O despertador tocava às 5h30, e Antônio já sabia o que vinha depois. Um banho rápido, um café tomado às pressas e logo estava no carro, pronto para enfrentar a estrada. De segunda a sexta, dirigia por horas entre duas cidades diferentes para trabalhar. Pela manhã, atendia clientes em uma cidade; à tarde, resolvia negócios em outra. No fim do dia, voltava para casa exausto, só para repetir tudo de novo no dia seguinte.
No início, até tentou prestar atenção no caminho.
As montanhas imponentes, o céu tingido de laranja no amanhecer, os pequenos
vilarejos pelo percurso. Mas, com o tempo, tudo virou apenas um borrão na
pressa do dia a dia. O que importava era o trânsito, os semáforos, o relógio.
Dirigia quase no automático, sempre apressado, sempre preocupado com o próximo
compromisso.
Nas rádios, falavam sobre cachoeiras escondidas e
pontos turísticos da região. Ele passava por esses lugares todos os dias, mas
nunca parava. Nem sequer olhava com atenção. Tudo o que via eram placas, carros
e relógios marcando a hora.
Certa tarde, ao pegar um congestionamento
inesperado, foi obrigado a desacelerar. Pela primeira vez em anos, olhou
realmente ao redor. O sol refletia nas águas de um rio à beira da estrada, um
grupo de garotos brincava em um campo, e um senhor sentado em um banco de praça
apenas observava o tempo passar.
E foi ali, dentro do seu próprio carro, parado em
meio ao trânsito, que Antônio percebeu algo: a vida estava acontecendo, mas
ele nunca tinha tempo para vê-la.
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