domingo, 17 de dezembro de 2017

A participação ativa dos pais é crucial para o bom desempenho educacional dos filhos.

A participação ativa dos pais é crucial para o bom desempenho educacional dos filhos.
Se essa afirmação for óbvia, ela é ignorada por uma parcela não desprezível de famílias brasileiras, como revela um levantamento do IBGE de 2015.
Segundo a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), os pais de quatro em cada dez adolescentes do 9º ano do ensino fundamental não verificam se suas lições de casa foram feitas.
As famílias de 23,4% dos alunos desconhecem o fato de que eles faltaram a aulas nos 30 dias anteriores à enquete, e um percentual parecido não sabe o que os jovens fazem em seu tempo livre.
Em 26% das famílias, nenhum dos pais está presente em pelo menos uma refeição durante a semana.
Todas essas atividades de engajamento entre pais e filhos têm efeito positivo no desempenho escolar, segundo um amplo conjunto de pesquisas.
Segundo um estudo da OCDE uma única refeição semanal familiar está associada a um aumento de pelo menos 12 pontos na nota dos jovens em ciências no exame internacional Pisa.
O que pesquisas como essa parecem capturar é que demonstrações de interesse sobre a vida de crianças e jovens melhoram sua aprendizagem.
Pode ser que os pais omissos nesse sentido desconheçam essa relação ou que simplesmente se esqueçam dela no dia a dia corrido.
Mas experimentos recentes mostram que basta lembrar às famílias sobre a importância de acompanhar a rotina escolar dos filhos para que elas reajam de forma positiva.
À medida que esses resultados começaram a circular, os governos têm acordado para o fato de que mediar e incentivar a aproximação entre pais e escolas pode ajudar, e muito, a melhorar a educação.
Provavelmente não será a salvação da pátria, mas é um caminho que, se perseguido em larga escala, talvez ajude o Brasil a superar um quadro de fracasso educacional, principalmente no ensino médio, em que outras medidas tentadas até agora têm surtido efeito reduzido.
"O que a gente nota é que não está havendo um efeito milagroso de fazer o aluno voltar para a sala de aula", me disse na semana passada José Renato Nalini, secretário de Educação do Estado de São Paulo.
Um dos principais problemas que desafiam os gestores educacionais é a elevada evasão escolar na adolescência, como ressalta Nalini: "A escola tem salas um pouco ociosas e os barezinhos das imediações estão cheios".
Com a assessoria do Insper Metricis e do BID, o governo de São Paulo identificou que a aproximação dos pais com as escolas é uma das medidas que podem ajudar a reverter o problema.
O Estado teve uma experiência avaliada como positiva nessa direção. Em 2016, testou em uma parte pequena da rede um programa chamado EduqMais, que envolvia mandar mensagens simples de texto para os pais, via SMS, alertando para a importância da frequência escolar.
Há evidências, medidas em uma avaliação de impacto, de que a taxa de reprovação caiu e a aprendizagem dos alunos aumentou como consequência do experimento.
Desde agosto, Mato Grosso também tem feito uma intervenção que envolve a comunicação com pais, via SMS, por meio de outro programa, chamado Mira Aula. Seu impacto será testado em breve.
Outros Estados e municípios vêm testando esses e outros programas.
A comunicação via SMS com os pais é barata e tem a vantagem de atingir famílias que têm celular —a vasta maioria—, mas não necessariamente acesso à internet.
Até então, experiências desse tipo têm sido implementadas da seguinte forma: as start-ups ou organizações criadoras das ferramentas convencem governos a implementá-las experimentalmente e com um modelo que permita que os resultados sejam avaliados de forma séria.
São Paulo dará um passo mais ousado no sentido de tentar fomentar a inovação na política pública educacional. O Estado testará um modelo importado do Reino Unido e já usado em quase 20 países que se chama contrato de impacto social.
Nesse formato, o governo abre um edital para receber propostas com objetivo de melhorar indicadores específicos.
A escolha do provedor é feita por meio de competição, como num leilão. E o eleito só recebe se atingir os objetivos estabelecidos ao longo do tempo do contrato.
No caso de SP, as metas envolvem melhorar índices de aprovação e conclusão no ensino médio, etapa em que a evasão escolar se agrava muito.
Uma das exigências que devem constar do edital —que está atualmente aberto a consulta pública— é que, seja qual for a ferramenta proposta, ela precisa incluir medidas para aproximar os pais da vida escolar dos filhos.
Pode soar como paternalismo, mas as famílias não são obrigadas a agir. Estão sendo apenas estimuladas a ficar atentas. Como propõe o vencedor do Nobel de Economista deste ano, Richard Thaler, é empurrão ("nudge") na direção correta.

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