domingo, 22 de setembro de 2013

Sala de aula lotada diminui aprendizado do aluno

Escolas com salas lotadas da rede pública de ensino em Rio Preto apresentam os piores índices educacionais do município. A relação entre número de alunos por sala e qualidade educacional foi feita pelo Diário a partir do cruzamento de dados do Censo Escolar 2010 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), ambos do Ministério da Educação. De cem escolas públicas, municipais e estaduais, da rede de ensino rio-pretense, 16 têm ao menos uma série com média de pelo menos quatro alunos a mais por sala de aula do que o limite máximo recomendado tanto pelo Estado quanto pela Prefeitura. Três dessas escolas, todas municipais, têm três séries superlotadas. Uma delas é a Yolanda Ferrari Vargas, no Jardim Maria Lúcia, zona norte. O primeiro, quarto e quinto anos apresentam média de alunos por sala, respectivamente, de 30, 34,3 e 34,7, acima do limite determinado pela própria Secretaria Municipal de Educação: até 25 alunos no 1º ano, 30 alunos do 2º ao 5º anos e 35 do 6º ao 9º. O colégio apresentou o pior Ideb das escolas públicas de Rio Preto no 5º ano, com índice 5,0. O Ideb é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar e médias de desempenho nas avaliações do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep): o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios. O último resultado é de 2009. A escola Wilson Romano Calil, bairro Solo Sagrado, zona norte da cidade, teve índice 5,7 no último Ideb de 5º ano, o quinto pior do município. Nessa série, são 34,4 alunos por sala, em média, - o limite é de 30 - mas chega a 36, caso do 5ºF, segundo o aluno Filipe Augusto de Oliveira, 10 anos. “Minha sala tem 36 alunos, mas já teve 40, no começo do ano. É muita bagunça, fica difícil prestar atenção no que o professor fala”, afirma. A situação é semelhante à escola estadual Yvete Gabriel Atique, no Eldorado. São 40,2 alunos por sala no 9º ano (antiga 8ª série), cinco a mais do que o limite recomendado pela Secretaria de Estado da Educação. A escola teve índice 4,1 no último Ideb, o segundo pior de Rio Preto. Má qualidade “Diante de uma sala lotada, não dá para o professor abraçar todos os alunos. Então ele escolhe os melhores e abandona aqueles que mais precisam de atenção. O resultado é uma educação de má qualidade, quando se considera a sala como um todo. Muitos alunos terminam o primeiro ciclo do fundamental não alfabetizados”, diz José Marcelino de Rezende, especialista em políticas educacionais da USP. “Como 40, 45 alunos irão prestar atenção no que o professor diz na sala? Ficam palavras no ar”, afirma Osnilda Grassi, conselheira regional da Apeoesp (sindicato da categoria). A professora C.B. leciona história em duas escolas estaduais de Rio Preto. No 9º ano de uma delas, são 40 alunos. “A gente tenta na base da bronca, e acaba dando aula gritando. Mesmo assim, não tem jeito, eles não respeitam, te enfrentam”, reclama. Outra docente solicitou afastamento no início da semana passada por estresse. Problema decorrente, segundo ela, da superlotação. “São mais de 40 alunos por sala, gritando, bagunçando. Cheguei ao meu limite. Acabo de deixar o hospital depois que a minha pressão chegou a 18 por 11.” Colégios particulares têm 12 alunos por sala Superlotação nas salas de aula é algo raro na rede privada de ensino em Rio Preto. Das 62 instituições com ensino fundamental na cidade, duas apresentam séries com médias de alunos por sala lotadas. As demais têm realidade bem diversa da rede pública - a média é de apenas 12,6 alunos por sala. A relação entre quantidade de alunos e qualidade do ensino pode ser expressa por números. Considerando uma aula de 50 minutos, cada aluno da 8ª série da escola Bento Abelaira Gomes, no Jardim Antunes, média de 44 por sala, dispõe de 1,1 minuto da atenção do professor, em média. No colégio Azevedo Marques, mesma série, são 3,5 minutos para a média de 14 alunos por sala. “É uma política recorrente das escolas particulares do município ter poucos alunos por sala, porque isso se reflete diretamente na qualidade do ensino. Não adianta visar somente o lucro e entupir a sala com 50 estudantes. A qualidade despenca, e a credibilidade também”, diz Antonio Carlos Tozzo, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Ensino Básico em Rio Preto. O colégio Interativo, no Alto Rio Preto, estabeleceu limite de até 15 estudantes por sala no 1º e 2º anos do fundamental, 18 no 4º e 5º anos e 22 do 6º ao 9º. “Essa é uma proposta pedagógica que vem desde a fundação da escola, há 11 anos. Com menos alunos, a conversa paralela em sala é menor, e a atenção individualizada do professor, maior”, afirma a diretora pedagógica do colégio, Maria Aparecida de Lucca. A 7ª série tem 17 alunos, metade do teto preconizado pelo Estado, 35. “Ajuda no trabalho em sala. Posso colocar um aluno de frente para o outro para dinâmicas, e não precisa chamar a atenção. A aula rende mais”, diz Marcos Nevian, professor de português. Arthur de Toledo, 13 anos, também diz notar as vantagens de poucos alunos na sala. “O professor dá mais atenção ao aluno que tem dificuldade.” Fundeb Para o especialista em políticas educacionais da USP José Marcelino de Rezende, o sistema de repasse de recursos para a educação, via Fundeb, o fundo da educação básica, incentiva a lotação. “É uma lógica per capita. Como o repasse de dinheiro é por estudante, para que o dinheiro renda é interessante que haja muitos alunos por sala”, afirma. Neste ano, o Fundeb repassou R$ 55,3 milhões para Rio Preto, de acordo com o Ministério da Educação. Para Rezende, a saída para eliminar o problema seria editar uma lei determinando o número máximo de alunos por sala. O que existe hoje é apenas uma recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 2009, referendada pelo MEC, que pode ou não ser seguida por Estados e municípios. Estado e Prefeitura dizem cumprir norma A Secretaria de Educação de Rio Preto informou por meio de nota encaminhada pela assessoria que segue o número máximo de alunos por série estabelecido pela própria pasta para o ensino fundamental: até 25 alunos no 1º ano, 30 alunos do 2º ao 5º anos e 35 do 6º ao 9º. Em relação às escolas Lydia Sanfelice, Antonio Teixeira Marques e Wilson Romano Calil, além da demanda dos respectivos bairros, conforme a assessoria, as unidades têm atendido alunos da zona rural. A pasta lembra que, para melhorar a oferta de vagas na rede municipal, está em construção escolas de ensino fundamental nos quatro “Núcleos da Esperança”, no Jardim Santa Catarina, Vila Azul, Santa Clara e Alvorada, todos na periferia. Além disso, estão sendo construídas mais cinco novas escolas na cidade, de acordo com a assessoria: duas no bairro Nova Esperança (infantil e fundamental), duas no Parque da Liberdade (infantil e fundamental) e uma de educação infantil no bairro Aroeira 2. Todas essas unidades irão disponibilizar 7 mil novas vagas. A assessoria da Secretaria de Estado da Educação garantiu cumprir a resolução que determina o máximo de 30 alunos no primeiro ciclo do fundamental, 35 no segundo ciclo e 40 no ensino médio. “É importante destacar que a região possui 16.216 matrículas e 502 salas no ensino fundamental. O ensino médio, por sua vez, conta com 11.839 estudantes para 363 salas. Nas duas situações, a média é de 32 alunos por sala. Portanto está abaixo das recomendações estabelecidas pelo Estado”, informa a nota.

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