1º MITO - DEPOIS DE CASAR EU DOU
UM JEITO NAQUILO QUE ME INCOMODA: segundo o psicólogo Luciano Passianotto,
terapeuta de casal do CINAPSI (Centro Integrado de Neuropsicologia e
Psicologia), de São Paulo (SP), as pessoas se esquecem que durante a fase de namoro
o casal mora separado, se encontrando nos momentos mais propícios a atividades
prazerosas. "Trata-se de uma fase em que a paixão e a sensação de
conquista são acentuados", diz. Depois do casamento, ambos tendem a
colocar menos atenção no parceiro para se dedicar mais a outras necessidades,
como vida profissional, filhos e afazeres domésticos. "Por isso é que se
um comportamento indesejado não mudou durante o período que costuma ser o de
maior dedicação ao outro, será muito mais difícil depois", diz Luciano. Já
a psicóloga e psicodramatista Adelsa Cunha, co-organizadora do livro "Por
Todas as Formas de Amor - O Psicodramatista Diante das Relações Amorosas"
(Ed. Ágora), lembra que temperamento, hábitos antigos, valores morais e
culturais não são nada fáceis de mudar. "A convivência vai nos mostrando
tudo o que nos incomoda no outro, por isso ninguém deve estabelecer um
relacionamento acreditando que vai mudar o outro. Antes, devemos mudar a nós
mesmos e verificarmos se conseguimos conviver com os defeitos alheios",
fala Adelsa .
2º MITO - FILHO UNE AINDA MAIS O
CASAL: em primeiro lugar, o fortalecimento do vínculo amoroso depende do quanto
o casal está preparado para lidar com a chegada de um bebê. Uma visão
romantizada da maternidade/paternidade pode causar imensas decepções. "Me
assusto muito quando ouço frases do tipo 'Estamos pensando em ter um filho para
alegrar o ambiente, pois caímos na rotina'. Acho complicado um casal desejar
gerar uma criança dando-lhe a responsabilidade de harmonizar a relação", declara
Alessandro Vianna, psicólogo clínico de São Paulo (SP). É importante lembrar
que filhos requerem uma mudança radical no estilo de vida do casal e demandam
um tempo que não será mais investido na relação. "Um filho sempre
representa algo em comum, mas nunca é garantia de união", afirma Luciano
Passianotto. Aliás, a chegada de um bebê pode representar o fim do par, se não
houver preparo. "Tudo depende do vínculo amoroso, do projeto de vida em
comum e do momento. Se um casal tem como projeto ter filhos, certamente, o
filho pode unir, pois estarão realizando um objetivo comum. Mas não se deve
esquecer que a chegada de um filho altera profundamente a relação de homens e
mulheres que passam a exercer também os papéis de pais e mães, além de todos os
demais", completa Adelsa.
3º MITO - NUNCA SE DEVE DORMIR
BRIGADO COM O OUTRO: o que há de tão grave nisso? Será que não é mais sábio
lançar mão daquele antigo ditado "nada como um dia após o outro e uma
noite no meio"? Para o terapeuta de casal Luciano Passianotto, os
problemas devem sempre ser resolvidos o quanto antes para evitar preocupações e
a sensação de que algo errado está se arrastando, mas tentar resolver conflitos
de cabeça quente impede o par de pensar adequadamente. Nem todas as questões
precisam ser resolvidas no mesmo dia em que acontecem, principalmente quando os
ânimos estão exaltados. "Às vezes, digerir o ocorrido e esperar passar a
reação emocional ajuda a compreender mais amplamente o acontecido e permite
conversas mais produtivas", diz a psicóloga Adelsa Cunha.
4º MITO - VAMOS SEMPRE AMAR
RECEBER AMIGOS EM CASA: trata-se de um mito que tem muito a ver com uma visão
romantizada (e um tanto adolescente) do casamento. É comum e desejável que
recém-casados demonstrem entusiasmo com a casa nova. E é normal, ainda, o
desejo de compartilhar essa alegria com os mais chegados. Mas esperar que o
fato de receber os amigos seja uma espécie de termômetro da felicidade em comum
é uma ideia equivocada. Cansaço, vontade de curtir o próprio canto sem interferências,
filhos e trabalho em excesso são fatores que, em algumas circunstâncias, nem
permitem que o casal se veja direito ao longo da semana contribuem para que as
coisas não saiam como planejado. "A vida social é muito importante para o
casal, mas deve trazer prazer para ambos. Receber amigos em casa foge da rotina
do dia a dia e exige planejamento. Pode ser desgastante, dependendo da
frequência. O importante é buscar sempre manter um equilíbrio", diz
Luciano. "Ter a casa cheia de amigos não vai garantir a felicidade nem a
longevidade de nenhuma relação amorosa", completa Adelsa Cunha.
5º MITO - EXCESSO DE INTIMIDADE
ESTRAGA A RELAÇÃO: na opinião do psicólogo Luciano Passianotto, pessoas que
dizem que o excesso de intimidade estraga a relação estão normalmente
preocupadas em manter um clima de conquista entre os dois, onde sempre há algo
de oculto a se descobrir. "Entretanto, uma coisa não tem relação nenhuma
com a outra. O casal pode sempre conseguir satisfação sentimental e
principalmente sexual sendo muito íntimos", afirma. O bom senso é sempre
recomendável, pois a convivência permite uma intimidade que pode ser muito
gostosa e positiva. "É bobagem, por exemplo, uma mulher se esforçar
diariamente para acordar antes do parceiro para que ele não a veja acordando.
Quem ama de verdade, ama a pessoa inteira, mesmo com olhos inchados, cabelos
despenteados e etc.", explica a psicóloga Adelsa Cunha, que diz que, por
outro lado, é desnecessário impor ao outro coisas incômodas e/ou escatológicas.
"O que estraga a relação, nesse caso, é a falta de respeito com o outro, a
não percepção do limite do que é aceito e o que incomoda", fala a
especialista.
6º MITO - OS DOIS PRECISAM ESTAR
DE ACORDO PARA TOMAR UMA DECISÃO: ceder, em alguns casos, não significa abrir
mão de valores e crenças, mas saber tomar uma atitude inteligente e madura para
o bem do casal. E, dependendo das circunstâncias, a falta de acordo faz com que
o casal permaneça paralisado. Por mais parecidas que sejam as mentalidades,
sempre haverá opiniões dissonantes e tentar convencer o outro a mudar de
opinião pode gerar conflitos desnecessários, além de ser desrespeitoso. "O
ideal seria ambos manterem suas opiniões e haver concessões alternadas de ambos
os lados", diz Luciano. "O grande erro é que algumas pessoas cedem
demais e um dia acabam explodindo. Daí o risco de fracassar a relação. Devemos
ceder, sim, mas sem nos agredir", comenta o psicólogo clínico Alessandro
Vianna.
7º MITO - É PRECISO ACEITAR OS
DEFEITOS DO OUTRO PARA SER FELIZ: todas as pessoas têm defeitos; uns maiores,
outros menores. Apesar de, em geral, o período do namoro servir para
identificar e discutir todos antes da decisão pelo casamento, isso não funciona
muito na prática, já que alguns defeitos somente são percebidos com a convivência.
"A comunicação é importante para que ambos saibam o quanto determinado
comportamento afeta o outro. Nos problemas maiores, deve-se discutir em busca
de uma mudança de hábito, mas os menores devem também ser relevados, para
evitar um clima de eterna tensão", explica Luciano Passianotto.
8º MITO - ACONTEÇA O QUE
ACONTECER, VAMOS MANTER A CHAMA DA PAIXÃO ACESA: de acordo com o psicólogo
clínico Alessandro Vianna, toda relação é cíclica. "Não existe a menor
possibilidade de manter o padrão das primeiras semanas ou meses; o importante é
ter qualidade, equilíbrio e motivação para investir no relacionamento,
considerando que todos eles têm altos e baixos". Segundo a psicóloga e
psicodramatista Adelsa Cunha, entre o desejado e o possível costuma haver uma estrada
difícil, e esse mito apenas serve para perpetuar a ideia romântica de que o
amor, quando encontrado, é para sempre. Mas tudo na vida passa por mudanças, e
não poderia ser diferente com as relações. "Haverá fases em que a paixão
estará muito acesa e, em outras, será substituída por outros sentimentos. Como
a sexualidade é um dos pilares que mantêm uma relação amorosa, buscar criar
momentos que possam estimulá-la é essencial. Porém, é ilusão pensar que em todo
e qualquer momento da vida conjugal isso acontecerá", diz Adelsa .
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