— Quem sou eu dentro da escola? — pergunta, em tom reflexivo, o professor Antônio, enquanto observa a movimentação dos alunos no pátio durante o intervalo.
— Você é o que todos nós somos aqui: uma peça fundamental, responde a professora Marta, sentando-se ao seu lado com um sorriso cansado, porém sereno.
— Às vezes me pergunto se ainda estamos fazendo diferença… Com tanta cobrança, tanta burocracia, com as dificuldades diárias… Será que estamos mesmo conseguindo ensinar algo de valor?
Marta respira fundo antes de responder.
— Antônio, nós somos muito mais do que transmissores de conteúdo. Nós somos aqueles que acolhem, que escutam, que percebem quando um aluno está triste só pelo olhar. Somos os que adaptam, reinventam, insistem. Quem mais conseguiria isso, senão o professor?
— É verdade. Já perdi a conta de quantas vezes precisei ser psicólogo, conselheiro, até enfermeiro... tudo em um mesmo dia. E mesmo assim, me pego duvidando do meu papel.
— Acontece com todos nós. Mas pensa bem: quem planta as sementes do pensamento crítico, da curiosidade, do respeito, somos nós. Cada aluno que encontra seu caminho carrega um pedacinho do que ensinamos, ainda que ele nem perceba.
— Então, quem sou eu? — pergunta Antônio novamente, agora com um brilho nos olhos.
— Você é a base. É ponte, é farol. É aquele que acredita mesmo quando todos desacreditam. O professor é aquele que transforma o mundo em silêncio, com uma palavra, um olhar, um gesto. Sem você, não há escola que funcione, por mais moderna que seja.
Antônio sorri.
— E você, Marta? Quem é você?
— Sou como você. Uma professora que cansa, mas não desiste. Que sente medo, mas segue. Que entende que educar é um ato de coragem e esperança. E que sabe que, mesmo quando ninguém vê, a gente faz toda a diferença.
Ali, no meio da rotina, dois professores se reconhecem como o que são de verdade: não apenas profissionais da educação, mas construtores de futuros. Porque, afinal, a pergunta “quem sou eu?” só tem uma resposta possível, quando se é professor: sou essencial.