Poucas previsões para o futuro feitas no passado se realizaram.
O mundo se mudava do campo para as cidades, e era natural que o futuro
idealizado então fosse o da cidade perfeita. Mas o helicóptero não substituiu o
automóvel particular e só recentemente começou-se a experimentar carros que
andam sobre faixas magnéticas nas ruas, liberando seus ocupantes para a
leitura, o sono ou o amor no banco de trás.
As cidades não se
transformaram em laboratórios de convívio civilizado, como previam, e sim na
maior prova da impossibilidade da coexistência de desiguais.
A ciência trouxe avanços
espetaculares nas lides de guerra, como os bombardeios com precisão cirúrgica
que não poupam civis, mas não trouxe a democratização da prosperidade
antevista.
Mágicas novas como o cinema
prometiam ultrapassar os limites da imaginação. Ultrapassaram, mas para o
território da banalidade espetaculosa.
A TV foi prevista, e a
energia nuclear intuída, mas a revolução da informática não foi nem sonhada.
As revoluções na medicina
foram notáveis, certo, mas a prevenção do câncer ainda não foi descoberta.
Pensando bem, nem a do resfriado.
A comida em pílulas não veio
— se bem que a nouvelle cuisine chegou perto.
Até a colonização do espaço,
como previam os roteiristas do “Flash Gordon”, está atrasada. Mal chegamos a
Marte, só para descobrir que é um imenso terreno baldio.
E os profetas da felicidade
universal não contavam com uma coisa: o lixo produzido pela sua visão. Nenhuma
previsão incluía a poluição e o aquecimento global.
Mas assim como os videntes
otimistas falharam, talvez o pessimismo de hoje divirta nossos bisnetos. Eles
certamente falarão da Aids, por exemplo, como nós hoje falamos da gripe
espanhola. A ciência e a técnica ainda nos surpreenderão. Estamos na
pré-história da energia magnética e por fusão nuclear fria.
É verdade que cada salto da
ciência corresponderá a um passo atrás, rumo ao irracional. Quanto mais perto a
ciência chegar das últimas revelações do Universo, mais as pessoas procurarão
respostas no misticismo e refúgio no tribal. E quanto mais a ciência avança por
caminhos nunca antes sonhados, mais leigo fica o leigo. A volta ao irracional é
a birra do leigo.
Por Luis Fernando Veríssimo