segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Crianças sem limites, educação com limites

Rubem Alves nos lembra que “há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”. Essa metáfora convida a refletir sobre o papel da escola: prender ou libertar, controlar ou encorajar. Porém, antes mesmo de pensar em voar, muitas crianças de hoje chegam à escola sem ter aprendido lições básicas de convivência: respeito, limite e responsabilidade.

É comum ouvir professores desabafarem que os alunos estão cada vez mais mal-educados, sem limites claros e sem noção das consequências de seus atos. Se por um lado a escola deveria ser asas, incentivando a liberdade e a criatividade, por outro, ela se vê obrigada a assumir um papel que antes era da família: ensinar valores e impor regras mínimas de convivência. Como encorajar o voo se a criança não aprendeu nem a respeitar o espaço do outro?

Rubem Alves afirmava que “o voo não pode ser ensinado, só pode ser encorajado”. Mas como encorajar quando o ambiente escolar é constantemente marcado por indisciplina, desrespeito e falta de limites? A escola não deveria ser um espaço de substituição da família, e sim de complemento. Cabe aos pais oferecer bases sólidas de respeito e responsabilidade para que a escola possa, então, cumprir sua missão de formar cidadãos críticos e criativos.

Assim, surge a necessidade de repensar a parceria entre família e escola. Não basta exigir da instituição aquilo que deveria começar em casa. O papel da escola é abrir horizontes, mas sem limites básicos a educação se torna frágil. Crianças sem limites acabam por transformar a escola em gaiola — não pela rigidez dos professores, mas pela necessidade de impor regras mínimas para garantir o aprendizado.

Educação com limites não significa aprisionar, mas preparar para a vida em sociedade. Só quando pais e professores assumirem juntos essa responsabilidade será possível transformar a escola em asas de verdade, onde o respeito convive com a liberdade e onde cada criança pode aprender a voar.

Qual seria o papel da escola hoje

Rubem Alves dizia: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” Essa metáfora revela duas formas distintas de compreender a educação. Enquanto algumas escolas aprisionam, impondo limites e formando alunos apenas para a repetição e obediência, outras abrem horizontes, despertam sonhos e encorajam o voo. A pergunta que fica é: qual deve ser o papel da escola hoje?

Vivemos em uma sociedade que exige cada vez mais criatividade, autonomia e capacidade crítica. Nesse contexto, a escola não pode ser uma gaiola que molda os estudantes apenas para se encaixarem no sistema. Pelo contrário, precisa ser espaço de liberdade, de diálogo e de construção coletiva do conhecimento. Como afirma o autor: “O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Assim, o papel da escola é justamente criar condições para que cada aluno descubra suas potencialidades e encontre coragem para exercê-las.

Mais do que transmitir conteúdos, a escola deve ajudar a formar cidadãos capazes de pensar, questionar e transformar a realidade em que vivem. Deve ser lugar de encontros humanos, de afetos, de escuta e de respeito às diferenças. Rubem Alves nos lembra que “a essência dos pássaros é o voo”, e, portanto, a essência do estudante é aprender, criar e crescer. Cabe à escola não sufocar essa essência, mas ampliá-la.

Hoje, mais do que nunca, a escola precisa ser asas. Precisa ser um espaço onde o conhecimento não aprisiona, mas liberta; onde o aluno não é um receptor passivo, mas protagonista do seu próprio caminho. O papel da escola é preparar para a vida em sua totalidade — e não apenas para provas e notas —, dando a cada um a coragem necessária para voar.

O Papel de Cada Um

Ninguém duvida que a educação é o caminho mais seguro para transformar vidas e sociedades. No entanto, quando observamos a realidade, percebemos uma contradição gritante: ao mesmo tempo em que todos reconhecem a importância de um bom professor, poucos desejam que seus filhos sigam essa profissão. Essa postura revela não apenas o desprestígio social da carreira docente, mas também a negligência com que tratamos um dos pilares fundamentais da sociedade.

Paulo Freire já alertava: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Essa frase revela o papel essencial da escola e do professor, mas também evidencia que a transformação exige a participação de todos — família, governo e comunidade. Não basta responsabilizar unicamente os professores pelo fracasso da educação, quando na verdade o processo de ensinar e aprender é um compromisso coletivo.

O educador também lembrava que “não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.” Isso nos leva a refletir sobre o valor de cada pessoa nesse processo. Pais, ao acompanhar a vida escolar dos filhos; alunos, ao assumirem sua responsabilidade como protagonistas de sua aprendizagem; governantes, ao garantir condições dignas para o ensino; e professores, ao não desistirem de sua missão. Cada um tem um papel único e indispensável.

Apesar dos baixos salários e das dificuldades enfrentadas, muitos docentes seguem apaixonados por sua prática, insistindo em “ensinar as pessoas a serem águias e não apenas galinhas”, como lembra a metáfora freireana. O papel de cada um, portanto, não é apenas reconhecer a importância do professor, mas agir para que ele seja valorizado, respeitado e tenha condições reais de cumprir sua tarefa.

Educar é plantar sementes que muitas vezes só florescem no futuro. Mas, para que esse futuro seja fértil, precisamos unir esforços hoje. O papel de cada um é lutar, cada dia, para que a educação seja prioridade, não discurso vazio.

Culpa de quem?

O neurocientista francês Michel Desmurget, em seu livro A Fábrica de Cretinos Digitais, faz um alerta contundente: “Simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento”. A frase, dura e direta, expõe um problema crescente que a sociedade contemporânea enfrenta: o uso excessivo de dispositivos digitais por crianças e jovens e seus efeitos nocivos sobre a aprendizagem, a atenção e a própria formação humana.

Na entrevista concedida à BBC, Desmurget destaca que “os principais alicerces da nossa inteligência são afetados: linguagem, concentração, memória, cultura...”. Tais aspectos são justamente as bases exigidas no ambiente escolar, mas que hoje se encontram ameaçados. Professores relatam diariamente a dificuldade dos alunos em manter o foco, em interpretar textos mais longos e em realizar tarefas que demandam paciência e raciocínio contínuo. As telas, ao mesmo tempo em que oferecem informação rápida, fragmentam a atenção e reduzem a capacidade de reflexão.

Na escola atual, nota-se uma contradição. Enquanto muitos gestores e famílias defendem a presença das tecnologias digitais como ferramentas pedagógicas, o uso recreativo, que predomina fora dos muros escolares, “atras[a] a maturação anatômica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção”, como afirma Desmurget. É nesse ponto que o debate se torna urgente: a quem cabe controlar, limitar e orientar o uso das telas?

Se, por um lado, a família tem o dever de educar para o equilíbrio, por outro, a escola não pode se eximir de discutir criticamente o impacto dessa realidade. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de refletir sobre como ela deve ser usada. Como lembra o autor: “Quando uma tela é colocada nas mãos de uma criança ou adolescente, quase sempre prevalecem os usos recreativos mais empobrecedores”. A escola, nesse sentido, precisa se posicionar como espaço de resistência cultural, de estímulo à leitura, à arte, à música e ao diálogo, atividades que verdadeiramente estruturam o cérebro.

A questão central, portanto, é de responsabilidade compartilhada. Pais que oferecem telas como “babás eletrônicas” e instituições escolares que negligenciam o debate estão, de forma conjunta, comprometendo o futuro de uma geração. O resultado é visível: jovens cada vez mais impacientes, ansiosos, com dificuldades de linguagem e de convivência social.

O problema com as telas é que elas alteram o desenvolvimento do cérebro de nossos filhos e o empobrecem”, conclui Desmurget. Se sabemos disso, então a pergunta que ecoa é: culpa de quem?