segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Culpa de quem?

O neurocientista francês Michel Desmurget, em seu livro A Fábrica de Cretinos Digitais, faz um alerta contundente: “Simplesmente não há desculpa para o que estamos fazendo com nossos filhos e como estamos colocando em risco seu futuro e desenvolvimento”. A frase, dura e direta, expõe um problema crescente que a sociedade contemporânea enfrenta: o uso excessivo de dispositivos digitais por crianças e jovens e seus efeitos nocivos sobre a aprendizagem, a atenção e a própria formação humana.

Na entrevista concedida à BBC, Desmurget destaca que “os principais alicerces da nossa inteligência são afetados: linguagem, concentração, memória, cultura...”. Tais aspectos são justamente as bases exigidas no ambiente escolar, mas que hoje se encontram ameaçados. Professores relatam diariamente a dificuldade dos alunos em manter o foco, em interpretar textos mais longos e em realizar tarefas que demandam paciência e raciocínio contínuo. As telas, ao mesmo tempo em que oferecem informação rápida, fragmentam a atenção e reduzem a capacidade de reflexão.

Na escola atual, nota-se uma contradição. Enquanto muitos gestores e famílias defendem a presença das tecnologias digitais como ferramentas pedagógicas, o uso recreativo, que predomina fora dos muros escolares, “atras[a] a maturação anatômica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção”, como afirma Desmurget. É nesse ponto que o debate se torna urgente: a quem cabe controlar, limitar e orientar o uso das telas?

Se, por um lado, a família tem o dever de educar para o equilíbrio, por outro, a escola não pode se eximir de discutir criticamente o impacto dessa realidade. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de refletir sobre como ela deve ser usada. Como lembra o autor: “Quando uma tela é colocada nas mãos de uma criança ou adolescente, quase sempre prevalecem os usos recreativos mais empobrecedores”. A escola, nesse sentido, precisa se posicionar como espaço de resistência cultural, de estímulo à leitura, à arte, à música e ao diálogo, atividades que verdadeiramente estruturam o cérebro.

A questão central, portanto, é de responsabilidade compartilhada. Pais que oferecem telas como “babás eletrônicas” e instituições escolares que negligenciam o debate estão, de forma conjunta, comprometendo o futuro de uma geração. O resultado é visível: jovens cada vez mais impacientes, ansiosos, com dificuldades de linguagem e de convivência social.

O problema com as telas é que elas alteram o desenvolvimento do cérebro de nossos filhos e o empobrecem”, conclui Desmurget. Se sabemos disso, então a pergunta que ecoa é: culpa de quem?

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