A participação ativa dos pais é crucial para o bom desempenho educacional dos filhos.
Se essa afirmação for óbvia, ela é ignorada por uma parcela não
desprezível de famílias brasileiras, como revela um levantamento do IBGE
de 2015.
Segundo a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), os pais de
quatro em cada dez adolescentes do 9º ano do ensino fundamental não
verificam se suas lições de casa foram feitas.
As famílias de 23,4% dos alunos desconhecem o fato de que eles faltaram a
aulas nos 30 dias anteriores à enquete, e um percentual parecido não
sabe o que os jovens fazem em seu tempo livre.
Em 26% das famílias, nenhum dos pais está presente em pelo menos uma refeição durante a semana.
Todas essas atividades de engajamento entre pais e filhos têm efeito
positivo no desempenho escolar, segundo um amplo conjunto de pesquisas.
Segundo um estudo da OCDE uma única refeição semanal familiar está
associada a um aumento de pelo menos 12 pontos na nota dos jovens em
ciências no exame internacional Pisa.
O que pesquisas como essa parecem capturar é que demonstrações de
interesse sobre a vida de crianças e jovens melhoram sua aprendizagem.
Pode ser que os pais omissos nesse sentido desconheçam essa relação ou que simplesmente se esqueçam dela no dia a dia corrido.
Mas experimentos recentes mostram que basta lembrar às famílias sobre a
importância de acompanhar a rotina escolar dos filhos para que elas
reajam de forma positiva.
À medida que esses resultados começaram a circular, os governos têm
acordado para o fato de que mediar e incentivar a aproximação entre pais
e escolas pode ajudar, e muito, a melhorar a educação.
Provavelmente não será a salvação da pátria, mas é um caminho que, se
perseguido em larga escala, talvez ajude o Brasil a superar um quadro de
fracasso educacional, principalmente no ensino médio, em que outras
medidas tentadas até agora têm surtido efeito reduzido.
"O que a gente nota é que não está havendo um efeito milagroso de fazer o
aluno voltar para a sala de aula", me disse na semana passada José
Renato Nalini, secretário de Educação do Estado de São Paulo.
Um dos principais problemas que desafiam os gestores educacionais é a
elevada evasão escolar na adolescência, como ressalta Nalini: "A escola
tem salas um pouco ociosas e os barezinhos das imediações estão cheios".
Com a assessoria do Insper Metricis e do BID, o governo de São Paulo
identificou que a aproximação dos pais com as escolas é uma das medidas
que podem ajudar a reverter o problema.
O Estado teve uma experiência avaliada como positiva nessa direção. Em
2016, testou em uma parte pequena da rede um programa chamado EduqMais,
que envolvia mandar mensagens simples de texto para os pais, via SMS,
alertando para a importância da frequência escolar.
Há evidências, medidas em uma avaliação de impacto, de que a taxa de
reprovação caiu e a aprendizagem dos alunos aumentou como consequência
do experimento.
Desde agosto, Mato Grosso também tem feito uma intervenção que envolve a
comunicação com pais, via SMS, por meio de outro programa, chamado Mira
Aula. Seu impacto será testado em breve.
Outros Estados e municípios vêm testando esses e outros programas.
A comunicação via SMS com os pais é barata e tem a vantagem de atingir
famílias que têm celular —a vasta maioria—, mas não necessariamente
acesso à internet.
Até então, experiências desse tipo têm sido implementadas da seguinte
forma: as start-ups ou organizações criadoras das ferramentas convencem
governos a implementá-las experimentalmente e com um modelo que permita
que os resultados sejam avaliados de forma séria.
São Paulo dará um passo mais ousado no sentido de tentar fomentar a
inovação na política pública educacional. O Estado testará um modelo
importado do Reino Unido e já usado em quase 20 países que se chama
contrato de impacto social.
Nesse formato, o governo abre um edital para receber propostas com objetivo de melhorar indicadores específicos.
A escolha do provedor é feita por meio de competição, como num leilão. E
o eleito só recebe se atingir os objetivos estabelecidos ao longo do
tempo do contrato.
No caso de SP, as metas envolvem melhorar índices de aprovação e
conclusão no ensino médio, etapa em que a evasão escolar se agrava
muito.
Uma das exigências que devem constar do edital —que está atualmente
aberto a consulta pública— é que, seja qual for a ferramenta proposta,
ela precisa incluir medidas para aproximar os pais da vida escolar dos
filhos.
Pode soar como paternalismo, mas as famílias não são obrigadas a agir. Estão sendo apenas estimuladas a ficar atentas. Como
propõe o vencedor do Nobel de Economista deste ano, Richard Thaler, é empurrão ("nudge") na direção correta.