segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A Universidade e o grande desafio

 As universidades atravessaram os séculos, produziram e sofreram transformações. Nos nossos dias, sem dúvida, são dos principais instrumentos estratégicos de desenvolvimento de qualquer nação se bem apoiadas e aproveitadas em toda a sua potencialidade. Temos dito que cada povo possui a universidade que foi capaz de gerar, e que cada universidade se insere no ambiente social, econômico e cultural que foi capaz de produzir ou que ajudou a criar.

Os últimos anos têm sido marcados por importantes transformações mundiais. A aceleração da globalização veio acompanhada de políticas hegemônicas perversas, sobrepondo as leis do mercado às questões internas das economias nacionais, em detrimento das prioridades sociais, tornando ainda mais difícil a situação de países como o Brasil. Enquanto esses países se debatem em sucessivas crises, as diferenças mundiais se acentuam, comprometendo importantes avanços humanos de convivência e paz.

A humanidade não tem sido capaz de utilizar os seus avanços científicos e tecnológicos de modo sintonizado com as necessidades sociais e com os objetivos comuns, até mesmo os mais elementares. Há a preponderância de um modelo que exige o ajuste de demandas sociais a uma dinâmica técnico-econômica que deixa para trás os cada vez mais excluídos. Aumentam então, de um lado, os que apenas ficam mudos, e de outro, os que gritam e correm sem saber das coisas, sem saber a quem apelar e para onde ir. Podem virar massa de manobra para qualquer ‘‘bem-falante’’ ou ‘‘bem-pagante’’. Os que se isolam assistem às cenas de um mundo que passa, com líderes em geral mal preparados e improvisados. E ao ‘‘horror político’’ sucedem-se o ‘‘horror econômico’’ e tantos outros horrores, dependendo do que se queira ver e sentir.

Nesse quadro, é especialmente importante o papel da universidade. É hora de grande desafio. É preciso que ela se envolva intensa, crítica e permanentemente no diagnóstico dos problemas locais, nacionais e mundiais, procurando encontrar soluções e caminhos. Mas, sendo a universidade parte do sistema político-social que está doente, também padece de graves males que acaba absorvendo ou que lhe são impostos. Então o desafio é maior ainda: superar as próprias doenças e fraquezas e ajudar a sociedade e o Estado a encontrar as soluções para os seus problemas e o melhor caminho para todos. 

Em documento preparatório da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior, realizada em Paris em 1998, foram identificadas três grandes tendências mundiais nesse nível de ensino: 1) Extraordinária expansão quantitativa (em regra acompanhada por desigualdades continuadas de acesso entre países e regiões). 2) Diversificação de estruturas institucionais, programas e formas de estudo. 3) Dificuldades financeiras. Pressionadas pela massificação do ensino superior, pelo processo de globalização e reestruturação produtiva, necessidades diversificadoras de programas e cursos e severas restrições financeiras, as universidades mergulharam em grande crise, da qual apenas agora começam a emergir em alguns países, com feições bastante diferenciadas.

No Brasil, o processo de discussão sobre esse tema está atrasado nas próprias universidades, ainda fortemente abaladas e atônitas com as mudanças, especialmente no setor público. Lembramos, então, três palavras-chave recomendadas pela Unesco para repensar a universidade para os novos tempos: 1) relevância, 2) qualidade, e 3) internacionalização.

Relevância para lembrar o papel e o lugar do ensino superior na sociedade. É a sua própria pertinência. Isso inclui o ensino, a pesquisa e a extensão. O ensino deve ser atualizado e capaz de gerar profissionais competentes e criativos. Então precisamos dar um salto por cima da prática mais simples de manutenção do conhecimento para uma posição de fronteira viva, criativa e inovadora. Sempre muito perto da sociedade e em parceria permanente com todos os seus setores de atividade. Isso inclui o relacionamento com o Estado. A UnB tem avançado muito nessa linha de ação. Hoje interage praticamente com todos os setores da sociedade local e dos estados; dispõe de grupos de pesquisas que contribuem de forma substancial para criação e desenvolvimento de conhecimentos em muitas áreas, superando as limitações a que está sujeita. Mas precisa avançar muito mais e para isso necessita de apoios para restabelecer o seu quadro mínimo de pessoal e de infra-estrutura. Requer ainda, como todas as universidades, autonomia institucional para melhor praticar a liberdade acadêmica.

Todas as atividades acadêmicas devem ser permanentemente avaliadas de modo que a sua qualidade esteja constantemente em processo de aprimoramento. Esse é um dos principais instrumentos para a permanente dinamização da universidade.

A internacionalização reflete o panorama do processo crescente de globalização. Na nossa avaliação, as nossas universidades, de modo geral, ainda estão enclausuradas no âmbito brasileiro. É preciso um esforço maior na linha de ação internacional.


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