segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Pais, Filhos e a Escola Desconectada

A desconexão que atinge a educação atual não reside apenas nas telas do celular; ela é muito mais profunda e complexa. Trata-se da desconexão no processo de construção de identidade e de vivência.

Vivemos a era das famílias desconectadas de seus filhos. Muitas vezes, os pais, absorvidos por suas próprias rotinas e lutas, não conseguem estabelecer a ponte necessária para entender as fases e os desafios emocionais de seus jovens. Essa lacuna gera filhos desconectados da realidade e do aprendizado. Sem um alicerce sólido de diálogo e orientação em casa, a escola se torna um espaço onde o sentido de estudar e o valor do conhecimento se perdem, resultando em desinteresse e desengajamento. O aprendizado é um processo de construção de sentido, e quando falta a cola familiar, essa construção desmorona.

Paradoxalmente, por vezes, temos a escola desconectada da realidade dos alunos. O currículo, os métodos e as expectativas podem parecer distantes do universo social, econômico e cultural que o estudante realmente habita.

No meio desse nó, os professores se encontram perdidos em uma rede de atordoamentos. Eles lidam com a apatia em sala, a indisciplina gerada pela falta de referências e a carência de recursos, enquanto são pressionados por políticas educacionais que parecem desconectadas do tempo em que vivemos. São normas e metas que não consideram a complexidade do contexto social, a sobrecarga do educador e a necessidade real de um ensino que olhe para o aluno como um ser integral, e não apenas como um número.

A verdadeira reconexão exige um esforço conjunto: o resgate da presença e do diálogo em casa, uma escola que consiga ver e acolher a realidade de quem aprende, e políticas que escutem o chão da sala de aula.

A Difícil Arte de Ensinar na Desconexão

Ensinar sempre foi uma arte complexa, mas nos dias de hoje, essa tarefa se transforma em um verdadeiro malabarismo, especialmente em ambientes marcados pela desconexão. O professor moderno é, sim, um mediador de conhecimento, mas a sua função vai muito além disso: ele é um gestor de crises, um incentivador e, muitas vezes, um fornecedor de materiais básicos.

Imagine uma sala de aula com 32 alunos. A massa de energia é imensa, mas a conversa paralela é um ruído constante que sabota a fluidez e a concentração. O tempo de ensino, tão precioso, é fragmentado pela necessidade incessante de pedir silêncio e retomar o foco.

A essa dificuldade somam-se os obstáculos práticos que expõem a desconexão com a própria atividade de aprender. Muitos alunos chegam à aula sem o material adequado: sem lápis, sem borracha, sem caneta e, por vezes, até sem caderno. Essa falta gera um ciclo vicioso de interrupções, onde o ato de pedir emprestado ou o simples procurar por algo vira a atividade principal, desvirtuando o objetivo do aprendizado.

Essa ausência de material reflete uma desconexão da realidade da aula e uma aparente falta de interesse. Por mais que o professor se esforce, buscando alternativas criativas, utilizando novas tecnologias ou metodologias envolventes, ele se depara com um muro de apatia. A arte de ensinar, então, torna-se a difícil arte de lutar contra a indiferença e de tentar costurar pontes de interesse onde, aparentemente, só há desengajamento. Lidar com a desconexão é o maior desafio contemporâneo da educação.