quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rousseau e a Educação

Rousseau viveu num mundo de repressões e perseguições e nós vivemos num mundo de incertezas que, inevitavelmente, temos e precisamos de saber conviver com elas. E infelizmente é algo que também tem que fazer parte da educação das crianças e dos jovens da nossa era. Eles precisam de se conscientizar nas incertezas para que saibam contorná-las em qualquer momento. A aprendizagem tem um sentido de preparação para as ações concretas, pois tem que ter o sentido da realidade, ter em conta os fatos, as circunstâncias e não a transcrição mecânica de valores ou normas gerais. O agir corretamente é o resultado de um projecto de aprendizagem, uma tarefa que resulta da educação e não o resultado de ‘prescrições comerciáveis’ para transferir para o educando. Portanto, a educação não pode gerar nos educandos um conjunto acabado de virtudes direcionadas para a justiça, para a solidariedade ou para o respeito pelo próximo e por tudo aquilo que o rodeia. Ou seja, não é pela educação que nos tornamos pessoas justas. A educação pode abrir ao educando o mundo do agir moral através de processos pedagógicos, que o ajudem a refletir e a comunicar sobre proposições morais inerentes ao ambiente social e cultural em que se vive. No entanto, isto não quer dizer que as tentativas de introdução dos educandos no ‘mundo moral’ e a sua familiarização com as expectativas de comportamento culturalmente estabelecidas por esse mundo, sejam sinônimo de conformidade com esses comportamentos, pois sabemos de antemão que um fato é aquilo que o mundo moral ‘reza’, e outro fato é a realidade concreta. Ou seja, a educação não tem como garantir resultados, pois a ação e o comportamento concretos realizam-se no contexto de várias circunstâncias e determinações. As crianças podem ser introduzidas no mundo moral mas os seus comportamentos não podem de modo algum ser predefinidos. A educação moral tem regras com conteúdos precários que são moldados num mundo de circunstâncias, mas à luz de normas éticas mais gerais e estas normas não têm qualquer especificação de validade mas insinuam a necessidade de como, em determinadas circunstâncias, as devemos viver ou mesmo transgredir mediante justificação. E todos nós temos consciência de que é realmente assim. Portanto, há que ter em conta que a educação moral não serve para que as crianças e jovens ‘internem’nas suas mentes normas supostamente corretas, mas sim para que aprendam e tenham consciência de que, em circunstâncias concretas, essas normas são necessárias para salvaguardar os princípios mínimos da vida em comum, tal como o respeito pela vida, pela dignidade do outro e pelo meio ambiente.

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