Lúcio olhava para o relógio de parede como se esperasse que ele parasse. Mas o tempo nunca parava. Nem para ele, nem para ninguém.
Durante anos, Lúcio adiou os sonhos. Sempre havia
um amanhã mais conveniente, um mês menos apertado, um ano menos turbulento. Ele
dizia a si mesmo que depois teria tempo de viajar, de visitar os velhos amigos,
de aprender a tocar violão, de dizer para sua mãe o quanto a amava. Sempre
depois.
Mas os anos foram passando. A mãe partiu sem que
ele dissesse tudo o que queria. Os amigos seguiram seus caminhos. As
oportunidades ficaram pelo caminho, sufocadas pelas desculpas que ele repetia
sem perceber.
Certa manhã, enquanto tomava café, Lúcio ouviu o
riso de uma criança na rua. Um menino, de no máximo sete anos, corria atrás de
um cachorro, gargalhando como se o mundo inteiro fosse uma brincadeira
infinita. E Lúcio se perguntou: "Quando foi que eu parei de
correr?"
A pergunta ecoou em sua mente por dias. Até que,
uma noite, ele pegou o telefone e ligou para um amigo que não via há anos.
Comprou a passagem para aquela viagem que sempre adiou. Começou a aprender
violão, errando os acordes com um sorriso no rosto.
O tempo não voltava, mas o agora ainda era seu.
Porque, no fim, nunca é tarde para viver.
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