sábado, 13 de junho de 2015

Cidades educadoras

Faz quase seis meses que a presidente Dilma lançou o lema, mas até hoje não definiu como seria a Pátria Educadora, nem o que seu governo fará para construí-la.
Por falta de definição da presidente ou dos marqueteiros que criaram o lema, devemos imaginar como seria a Pátria Educadora e o que fazer para construí-la.
A condição fundamental, óbvia, é ter todas as suas crianças em escolas com a máxima qualidade, o que exige: professores muito bem preparados, escolhidos entre os melhores jovens da sociedade, para isso eles precisam estar entre os profissionais muito bem remunerados, todos bem selecionados e avaliados permanentemente; os prédios das escolas entre os mais bonitos, limpos e confortáveis, com os mais modernos equipamentos de tecnologia da informação, bibliotecas, ginásios poliesportivos e facilidades culturais; todas as crianças em horário integral, durante os 220 dias de aulas por ano, sem paralisações.
Quando todas as suas cidades forem assim, a Pátria Educadora não terá analfabetismo de adultos e todos os seus jovens concluirão, na idade certa, o ensino médio, com a qualidade ofertada nos países mais educados do mundo.
Para isso, a Pátria Educadora precisará ter todas suas Cidades Educadoras.
A Pátria Educadora só pode ser construída escola por escola, cidade por cidade, mas cada uma necessita de esforço nacional para apoiá-la. Para fazer suas Cidades Educadoras, o Brasil precisa adotar a educação de suas crianças, independentemente da cidade onde vivem e estudam.
Isso não será possível cortando recursos do Ministério da Educação nem prometendo os simbólicos 10% do PIB ou os royalties de um pretenso pré-sal de tamanho insuficiente para as necessidades da educação brasileira. Muito menos deixando a tarefa de construir a Pátria Educadora para as pobres e desiguais prefeituras do Brasil.
Deixar a educação nas mãos das cidades é manter as escolas sem os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários e também continuar com nossas crianças em escolas desiguais, conforme a renda dos pais e o orçamento da cidade onde vivem.
A simples evolução do atual degradado sistema escolar municipal não vai permitir construir a Pátria Educadora; o Brasil precisa implantar um novo sistema educacional, substituindo as atuais escolas em um processo ao longo de anos.
Uma cidade educadora custa R$ 10 mil por aluno por ano; para atender a 51,7 milhões de alunos em 2035, seriam necessários R$ 517 bilhões. Se o PIB e a receita do setor público crescerem a uma taxa de apenas 2% ao ano, em 2035 o Brasil vai precisar de 6,2% do PIB para transformar o atual sistema da pátria deseducadora no novo sistema federal da Pátria Educadora; ou seja, 0,5% acima dos 5,7% do PIB gastos atualmente, metade dos 10% determinados pela Lei do PNE.
Isso só será possível com a união de todos os brasileiros assumindo a responsabilidade pela educação de todas as crianças do Brasil, não importa a receita fiscal nem a vontade do prefeito da cidade onde elas vivam.

Cristovam Buarque

Cristovam Buarque é professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF

sexta-feira, 5 de junho de 2015

10 motivos para não se deprimir no Dia Mundial do Meio Ambiente

1 – A declaração de Fernando Meirelles, o grande cineasta, para a Revista Época: “Quando não sou ecochato, sou biodesagradável”.
2 – A mobilização de milhares de jovens americanos e europeus que exigem das universidades ricas onde estudam (Oxford e Harvard, inclusive) a retirada dos recursos investidos em fundos lastreados em combustíveis fósseis. Se depender da garotada, essas fortunas devem ser redirecionadas para fontes limpas e renováveis de energia.
3 – O lançamento da primeira geração de baterias solares para domicílios (“Powerwall”) ou indústrias (“Powerpack”) pela Tesla, que abriu mão das patentes para agilizar o desenvolvimento tecnológico desses produtos. Sol e vento já podem ser armazenados. Muitos especialistas consideram isso o início de uma revolução energética.
4 – A prisão de grandes empreiteiros que financiavam políticos para, depois das eleições, cobrar a fatura na forma de megaprojetos nem sempre inteligentes, invariavelmente caríssimos e nada sustentáveis. O Brasil ficou um país melhor depois que essa roubalheira veio à tona. A natureza, por vias indiretas, também agradece.
5 – Pela primeira vez em 40 anos de medições as emissões de gases estufa do planeta foram estabilizadas (em 2014) apesar da economia mundial ter crescido (3,0 %). A Agência Internacional de Energia atribuiu o resultado aos monumentais esforços da China para reduzir suas emissões de CO2.
6 – Ninguém gosta de falta d'água. Mas a maior crise hídrica da Região Sudeste do Brasil determinou uma tsunami de projetos de reúso de água, coleta de chuva e uso racional desse precioso recurso como jamais se viu antes.
7 –  Apesar das facadas e dos atropelamentos, os ciclistas resistem. De onde vem o poder das bicicletas, que ganham a cada ano mais quilômetros de ciclovias e ciclofaixas?  Difícil explicar. Mas é fato que o “carrocentrismo” colapsou as cidades, travou a mobilidade. Sobre duas rodas se vai mais rápido. Ou mais longe.
8 – Já ouviu falar em A3P? Então clica no Google e veja como esse Programa Ambiental na Administração Pública se espalha rapidamente como uma metástase verde. Até agora, 241 instituições públicas já aderiram. Um exército de servidores públicos brasileiros zela pela redução do desperdício de água, energia e lixo, entre outras medidas de ecoeficiência.
9 – Chega a 382 o número de projetos credenciados pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para o leilão de energia solar do próximo dia 14 de agosto. Serão ofertados 12.528 megawatts (MW), mais que a capacidade instalada de Belo Monte. Analistas do setor dão como certo que a expansão do solar na matriz energética brasileira deverá ser tão ou mais rápida que a do vento.
10 – Se você prefere ver a parte vazia do copo, é uma opção. Mas pelo menos hoje, prefiro lembrar a frase atribuída ao ex-presidente Juscelino Kubitschek: “O otimista pode até estar errado, mas o pessimista já começa errando”. Dá pra virar esse jogo. Depende de nós.