos representantes desses grupos foram assumindo governos munici-pais e estaduais, enquanto alguns subgrupos mais ruidosos começaram a perder boa parte de seu poder e qualquer liderança intelectual fora de seus seguidores. Não obstante, há várias iniciativas respeitáveis sendo desenvolvidas pelos segmentos de esquerda. Ao mesmo tempo, o movimento sindical tem-se orientado para uma posição mais organizada e de crítica técnico-científica da política governamental, apresentando alternativas à ação governamental. O que, hoje, faz mudar a educação é a feliz conjunção de todos os níveis de governo tentando acertar e um público, liderado pela sociedade civil, exigindo que acertem. Os governos estão fazendo mais, sobretudo, porque as forças vivas da sociedade querem uma educação melhor e não se contentam com menos. Falta muito, mas as mudanças estão mais ou menos no rumo correto. As reformas acontecem, mesmo neste nosso Brasil de tão pobres tradições na área. Vivemos um momento único e precioso. O que falta, então, para que alguém se atreva a enfrentar assombrações e uma reforma de ensino que sugerem um amplo leque de mu-danças? Faltavam pessoas que vissem mais longe e que apostassem no futuro. Este é o tema deste livro. Procuraremos examinar como nossa educação encami-nhou-se, de muito atrasada, à fase atual de tentativa de recuperação. Tínhamos um sistema que se construiu, tardiamente, mesmo para os padrões dos países latinos americanos. O problema que se nos coloca resume-se em uma interrogação: quais devem ser os rumos da educação brasileira, a partir de agora? Sem (ou com) espírito de polêmica, é possível alinhar seis problemas que merecem atenção: a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental, a reforma e expansão do Ensino Médio, com grande preocu-pação com a qualidade; a diversificação e aprimoramento do Ensino Superior, pela busca de caminhos alternativos, também, no âmbito do ensino público; o desenvolvimento de uma estratégia inteligente para a Educação Infantil; a introdução de novas tecnologias, como instrumento de democratização da educação, e, finalmente, o desen-volvimento rápido e vigoroso de propostas diferenciadas de qualificação e re-qualificação de docentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por participar de meu blog...