quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Função da Família na Educação

É imprescindível que as crianças para se tornarem cidadãos instruídos, precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se encontram com professores desejosos de transmitir o que sabem para, assim, desenvolver no aluno um desejo de saber, o que é lido como curiosidade e investigação para aprender. A escola representa um lugar de emancipação da criança a respeito de seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e falar com outros além de seus pais. Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que lhe possibilitam receber recursos que poderá utilizar no futuro: com outros semelhantes, na escolha de profissão, etc. Dito isso, fica claro que a escola propicia a socialização da criança, mas, é a família e sua função um dos maiores responsáveis pela educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a Educação pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia, depende da estrutura familiar do aluno. Quando a família valoriza os estudos - a aprendizagem - estimula no filho o mesmo. O interesse dos pais no que seus filhos produziram, aprenderam, faz com que eles (filhos) sintam-se valorizados em relação ao que fizeram. O gosto pela leitura, a curiosidade em saber, em descobrir são homólogas a outras curiosidades e não estão desvinculadas da curiosidade sexual. Mas em muitas famílias o sexual é um assunto proibido e, dependendo do grau de dificuldade em falar sobre esse assunto, isso aparecerá na dificuldade da criança em ter outras curiosidades, incluindo a de saber em sala de aula. As garatujas, os rabiscos, os desenhos e as letras são produções que primeiramente são endereçadas ao Outro – entenda-se, por Outro, a mãe e o pai ou aquele que tem a função de cuidar e ensinar à criança. E vai depender de como vai ser o acolhimento disso, o que a criança fará depois. Se vão continuar produzindo ou se sofrerão inibições, impossibilidades de continuar descobrindo, evoluindo e fazer associações com a família das letras. Sabemos que quando algo não vai bem na esfera familiar, os sintomas aparecem na escola, tais como: as dificuldades de leitura, de aprendizagem; dificuldades em disciplina, o que chamamos limites, na participação em grupos, etc. A aquisição da leitura, portanto, é um processo que depende da passagem por outras fases: primeiro tem lugar os rabiscos, os traços no papel onde somente a criança pode dizer o que desenhou. Pois o traço no papel representa a estrutura psíquica dela e é homóloga a uma assinatura. Por esse motivo o desenho de uma criança não se confunde com o de outra. Depois, temos as formas até chegar às letras, as sílabas e por fim as frases e seu encadeamento. E o desenvolvimento desse processo dependerá da estrutura familiar. Dependência, que está vinculada aos limites, à possibilidade de que estejam operando em casa, para que isso seja possível. Um lar desestruturado, sem limites, sem condições básicas, atrapalha o desenvolvimento escolar da criança. Uma dificuldade escolar - seja ela qual for - geralmente está camuflando outras dificuldades, o que chamamos de sintomas emocionais. Por que tem um conflito emocional, a criança apresenta em seu corpo e comportamento aquilo que não está podendo ser dito em palavras. Encontro em minha experiência de psicanalista, crianças com sérias dificuldades escolares e, nas entrevistas com os pais, descubro que existem outros problemas. Dificuldades no casal parental, em relação ao nascimento de um filho, dificuldades no trabalho, algumas vezes uma doença na família, uma mudança, etc. Portanto, á maioria das dificuldades que as crianças apresentam são provenientes de sintomas dos pais. Acontecimentos que os pais ou um deles não está conseguindo resolver e isso é transmitido aos filhos. “O pensamento não é autônomo, é por sua articulação com o desejo, que o sujeito se reconhece autor de seu pensamento”. A criança quando não tem dificuldades de ler ou escrever, de fazer uso das letras, de mostrar o que sabe, geralmente é porque está convivendo em uma boa harmonia familiar, quando não tem obstáculos em suas relações familiares. Mas também, é fundamental que os ensinantes, os educadores, tenham uma boa formação, conhecimentos e desejo para transmití-los aos seus alunos. Um professor com pouco desejo terá pouca ou nenhuma possibilidade de transmissão, pois ele não “contagiará” seu aluno, se ele não tiver causado. Em contrapartida, encontramos exemplos de alunos que têm bons professores, escolas e condição ambientais favoráveis (materialmente), mas não se desenvolvem como esperado, pois a causa reside em conflitos familiares. Podemos encontrar pais que não se interessam por seus filhos (porque acreditam que eles vão para a escola para brincar); brigas na família; doença em algum familiar; pouca expectativa no filho, crianças muito mimadas. Enfim, a relação pode ser extensa. Podemos encontrar um exemplo bem comum que é, quando os pais passam por um processo de separação, os filhos apresentam dificuldades escolares. E dependendo de como os pais vão fazer, como falarão com seus filhos, estes poderão deslocar ou extinguir os sintomas. Sendo muito importante que eles falem com seus filhos, que expliquem o que lhes aconteceram para tomarerm tal decisão. O que mais encontramos são famílias que não querem falar sobre o assunto, calam-se e o não saber sobre sua história, desloca-se para o não-saber em sala de aula. Atendi uma garota de 4 anos que não conseguia aprender na escola e quando fui atender aos pais e fazer as entrevistas, descobri que ela ainda era tratada e cuidada como um bebê; usava fraldas, tomava mamadeiras, chupava chupeta e não conversavam com ela, “pois achavam que ela não entendia”. A consequência disso foi o fracasso que a garota tinha na escola “pois os bebês não podem fazer coisas relativas à criança de 4 anos”. À medida que esses pais foram tratando sua filha como uma garota capaz, ela foi se desenvolvendo na escola. Para concluir, quando algo não vai bem em sua casa, quando a estrutura familiar não possibilita harmonia, ou quando os pais não se interessam pelo que seu filho faz, o reflexo disso aparecerá na atividade escolar. Poderá até - em alguns casos - aprender as letras, aprender a escrever, mas não conseguirá estabelecer laços nem com o professor, nem com os semelhantes. Poderá com muito custo e dispêndio atravessar sua fase escolar. Como disse acima, na escrita a criança se mostra, é sua imagem que ela representa no (rabisco) garatuja, traços, formas e letras, porém, se tem algo que não vai bem em seu psíquico, se ela tiver algum sofrimento emocional, muito provavelmente terá dificuldades na escola. Geralmente a problemática familiar já existe, mas a entrada da criança na escola vai revelar o mal estar subjacente, pois é o momento em que ela vai se mostrar para os outros, que vai ter que organizar-se para poder aprender ás letras, dirigir sua pesquisa para outro saber, não somente o saber sobre o sexual, nascimento dos bebês, teorias sexuais infantis, mas, o saber dirigido ao intelecto. E como esse comportamento - dificuldade escolar - aparece no meio social, os pais sentem-se pressionados para procurar uma ajuda. Existindo, porém, uma grande dificuldade em pedi-la, como se isso atestasse que eles falharam. O que eu fiz? Será que não é um problema de adaptação? Perguntam. A escola muitas vezes fica em um impasse, pois sabem que algo não está bem com a criança, mas, sabe da dificuldade de alguns pais em aceitar que a criança ou eles precisam de uma ajuda. Porém, é imprescindível que fiquem atentos para os sintomas escolares que seus alunos apresentam, que os questionem, investigue sobre a história familiar, que não coloquem uma mão simbólica em cima, que faça seu aluno falar, para que eles possam colocar em palavras o que ele está mostrando em ato. Andreneide Dantas Psicanalista

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