segunda-feira, 28 de julho de 2025

O Baixo Aproveitamento Escolar e Sua Relação com a Indisciplina em Sala de Aula

A sala de aula, idealmente, deveria ser um santuário de aprendizado, um espaço onde o conhecimento flui e a curiosidade é estimulada. Contudo, a realidade de muitas escolas brasileiras, e de outros lugares do mundo, é marcada pela presença da indisciplina, um fator que se relaciona diretamente com o baixo aproveitamento escolar. Uma turma indisciplinada não apenas compromete o rendimento dos alunos que a compõem, mas cria um ambiente hostil que impede o desenvolvimento até mesmo dos estudantes mais dedicados e bem comportados.

Quando o professor precisa constantemente interromper a aula para conter conversas paralelas, resolver conflitos ou chamar a atenção para comportamentos inadequados, o tempo pedagógico se esvai. O ritmo da aula é quebrado, a concentração é dissipada e a oportunidade de aprofundar o conteúdo é perdida. Mesmo o aluno que busca avidamente o conhecimento é prejudicado. Imagine um estudante esforçado, tentando absorver uma explicação complexa de matemática, enquanto ao seu redor há gritos, risadas ou objetos sendo arremessados. A capacidade de focar é severamente comprometida, e o processo de construção do saber é sabotado.

É nesse contexto que a reflexão de Celso Vasconcellos, um renomado pensador da educação, se torna ainda mais pertinente: "A disciplina não é um fim em si mesma, mas uma condição para o trabalho pedagógico". Ou seja, a ordem em sala não é para controlar ou punir, mas para criar as condições necessárias para que o ensino e a aprendizagem aconteçam. Sem um mínimo de organização e respeito, a escola deixa de cumprir seu papel primordial.

Diante disso, é imperativo que o professor, linha de frente nessa batalha diária, seja veementemente apoiado pela gestão escolar. Não se trata de delegar apenas ao docente a responsabilidade de manter a ordem, mas de construir um esforço conjunto. A gestão deve fornecer os recursos, as estratégias e, acima de tudo, o respaldo necessário para que o professor possa estabelecer limites claros, aplicar consequências consistentes e, quando necessário, contar com a intervenção de outros profissionais.

Para Paulo Freire, "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção". E como criar essas possibilidades em meio ao caos? A indisciplina em sala de aula é um entrave ao desenvolvimento pleno de todos os envolvidos. Somente com um ambiente propício, construído e mantido com o apoio irrestrito da gestão, os professores poderão exercer plenamente sua função e os alunos, sem exceção, terão a chance de alcançar seu potencial máximo de aprendizagem.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 9. ed. São Paulo: Libertad, 2011.

O aluno que atrapalha o andamento da aula deve ser retirado da sala?

A sala de aula é um espaço coletivo de construção do conhecimento, onde o direito de aprender deve ser garantido a todos. Contudo, quando um estudante constantemente interrompe as atividades com “gracinhas”, desrespeita o professor e tira o foco dos colegas, após inúmeras advertências verbais, surge a questão: é justo e pedagógico retirá-lo da sala para preservar o andamento da aula?

Segundo Paulo Freire (1996, p. 45), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Contudo, essa possibilidade depende de um ambiente minimamente organizado e respeitoso. Quando um aluno compromete essa dinâmica, prejudica não apenas o professor, mas todo o grupo, e a gestão escolar deve intervir de forma educativa.

Libâneo (1994, p. 82) ressalta que “a disciplina em sala de aula é condição indispensável para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma efetiva, garantindo o aproveitamento escolar de todos”. Assim, a retirada temporária do estudante para a coordenação pedagógica não deve ser vista como punição arbitrária, mas como estratégia pedagógica que visa interromper o comportamento prejudicial e abrir espaço para reflexão.

Além disso, Vygotsky (2001, p. 117) aponta que “o desenvolvimento ocorre na interação social, mediada e orientada”. Encaminhar o estudante para a coordenação possibilita que ele tenha um diálogo mais firme e orientado sobre as consequências de suas atitudes, entendendo que a liberdade no ambiente escolar vem acompanhada de responsabilidade.

Portanto, a retirada momentânea do aluno da sala, após várias advertências e registros, pode ser necessária, desde que acompanhada de orientação pedagógica e diálogo, visando não apenas a ordem na aula, mas também a formação ética e social do estudante. A escola não deve agir apenas punitivamente, mas de modo formativo, buscando que o aluno compreenda o impacto de suas atitudes e possa retomar sua participação de forma saudável.

Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

A BUSCA DO EQUILÍBRIO ENTRE O TRADICIONAL E O NOVO NA SALA DE AULA

 A era digital trouxe consigo uma revolução sem precedentes, transformando a forma como interagimos, acessamos informações e, inevitavelmente, como aprendemos. No campo da educação, a informatização e a digitalização do ensino foram abraçadas por muitos como a panaceia para todos os males. Países investiram massivamente em tecnologia, por vezes, esquecendo-se de que a inovação, por si só, não garante a qualidade. Em alguns casos, a tentativa de digitalizar tudo resultou em erros significativos, criando lacunas no processo de aprendizagem e distanciando alunos de metodologias que, embora tradicionais, são comprovadamente eficazes.

A chave, portanto, não reside em uma substituição radical, mas sim na busca do equilíbrio. A sala de aula do século XXI não pode ignorar o poder das ferramentas digitais – lousas interativas, plataformas de EAD, acesso a vastos oceanos de informação. Elas ampliam as possibilidades, personalizam o aprendizado e conectam os alunos a um mundo globalizado. No entanto, o calor da interação humana, a profundidade de um debate face a face, a simplicidade de um bom livro físico, a importância da escrita à mão no desenvolvimento cognitivo e a disciplina do estudo em ambientes menos distração-induzidos são elementos insubstituíveis que as ferramentas tradicionais oferecem.

Para conciliar esses dois universos, é fundamental um investimento massivo na matéria-prima fundamental: o professor. Não basta equipar as escolas com tecnologia de ponta se os educadores não estiverem preparados para integrá-la de forma pedagógica, sabendo quando e como usar cada recurso – seja ele um tablet ou um giz. Professores bem capacitados são capazes de discernir quando uma aula expositiva tradicional é mais eficaz, quando um projeto colaborativo mediado pela tecnologia é o ideal, ou quando a combinação de ambos potencializa o aprendizado. Eles são os arquitetos que moldam a experiência educacional, garantindo que a tecnologia seja uma ferramenta a serviço da aprendizagem, e não um fim em si mesma. Somente assim poderemos construir um modelo educacional robusto, que combine o melhor de ambos os mundos para formar cidadãos críticos, criativos e bem preparados para os desafios do futuro.

O PERIGO DAS REDES SOCIAIS

 As redes sociais emergiram como um dos mais democráticos e revolucionários veículos de comunicação da nossa era. Elas nos conectam, informam e proporcionam voz a milhões. Contudo, essa mesma liberdade e acessibilidade que as tornam tão poderosas também as transformam em um terreno fértil para perigos e desafios.

A facilidade com que alguns indivíduos se utilizam dessas plataformas para difamar, atacar ou expor suas "maluquices" e acusações sem qualquer base ou prova é alarmante. A frase "eu acho" tornou-se um mantra para disseminar informações duvidosas, tornando os debates rasos e a busca pela verdade uma tarefa hercúlea. A linha entre opinião e fato é constantemente borrada, e a proliferação de fake news se tornou um câncer digital, corroendo a confiança e manipulando percepções em escala global.

Para se proteger desses ataques e da desinformação, a vigilância e o pensamento crítico são armas essenciais. Primeiro, desconfie de títulos sensacionalistas e de notícias que geram reações emocionais extremas. Verifique a fonte: quem publicou? É um veículo de comunicação confiável ou uma página desconhecida? Busque outras fontes para confirmar a informação antes de compartilhar. Evite o impulso de comentar ou replicar sem antes refletir sobre a veracidade e o impacto do conteúdo.

Além disso, cuide da sua privacidade e segurança. Configure suas redes sociais para limitar quem pode ver suas publicações e informações pessoais. Pense duas vezes antes de postar algo que possa ser usado contra você ou que revele demais sobre sua vida. Lembre-se: o que é postado na internet, raramente é completamente apagado.

As redes sociais são ferramentas poderosas, mas, como qualquer ferramenta, seu uso exige responsabilidade e cautela. Cabe a cada um de nós ser um filtro, um agente da verdade e um promotor de discussões construtivas, resistindo à tentação de usar ou ser vítima do lado sombrio desse universo digital.

SOMOS ETERNOS APRENDIZES

 A jornada da vida é, sem dúvida, uma estrada de descobertas contínuas, e nesse percurso, somos todos, sem exceção, eternos aprendizes. A ideia de que o aprendizado se restringe aos bancos escolares ou a uma fase específica da vida é uma ilusão que a própria dinâmica do cotidiano desmente. A cada amanhecer, o mundo nos apresenta novas lições, e cabe a nós a sensibilidade de observá-las e absorvê-las.

Mesmo aqueles que se dedicam a ensinar, os professores, compreendem profundamente essa verdade. Longe de serem meros detentores do saber que o transmitem unidirecionalmente, os educadores experientes sabem que seus alunos são fontes inesgotáveis de conhecimento. Seja a curiosidade genuína e desarmada de uma criança pequena, que desvenda o mundo com um olhar novo a cada instante, ou a perspectiva inovadora e os desafios instigantes levantados por alunos mais velhos, o processo de ensino-aprendizagem é, na sua essência, uma troca constante.

Cada interação, cada erro, cada sucesso e cada pergunta inesperada se transformam em oportunidades para expandir nossa própria compreensão. A vida é um eterno aprender, um fluxo contínuo de experiências que nos moldam, nos desafia e nos convida a revisitar nossas certezas. Reconhecer essa condição de aprendiz constante é abrir-se para o crescimento, para a humildade e para a riqueza infinita que reside na curiosidade e na capacidade de se maravilhar com o novo, a cada dia.

terça-feira, 1 de julho de 2025

Quem sou eu?

 — Quem sou eu dentro da escola? — pergunta, em tom reflexivo, o professor Antônio, enquanto observa a movimentação dos alunos no pátio durante o intervalo.

Você é o que todos nós somos aqui: uma peça fundamental, responde a professora Marta, sentando-se ao seu lado com um sorriso cansado, porém sereno.

Às vezes me pergunto se ainda estamos fazendo diferença… Com tanta cobrança, tanta burocracia, com as dificuldades diárias… Será que estamos mesmo conseguindo ensinar algo de valor?

Marta respira fundo antes de responder.
Antônio, nós somos muito mais do que transmissores de conteúdo. Nós somos aqueles que acolhem, que escutam, que percebem quando um aluno está triste só pelo olhar. Somos os que adaptam, reinventam, insistem. Quem mais conseguiria isso, senão o professor?

É verdade. Já perdi a conta de quantas vezes precisei ser psicólogo, conselheiro, até enfermeiro... tudo em um mesmo dia. E mesmo assim, me pego duvidando do meu papel.

Acontece com todos nós. Mas pensa bem: quem planta as sementes do pensamento crítico, da curiosidade, do respeito, somos nós. Cada aluno que encontra seu caminho carrega um pedacinho do que ensinamos, ainda que ele nem perceba.

Então, quem sou eu? — pergunta Antônio novamente, agora com um brilho nos olhos.

Você é a base. É ponte, é farol. É aquele que acredita mesmo quando todos desacreditam. O professor é aquele que transforma o mundo em silêncio, com uma palavra, um olhar, um gesto. Sem você, não há escola que funcione, por mais moderna que seja.

Antônio sorri.
E você, Marta? Quem é você?

Sou como você. Uma professora que cansa, mas não desiste. Que sente medo, mas segue. Que entende que educar é um ato de coragem e esperança. E que sabe que, mesmo quando ninguém vê, a gente faz toda a diferença.

Ali, no meio da rotina, dois professores se reconhecem como o que são de verdade: não apenas profissionais da educação, mas construtores de futuros. Porque, afinal, a pergunta “quem sou eu?” só tem uma resposta possível, quando se é professor: sou essencial.

A diferença só vai ser feita quando o professor for o foco do investimento

 Muito se fala sobre modernizar a educação: construir escolas bonitas, equipar salas com lousas digitais, oferecer tablets e internet de alta velocidade. Tudo isso, sem dúvida, é importante. Estruturas adequadas e tecnologias atualizadas colaboram para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e atrativo. No entanto, nenhum desses avanços terá impacto real e duradouro se o principal agente da educação continuar sendo negligenciado: o professor.

É o professor quem transforma conteúdos em conhecimento significativo. É ele quem dá vida ao currículo, que acolhe, motiva, media conflitos, adapta estratégias e encontra caminhos quando o sistema falha. Por isso, tratar o educador apenas como um retransmissor de conteúdos é não compreender a essência do processo educacional. O professor não é uma engrenagem da máquina: ele é o coração da escola.

Infelizmente, em muitos contextos, o investimento no profissional da educação ainda é tímido e insuficiente. Falta valorização salarial, formação continuada de qualidade, tempo para planejamento e, sobretudo, reconhecimento social e institucional. Espera-se que o professor seja inovador, criativo, resiliente e apaixonado, mas não se oferece a ele as condições básicas para exercer sua função com excelência.

É preciso entender que a diferença na educação começa quando se investe na formação crítica e reflexiva do docente, na sua saúde mental, nas suas condições de trabalho e em sua autonomia pedagógica. Equipamentos e materiais são recursos — importantes, sim — mas quem os transforma em instrumentos pedagógicos eficazes é o professor. É ele quem entende as reais necessidades dos alunos, que constrói pontes entre o conteúdo e a vida, que promove o aprendizado de forma humanizada.

Quando o professor é o centro do investimento, os resultados aparecem em toda a comunidade escolar. Estudantes mais engajados, aprendizagens mais significativas, ambiente escolar mais saudável. Valorizar o professor é investir na base de todo o processo educacional. É reconhecer que, por trás de cada boa aula, existe um profissional preparado, dedicado e insubstituível.

Portanto, a verdadeira revolução educacional não virá apenas dos recursos tecnológicos ou das reformas estruturais. Ela só acontecerá quando o professor deixar de ser o último da fila e passar a ser o primeiro: o primeiro a ser ouvido, respeitado e valorizado. Porque é ele quem faz a diferença acontecer, todos os dias, dentro de cada sala de aula.

A necessidade da mudança e o medo do novo

No contexto educacional, a mudança é uma necessidade constante, impulsionada pelas transformações sociais, tecnológicas e culturais que reconfiguram, a cada dia, o modo como se aprende e se ensina. No entanto, ainda que se reconheça a urgência de evoluir, a resistência ao novo é um obstáculo real e comum nas escolas. Essa resistência nasce, sobretudo, do medo: medo de sair da zona de conforto, de enfrentar o desconhecido e de ter que reinventar práticas que, por anos, foram consideradas suficientes.

Mudar dentro da escola não significa apenas adotar novas tecnologias ou metodologias. Significa repensar currículos, relações, espaços, tempos e, sobretudo, posturas. Significa questionar práticas que já não atendem aos estudantes do século XXI. Mas, para muitos profissionais da educação, essa revisão é sentida como ameaça. Afinal, a estabilidade de rotinas e a familiaridade de velhos métodos oferecem segurança frente ao caos da novidade.

Esse medo não se limita a professores. Ele perpassa todos os setores da escola: gestores que temem perder o controle ao flexibilizar estruturas; funcionários que sentem que o novo pode tornar seus papéis obsoletos; famílias que desconfiam de propostas que diferem daquilo que viveram em suas trajetórias escolares. A mudança, quando não bem conduzida, assusta e provoca reações de autoproteção.

Entretanto, a escola só poderá cumprir sua função social de formar sujeitos críticos, autônomos e preparados para a vida se ela mesma for capaz de se reinventar. A permanência em modelos ultrapassados contribui para a estagnação e para o distanciamento entre escola e sociedade. Por isso, é fundamental cultivar uma cultura institucional aberta ao diálogo, à escuta e à experimentação. O erro, nesse processo, não deve ser visto como fracasso, mas como parte do caminho de construção coletiva.

A superação do medo do novo exige, portanto, lideranças inspiradoras, formação continuada significativa, empatia com os diferentes ritmos de adaptação e, principalmente, propósito claro. Quando todos os atores da escola compreendem que a mudança visa um bem comum – uma educação mais justa, atual e eficaz – a resistência tende a ceder espaço à colaboração.

Assim, a necessidade de mudança nas escolas não deve ser encarada como ameaça, mas como oportunidade. O novo, embora desafiador, carrega em si o potencial de transformar não apenas práticas pedagógicas, mas também relações humanas, horizontes de aprendizagem e, em última instância, a própria essência da escola. Abraçar o novo é, afinal, aceitar que educar é um ato de constante transformação.